Clemente de Roma (35-95)
Irmãos,
sede cheios de imitação e zelo no que se refere à salvação. Vós vos curvastes
sobre as Sagradas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras dadas pelo Espírito
Santo. Sabeis que nada de injusto e de falso está escrito nelas. (1 Clemente 45:1-3)
Caríssimos,
conheceis, e conheceis bem, as Sagradas Escrituras, e vos inclinastes sobre as
palavras de Deus. Nós vos escrevemos
essas coisas para recordar. (1 Clemente 53:1)
Estas são passagens menos explícitas. Podemos perceber que os
crentes de Corinto conheciam as Escrituras e ao invés de instrui-los a respeito
do seu infalível significado, Clemente pretende apenas lembra-los de seu
conteúdo – uma atitude que seria incompatível para alguém que não cresse na
perspicácia dos livros sagrados.
Policarpo de Esmirna (69-155)
Creio
que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido.
Nessas Escrituras está dito: “Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se
ponha sobre vossa cólera.” Feliz quem se
lembrar disso. Acredito que é assim convosco. (Aos Filipenses cap. 12)
Policarpo
escreve aos Filipenses de forma semelhante a Clemente, procurando lembrar
verdades que os crentes já conheciam das Sagradas Letras.
Irmãos, não é por mim mesmo
que vos escrevo essas coisas sobre a justiça, mas porque vós mesmos o pedistes
a mim. De fato, nem eu, nem qualquer outro como eu pode se aproximar da
sabedoria do bem-aventurado e glorioso Paulo. Ele, estando entre vós, falando
pessoalmente aos homens de então, ensinou com exatidão e força a palavra da
verdade e depois de partir, vos escreveu cartas. Se as lerdes atentamente, podereis edificar-vos na fé que vos foi dada.
(Aos Filipenses cap. 3)
O
bispo os instrui a lerem atentamente as cartas de Paulo, que seriam suficientes
para edifica-los na fé recebida pelo apóstolo. Nesta geração, já não estavam
aqueles que ouviram Paulo, mas eles poderiam conhecer a fé pregada pela leitura
das cartas.
Inácio
de Antioquia (35 – 107)
É que ouvi alguns dizerem: “Se não o encontro nos documentos antigos,
não dou fé ao Evangelho”. Dizendo eu a eles “Está escrito”, responderam-me: “É o que se deve provar” Para mim,
documentos antigos são Jesus Cristo; para mim documentos invioláveis constituem
a Sua Cruz, Sua Morte, Sua Ressurreição, como também a Fé que nos vem d'Ele!
Nisso é que desejo, por vossa oração, ser justificado. (Aos Filadelfienses cap.
8)
Inácio
responde ao argumento de que o evangelho de Cristo não constava dos documentos
antigos (antigo testamento). Ele objeta dizendo que está, e aponta para a
mensagem do novo testamento. O bispo de Antioquia respondeu ao argumento
apelando à outra parte das Escrituras e não a algum magistério infalível. Essa
é uma prática comum dos pais da Igreja quando lidavam com controvérsias
doutrinárias. Eles sempre argumentavam a partir da Escritura. Mas seria inútil
argumentar usando uma fonte obscura demais para ser compreendida, a atitude
natural seria apontar para o ensino final e infalível do magistério – o que os
romanistas fazem atualmente. O comportamento geral dos pais se adequa melhor a
uma noção de suficiência formal.
Pais, "criem seus
filhos na disciplina e admoestação do Senhor"; e os ensinem as Sagradas Escrituras, e também instruam para que
eles não sejam preguiçosos. Agora [a Escritura] diz: "Um pai justo educa
[seus filhos] bem, seu coração se alegrará num filho sábio." (Aos
Filadelfienses cap. 4 – versão longa)
Essa
citação foi tirada da versão longa, muitos estudiosos acreditam que se trata de
uma adição posterior. Ainda que seja, trata-se de uma adição antiga. Não é dito
muita coisa sobre a perspicácia da Escritura, mas Inácio pressupõe que as
Escrituras podem ser compreendidas por crianças e que seus pais seriam
professores habilitados.
Justino
Mártir (100 – 165)
Eu tenho o propósito de
citar para vocês as Escrituras, não porque eu esteja ansioso em fazer apenas
uma exposição artística de palavras, pois eu não possuo tal faculdade, mas porque tenho de Deus a graça a mim
concedida para a compreensão de suas Escrituras. (Diálogo com Trifão Cap
58)
Essa
citação é importante porque Justino não era um sacerdote, não era bispo ou
presbítero, portanto, não fazia parte da hierarquia da Igreja. Ele, sendo um
leigo, compreendia que a graça de Deus lhe permitia compreender as Escrituras,
como creem os evangélicos.
E eu
respondi: "Eu não iria apresentar essas provas, Trifão, pelo qual estou
ciente que aqueles que adoram estes [ídolos] estão condenados, mas a tais
[provas] ninguém poderia encontrar qualquer objeção. Elas irão parecer
estranhas a você, embora você as lê todos os dias; de modo que mesmo a partir
deste fato, entendemos que, por causa de sua maldade, Deus tem o impedido de
discernir a sabedoria de suas Escrituras; Ainda [há] algumas exceções, a
quem, de acordo com a graça de sua longanimidade, como disse Isaías, Ele deixou
uma semente de salvação, para que o seu povo seja totalmente destruído, como
Sodoma e Gomorra. Preste atenção, pois, àquilo que eu vou registrar fora das
Escrituras sagradas, que não precisam
ser expostas, mas apenas ouvidas. (Ibid., Cap 55)
Justino
reconhece que Deus tirou o entendimento de Trifão, mas ainda diz que as
Escrituras são claras a ponto de precisarem apenas ser ouvidas e compreendidas.
Irineu
de Lyon (130 – 202)
Em
compensação, uma inteligência sã, equilibrada, piedosa e amante da verdade dedicar-se-á
a considerar as coisas que Deus pôs em poder dos homens, à disposição dos
nossos conhecimentos, e aplicando-se
a elas com todo o seu ardor, progredirá e, pelo estudo constante, terá conhecimento
profundo. Estas coisas são tudo o que
cai debaixo dos nossos olhares e tudo o que está contido, claramente e sem ambiguidade,
em termos próprios nas Escrituras. Eis por que as parábolas não devem ser adaptadas
a coisas ambíguas, porque quem as explica o deve fazer sem acrobacias e
devem ser explicadas por todos
da mesma maneira, e assim o corpo da verdade se manterá íntegro, harmoniosamente
estruturado e livre de transformações (...) Ora, todas as Escrituras, profecias e evangelhos, que todos têm a
possibilidade de ouvir, ainda que nem todos acreditem, proclamam claramente e
sem ambiguidade , excluindo qualquer outro, que um só e único Deus criou todas
as coisas por meio de seu Verbo, as visíveis e as invisíveis, as celestes e as
terrestres, as que vivem na água e as que se arrastam debaixo da terra, como
demonstramos com as próprias palavras da Escritura. Por seu lado, o mundo
em que nós estamos, por tudo o que apresenta aos nossos olhares, testemunha que
é único quem o fez e o governa. Então,
como parecem néscios os que diante de manifestação tão clara, estão com os
olhos cegos e não querem ver a luz da pregação, que se fecham em si mesmos e
com explicações obscuras das parábolas se imaginam, cada um, de ter encontrado
o seu Deus! Com efeito, no que diz respeito ao Pai imaginado por eles, nenhuma
Escritura diz algo claramente, em termos próprios e sem contestação possível; e
eles próprios são testemunhas disso quando afirmam que o Salvador ensinou estas
coisas secretamente, não a todos, mas a alguns discípulos capazes de
entendê-las, indicando-as por meio de provas, enigmas e parábolas. E chegam ao
ponto de dizer que um é o que é chamado Deus e outro é o Pai, indicado pelas
parábolas e pelos enigmas. (Contra as Heresias 2:27:1-2)
Irineu falava contra
os gnósticos. Eles afirmavam que a Escritura era ambígua e de difícil
compreensão, por isso, era necessário seguir a tradição oral originada nos apóstolos
para compreender corretamente as parábolas de Jesus – uma posição semelhante ao
catolicismo romano. Como o bispo os responde? Apontando para a interpretação de
um magistério infalível? Seria a reação natural de qualquer católico romano,
mas não, aponta para a clareza das Escrituras. Irineu argumenta que as
Escrituras são tão claras que não é necessário fazer acrobacias para
explica-las. Ou seja, não precisamos tornar complexo o que é simples e claro.
Quando são vencidos pelos
argumentos tirados das Escrituras retorcem a acusação contra as próprias
Escrituras, dizendo que é texto corrompido, que não tem autoridade, que se
serve de expressões equívocas e que não podem encontrar a verdade nele os que
desconhecem a Tradição. Com efeito - dizem eles - a verdade não foi
transmitida por escrito, mas por viva voz, o que levou Paulo a dizer: "É
a sabedoria que pregamos entre os perfeitos, não, porém, uma sabedoria deste
século". E cada um deles diz que esta sabedoria é a que ele descobriu, ou
melhor, inventou, e assim se torna normal que a verdade se encontre ora em
Valentim, ora em Marcião, ora em Cerinto e depois em Basílides ou nalgum outro
contendente, sem nunca ter podido afirmar nada acerca da salvação. Cada um
deles está tão pervertido que, falsificando a regra da verdade, não cora de
vergonha ao pregar a si mesmo. (Ibid., 3:2:1)
Irineu denuncia nos
gnósticos algo que os romanistas também fazem. Ambos acusam as Escrituras de
serem obscuras, ambíguas e difíceis de entender..
Ademais
em toda a carta, o apóstolo [Paulo]
afirma claramente que nós fomos salvos pela carne de nosso Senhor e pelo seu sangue.
(Ibid., 5:14:3)
Leia com maior diligência aquele evangelho que nos foi dado pelos
apóstolos; e leia com maior diligência
os profetas, e você encontrará cada ação e toda a doutrina de Nosso Senhor
neles pregados. (Ibid., 4:66)
O bispo de Lyon
instrui a ler com diligência o evangelho apostólico e os profetas – uma
provável referência à novo e antigo testamento. O leitor individualmente
conseguiria perceber cada ação e doutrina pregada pelo Senhor.
Teófilo de Antioquia (? – 186)
Portanto,
não sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse,
mas agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas
Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírito de Deus,
predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro
tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de
terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus. Eu te peço:
submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que
crer mais tarde em tormentos eternos. Esses tormentos foram preditos pelos
profetas, e os poetas e filósofos, posteriores a eles, os imitaram a partir das
Sagradas Escrituras, para dar autoridade aos seus ensinamentos. Desse modo,
eles também falaram antecipadamente dos castigos que recairão sobre os ímpios e
incrédulos, para que ficassem testemunhados para todos e ninguém pudesse dizer:
"Não ouvimos falar disso, nem sabemos". Se quiseres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas e
elas te guiarão com mais clareza para escapares dos castigos eternos e
alcançares os bens eternos de Deus (...) Amigo, tu replicaste: "Mostra-me teu Deus". Pois bem:
esse é o meu Deus, e te aconselho que o temas e creias nele. (I Livro a
Autólico Cap. 14)
Teófilo não apenas
conta sua história pessoal de conversão pela leitura das Escrituras, mas também
recomenda sua leitura, pois é uma guia claro para a salvação.
Do
mesmo modo falaram os outros profetas da verdade. Para que enumerar toda a
multidão de profetas, que foram muitos e disseram infinitas coisas, coerentes e
concordes entre si? Os que quiserem
podem, lendo seus escritos, conhecer exatamente a verdade e não extraviar- se
em especulação e trabalho inútil. (II Livro a Autólico Cap. 35)
Ele vê as Escrituras
como algo que pode ser lido e compreendido. Não há nada nas obras de Teófilo
que aponte para um magistério infalível necessário para interpretação correta
dos livros sagrados.
Taciano (120 – 180)
Tendo
visto isso tudo, e também depois que me iniciei nos mistérios e examinei as
religiões de todos os homens, instituídas por eunucos efeminados, encontrando
entre os romanos aquele que eles chamam de Júpiter Laciar, que se compraz em
sacrifícios humanos e no sangue dos executados; que Diana, não longe da grande
cidade, exigia o mesmo tipo de sacrifícios; por fim, que numa parte um demônio,
e em outra, outros se entregavam em perpetrar iniquidades semelhantes, entrando
em mim mesmo, comecei a perguntar-me de
que modo ser-me-ia possível encontrar a verdade. Em meio às minhas graves reflexões, caíram-me casualmente nas mãos
algumas Escrituras bárbaras, mais antigas que as doutrinas dos gregos e,
se considerarmos os erros destes, são realmente divinas. Tive que acreditar nelas, por causa da simplicidade de sua língua, pela
maturidade dos que falam, pela fácil compreensão da criação do universo, pela
previsão do futuro, pela excelência dos preceitos e pela unicidade de comando
do universo. Com a alma ensinada pelo próprio Deus, compreendi que a doutrina helênica
me levava para a condenação; a bárbara, porém, livrava-me da escravidão do
mundo e me afastava de muitos senhores e tiranos infinitos. Ela nos dá, não o que não tínhamos
recebido, mas o que, uma vez recebido, o erro nos impedia de possuir.
(Discurso contra os Gregos Cap. 29)
Temos o importante
testemunho de conversão desse autor Cristão primitivo que chegou à verdade
lendo diretamente as Escrituras. Em seu discurso, exalta a superioridade das
Escrituras em relação aos escritos helênicos, atribuindo-lhe uma série de
características que implicam na clareza das Sagradas Letras que são suficientes
para salvar o pecador.
Clemente de Alexandria (150-215)
Agora
é o momento, como já mostramos em outros pontos, para ir às Escrituras proféticas;
para os oráculos oferecidos a nós com os instrumentos necessários para o
conhecimento da piedade, e então estabelecer a verdade. As Escrituras Divinas e
Instituições da sabedoria divina formam a estrada curta para a salvação.
Desprovida do embelezamento, da beleza exterior de dicção, de palavreado e
sedução, elas levantam a humanidade estrangulada pela maldade, ensinando os
homens a desprezar os infortúnios da vida; e com uma única e mesma voz remediam
muitos males, que ao mesmo tempo nos dissuade do engano maligno, e claramente nos exorta para o conhecimento
da salvação diante de nós. (Exortação aos pagãos cap. 8)
Não requer muitos
comentários. A Escritura não tem apenas o conteúdo necessário para nossa
salvação, ela também apresenta este conteúdo de forma clara.
Mas a piedade, que faz o homem, tanto quanto pode ser, como
Deus, designa Deus como nosso professor adequado, o único que pode dignamente
assimilar o homem a Deus. Este ensinamento do apóstolo conhecido como
verdadeiramente divino. "Tu, ó
Timóteo," diz ele, "desde criança sabe as letras sagradas, que são
capazes de tornar-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo
Jesus." Verdadeiramente santas são aquelas letras que santificam e
deificam; e os escritos ou volumes que consistem essas letras sagradas e
sílabas, o mesmo apóstolo, consequentemente, chama de "inspirado por Deus,
sendo útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação
na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra." Ninguém será tão impressionado com as exortações
de qualquer dos santos, como ele é pelas palavras do próprio Senhor, que ama o
homem. Por isso, e nada mais que isso, é o seu único trabalho - a salvação do
homem. Portanto Ele mesmo, instando-os sobre a salvação, grita: "O reino
dos céus está próximo." Aqueles homens que se aproximam com temor,
convertem-se. Assim também o apóstolo do Senhor, suplicando aos macedônios,
torna-se o intérprete da voz divina, quando diz: "O Senhor está perto;
tomem cuidado para que não sejais encontrados inúteis". Mas que sois tão
desprovidos de temor, ou melhor, de fé, de forma a não acreditar que o Senhor
mesmo, ou Paulo, que em lugar de Cristo suplica assim:". Provai e veja que
Cristo é Deus? " A fé vai levar você; experiência vai lhe ensinar; Escritura irá treiná-lo, pois ele diz:
"Vem, ó filhos; escute-me, e eu vos ensinarei o temor do Senhor.
"Então, como para aqueles que já creem, ele brevemente acrescenta:"
Quem é o homem que deseja a vida, que ama ver bons dias? "É o que nós
diremos - nós que somos os devotos de bem, nós que desejamos ansiosamente
coisas boas. Ouvi, então, vós que estais longe, ouvi os que estão perto: a palavra não foi escondido de ninguém; a luz
é universal, ela brilha "sobre todos os homens." (Ibid., cap. 9)
Clemente
atribui função magisterial às Escrituras. Ela em si, sem um intérprete
exclusivo, treina o homem. A luz dessa mensagem brilha sobre todos os homens.
É, portanto, de nenhuma vantagem para eles após o fim da
vida, mesmo que eles façam boas obras agora, se eles não têm fé. Por isso também as Escrituras foram
traduzidas para a língua dos gregos, a fim de que eles nunca aleguem a desculpa
da ignorância, na medida em que eles são capazes de ouvir também o que temos em
nossas mãos, se eles apenas desejarem. Fala-se de uma forma da verdade, de uma
outra maneira a verdade interpreta a si mesma. A adivinhação na verdade é
uma coisa, e a própria verdade é outra. A semelhança é uma coisa, a coisa em si
é outra. E um é resultado da aprendizagem e prática, o outro de poder e fé.
Pois o ensino da piedade é um dom, mas a fé é a graça. "Pois fazendo a
vontade de Deus conhecemos a vontade de Deus." Então diz a Escritura,
"As portas da justiça; eu vou entrar, e confessar ao Senhor." (Stromata
Livro I Cap. 7)
Trata-se
de uma forte declaração em favor da suficiência formal. O pai da Igreja diz que
os Gregos não podem alegar ignorância, pois também podem ler a Bíblia. A
verdade é perceptível a partir da própria Escritura, o que é confirmado pelo
trecho “a verdade interpreta a si mesma”.
Por
isso, na educação divina, é necessário a imposição de deveres sobre nós, como
as coisas ordenado por Deus e fornecidas para a nossa salvação. Mas, das coisas
que são necessárias, algumas são para esta vida somente, enquanto outras fazem
a alma desejar depois de uma boa vida, no outro mundo, mas é certo que algumas
obrigações são impostas meramente para viver, e outras para viver bem. Tudo o
que é imposto para a vida material é vinculativo para a multidão, mas o que é voltado para viver bem, isto
é, as coisas pelas quais a vida eterna é adquirida, devem ser recolhidas a
partir das Escrituras por aqueles que a leem, reunidas pelos menos em suas
linhas gerais. (FC, Vol. 23, Clement
of Alexandria: Christ the Educator, Chapter 13, §103
(New York: Fathers of the Church, Inc., 1954), p. 91.)
Todas as coisas
necessárias para a salvação podem ser obtidas pela leitura das Escrituras.
Alguns poderiam alegar que Clemente está defendendo apenas a suficiência
material, mas vemos que o meio de conhecer essas coisas é a leitura direta das
sagradas letras, o que implica em suficiência formal.
Mas
se a filosofia contribui remotamente para a descoberta da verdade, alcançando,
por diversos ensaios, após o conhecimento que toca de perto a verdade, o
conhecimento possuído por nós ajuda os que pretendem aprende-lo, de acordo com
a Palavra, para apreensão do conhecimento. Mas a verdade helênica é distinta
daquela mantida por nós (embora ela tenha o mesmo nome), tanto em relação à extensão
do conhecimento, certamente manifestado, poder divino, e assim por diante. Pois somos ensinados por Deus, sendo
instruído nas "letras sagradas" verdadeiramente pelo Filho de Deus.
(Stromata Livro I Cap. 20)
Nós somos ensinados
pelo próprio Deus ao sermos instruídos pelas Sagadas Letras. A não ser que
Clemente visse Deus como um professor confuso, não há outra implicação
possível, senão a perspicácia da Palavra de Deus.
Tertuliano (160 – 220)
Mas
o que os impede de perceber prontamente esta comunidade dos títulos do Pai, no
Filho, é a declaração das Escrituras, sempre que determina que Deus é apenas
um; como se a mesmíssima Escritura não tinha também previsto os dois tanto como
Deus e Senhor, como mostramos acima. Seu argumento é: Uma vez que encontramos
dois e um, portanto ambos são um e o mesmo, ambos Pai e Filho. Agora, a Escritura não está em perigo de
exigir a ajuda do argumento de ninguém, para que não pareça autocontraditória.
Ele tem um método próprio, tanto
quando se estabelece um único Deus, e também quando ele mostra que há dois, pai
e filho; e é consistente com o próprio [isto é, suficiente em si, suficit Sibi,
PL 2: 177]. É claro que o filho é mencionado por ela. Pois, sem qualquer
prejuízo para o Filho, é bem possível que ela [Escritura] tenha razão
determinando que Deus é um só, a quem o Filho pertence; uma vez que Ele que tem
um filho que não deixa de existir, - mesmo sendo apenas um, isto é, por si
mesmo, sempre que Ele é nomeado sem o Filho. (Contras Práxeas Cap. 18)
Tertuliano defende
que as Escrituras são suficientes por si mesmas, elas não precisam de alguém
para apoiar ou confirmar seus argumentos.
Ele,
portanto, não será um cristão que deverá negar essa doutrina que é confessado
pelos cristãos; negá-lo, além disso, por razões que são adotadas por um homem
que não é cristão. Leve em conta, de fato, desde
que os hereges compartilham da sabedoria com os pagãos, e deixam de apoiar seus
pedidos da Escritura somente: eles
vão, então, ser incapazes de manter seu fundamento. Pois o que elogia o
senso comum dos homens é muito simplório, e sua participação nos mesmos
sentimentos, e sua comunidade de opiniões; e é considerado o mais confiável de
todos, na medida em que as suas declarações definitivas estão nuas e abetas, e
conhecida por todos. Razão divina, pelo contrário, está na própria essência e
medula das coisas, não na superfície, e muitas vezes está em desacordo com as
aparências. (Sobre a Ressurreição da Carne Cap. 3)
Essa citação é
importante por que Tertuliano está tratando da questão da heresia. Apologistas
católicos argumentam que os hereges usavam a Bíblia para fundamentarem suas crenças,
e que somente com um magistério infalível, a Igreja poderia ser preservada do erro.
O pai latino não cria nisso. Ele apontou que um dos erros dos hereges era não
fundamentar suas doutrinas na Escritura somente (precisamente como fazem os
romanistas), mas utilizavam da sabedoria pagã. Um exemplo de como os romanistas
se parecem com os hereges atacados por Tertuliano é a transubstanciação – uma
ideia importada da filosofia aristotélica e não das Escrituras.
Orígenes (185 – 253)
Celso
prossegue dizendo que o sistema de doutrina, isto é, o judaísmo, do qual o
Cristianismo depende, foi bárbaro em sua origem. E com uma aparência de
justiça, ele não afronta o cristianismo por causa de sua origem entre os
bárbaros, mas dá o último crédito por sua habilidade em descobrir tais
doutrinas. Para isso, no entanto, acrescenta a confirmação, de que os gregos
são mais hábeis do que qualquer outro no julgamento, estabelecimento, e prática
das descobertas de nações bárbaras. Agora esta é a nossa resposta às suas
alegações, e nossa defesa das verdades contidas no cristianismo, que se qualquer vir estudar as opiniões
gregas e usos do Evangelho, ele não só vai decidir que suas doutrinas eram
verdadeiras, mas pela prática estabelecerá a sua verdade, e fornecer o que
parecia querer, de um ponto de vista grego, para sua manifestação, e, assim,
confirmar a verdade do cristianismo. Nós temos que dizer, além disso, que o
Evangelho tem uma manifestação própria, mais divina do que qualquer outra
estabelecida pela dialética grega. E
este método é chamado pelo apóstolo de "a manifestação do Espírito e do
poder do Espírito", por conta das profecias, que são suficientes para produzir
a fé em qualquer um que as lê, especialmente naquelas coisas que se relacionam
a Cristo; e de "poder", por causa dos sinais e maravilhas que
acreditamos terem sido realizados, por muitos outros motivos e por este,
que sinais deles ainda estão preservados entre os que orientam as suas vidas
pelos preceitos do Evangelho. (Contra Celso Livro I Cap. 2)
Orígenes defende a
perspicácia das Escrituras ao dizer que ao estudar as opiniões gregas e os
Evangelhos, o indivíduo chegará à conclusão da veracidade do Cristianismo.
Também afirma a capacidade das Escrituras produzirem por si mesma a fé
salvadora em que as lê.
Quanto mais se lê
diariamente as Escrituras e a compreensão aumenta, mais renovado será todos os
dias.
Duvido que uma mente que é preguiçosa com as Sagradas Escrituras e o exercício
do conhecimento espiritual possa ser renovada totalmente. (Gerald Bray, ed., Ancient Christian Commentary on
Scripture, New Testament VI: Romans (Downers
Grove: InterVarsity Press, 1998), p. 308.)
Ele afirma o aumento
da compreensão das Escrituras mediante sua leitura diária.
Se
quisermos conhecer algo sobre as coisas secretas e ocultas de Deus e se não
somos pessoas de paixões e contendas, então
vamos inquirir fielmente e com humildade os juízos de Deus que estão contidos
mais secretamente nas Sagradas Escrituras. Pois o próprio Senhor disse: Examinai as Escrituras, sabendo que
essas coisas são aplicáveis não para aqueles que estão ocupados com outros
assuntos e apenas ouvem ou leem a Bíblia de vez em quando, mas para aqueles que com um esforço puro e simples de coração abrem as
sagradas Escrituras por seu trabalho e atenção constante. Eu sei muito bem
que eu não sou um deles! Mas quem é,
deixá-lo buscar e ele vai encontrar. (Gerald
Bray, ed., Ancient Christian Commentary on Scripture,
New Testament VI: Romans (Downers
Grove: InterVarsity Press, 1998), pp. 259-260.)
Uma afirmação clara
da suficiência formal. Ele afirma que basta diligentemente e com esforço
estudar os escritos sagrados para compreender suas verdades.
E
agora, o que temos chamado de a autoridade das Escrituras deveria ser suficiente para refutar os argumentos dos hereges. (De
Principiis Livro II Cap 5)
Se a Escritura não
pode ser entendida sem a tradição ou magistério, qualquer apelo à suficiência das
Escrituras para refutar hereges seria inócua.
As
pessoas de inteligência que desejam estudar a Escritura também podem descobrir o seu significado por si
mesmas. (Contra Celso Livro VII Cap. 11)
Orígenes estava
atacando a alegação de Celso de que as Escrituras tinham um sentido obscuro e
subjetivo.
As verdades mais profundas
são descobertas por aqueles que sabem como ascender de uma fé simples e
investigar o significado que subjaz nas Escrituras divinas, conforme as admoestações de Jesus, que
disse ‘Examinai as Escrituras’, e o desejo de Paulo, que ensinou que ‘devemos
saber como responder a todo o homem’, sim, e também de quem disse ‘estai sempre
preparados para dar uma resposta a todo aquele que vos pedir a razão da fé que
há em vós’. (Contra Celso Livro III Cap. 33)
Firmiliano de Cesareia (200-268)
Mas
eles alegam e dizem, em nome dos hereges, que o apóstolo disse: "ou por
fingimento ou por verdade, Cristo seja anunciado," é inútil para nós
responder; quando é manifesto que o apóstolo, na epístola em que disse isso,
nem fez menção de hereges, nem de batismo dos hereges, mas falou de irmãos
somente, seja falando em acordo consigo mesmo, ou como perseverantes na fé
sincera; nem é necessário discutir isso
num longo argumento, mas é suficiente ler a própria carta, e extrair do próprio
apóstolo o que ele disse. (Epístola 74 de Cipriano)
Obviamente o bispo de
Cesareia está tratando uma questão doutrinária específica, mas é uma evidência
de sua hermenêutica geral. Não era preciso de outra autoridade para se chegar
ao significado do texto em questão, bastaria a leitura da carta paulina.
Cipriano de Cartago (? – 258)
Cipriano
a seu filho Quirino, saudação. Era
necessário, meu amado filho, para que ouvisse seu desejo espiritual, que
perguntou por meio de petição urgente pelos ensinamentos divinos com que o
Senhor condescendeu em nos ensinar e instruir pelas Sagradas Escrituras, que,
sendo conduzido para longe da escuridão do erro, e iluminado por sua luz pura e
brilhante, poderemos manter o modo de vida por meio dos sacramentos da salvação
(...) Mas eu inclui em minha tarefa dois livros de comprimento igualmente
moderado: um em que tenho me esforçado para mostrar que os judeus, de acordo
com o que antes tinha sido predito, havia deixado Deus, e perdido o seu favor,
que havia sido dado a eles em tempo passado, e que tinha sido prometido para o
futuro; enquanto os cristãos tinham sucedido ao seu lugar, merecendo o bem do
Senhor pela fé, e vindo de todas as nações e de todo o mundo. O segundo livro
contém igualmente o sacramento de Cristo, que Ele veio, que foi anunciado,
segundo as Escrituras, e tem feito e aperfeiçoado todas essas coisas pela qual
Ele foi profetizado como sendo capaz de ser percebido e conhecido. E estas coisas podem ser de vantagem
enquanto lê, para formar os primeiros traços de sua fé. Mais força vos será
dada, e a inteligência do coração será estabelecida cada vez mais, tanto quanto
você examinar mais plenamente as Escrituras, velho e novo, e ler os volumes
completos dos livros espirituais. Por agora, temos preenchido uma pequena
medida das fontes divinas, que gostaríamos de enviar para você. Você será capaz de beber mais
abundantemente e ser mais plenamente satisfeito, se você também se aproximar e
beber junto conosco nas mesmas fontes de plenitude divina. Eu convido você,
meu filho amado, sempre com vontade de despedida. (Tratado XII, Livro 1,
Prefácio)
Cipriano
a seu filho Quirino, saudações. De sua fé e devoção que você manifesta no
Senhor Deus, amado filho, você me pede
para juntar das Escrituras Sagradas para sua instrução algumas passagens
importantes sobre o ensino religioso de nossa escola; buscando por um curso
sucinto de leitura sagrada, para que sua mente, entregue a Deus, não possa ser
esgotada com longos ou numerosos volumes de livros, mas, instruída com um
resumo dos preceitos celestiais, possa ter um saudável e largo compêndio
para alimentar sua memória. E por que eu te devo uma abundante e amorosa
obediência, eu fiz o que você desejava. Eu trabalhei por uma vez, para que você
nem sempre trabalhe. Então, tanto quanto
minha pequena habilidade pudesse abraçar, eu compilei certos preceitos do
Senhor e ensinos divinos, que possam ser fáceis e úteis para os leitores, no
que poucas coisas digeridas em um pouco espaço são lidas rapidamente e são
frequentemente repetidas. Eu desejo a você, amado filho, sempre uma
despedida de coração. (Tratado XII, Livro 3, Prefácio)
Cipriano via as
Escrituras como suficientes em si mesmas para instrução. Ao escrever esse
tratado, o bispo de Cartago não estava produzindo comentários da Bíblia, mas
uma compilação de ensinamentos fáceis de serem aprendidos pelos leitores. A
ideia é que Quirino, ao ler os preceitos bíblicos, seria conduzido para “longe
da escuridão do erro”.
Hipólito de Roma (170 – 236)
Desta
forma, eles escolhem expor estas coisas, e fazem uso somente de uma classe de
passagens; da mesma maneira unilateral que Theodotus empregou quando tentou
provar que Cristo era um mero homem. Mas
nem uma parte nem outra têm entendido do assunto, com razão, como as próprias
Escrituras refutam sua insensatez e atestam a verdade. Veja, irmãos, o
dogma audacioso que eles introduzem, quando dizem sem vergonha que o Pai é o
próprio Cristo, Ele mesmo é o Filho, Ele mesmo nasceu, Ele mesmo sofreu, Ele
mesmo ressuscitou a si mesmo. Mas não é assim. As Escrituras falam o que é certo; mas Noetus é de uma opinião
diferente deles. No entanto, embora
Noetus não entenda a verdade, as Escrituras não devem ser repudiadas. Por
que não dizer que há um só Deus? No entanto, ele não vai nessa descrição negar
a economia (ou seja, o número e disposição das pessoas da Trindade). A maneira correta, portanto, para lidar com
a questão é antes de tudo refutar a interpretação destes homens sobre essas
passagens, e, em seguida, explicar seu significado real. Pois é certo, em
primeiro lugar, expor a verdade que o Pai é um Deus, "de quem é toda
família", "por quem são todas as coisas, de quem são todas as coisas,
e nós nele." Vamos, como eu disse, ver como ele é refutado, e então vamos
expor a verdade. Agora, ele cita as palavras, "o Egito tem trabalhado, e
as mercadorias da Etiópia e os sabeus", e assim por diante para as
palavras: "Pois Tu és o Deus de Israel, o Salvador." E estas palavras, ele cita sem entender o
que as precede. Pois sempre que eles desejam tentar qualquer coisa desleal,
eles mutilam as Escrituras. Mas deixe que ele cite a passagem como um todo e
ele irá descobrir a razão mostrada no escrito. (Contra a Heresia de Noeto, §§3-4)
Hipólito diz que as
Escrituras em si refutam a heresia cristológica em questão e atestam a verdade.
Se o herege Noeto ler a passagem em todo o seu contexto, descobrirá o real
significado. Apologistas católicos costumam citar as heresias cristológicas
como uma evidência da obscuridade da Bíblia. Hipólito afirma que a heresia deve
ser repudiada porque Noeto não compreende a verdade. A causa da heresia é a
falta de cuidado ao lidar com os escritos sagrados e o pecado dos próprios
hereges que desejam mutilar as Escrituras para estabelecerem suas opiniões.
Há, porém, irmãos, um só Deus, o conhecimento que ganhamos das Sagradas
Escrituras, e de nenhuma outra fonte. Pois, assim como um homem, se deseja
ser especialistas na sabedoria deste mundo, vai encontrar-se incapaz de chegar
a ela se não dominar os dogmas dos filósofos, assim todos nós que desejamos praticar a piedade somos incapazes de
aprender de qualquer outro que não seja os oráculos de Deus. Tudo que as Sagradas Escrituras declararem,
para elas olhemos; e tudo o que elas ensinam, vamos aprender; e como o Pai
quer que confiemos, vamos acreditar; e como quer o Filho ser glorificado, vamos
glorificá-Lo; e como quer o Espírito Santo ser recebido, vamos recebê-Lo. Não
de acordo com nossa própria vontade, nem de acordo com a nossa própria mente,
nem ainda usando violentamente aquelas coisas que são dadas por Deus, mas como Ele escolheu ensina-las pelas
Sagradas Escrituras, vamos discerni-las. (Contra a Heresia de Noeto, §9)
Não havia duas fontes de doutrina
(Escritura + Tradição), apenas uma. Além disso, nós devemos aprender tudo que a
Escritura ensina, não o que um magistério diz que a Escritura ensina, mas o que
diretamente nos ensina. Ele atribui a função magisterial à própria Escritura ao
dizer que Deus “escolheu nos ensinar pelas Sagradas Escrituras” e “vamos
discerni-las”, ou seja, vamos examiná-las e entende-las.
Gregório
Taumaturgo (213 – 270)
Com relação aos professores humanos, de fato, ele nos aconselhou a não
nos prendermos a nenhum deles, nem mesmo se eles foram atestados como o mais
sábio de todos os homens, mas a nos dedicar a Deus somente e aos profetas. E ele próprio se tornou intérprete dos
profetas (ὑποφητεύων) para nós, e explicou tudo que estava escuro ou enigmático
neles. Há muitas coisas desse tipo nas palavras sagradas e Deus tem prazer
de manter comunicação com os homens, de tal forma que a palavra divina não pode
entrar totalmente pura numa alma indigna, como muitos são, ou seja, embora cada oráculo divino seja em sua
própria natureza muito claro e perspicaz, parece obscuro para nós, que
temos apostatado de Deus, e temos perdido a capacidade de ouvir através do
tempo e idade. Mas se existem algumas palavras realmente enigmáticas, ele
explicou todas elas, e as colocou na luz, sendo ele mesmo um ouvinte hábil e
que compreendia Deus; ou se nenhuma delas é realmente obscura em sua própria
natureza, elas também não eram ininteligíveis para ele, que é o único de todos
os homens do tempo presente com quem me familiarizei, ou de quem tenho ouvido
pelo relato dos outros, que tem
profundamente estudado os oráculos claros e luminosos de Deus, sendo
capazes de perceber o seu significado em sua própria mente e transmiti-lo aos
outros. Por isso, o Líder de todos os homens, que inspirou (ὑπηχῶν) os queridos
profetas de Deus, sugere todas as suas profecias e sua mística e palavras
celestiais, honrou esse homem como se fosse um amigo, e ele constituiu um
expositor destes mesmos oráculos; e as coisas das quais Ele só deu uma dica por
outros, Ele fez matéria de instrução completa por meio deste homem; e nas
coisas que Ele, que é digno de toda a confiança, tanto prescritas de forma
régia, ou simplesmente enunciadas, ele transmitiu a este homem o dom de
investigar, desdobrar e explicá-las, de
modo que, se não é de mente obtusa e incrédula, e tem sede de instrução, pode
aprender com este homem, e de alguma maneira ser constrangido a entender e
decidir por convicção seguir a Deus. Essas coisas como eu julgo, ele dá única e verdadeiramente por
participação no Espírito Divino: pois há necessidade do mesmo poder para
aqueles que profetizam e para aqueles que ouvem os profetas; e ninguém pode
justamente ouvir um profeta, a menos que o mesmo Espírito que profetiza confere
a ele a capacidade de apreender as Suas palavras. E esse princípio é
expresso de fato nas Sagradas Escrituras, quando se diz que somente Ele e
nenhum outro abre e fecha (Is 22:22; Ap
3: 7.); e o que está fechado é aberto quando a palavra de inspiração explica os
mistérios. Agora, o maior presente que este homem recebeu de Deus, e o mais
nobre de todos os dons que recebeu do céu é que ele deveria ser um intérprete
das palavras de Deus aos homens (Ef. 3:8-9), e que ele poderia entender as
palavras de Deus, como se Deus falasse a ele, e poderia contá-las aos homens com tanta sabedoria que eles poderiam
ouvi-lo com inteligência. Portanto,
para nós não há assunto proibido de falar (ἄῤῥητον); pois não havia matéria de
conhecimento oculto ou inacessível para nós, mas tínhamos em nosso poder
para aprender todo o tipo de discurso, tanto estrangeiros (Bárbaros) e grego,
tanto espiritual e político, divino e humano; e nós fomos autorizados com toda
a liberdade para examinar todo conhecimento, e investigá-lo, e nos satisfazer
com todos os tipos de doutrinas e desfrutar docemente o intelecto. (The Oration
and Panegyric Addressed to Origin, Argument XV)
Gregório diz que a
Escritura é clara por natureza. Se alguém não consegue compreende-la é porque
tem a mente obscurecida, ou seja, o problema está no leitor. A solução é a
iluminação do Espírito Santo que faz o homem decidir seguir a Deus. Segundo
Gregório, as profecias que eram de sentido enigmático foram esclarecidas por
Jesus Cristo, o que mostra o princípio protestante da “Escritura interpreta a
Escritura” sendo defendido por este antigo pai da Igreja. Partes mais claras
lançam luz sobre partes mais difíceis da Bíblia.
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