quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Doze razões para duvidar da sucessão papal

O catolicismo romano está fundamentado no papado. A Igreja de Roma supostamente preservou uma sucessão ininterrupta de bispos que teve origem em Pedro. Abaixo, listo algumas razões do por que essa sucessão não é válida e ininterrupta.
1 – O método de eleição: hoje, o bispo de Roma é eleito pelo colégio de cardeais. O método de eleição nem sempre foi esse e mudou algumas vezes ao longo da história. Na igreja primitiva, havia a participação do povo e dos bispos da região. Vejamos o que Cipriano de Cartago considerava uma eleição legítima:
O que também nós notamos vir de autoridade divina, que o sacerdote seja escolhido na presença do povo sob os olhos de todos, e deve ser aprovado digno e capaz por julgamento público e testemunho; como no livro de Números o Senhor comanda Moisés, dizendo, “Tome Aarão teu irmão, e Eleazar seu filho, e os coloque no monte, na presença de toda a congregação, e tire suas vestes e as coloque em Eleazar seu filho, e deixe Aarão morrer lá, sendo adicionado a seu povo”. Deus ordena o sacerdote ser apontado na presença de toda a assembleia, ou seja, Ele instrui e mostra que a ordenação de sacerdotes não seve ser celebrada exceto com o conhecimento do povo que está por perto, que na presença do povo ou os crimes do mau sejam revelados ou os méritos do bom sejam declarados, e a ordenação, que deve ser examinada pelo sufrágio e julgamento de todos, possa ser justo e legítimo. E isto é subsequentemente observado, de acordo com a instrução divina, nos Atos dos Apóstolos, quando Pedro fala ao povo da ordenação de um apóstolo no lugar de Judas. “Pedro,” ele diz, “se pôs de pé no meio dos discípulos e a multidão estava em um lugar”. (Epístola 67)
A eleição do bispo somente seria válida se envolvesse a participação do povo. Ele não trata essa prática como mero costume, mas como ordenança divina, portanto, obrigatória. Mais detalhes aqui.
A enciclopédia católica afirma:
Os historiadores e canonistas, no entanto, geralmente sustentam que o bispado romano foi preenchido em sua vaga da mesma maneira que outros bispados, isto é, a eleição do novo papa foi feita pelos: bispos vizinhos, clero e fiéis de Roma(Fonte)
Além do Bispo de Roma não escolher os bispos de outras Igrejas, sua própria eleição envolvia participação popular.
2 – Não é uma sucessão ininterrupta. Um papa é eleito geralmente quando o antecessor já está morto, sempre há um intervalo em que a sé fica vacante. Dessa forma sempre há lacunas e rupturas na cadeia. Qual o intervalo aceitável entre dois papas? Por exemplo, de acordo com uma lista típica de papas não havia papa durante todo o ano 259, 305-307, 639, 1242, 1269-1270, 1293, 1315, e 1416. A cátedra de Pedro poderia ficar vacante por mais de 200 anos por exemplo sem comprometer a cadeia ininterrupta de sucessão? A Igreja Romana nunca definiu o tempo máximo de vacância.
3 – Os antipapas. Houve mais de 40 antipapas. Como um papa não era escolhido por seu antecessor, ninguém pode afirmar infalivelmente qual o papa legítimo entre os reclamantes. Alguém pode dizer que o papa legítimo é o declarado pelo papa legítimo posterior, mas como se pode saber se esse sucedeu ao papa verdadeiro e não ao antipapa. A definição da questão não raramente envolveu o uso da força e mortes.
Um exemplo conhecido é do papa Dâmaso e antipapa Ursino. Os dois foram eleitos simultaneamente. O erudito patrístico J. N. D Kelly escreve:
Dâmaso contratou uma gangue de bandidos que invadiu a Basílica Juliano, realizando um massacre de três dias dos ursinianos. (The Oxford Dictionary of Popes - USA: Oxford University Press. pp. 32)
A situação ficou tão grave que os prefeitos da cidade tiveram que intervir. Após um massacre de 137 pessoas na atual basílica Basilica di Santa Maria Maggiore, Ursino foi banido da cidade.
4 – O tri papado de Avignon. Esse episódio é conhecido como “grande cisma do ocidente”. Trata-se de um período com três papas simultaneamente reclamando a sucessão de Pedro. Como não havia nenhum acordo sobre qual era o verdadeiro, foi convocado o concílio de Constança. Esse concílio depôs os três papas e, posteriormente, um novo foi eleito. Dessa forma, a solução empregada foi colocar a autoridade do concílio acima do papa, levando a uma quebra na sucessão. Mais informações aqui.
5 – Os papas imorais: O Novo Testamento coloca como condição para o episcopado qualidades morais que uma boa quantidade deles não chegou perto de cumprir (1 Coríntios 5:11-13, Tito 1:6-9 e 1 Timóteo 3:1-7). Os católicos respondem que Pedro negou Jesus e ainda assim permaneceu apóstolo, portanto, a pecabilidade de um papa não retiraria sua autoridade. A analogia é falsa. Pedro cometeu pecados e se arrependeu tornando-se um homem de caráter irrepreensível. Já a respeito dos papas imorais, a maioria sequer demonstrou arrependimento. Não se tratava também de simples pecadores, mas de homens mergulhados no pecado a tal ponto que não seria exagero dizer que não eram cristãos. Será que Jesus Cristo ou Pedro escolheriam não crentes para o ministério? O Espírito Santo guiaria a escolha de papas que seriam uma desonra para o nome de Cristo. À luz da Escritura certamente não. Cipriano testemunha que na Igreja Primitiva era dever dos fiéis depor um bispo imoral. O bispo de Cartago certamente diria que os papas da renascença deveriam perde sua autoridade em virtude do modo pecaminoso de vida:
Nem deixe o povo se bajular por que estão livres do contágio do pecado, enquanto comunicam com um sacerdote que é um pecador, e dando seu consentimento ao episcopado injusto e ilegal de seu administrador, quando a reprovação divina através de Oseias o profeta ameaça, e diz, “Seus sacrifícios serão como o pão de pranteadores; todos que o comerem serão imundos”, ensinando manifestamente e mostrando que estão absolutamente ligados ao pecado todos aqueles que foram contaminados pelo sacrifício de um sacerdote profano e injusto (...) De cujo relato um povo obediente aos preceitos do Senhor, e temendo a Deus, deve se separar de um prelado pecaminoso, e não se associar com os sacrifícios de um sacerdote sacrílego, especialmente desde que eles mesmos possuem o poder ou de escolher sacerdotes dignos ou de rejeitar os indignos(Epístola 67)
Não era apenas uma faculdade, mas um dever se afastar do bispo pecaminoso. O Novo Testamento (Mateus 18:15-17; 1Coríntios 5.1-13; 2Coríntios 2.6 e 2Tessalonicenses 3.6-15) relata o procedimento da Igreja diante daqueles que persistem em seus pecados. Esses deveriam ser advertidos e caso permanecessem na prática excomungados. Muitos papas permaneceram na prática reiterada do pecado durante toda a vida. João XII, por exemplo, foi morto pelo marido de sua amante. De acordo com a Escritura, um bispo que tivesse um procedimento reiteradamente pecaminoso deveria perder a sua autoridade. Portanto, pelo menos alguns bispos romanos foram elos quebrados da sucessão papal.
Policarpo de Esmirna também compartilha da opinião de que líderes pecaminosos devem perder o ofício:
Eu estou muito triste por Valente, que foi presbítero entre vocês, pois ele não entendeu completamente o cargo que foi lhe dado [na Igreja]. Exorto-os, portanto, que se abstenham da avareza, e que sejam castos e verdadeiros. "Abstenham-se de todo tipo de mal". Pois se um homem não pode se governar nestes assuntos, como pode ensina-los aos outros? Se um homem não se mantém longe da avareza, ele se desonra pela idolatria, e deve ser julgado como um dos pagãos. (Epístola aos Filipenses)
Para mais detalhes sobre os papas imorais aqui.
6 – A doutrina da intenção: para que os sacramentos sejam válidos e eficazes, o oficiante deve ter a intenção correta (a intenção de fazer o que a Igreja diz). Como ninguém pode sondar a mente do outro, não há como afirmar certamente que qualquer sacramento foi válido. Isso afeta diretamente a ordenação. Nenhum católico pode garantir que todos os papas foram devidamente ordenados. Existe a possibilidade real de algum não ter sido um bispo verdadeiro. O papa Leão XIII assim afirmou quando rejeitou a sucessão apostólica da Igreja Anglicana:
A Igreja não julga a mente ou a intenção, na medida em que é algo interno por natureza, mas na medida em que se manifesta externamente, ela é obrigada a julgar a respeito disso (Fonte)
Em outras palavras, se a Igreja não pode julgar a mente ou intenção de alguém, não pode garantir sua própria sucessão apostólica. Dado que muitos papas chegaram ao cargo por conchavos políticos e suborno, a intenção invalida não é apenas uma possibilidade remota, mas algo provável. Sobre a doutrina da intenção aqui.
7 – Um papa deposto voltou a ser papa. Segundo a enciclopédia católica:
Aproveitando-se da vida dissoluta que ele estava conduzindo, uma das facções na cidade aproveitou-se (1044) em meio a maior desordem, e elegeu um antipapa (Silvestre III), na pessoa de João, bispo de Sabina (1045 -Ann . Romani, o init. Victor, Dialogi, III, o init.). Bento, no entanto, conseguiu expulsar Silvestre no mesmo ano; mas, como alguns diziam, que ele poderia se casar, renunciou ao seu cargo em favor do arcipreste João Graciano por uma grande soma. João foi então eleito papa e tornou-se Gregório VI (Maio, 1045). Arrependendo-se de seu negócio, Bento esforçou-se para depor Gregório. Isso resultou na intervenção do rei Henrique III. Bento, Silvestre e Gregório foram depostos no Concílio de Sutri (1046) e um bispo alemão (Singer) tornou-se Papa Clemente II. Depois de sua morte rápida, Bento novamente apossou-se de Roma (novembro de 1047), mas foi expulso para abrir caminho para um segundo papa alemão, Dâmaso II (novembro de 1048). (Fonte)
Um papa que renunciou ao cargo por suborno, se arrependeu e voltou a ser papa. Nesse intervalo, um concílio fruto da intervenção de um rei depôs três papas (seja lá qual era o verdadeiro). Trata-se de um exemplo claro de quebra da sucessão.
8 – Papas hereges. Pedro não poderia ensinar heresias, portanto um papa herege não poderia ser um sucessor legítimo. O caso mais conhecido é o de Honório que ensinou a heresia monotelita, segundo a qual Jesus tinha apenas uma vontade:
E estas coisas decidimos manifestar à vossa mui santa fraternidade para que, estabelecendo esta confissão, possamos mostrar-nos de uma mesma mente com vossa santidade, estando claramente de acordo num mesmo espírito, com um mesmo ensino da fé ... E escrevemos aos nossos colegas e irmãos, Ciro e Sofrónio, para que não persistam na nova expressão de uma ou duas energias.
Também confessamos uma só vontade de nosso Senhor Jesus Cristo. (Denzinger # 251)
Honório foi condenado como herege pelo sexto concílio ecumênico:
Na Sessão 13ª de 28 de março, as duas cartas de Sérgio foram condenadas, e o concílio acrescentou: “Àqueles cujos ímpios dogmas execramos, julgamos que os seus nomes também sejam expulsos da santa Igreja de Deus ... E além destes decidimos que Honório também, que foi papa da antiga Roma, seja com eles expulso da santa Igreja de Deus, e anatematizado com eles, porque verificamos na sua carta a Sérgio que seguiu a opinião deste em tudo, e confirmou os seus dogmas ímpios”. Estas últimas palavras são suficientemente verdadeiras, e, se Sérgio tinha de ser condenado, Honório não podia ser recuperado. Os legados [papais] não objetaram a sua condenação. (John Chapman, Pope Honorius I. The Catholic Encyclopedia, vol. VII)

Sobre papas hereges aqui.
9 – Papas que sucumbiram à perseguição ou pressões políticas. O papa Libério assinou uma confissão de fé ariana:
Assim se esforçaram [os conspiradores arianos] ao princípio para corromper a Igreja dos romanos, desejando introduzir a impiedade nela assim como noutras. Mas Libério, depois de ter estado no exílio dois anos, cedeu, e por medo à ameaça de morte subscreveu. Ainda assim, isto só mostra a conduta violenta, e o ódio de Libério contra a heresia, e o seu apoio a Atanásio, enquanto se lhe permitiu exercitar uma livre escolha. (História dos arianos – 41)
O historiador católico Eamon Duffy afirma:
Por outro lado [a um bispo romano que anteriormente tinha sido martirizado], na próxima perseguição sob Diocleciano em 303, Papa Marcelino (296-304?) teria cedido à pressão. Ele entregou cópias das escrituras e ofereceu sacrifício aos deuses. Ele morreu um ano depois em desgraça, e a igreja romana passou a esquecê-lo. (Santos e Pecadores: A História dos Papas [New Haven e Londres: Yale University Press, 1997]. p 14)
O patriarca Pedro de Alexandria dá testemunho sobre o destino daqueles que cediam diante das perseguições:
Não é certo também que os do clero que desertaram por sua própria vontade, e tem falhado, e voltam à luta novamente, devam permanecer por mais tempo em seu ofício sagrado, já que eles desampararam o rebanho do Senhor, e trouxeram culpa sobre si, algo que nenhum apóstolo fez. Quando o bendito apóstolo Paulo tinha sofrido muitas perseguições, e tinha mostrado publicamente os prêmios de várias lutas, embora soubesse que era muito melhor "partir e estar com Cristo", ainda assim ele segue em frente, e diz: "mas permanecer no corpo é mais importante para vocês". Por considerar não a sua própria vantagem, mas a vantagem de muitos, para que eles fossem salvos, julgou mais necessário estar com os irmãos do que o descanso do seu próprio corpo, e tinha cuidado deles; aquele que os ensinava a doutrina deveria ser um exemplo de fé (...) Mas quando eles desistem, trazendo sobre si mesmos alardes, trouxeram reprovação sobre si, e não podem mais desempenhar seu ministério sagrado; e, portanto, devem tomar bastante cuidado para viverem em humildade, deixando de vanglória. (Epístola canônica, 10)
A Igreja primitiva tinha padrões de disciplina mais rígidos que a Igreja Romana. Aqueles que não resistiram à perseguição como os papas Libério e Marcelino deveriam perder seus cargos.  Pedro ainda traz o exemplo de Paulo, ou seja, se o papa é um legítimo sucessor de um apóstolo, deve se portar como ele.
 10 – Papas que chegaram ao poder por conchavos políticos ou simonia. Casos como esses são abundantes na história. Exemplo conhecido é o de Alexandre VI:
Rodrigo Bórgia usou sua fortuna e promessas para comprar a maior parte dos votos dos vinte e três cardeais quando se realizou o conclave para definir a sucessão do papa Inocêncio VIII. (Fonte)
Duffy escreve:
Sem o apoio do império, o papado se tornou a posse das grandes famílias romanas, uma passagem para o domínio local para o qual os homens estavam dispostos a estupro, assassinato e roubo. Um terço dos papas eleitos entre 872 e 1012 morreu em circunstâncias suspeitas - John VIII (872-82) espancado até a morte por sua própria facção, Estevão VI (896-7) estrangulado, Leão V (903) assassinado por seu sucessor Sérgio III (904-11), João X (914-28) sufocado, Estevão VIII (939-42) horrivelmente mutilado, um destino compartilhado pelo antipapa grego João XVI (997-8) que, infelizmente para ele, não morreu com a remoção de seus olhos, nariz, lábios, língua e mãos. A maioria desses homens foi manobrada ao poder por uma sucessão de famílias poderosas - os Theophylacts, os Crescentii, os Tusculani. João X, um dos poucos papas desse período que tomou posição contra a dominação aristocrática, foi deposto e assassinado no Castelo Santo Ângelo pelos Theophylacts, que o havia nomeado em primeiro lugar (...) Dos vinte e cinco papas entre 955 e 1057, treze foram nomeados pela aristocracia local, enquanto os outros doze foram nomeados (e nada menos do que cinco demitido) pelos imperadores alemães. O antigo axioma de que ninguém pode julgar o papa ainda estava nos livros canônicos, mas na prática há muito tempo foram anulados. Os próprios papas estavam profundamente envolvidos na guerra dinástica da nobreza romana, e eleição à cátedra de Pedro, como já vimos, era frequentemente uma mercadoria para venda ou troca(Duffy, op. cit., pp 82-83, 87)
O papa Júlio II declarou nulas todas as eleições em que houve simonia:
Foi contra a simonia que Júlio II emitiu a bula Julius II. Divino Cum Tam (1503), determinando que a eleição simoníaca do papa deve ser considerada nula; que qualquer um poderia atacá-la; que os homens não devem obediência a um papa assim eleito; que os acordos simoníacos devem ser inválidos; que os cardeais culpados devem ser excomungados até à sua morte, e que o restante deve proceder imediatamente a uma nova eleição.
(1911 Encyclopædia Britannica/Conclave)
É visível a qualquer investigador que a sucessão papal não foi divinamente orientada. Pelo contrário, trata-se de uma longa história de pecado e corrupção. Porque o Espírito Santo que inspirou Paulo a ensinar critérios tão firmes para o epsicopado iria guiar a escolha de homens cujo caráter passa longe de cumpri-los.
11 – Não havia bispo monárquico até a segunda metade do séc. II. O elo mais fraco da sucessão papal está no início. O Novo Testamento (Atos 11:30; 14:23; 15:2; 20:17) demonstra que os apóstolos escolhiam uma colegialidade de presbíteros (πρεσβυτέρος) para governar as Igrejas. Bispos e presbíteros são termos intercambiáveis na escritura (Fil. 1:1; 1 Tim 3:1-7; At 20:28). Esse modelo de governo foi gradualmente sendo substituído pelo episcopado monárquico, em que um bispo sozinho era escolhido para liderar a Igreja.
Documentos antigos como Pastor de Hermas (visões 2.4 e 3.9), 1 Clemente e a Epístola de Inácio aos Romanos evidenciam que a Igreja de Roma não tinha bispo monárquico. Hoje, há um sólido consenso histórico a esse respeito, reconhecido até mesmo por historiadores católicos:
O teólogo e sacerdote jesuíta Klaus Schatz afirma:
No entanto, ele [Clemente de Roma] não é apontado como o autor da carta; em vez disso, o verdadeiro remetente é a comunidade romana. Nós provavelmente não podemos dizer com certeza que havia um bispo de Roma na época. Parece provável que a igreja romana era governada por um grupo de presbíteros, de quem muito rapidamente surgiu um oficiante ou "primeiro entre iguais", cujo nome foi lembrado e que posteriormente foi descrito como "bispo", após meados do século II. (Papal Primacy - Minnesota: The Liturgical Press, 1996, p. 4)
O renomado historiador católico Paul Johnson escreveu:
Com efeito, provavelmente o primeiro bispo romano, em algum sentido significativo, foi Sotero (166-174).(História do Cristianismo – Rio de Janeiro: Imago Ed. 2001, p. 78)
Francis Sullivan, sacerdote e proeminente historiador e teólogo católico, afirma:
Jones então traz a questão que formou o título do seu artigo “havia um bispo de Roma no primeiro século? ” Como os leitores irão lembrar, eu tenho afirmado a concordância com o consenso dos estudiosos de que a evidência disponível indica que a Igreja de Roma era liderada por um colégio de presbíteros(...) outra razão para a opinião frequente de que um colégio dos presbíteros liderou a igreja de Roma até o segundo século é baseada em O Pastor de Hermas, um trabalho cujo consenso geral é ter sido escrito em Roma, durante a primeira metade desse século. Como em I Clemente, os termos utilizados aqui para se referir a pessoas em cargos de liderança estão todos no plural: "líderes", "presbíteros que presidem a Igreja", "líderes da igreja e ocupantes dos bancos de honra " (...) o pastor não faz referência a qualquer pessoa no singular que tenha um papel de liderança na igreja. No entanto, o argumento não se baseia apenas em silêncio sobre um bispo; na minha opinião, a evidência mais forte em ambos I Clemente e O pastor é o uso consistente do plural referindo-se àqueles em posições de liderança. Por isso, não posso concordar com o julgamento de Jones de que parece haver pouca razão para duvidar da presença de um bispo em Roma já no primeiro século. (From Apostles to Bishops: The Development of the Episcopacy in the Early Church. New York: The Newman Press, 2001, pp. 221-222)
Para mais informações sobre a liderança da igreja primitiva aqui.
12 – Não há sólida evidência histórica de que Pedro tenha sido bispo de Roma. As primeiras listas de sucessão da igreja romana não colocam Pedro como seu bispo. Irineu e Eusébio afirmam que o primeiro bispo foi Lino, enquanto Tertuliano afirma que foi Clemente. O primeiro documento a colocar Pedro como bispo de Roma é o catálogo liberiano, produzido em Roma para demonstrar a sucessão dessa Igreja. Foi elaborado mais de 300 anos após a morte de Pedro e possui erros graves como apresentar dois Anacletos como 4º e 5º bispos.
Sullivan afirma:
O primeiro problema tem a ver com a noção de que Cristo ordenou os apóstolos como bispos. Por um lado, não há dúvida verdadeira de que o mandato que Cristo deu aos apóstolos incluía o triplo ofício de ensino, governo e santificação, que são descritos pelo Vaticano II como conferidos pela consagração episcopal (LG 21). Todavia, a exatidão em descrever os próprios apóstolos como “bispos” é outra questão. Um bispo é um pastor residencial que preside de forma estável sobre a igreja de uma determinada cidade e seus arredores. Os apóstolos eram missionários e fundadores de igrejas; não há evidência, e nem é de todo provável, que quaisquer deles tenham tido residência permanente em alguma igreja em particular como bispo(Ibid., pp. 14)
O reconhecido teólogo católico Hans Küng escreveu:
Por um longo tempo tem havido consenso entre os estudiosos: mesmo teólogos protestantes afirmam agora que Pedro sofreu martírio em Roma. Reciprocamente, teólogos católicos admitem que não há evidência confiável de que Pedro esteve a cargo da Igreja de Roma como suprema cabeça ou bispo. Em todo o caso, o episcopado monárquico foi introduzido em Roma relativamente mais tarde.
(The Catholic Church: A Short History. Hachette UK, 2011. Pp 16)
Mais informações aqui.
A sucessão papal é uma corrente com vários elos quebrados. Vimos que há boas razões para rejeitar sua validade. Nenhum católico pode afirmar certamente a validade de sua igreja com base nas listas papais. É impossível provar a validade de cada eleição ou ordenação que originou um papa. Além disso, há sólidas razões históricas para rejeitar os primeiros elos dessa corrente.
J.N.D. Kelly observou que a legitimidade de alguns dos papas continua a ser contestada até hoje. Por exemplo:
A legitimidade do pontificado [de Leão VIII], pelo menos até a morte João XII, foi contestada; isso depende da validade debatida entre os canonistas da deposição de João (...) [de Silvestre III] direito a ser considerado um papa autêntico é uma questão em aberto (...) Geralmente classificado como um antipapa, a alegação [de Alexandre V] ser um papa autêntico ainda está em discussão, e alguns historiadores lhe dão a descrição de "papa concílio”. (Op.Cit., pp. 127, 144, 237)

2 comentários:

  1. Graça e paz, meu caro. Apesar do pouco de existência, seu blog já possui uma quantidade bem considerável de posts e, pelo pouco li, pude perceber que são de alta qualidade.

    Parabéns pelo belo trabalho.

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    1. Obrigado Fabiano,

      Conto com a sua participação. Que Deus o abençoe!

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