O catolicismo romano está fundamentado
no papado. A Igreja de Roma supostamente preservou uma sucessão ininterrupta de
bispos que teve origem em Pedro. Abaixo, listo algumas razões do por que essa sucessão
não é válida e ininterrupta.
1 – O método de eleição: hoje, o bispo
de Roma é eleito pelo colégio de cardeais. O método de eleição nem sempre foi
esse e mudou algumas vezes ao longo da história. Na igreja primitiva, havia a
participação do povo e dos bispos da região. Vejamos o que Cipriano de Cartago
considerava uma eleição legítima:
O que também nós notamos vir
de autoridade divina, que o sacerdote
seja escolhido na presença do povo sob os olhos de todos, e deve ser aprovado
digno e capaz por julgamento público e testemunho; como no livro de Números
o Senhor comanda Moisés, dizendo, “Tome Aarão teu irmão, e Eleazar seu filho, e
os coloque no monte, na presença de toda a congregação, e tire suas vestes e as
coloque em Eleazar seu filho, e deixe Aarão morrer lá, sendo adicionado a seu
povo”. Deus ordena o sacerdote ser
apontado na presença de toda a assembleia, ou seja, Ele instrui e mostra que a
ordenação de sacerdotes não seve ser celebrada exceto com o conhecimento do
povo que está por perto, que na presença do povo ou os crimes do mau sejam
revelados ou os méritos do bom sejam declarados, e a ordenação, que deve ser
examinada pelo sufrágio e julgamento de todos, possa ser justo e legítimo. E
isto é subsequentemente observado, de acordo com a instrução divina, nos Atos
dos Apóstolos, quando Pedro fala ao povo da ordenação de um apóstolo no lugar
de Judas. “Pedro,” ele diz, “se pôs de pé no meio dos discípulos e a multidão
estava em um lugar”. (Epístola 67)
A eleição do bispo
somente seria válida se envolvesse a participação do povo. Ele não trata essa
prática como mero costume, mas como ordenança divina, portanto, obrigatória. Mais detalhes aqui.
A enciclopédia católica afirma:
Os
historiadores e canonistas, no entanto, geralmente sustentam que o bispado
romano foi preenchido em sua vaga da mesma maneira que outros bispados, isto é,
a eleição do novo papa foi feita pelos:
bispos vizinhos, clero e fiéis de Roma. (Fonte)
Além do Bispo de Roma não escolher os bispos de outras Igrejas, sua própria eleição
envolvia participação popular.
2 – Não é uma sucessão ininterrupta. Um
papa é eleito geralmente quando o antecessor já está morto, sempre há um intervalo em que
a sé fica vacante. Dessa forma sempre há lacunas e rupturas na cadeia. Qual o
intervalo aceitável entre dois papas? Por exemplo, de acordo com uma lista
típica de papas não havia papa durante todo o ano 259, 305-307, 639, 1242,
1269-1270, 1293, 1315, e 1416. A cátedra de Pedro poderia ficar vacante por
mais de 200 anos por exemplo sem comprometer a cadeia ininterrupta de sucessão? A Igreja
Romana nunca definiu o tempo máximo de vacância.
3 – Os antipapas. Houve mais de 40 antipapas. Como um papa não era escolhido por seu antecessor,
ninguém pode afirmar infalivelmente qual o papa legítimo entre os reclamantes. Alguém pode dizer que o papa legítimo é o declarado pelo papa
legítimo posterior, mas como se pode saber se esse sucedeu ao papa
verdadeiro e não ao antipapa. A definição da questão não raramente envolveu o uso
da força e mortes.
Um exemplo conhecido é do papa Dâmaso e
antipapa Ursino. Os dois foram eleitos simultaneamente. O erudito patrístico J.
N. D Kelly escreve:
Dâmaso
contratou uma gangue de bandidos que invadiu a Basílica Juliano, realizando um
massacre de três dias dos ursinianos. (The Oxford Dictionary of Popes - USA:
Oxford University Press. pp. 32)
A situação ficou tão grave que os
prefeitos da cidade tiveram que intervir. Após um massacre de 137 pessoas na
atual basílica Basilica di Santa Maria Maggiore, Ursino foi banido da
cidade.
4 – O tri papado de Avignon. Esse
episódio é conhecido como “grande cisma do ocidente”. Trata-se de um período
com três papas simultaneamente reclamando a sucessão de Pedro. Como não havia
nenhum acordo sobre qual era o verdadeiro, foi convocado o concílio de
Constança. Esse concílio depôs os três papas e, posteriormente, um novo foi eleito. Dessa forma, a solução empregada foi colocar a autoridade do
concílio acima do papa, levando a uma quebra na sucessão. Mais informações aqui.
5 – Os papas imorais: O Novo Testamento
coloca como condição para o episcopado qualidades morais que uma boa quantidade
deles não chegou perto de cumprir (1 Coríntios 5:11-13, Tito 1:6-9 e
1 Timóteo 3:1-7). Os católicos respondem que Pedro negou Jesus e ainda assim
permaneceu apóstolo, portanto, a pecabilidade de um papa não retiraria sua
autoridade. A analogia é falsa. Pedro cometeu pecados e se arrependeu
tornando-se um homem de caráter irrepreensível. Já a respeito dos papas
imorais, a maioria sequer demonstrou arrependimento. Não se tratava também de
simples pecadores, mas de homens mergulhados no pecado a tal ponto que não seria exagero dizer que não eram cristãos. Será que Jesus Cristo ou Pedro escolheriam
não crentes para o ministério? O Espírito Santo guiaria a escolha de papas que seriam
uma desonra para o nome de Cristo. À luz da Escritura certamente não. Cipriano
testemunha que na Igreja Primitiva era dever dos fiéis depor um bispo imoral.
O bispo de Cartago certamente diria que os papas da renascença deveriam perde sua
autoridade em virtude do modo pecaminoso de vida:
Nem
deixe o povo se bajular por que estão livres do contágio do pecado, enquanto
comunicam com um sacerdote que é um pecador, e
dando seu consentimento ao episcopado injusto e ilegal de seu administrador,
quando a reprovação divina através de Oseias o profeta ameaça, e diz, “Seus
sacrifícios serão como o pão de pranteadores; todos que o comerem serão
imundos”, ensinando manifestamente e mostrando que estão absolutamente ligados
ao pecado todos aqueles que foram contaminados pelo sacrifício de um sacerdote
profano e injusto (...) De cujo relato um povo obediente aos preceitos do
Senhor, e temendo a Deus, deve se
separar de um prelado pecaminoso, e não se associar com os sacrifícios de
um sacerdote sacrílego, especialmente
desde que eles mesmos possuem o poder ou de escolher sacerdotes dignos ou de
rejeitar os indignos. (Epístola 67)
Não era apenas uma faculdade, mas um
dever se afastar do bispo pecaminoso. O Novo Testamento (Mateus 18:15-17; 1Coríntios 5.1-13; 2Coríntios 2.6 e
2Tessalonicenses 3.6-15) relata o procedimento da Igreja diante daqueles que
persistem em seus pecados. Esses deveriam ser advertidos e caso permanecessem
na prática excomungados. Muitos papas permaneceram na prática reiterada do
pecado durante toda a vida. João XII, por exemplo, foi morto pelo marido
de sua amante. De acordo com a Escritura, um bispo que tivesse um procedimento
reiteradamente pecaminoso deveria perder a sua autoridade. Portanto, pelo menos
alguns bispos romanos foram elos quebrados da sucessão papal.
Policarpo de
Esmirna também compartilha da opinião de que líderes pecaminosos devem perder o
ofício:
Eu estou muito triste por
Valente, que foi presbítero entre vocês,
pois ele não entendeu completamente o
cargo que foi lhe dado [na Igreja]. Exorto-os, portanto, que se abstenham
da avareza, e que sejam castos e verdadeiros. "Abstenham-se de todo tipo
de mal". Pois se um homem não pode
se governar nestes assuntos, como pode ensina-los aos outros? Se um homem
não se mantém longe da avareza, ele se desonra pela idolatria, e deve ser julgado como um dos pagãos. (Epístola aos Filipenses)
Para mais
detalhes sobre os papas imorais aqui.
6 – A doutrina da intenção: para que os sacramentos sejam válidos e eficazes, o oficiante deve
ter a intenção correta (a intenção de fazer o que a Igreja diz). Como ninguém
pode sondar a mente do outro, não há como afirmar certamente que qualquer
sacramento foi válido. Isso afeta diretamente a ordenação. Nenhum católico pode
garantir que todos os papas foram devidamente ordenados. Existe a possibilidade
real de algum não ter sido um bispo verdadeiro. O papa Leão XIII assim
afirmou quando rejeitou a sucessão apostólica da Igreja Anglicana:
A
Igreja não julga a mente ou a intenção, na medida em que é algo interno por
natureza,
mas na medida em que se manifesta externamente, ela é obrigada a julgar a
respeito disso (Fonte)
Em outras palavras, se a Igreja não pode
julgar a mente ou intenção de alguém, não pode
garantir sua própria sucessão apostólica. Dado que muitos papas chegaram ao
cargo por conchavos políticos e suborno, a intenção invalida não é apenas uma
possibilidade remota, mas algo provável. Sobre a doutrina da
intenção aqui.
7 – Um papa deposto voltou a ser papa. Segundo a
enciclopédia católica:
Aproveitando-se da vida dissoluta que
ele estava conduzindo, uma das facções na cidade aproveitou-se (1044) em meio a
maior desordem, e elegeu um antipapa (Silvestre III), na pessoa de João, bispo
de Sabina (1045 -Ann . Romani, o init. Victor, Dialogi, III, o init.). Bento,
no entanto, conseguiu expulsar Silvestre no mesmo ano; mas, como alguns diziam,
que ele poderia se casar, renunciou ao seu cargo em favor do arcipreste João
Graciano por uma grande soma. João foi então eleito papa e tornou-se Gregório
VI (Maio, 1045). Arrependendo-se de seu negócio, Bento esforçou-se para depor
Gregório. Isso resultou na intervenção do rei Henrique III. Bento, Silvestre e
Gregório foram depostos no Concílio de Sutri (1046) e um bispo alemão (Singer)
tornou-se Papa Clemente II. Depois de sua morte rápida, Bento novamente
apossou-se de Roma (novembro de 1047), mas foi expulso para abrir caminho para
um segundo papa alemão, Dâmaso II (novembro de 1048). (Fonte)
Um papa que renunciou ao cargo por
suborno, se arrependeu e voltou a ser papa. Nesse intervalo, um concílio fruto
da intervenção de um rei depôs três papas (seja lá qual era o verdadeiro).
Trata-se de um exemplo claro de quebra da sucessão.
8 – Papas hereges. Pedro não poderia
ensinar heresias, portanto um papa herege não poderia ser um sucessor legítimo.
O caso mais conhecido é o de Honório que ensinou a heresia monotelita, segundo
a qual Jesus tinha apenas uma vontade:
E estas coisas decidimos
manifestar à vossa mui santa fraternidade para que, estabelecendo esta
confissão, possamos mostrar-nos de uma mesma mente com vossa santidade, estando
claramente de acordo num mesmo espírito, com um mesmo ensino da fé ... E
escrevemos aos nossos colegas e irmãos, Ciro e Sofrónio, para que não persistam na nova expressão de uma ou duas energias.
Também confessamos uma
só vontade de nosso Senhor Jesus Cristo. (Denzinger # 251)
Honório foi
condenado como herege pelo sexto concílio ecumênico:
Na Sessão 13ª de 28 de
março, as duas cartas de Sérgio foram condenadas, e o concílio acrescentou: “Àqueles
cujos ímpios dogmas execramos, julgamos que os seus nomes também sejam expulsos
da santa Igreja de Deus ... E além
destes decidimos que Honório também, que foi papa da antiga Roma, seja com eles
expulso da santa Igreja de Deus, e anatematizado com eles, porque verificamos na sua carta a Sérgio
que seguiu a opinião deste em tudo, e confirmou os seus dogmas ímpios”.
Estas últimas palavras são suficientemente verdadeiras, e, se Sérgio tinha de
ser condenado, Honório não podia ser recuperado. Os legados [papais] não
objetaram a sua condenação. (John Chapman, Pope Honorius I. The Catholic Encyclopedia,
vol. VII)
Sobre papas hereges aqui.
Sobre papas hereges aqui.
9 – Papas que
sucumbiram à perseguição ou pressões políticas. O papa Libério assinou uma
confissão de fé ariana:
Assim se esforçaram [os
conspiradores arianos] ao princípio para corromper a Igreja dos romanos,
desejando introduzir a impiedade nela assim como noutras. Mas Libério, depois de ter estado no exílio dois anos, cedeu, e por
medo à ameaça de morte subscreveu. Ainda assim, isto só mostra a conduta
violenta, e o ódio de Libério contra a heresia, e o seu apoio a Atanásio,
enquanto se lhe permitiu exercitar uma livre escolha. (História dos arianos – 41)
O historiador
católico Eamon Duffy afirma:
Por outro lado [a um bispo
romano que anteriormente tinha sido martirizado], na próxima perseguição sob
Diocleciano em 303, Papa Marcelino (296-304?) teria cedido à pressão. Ele entregou cópias das escrituras e
ofereceu sacrifício aos deuses. Ele morreu um ano depois em desgraça, e a
igreja romana passou a esquecê-lo. (Santos e Pecadores: A História dos Papas [New Haven e Londres: Yale University
Press, 1997]. p 14)
O patriarca Pedro
de Alexandria dá testemunho sobre o destino daqueles que cediam diante das
perseguições:
Não
é certo também que os do clero que desertaram por sua própria vontade, e tem falhado,
e voltam à luta novamente, devam permanecer por mais tempo em seu ofício
sagrado, já que eles desampararam o rebanho do
Senhor, e trouxeram culpa sobre si, algo
que nenhum apóstolo fez. Quando o bendito apóstolo Paulo tinha sofrido
muitas perseguições, e tinha mostrado publicamente os prêmios de várias lutas,
embora soubesse que era muito melhor "partir e estar com Cristo",
ainda assim ele segue em frente, e diz: "mas permanecer no corpo é mais importante
para vocês". Por considerar não a sua própria vantagem, mas a vantagem de
muitos, para que eles fossem salvos, julgou mais necessário estar com os irmãos
do que o descanso do seu próprio corpo, e tinha cuidado deles; aquele que os
ensinava a doutrina deveria ser um exemplo de fé (...) Mas quando eles desistem, trazendo sobre si mesmos alardes, trouxeram
reprovação sobre si, e não podem mais desempenhar seu ministério sagrado;
e, portanto, devem tomar bastante cuidado para viverem em humildade, deixando
de vanglória. (Epístola
canônica, 10)
A Igreja
primitiva tinha padrões de disciplina mais rígidos que a Igreja Romana. Aqueles
que não resistiram à perseguição como os papas Libério e Marcelino deveriam
perder seus cargos. Pedro ainda traz o
exemplo de Paulo, ou seja, se o papa é um legítimo sucessor de um apóstolo, deve
se portar como ele.
10 –
Papas que chegaram ao poder por conchavos políticos ou simonia. Casos como
esses são abundantes na história. Exemplo conhecido é o de Alexandre
VI:
Rodrigo
Bórgia usou sua fortuna e promessas para
comprar a maior parte dos votos dos vinte e três cardeais quando se
realizou o conclave para definir a sucessão do papa Inocêncio VIII. (Fonte)
Duffy escreve:
Sem o apoio do império, o papado se tornou a posse das grandes famílias romanas, uma passagem
para o domínio local para o qual os homens estavam dispostos a estupro,
assassinato e roubo. Um terço dos papas eleitos entre 872 e 1012 morreu em
circunstâncias suspeitas - John VIII (872-82) espancado até a morte por sua
própria facção, Estevão VI (896-7) estrangulado, Leão V (903) assassinado por
seu sucessor Sérgio III (904-11), João X (914-28) sufocado, Estevão VIII
(939-42) horrivelmente mutilado, um destino compartilhado pelo antipapa grego
João XVI (997-8) que, infelizmente para ele, não morreu com a remoção de seus
olhos, nariz, lábios, língua e mãos. A
maioria desses homens foi manobrada ao poder por uma sucessão de famílias
poderosas - os Theophylacts, os Crescentii, os Tusculani. João X, um dos
poucos papas desse período que tomou posição contra a dominação aristocrática,
foi deposto e assassinado no Castelo Santo Ângelo pelos Theophylacts, que o
havia nomeado em primeiro lugar (...) Dos
vinte e cinco papas entre 955 e 1057, treze foram nomeados pela aristocracia
local, enquanto os outros doze foram nomeados (e nada menos do que cinco
demitido) pelos imperadores alemães. O antigo axioma de que ninguém pode
julgar o papa ainda estava nos livros canônicos, mas na prática há muito tempo
foram anulados. Os próprios papas
estavam profundamente envolvidos na guerra dinástica da nobreza romana, e
eleição à cátedra de Pedro, como já vimos, era frequentemente uma mercadoria
para venda ou troca. (Duffy, op. cit., pp 82-83,
87)
O papa
Júlio II declarou nulas todas as eleições em que houve simonia:
Foi contra a simonia que Júlio II emitiu a
bula Julius II. Divino Cum Tam (1503),
determinando que a eleição simoníaca do papa deve ser considerada nula; que
qualquer um poderia atacá-la; que os homens não devem obediência a um papa
assim eleito; que os acordos simoníacos devem ser inválidos; que os cardeais
culpados devem ser excomungados até à sua morte, e que o restante deve proceder
imediatamente a uma nova eleição.
(1911 Encyclopædia Britannica/Conclave)
É
visível a qualquer investigador que a sucessão papal não foi
divinamente orientada. Pelo contrário, trata-se de uma longa história de pecado
e corrupção. Porque o Espírito Santo que inspirou Paulo a ensinar critérios tão firmes para o epsicopado iria guiar a escolha de homens cujo caráter passa longe de cumpri-los.
11 – Não havia bispo monárquico até a segunda
metade do séc. II. O elo mais fraco da sucessão papal está no início.
O Novo Testamento (Atos 11:30; 14:23; 15:2; 20:17) demonstra que os apóstolos
escolhiam uma colegialidade de presbíteros (πρεσβυτέρος) para governar as
Igrejas. Bispos e presbíteros são termos intercambiáveis na escritura (Fil.
1:1; 1 Tim 3:1-7; At 20:28). Esse modelo de governo foi gradualmente sendo
substituído pelo episcopado monárquico, em que um bispo sozinho era escolhido para
liderar a Igreja.
Documentos antigos como Pastor de
Hermas (visões 2.4 e 3.9), 1 Clemente e a Epístola de Inácio aos Romanos
evidenciam que a Igreja de Roma não tinha bispo monárquico. Hoje, há um sólido
consenso histórico a esse respeito, reconhecido até mesmo por historiadores
católicos:
O teólogo e sacerdote jesuíta Klaus
Schatz afirma:
No entanto, ele [Clemente de Roma] não é
apontado como o autor da carta; em vez disso, o verdadeiro remetente é a
comunidade romana. Nós provavelmente não
podemos dizer com certeza que havia um bispo de Roma na época. Parece provável
que a igreja romana era governada por um grupo de presbíteros, de quem
muito rapidamente surgiu um oficiante ou "primeiro entre iguais",
cujo nome foi lembrado e que posteriormente foi descrito como
"bispo", após meados do século II. (Papal
Primacy - Minnesota: The
Liturgical Press, 1996, p. 4)
O renomado historiador católico Paul
Johnson escreveu:
Com
efeito, provavelmente o primeiro bispo romano, em algum sentido significativo,
foi Sotero (166-174).(História do Cristianismo – Rio de
Janeiro: Imago Ed. 2001, p. 78)
Francis Sullivan, sacerdote e
proeminente historiador e teólogo católico, afirma:
Jones
então traz a questão que formou o título do seu artigo “havia um bispo de Roma
no primeiro século? ” Como os leitores irão lembrar, eu tenho afirmado a concordância com o consenso dos estudiosos de que a
evidência disponível indica que a Igreja de Roma era liderada por um colégio de
presbíteros(...) outra razão para a
opinião frequente de que um colégio dos presbíteros liderou a igreja de Roma
até o segundo século é baseada em O Pastor de Hermas, um trabalho cujo
consenso geral é ter sido escrito em Roma, durante a primeira metade desse
século. Como em I Clemente, os termos utilizados aqui para se referir a pessoas
em cargos de liderança estão todos no plural: "líderes",
"presbíteros que presidem a Igreja", "líderes da igreja e
ocupantes dos bancos de honra " (...) o pastor não faz referência a
qualquer pessoa no singular que tenha um papel de liderança na igreja. No entanto, o argumento não se baseia
apenas em silêncio sobre um bispo; na minha opinião, a evidência mais forte em
ambos I Clemente e O pastor é o uso consistente do plural referindo-se àqueles
em posições de liderança. Por isso, não posso concordar com o julgamento de
Jones de que parece haver pouca razão para duvidar da presença de um bispo em
Roma já no primeiro século. (From Apostles to Bishops: The Development of the Episcopacy in the
Early Church. New York: The Newman Press, 2001, pp.
221-222)
Para mais informações sobre a liderança
da igreja primitiva aqui.
12 – Não há sólida evidência histórica
de que Pedro tenha sido bispo de Roma. As primeiras listas de sucessão da
igreja romana não colocam Pedro como seu bispo. Irineu e Eusébio afirmam que o
primeiro bispo foi Lino, enquanto Tertuliano afirma que foi Clemente. O
primeiro documento a colocar Pedro como bispo de Roma é o catálogo liberiano,
produzido em Roma para demonstrar a sucessão dessa Igreja. Foi elaborado mais
de 300 anos após a morte de Pedro e possui erros graves como apresentar dois
Anacletos como 4º e 5º bispos.
Sullivan afirma:
O primeiro problema tem a ver com a
noção de que Cristo ordenou os apóstolos como bispos. Por um lado, não há dúvida verdadeira
de que o mandato que Cristo deu aos apóstolos incluía o triplo ofício de
ensino, governo e santificação, que são descritos pelo Vaticano II como
conferidos pela consagração episcopal (LG 21).
Todavia, a exatidão em descrever os próprios apóstolos como “bispos” é outra
questão. Um bispo é um pastor residencial que preside de forma estável sobre a
igreja de uma determinada cidade e seus arredores. Os apóstolos eram missionários e fundadores de igrejas; não há
evidência, e nem é de todo provável, que quaisquer deles tenham tido residência
permanente em alguma igreja em particular como bispo. (Ibid., pp. 14)
O reconhecido teólogo católico Hans Küng
escreveu:
Por
um longo tempo tem havido consenso entre
os estudiosos: mesmo teólogos protestantes afirmam agora que Pedro sofreu
martírio em Roma. Reciprocamente, teólogos
católicos admitem que não há evidência confiável de que Pedro esteve a cargo da
Igreja de Roma como suprema cabeça ou bispo. Em todo o caso, o episcopado
monárquico foi introduzido em Roma relativamente mais tarde.
(The Catholic Church: A Short History. Hachette UK, 2011. Pp 16)
Mais informações aqui.
A sucessão papal é uma corrente com
vários elos quebrados. Vimos que há boas razões para rejeitar sua validade.
Nenhum católico pode afirmar certamente a validade de sua igreja com base nas
listas papais. É impossível provar a validade de cada eleição ou ordenação que
originou um papa. Além disso, há sólidas razões históricas para rejeitar os
primeiros elos dessa corrente.
J.N.D. Kelly observou que a legitimidade
de alguns dos papas continua a ser contestada até hoje. Por exemplo:
A
legitimidade do pontificado [de Leão VIII], pelo menos até a morte João XII,
foi contestada; isso depende da validade
debatida entre os canonistas da deposição de João (...) [de
Silvestre III] direito a ser considerado um papa autêntico é uma questão em aberto (...) Geralmente
classificado como um antipapa, a alegação [de Alexandre V] ser um papa
autêntico ainda está em discussão, e alguns historiadores lhe dão a descrição de
"papa concílio”. (Op.Cit., pp. 127, 144, 237)
Graça e paz, meu caro. Apesar do pouco de existência, seu blog já possui uma quantidade bem considerável de posts e, pelo pouco li, pude perceber que são de alta qualidade.
ResponderExcluirParabéns pelo belo trabalho.
Obrigado Fabiano,
ExcluirConto com a sua participação. Que Deus o abençoe!