Iremos fazer a viagem
histórica mais longa desse blog. Usualmente analisamos as doutrinas num período
de tempo que compreende os primeiros séculos do cristianismo – comumente o
período dos pais da igreja. Dessa vez iremos analisar se o atual ensino da Igreja
Romana sobre o slogan “fora da Igreja não há salvação” é consistente com o
passado, ou para usar termos mais católicos, com a tradição. Atualmente, há
grupos tradicionalistas e sedevacantistas afirmando que a Igreja Romana, tendo
sido tomada por modernistas, alterou o ensino histórico sobre esse tema. Se
isto for verdade (pretendo demonstrar que é), significa que o magistério
católico não é infalível.
Os próximos artigos terão como
base o trabalho do renomado eclesiologista católico romano Francis A. Sullivan.
Não é a primeira vez que o utilizamos neste blog. Nossos artigos sobre sucessão
apostólica (aqui) são em grande parte inspirados na obra desse teólogo.
Sullivan apresenta uma substanciosa pesquisa histórica (veja aqui seu livro).
Primeiro, trataremos do pensamento patrístico, depois dos teólogos e concílios
medievais e então das primeiras sementes da doutrina atual que somente surge no
magistério oficial no séc. XIX.
O
ensino moderno de Roma
Slogan’s podem ser enganosos.
Normalmente um slogan não diz muito sobre seu próprio significado. Duas ou mais
pessoas podem concordar com o slogan “Fora da Igreja não há salvação”, mas
sustentarem opiniões completamente diferentes sobre seu significado. O papa
João Paulo II afirmou:
"...
Entre as coisas que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar está
também a afirmação infalível que nos
ensina que 'fora da Igreja não há salvação'." (Fonte)
O catecismo expressa o ensino moderno
sobre o slogan:
171.
Que significa a afirmação: 'Fora da Igreja não há salvação'?
846-848
Significa
que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo.
Portanto não poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por
Cristo e necessária à salvação, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao
mesmo tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria,
ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e,
sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida
através do que a consciência lhes dita." (Fonte)
Todos aqueles que tiverem a
chamada ignorância invencível podem ser salvos, mesmo sem expressar fé em
Jesus. Isto quer dizer que mesmo pessoas que nunca ouviram falar de Jesus (os
não-evangelizados), muçulmanos, judeus, cismáticos e hereges podem ser salvos.
Os
Pais da Igreja dos três primeiros séculos
Os cristãos primitivos tiveram
que lidar com uma objeção frequentemente levantada por pagãos e judeus – como
Jesus poderia ser o salvador se ele veio tão recentemente. Como ficaria a
situação dos que viveram antes de Cristo? A resposta cristã sempre foi no
sentido de que a salvação dos judeus da antiga aliança e em alguns casos até
mesmo de pagãos tementes a Deus era possível. Sullivan escreveu:
Há
certamente outras evidências, nos escritos dos pais anteriores a Santo
Agostinho, de uma resposta positiva à
questão sobre a possibilidade de salvação para as pessoas que viveram antes da
vinda de Cristo. Uma fonte frutífera de especulação sobre isso também foi
encontrada no Novo Testamento, na referência à "pregação aos mortos"
de Cristo durante o tempo entre sua morte e ressurreição (1 Pe 3:19 e 4:6).
Contudo, o que temos visto deve ser suficiente para mostrar quão geral era a visão de que Deus havia providenciado os meios
de salvação tanto para os judeus quanto para os gentios durante a era pré-cristã.
Também foi comumente afirmado que a salvação sempre foi através de Cristo,
embora houvesse diferentes explicações sobre isso. (Sullivan,
Francis A, Salvation Outside the Church? Tracing the History of the Catholic Response, Wipf and Stock Publishers, 2002,
p. 17)
Sobre a salvação na era
cristã, Inácio de Antioquia escreveu no início do século II:
Não
sejam enganados meus irmãos: se alguém
segue um cismático, ele não herda o Reino de Deus. Se alguém anda em doutrina estranha, ele não tem
parte na paixão. (Carta aos Filadelfios)
Sullivan comenta:
Deve-se
notar que aqui não é apenas o “criador do cisma”, mas também aqueles que o seguem, que não herdarão o reino de Deus.
Da mesma forma, não é apenas o
originador da falsa doutrina, mas também aqueles que nela andam, que não
terão parte na paixão. Quando Inácio adverte cismáticos cristãos e hereges que
não há salvação para eles fora da igreja, ele
claramente julga-os pessoalmente culpados por estarem do lado de fora.
(Sullivan, p. 18)
Irineu escreveu na segunda
metade do séc. II:
Na
igreja Deus colocou apóstolos, profetas, mestres e todas as outras obras do
Espírito, dos quais ninguém é
participante a menos que pertença à igreja, mas que se defraudam da vida,
por uma mente má e um péssimo meio de agir. Pois onde a igreja está, há o Espírito de Deus, e onde está o Espírito
de Deus, há a igreja e toda a graça. (Contra as Heresias 3:24:1)
Sullivan diz:
Os
gnósticos se orgulhavam de seu conhecimento superior, mas Irineu os avisou que
é somente na verdadeira igreja que se pode ter a vida e a graça do Espírito, da
qual hereges e mestres se defraudam. É
óbvio que Irineu os considerou culpados de sua separação da igreja e, portanto,
responsáveis por sua própria exclusão do reino do Espírito.
(Sullivan, p. 19)
No entanto, há uma citação que
alguns poderiam apontar como evidência de que Irineu cria na possibilidade de
salvação de não cristãos:
Cristo
não veio somente para aqueles que viveram na época do imperador Tibério, nem o
Pai exerce sua providência somente para aqueles que estão vivendo agora. Ao
contrário, ele providenciou para todos aqueles que desde o princípio viveram
virtuosamente em sua própria geração, temeram e amaram a Deus, e trataram seus
vizinhos com justiça e bondade, e
desejaram ver a Cristo e ouvir sua voz (...) (Contra
as Heresias 4:22:2)
O teólogo católico comenta:
A
última frase obviamente se refere ao povo de Israel que esperava a vinda do
messias. Talvez possa ser tomado também para se referir aos gentios que
passaram a acreditar em Deus como salvador, e assim se poderia dizer que desejavam implicitamente a vinda de Cristo.
(Sullivan, p. 16)
Ou seja, Irineu está afirmando
que houve salvação entre aqueles que viveram antes de Cristo. Eles “desejaram
ver a Cristo”. O bispo de Lyon nada está falando sobre os que vieram após o
advento. No século III, Orígenes escreveu:
Este
comando é dado à mulher que havia sido prostituta antes: “Todos os que são
encontrados em sua casa serão salvos. Mas, no que diz respeito àqueles que saem
de sua casa, ficaremos livres deste juramento que fizemos a você”. Portanto, se
alguém quiser ser salvo, que venha a esta casa dela que já foi prostituta. Se alguém
desse povo deseja ser salvo, que ele venha a esta casa, para que possa
encontrar a salvação. Que ele venha a esta casa, na qual o sangue de Cristo é o
sinal da redenção (...) Portanto, que ninguém persuada si mesmo, não engane a
si mesmo: fora desta casa, isto é, fora
da igreja, ninguém é salvo. Pois se alguém sair, ele é responsável por sua
própria morte." (Homilias em Josué 3:5)
Segue o comentário:
Algumas
observações exegéticas podem ser úteis aqui. A “mulher que foi prostituta”
sugere a imagem da igreja gentia como pecadora convertida. Ela que viveu no
vício pagão é agora a esposa casta de Cristo. O cordão vermelho que Raabe
prendeu da janela era o sinal para o exército hebreu invasor de que sua casa seria
poupada; para Orígenes, isso significa o sangue de Cristo, que é o sinal de
redenção para a igreja. O convite de Orígenes aos membros do "povo" é
claramente direcionado aos judeus que não aceitaram a mensagem cristã de
salvação. Mas o principal aviso nesta passagem é dirigido contra aqueles que
saem da única casa em que a salvação é encontrada. Assim como era o caso em
Jericó, qualquer pessoa que saísse também seria responsável por sua própria
morte. Isso se refere claramente aos
cristãos que, tendo estado na igreja, o deixariam para se juntar a uma seita
herética ou estranha. Não há salvação fora da igreja, e aqueles que saem têm
apenas a si mesmos para culpar por sua perda. (Sullivan,
p. 19-20)
Passemos para um dos mais
citados padres da Igreja quando se trata esta questão – Cipriano de Cartago.
Ele disse:
Nem
o batismo de confissão pública [da fé sob tortura], nem de sangue [derramado
pela fé], pode trazer salvação para o
herege, porque não há salvação fora da igreja. (Epístola
73:21)
E ainda em sua obra “Da
Unidade da Igreja”:
Ainda
que esses homens fossem mortos pela confissão do nome cristão, o seu sangue não
lavaria esta mancha. O pecado da discórdia é tão grande e tão imperdoável, que
não se apaga nem pelos tormentos. Não
pode ser mártir quem não está na Igreja, não pode alcançar o Reino quem
abandonou aquela que nasceu para reinar. (Da Unidade da Igreja 14:1)
Aquele
que, afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos
bens prometidos à Igreja. Quem abandona
a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios de Cristo. Torna-se estranho,
torna-se profano, torna-se inimigo. Não
pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde
salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja (Da Unidade
da Igreja 6:2-3)
Sullivan diz:
Embora,
como vimos, outros antes dele tivessem advertido que não havia salvação fora da
igreja, o nome de Cipriano está especialmente associado a esse axioma, que
ocorre com frequência e urgência em seus escritos. Apesar dessa frequência, no
entanto, não há nenhum exemplo de ele endereçar esta advertência aos
não-cristãos que ainda eram a maioria do povo no império romano de sua época.
Cipriano dirigiu esta advertência para os cristãos que estavam em perigo de
serem separados da igreja pela excomunhão, ou já estavam separados dela por
cisma. Em todos os casos, há evidências
claras de que Cipriano julgou tais pessoas culpadas de sua separação da igreja
e, portanto, pessoalmente responsáveis por sua exclusão da salvação para ser
encontrada somente na igreja. (Sullivan, p. 20)
Tendo visto os pais da igreja dos
três primeiros séculos, observamos que suas advertências quanto a não
disponibilidade de salvação fora da igreja foram direcionadas geralmente a
cismáticos e hereges. Não encontramos ainda respostas específicas para o caso
daqueles que ainda não haviam ouvido o evangelho. Contudo, eles consideram os
cismáticos e hereges culpados e merecedores da condenação eterna. A partir
disso, pode-se dizer que eles não adotavam a ideia da ignorância invencível
para esses grupos.
Pais
da Igreja do século quatro
Sullivan comenta sobre este período:
É
agora que encontramos os pais aplicando a doutrina de que “não há salvação fora
da igreja” para a situação dos pagãos e
judeus. Como vimos, a advertência dirigida aos hereges e cismáticos
cristãos incluía um julgamento sobre sua culpa por estar fora da igreja. O que
encontramos agora é um julgamento semelhante de culpa em relação a todos que
não aceitaram a fé cristã (...) A
conclusão foi que aqueles que não o aceitaram eram culpados de recusar a oferta
de salvação de Deus e seriam justamente condenados.
(Sullivan, p. 24)
O mesmo julgamento de culpa
aplicado a todos os heréticos e cismáticos era agora aplicado a todos os judeus
e pagãos que rejeitavam a fé cristã. Ambrósio de Milão disse:
Se alguém não acredita em
Cristo, defraudar-se-á desse benefício universal, como se alguém bloqueasse os
raios do sol fechando sua janela.
Pois, a misericórdia do Senhor foi espalhada pela igreja para todas as nações;
a fé se espalhou para todos os povos. (Sermão 8:57 no Salmo 118)
Gregório de Nyssa –
contemporâneo de Ambrósio – também escreveu:
Se,
então, a fé é uma coisa boa, eles dizem, por que esse presente não vem para
todos? Agora, se o que estamos dizendo foi tomado como significando que a fé
foi distribuída aos homens pela vontade divina de tal forma que alguns foram
chamados, mas outros não receberam nenhum chamado à fé, então com razão alguém
poderia acusar este mistério de injustiça. Mas se, de fato, a convocação foi
dada a todos, sem diferença em razão de posição, idade ou nação (...) como
poderia ser correto culpar a Deus pelo fato de que sua palavra não alcançou seu
domínio sobre todos? Pois aquele que tem plenos poderes sobre o universo, pela
suprema honra da humanidade, deixou algo em nosso poder, do qual cada um é o
mestre, e esta é a vontade, uma coisa que não pode ser escravizada, e tem poder
auto-determinante, uma vez que está assentada na liberdade de pensamento e na
mente. Portanto, tal culpa seria mais
justamente atribuída àqueles que não foram atraídos pela fé, do que àquele que
os chamou para acreditar. (Oração catequética 30)
Observem como Gregório culpa a
todos os que não tiveram fé em Cristo. Ele não acreditava na eleição
incondicional e atribua unicamente ao arbítrio da criatura a culpa por não ser
salvo. Não havia ignorância invencível aqui. João Crisóstomo, escrevendo no fim
do séc. IV, foi mais explícito:
Ninguém deveria pensar que a
ignorância desculpa o não crente
(...) Quando você é ignorante do que poderia ser facilmente conhecido, você tem
que sofrer a penalidade. Quando nós fazemos tudo o que nos é possível, em
assuntos onde nos falta conhecimento, Deus irá nos estender a sua mão. Mas, se
não fazemos o que podemos, Deus não nos estenderá a sua ajuda (...) Então diga:
“Como Deus tem negligenciado o pagão sincero e honesto?” Você perceberá que ele
não tem sido diligente na busca da verdade, desde que o que concerne à verdade
é agora claro como o sol. De quem eles obterão o perdão, quando eles veem a
doutrina da verdade diante deles, não fazendo esforço para conhece-la? Pois agora
o nome de Deus é proclamado para todos. O que os profetas predisseram se tornou
verdade, e a religião dos pagãos foi provada falsa (...) É impossível que alguém que seja vigilante na busca da verdade seja
desprezado por Deus. (Homilia em Romanos 26:3-4)
Crisóstomo retorna a este
argumento numa homilia no qual ele estava exortando seu rebanho a orar pela
conversão dos pagãos:
Cristo
deu a si mesmo pelos pagãos? Você pergunta. Sim, Cristo morreu pelos pagãos
também. Como você então não tem orado por eles? Mas como é isto você pergunta,
já que eles não têm crido? Isto é porque
eles não desejavam. Cristo fez a sua parte para com eles, sua paixão testemunha
isto. (Homília em 1 Timóteo 7:2)
Sullivan comenta sobre
Crisóstomo:
Foi sem dúvida o julgamento de
St. João Crisóstomo de que não havia nenhuma salvação para os pagãos fora da
igreja e que era por própria culpa que eles estavam fora. Seu julgamento sobre
os judeus de seus dias foi ainda mais implacável. Os sermões que ele pregou em Antioquia
advertindo os cristãos contra a participação em festividades judaicas contém
algumas das mais ofensivas linguagens sobre os judeus a ser encontrada na
literatura cristã. Que ele considerou os
judeus culpados por rejeitarem a Cristo, e os excluiu da salvação desde que
eles persistiram nesta rejeição, é evidente em todas as páginas desses sermões.
É suficiente mencionar apenas uma observação que ele fez, no curso de uma
exortação para alguns de seus membros que estavam resistindo ao seu chamado
para conversão. Ele os avisou:
Você
tem motivos para se envergonharem caso não melhorem, mas persistam em seu
comportamento prematuro. Isto é o que
destruiu os judeus. (Discurso contra os cristãos judaizantes).
(Sullivan, p. 26)
Sullivan fornece um sumário da
posição dos pais da igreja até o fim do séc. IV. Embora seja possível que as
posições variassem, é claro que todas elas são incompatíveis com o atual ensino
da Igreja de Roma:
Três
pontos destacam-se no pensamento dos escritores deste período [séculos II a
IV]. A primeira é sua atitude geralmente positiva sobre a possibilidade de
salvação tanto para os judeus como para os gentios que viveram antes da vinda
de Cristo. A segunda é a sua atitude
uniformemente negativa sobre a possibilidade de salvação para os cristãos que
foram separados da grande igreja por heresia ou cisma. Estes eles julgaram culpado de grave pecado pessoal contra a caridade,
uma vez que identificaram a comunhão da igreja com o amor, e viram todos os que aderiram a um grupo cismático e não meramente seus
fundadores como culpados do pecado de cisma. O terceiro ponto é que é
apenas no fim do quarto século, quando o cristianismo se tornou a religião
oficial do império e a maioria de seus cidadãos aderiu a ele, encontramos o
axioma “Nenhuma salvação fora da igreja” sendo explicitamente aplicado a pagãos
e judeus. Aqui o julgamento negativo baseou-se no pressuposto de que agora
todos já tinham a oportunidade de aceitar a mensagem cristã, que a sua verdade
era evidente para todos, e que aqueles
que se recusaram a aceitá-lo estavam fechando seus olhos para a verdade pela
qual eles poderiam ser salvos. (Sullivan, p. 27)
Agostinho
de Hipona
Agostinha merece um capítulo à
parte porque nenhum pai da Igreja tratou de forma tão detalhada a questão da
salvação fora da igreja. Agostinho seguiu o ensino tradicional sobre a
possibilidade de salvação dos que viveram antes de Cristo. Esta ideia está
contida em sua carta a Deogratias, a qual Sullivan comenta:
Nessa
resposta à pergunta feita por Deogratias, encontramos várias das convicções de
Agostinho em relação economia divina da salvação. Primeiro, a salvação sempre foi através da fé em
Cristo e adoração a ele; só isso é a verdadeira religião. No entanto, essa
religião sempre esteve disponível para aqueles que eram dignos dela. Mesmo
aqueles que não são da raça hebraica receberam alguma revelação obscura, mas
suficiente. Se tal revelação não foi
feita a alguns, foi porque Deus previu que eles não acreditariam se lhes fosse
feito. Daí eles foram responsáveis
por sua ignorância do mesmo. Agostinho tirou conclusões adicionais dos
princípios que acabamos de mencionar. Uma foi que todos aqueles que já viveram
justamente foram salvos por sua fé em Cristo, tiveram Cristo como sua cabeça e
foram membros de seu corpo. Assim o corpo e Cristo consiste de todos os justos,
começando com Abel, o primeiro homem a morrer na amizade de Deus (3) (...) Ao
mesmo tempo, temos que ter em mente a
convicção de Agostinho de que ninguém jamais foi salvo, exceto pela fé em
Cristo, o único mediador da salvação. Ele não dá uma explicação muito
satisfatória de como os gentios poderiam ter chegado a tal fé. Parece que ele
simplesmente concluiu, a partir da
premissa de que eles devem ter tido fé em Cristo para serem salvos, que
deveria estar disponível para eles. (Sullivan, p. 30)
Observem como Agostinho fez
uso da presciência divina para explicar porque alguns gentios não receberam
qualquer revelação a respeito do Cristo. Mais importante ainda é perceber que
ninguém poderia ser salvo sem expressar fé em Cristo. Agostinho escreveu sobre
os hereges e cismáticos:
Quem
é separado da Igreja Católica pelo único pecado de ter se apartado da unidade
de Cristo, não importa quão estimável tenha sido a vida que ele viveu. Ele não terá vida e sobre ele restará a ira
de Deus. (Epístola 141:5)
E também:
O
inimigo da unidade não tem parte no amor divino. Consequentemente, aqueles que estão fora da igreja não têm o
Espírito Santo. (Epístola 185:50)
O bispo de Hipona disse ao se
referir ao batismo ministrado pelos donatistas:
Quando
uma pessoa é batizada em algum grupo herético ou cismático, fora da comunhão da
igreja, seu batismo não é proveitoso
para ele, na medida em que ele dá seu consentimento à perversidade daqueles
hereges ou cismáticos. (Do batismo 3:16:2)
Numa declaração mais explicita
ele diz:
Fora da Igreja é possível
tudo, exceto a salvação. É
possível ter honras, é possível ter sacramentos, é possível cantar aleluias, é
possível responder amém, é possível possuir o Evangelho, é possível ter fé no
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, é possível pregar; mas em nenhum lugar senão na Igreja
Católica, é possível encontrar a salvação. (Sermo
ad caesariensis ecclesiae plebem 6)
Finalmente, Agostinho insiste
que mesmo se o membro de uma seita herética sofresse o martírio, isto não iria
salvá-lo:
O
batismo não será de nenhum benefício para o herético se, enquanto fora da
Igreja, ele fosse morto por confessar a Cristo. Esta é a verdade. O fato de permanecer fora da Igreja prova
que ele não tem caridade. (Do batismo 4:17-24)
Será que Agostinho diferenciou
aqueles que iniciaram o cisma daqueles que apenas seguiram ou mesmo já nasceram
num grupo cismático. Não seria possível alguém seguir o grupo errado, porém,
estando de boa-fé (ignorante invencível)?
Aqueles
que por ignorância são batizados lá [em um grupo cismático], achando que seja a
igreja de Cristo, cometem um pecado menos grave em comparação com aqueles
[culpados de iniciar o cisma]. No entanto, eles
também são feridos pelo sacrilégio do cisma. Não se pode dizer que eles não sejam gravemente feridos por causa disso,
sob o argumento de que os outros estão mais gravemente feridos. (Do
batismo 1:5-6)
Embora estabeleça uma
diferença de gravidade, os seguidores do cismático também eram culpados.
Sullivan escreveu:
Em
nossa época ecumênica moderna, sem dúvida estamos inclinados a considerar Santo
Agostinho excessivamente duro ao julgar todos
os que pertenciam a um grupo cristão separado como compartilhando a culpa do
cisma e, portanto, vivendo em um grave pecado contra a caridade. (Sullivan,
p. 32)
Alguns apontam a seguinte
citação para defender a possibilidade de salvação dos cismáticos/hereges na
visão de Agostinho:
O
apóstolo Paulo disse: “Quanto a um homem que é herege, depois de admoestá-lo
uma ou duas vezes, nada mais tem a ver com ele” (Tito 3:10). Mas aqueles que
mantêm sua própria opinião, por mais falsos e pervertidos, sem má vontade obstinada,
especialmente aqueles que não originaram o erro por presunção ousada, mas o
receberam de pais que haviam se desviado (...) aqueles que buscam a verdade com cuidado e estão prontos para serem
corrigidos quando a encontrarem, não devem ser classificados entre os hereges. (Epístola
43:1)
Sullivan traz luz a esta
citação:
Agostinho
quer dizer que essas pessoas podem ser salvas fora da Igreja Católica? O
contexto da carta mostra que o que ele tinha em mente era defender-se contra a
acusação de que, ao escrever esta carta, ele estava desobedecendo a injunção
das escrituras de não ter nada a ver com hereges. Em outras palavras, ele
estava dizendo que os homens a quem ele estava escrevendo esta carta não eram
do tipo de hereges com quem um cristão não deve ter nada para fazer. Por outro
lado, passagens posteriores da mesma carta mostram que ele estava longe de ser
otimista sobre suas chances de salvação se permanecessem em sua seita. Pelo
contrário, que ele os viu em perigo de perder suas almas fica claro em sua
advertência:
Não
é uma questão de perigo para seu ouro ou prata, sua terra ou suas fazendas ou
até mesmo sua saúde corporal. Estamos
chamando as vossas almas para alcançar a vida eterna e evitar a morte eterna. (Epístola
43:4-6 citado em Sullivan, p. 32)
Suas palavras finais a eles
são ainda mais fortes:
Deus
vê que nada força você a permanecer neste estado de cisma pestilento e
sacrílego. Você pode se libertar caso, por uma questão de ganhar um reino
espiritual, você superasse uma atração mundana e se, por uma questão de evitar punições eternas, você não temesse ofender a
amizade dos homens que não lhe trazem nada a não ser o julgamento de Deus. (Epístola
43:9-27 citado em Sullivan, p. 33-34)
Sullivan prossegue:
A
maneira de Agostinho falar de algumas pessoas como aparentemente “dentro” mas
realmente “de fora” e de outras como aparentemente “fora” mas realmente
“dentro” da igreja levou alguns a concluir que ele admitiu a possibilidade de
algumas pessoas estarem separadas da Igreja Católica, no entanto, poderem estar
desfrutando da amizade de Deus e no caminho da salvação. No entanto, para agostinho, esta distinção é baseada na presciência de
Deus, como é claro a partir da passagem seguinte:
“Há
alguns entre estes [que irão ser salvos] que estão no presente vivendo
pecaminosamente, ou mesmo caminhando em heresias ou superstições pagãs. E mesmo
aqui “Deus sabe quem são os seus”, pois
no inefável conhecimento de Deus, muitos que parecem estar fora na verdade
estão dentro, e muitos do que estão dentro na verdade estão fora”. (Do
Batismo 5:27-38)
Além
disso, Agostinho estava convicto de que se alguém estava “fora” por causa de
heresia ou cisma estava na verdade “dentro” pela razão da presciência de Deus. Esta pessoa inevitavelmente se juntaria à
igreja católica antes que ele ou ela morresse:
“Mas
se é o caso de que algumas daquelas pessoas (separadas no presente) pertencem a nós com base na secreta
presciência de Deus, é necessário que eles retornassem a nós. Quantos não
pertencem a nós e continuam entre nós, e quantos que pertencem a nós parecem
estar fora. “O Senhor sabe quem são os seus”. E aqueles que estão dentro mas
não pertencem a nós, quando a ocasião se apresentar, irão para fora. Aqueles
que pertencem a nós mas estão fora, quando aparecer a ocasião, irão retornar.”
(Enarr. in Ps. 106:14)
Embora
isso contrarie nossas sensibilidades ecumênicas, temos que reconhecer o fato de
que Santo Agostinho oferecia pouca esperança para a salvação de qualquer
cristão que morresse em estado de separação da Igreja Católica. Como veremos
agora, ele nutriu ainda menos esperança
pela salvação daqueles que em seus dias ainda não haviam aceitado a fé cristã e
o batismo. (Sulivan, p. 35-36)
Como já dito, os judeus
contavam com menos clemência. Sullivan aborda este tópico:
Como
alguém poderia esperar, Agostinho numerou judeus não convertidos entre os culpados
por desprezar a misericórdia e os dons de Deus em sua recusa em aceitar a fé
cristã. Enquanto exortava seu rebanho a demonstrar grande amor pelos judeus,
ele não deixou dúvida quanto ao seu julgamento sobre a culpa dos judeus que
continuavam rejeitando Cristo:
“Se eles ouvem e não obedecem, se eles veem e são despeitados, eles
estão entre aqueles sobre quem o salmo diz: “Os maus irão ver e estarão irados, eles irão ranger seus dentes e serão
consumidos”. (Contra os Judeus 10:15 citado em Sullivan, p. 36)
Por último e mais importante,
Agostinho também manifestou sua opinião sobre os não evangelizados. É
importante começar constatando que Agostinho era ciente de que havia povos
ainda não alcançados. O bispo de Hipona escreveu:
De
fato, em nossa própria terra, isto é, na África, há incontáveis tribos bárbaras entre aqueles para quem o evangelho
nunca foi pregado. Nós temos evidência diária disso dos cativos que são
traídos para cá e são sujeitos ao trabalho escravo pelos romanos. (Epístola
199:12-46)
Sullivan traz mais
esclarecimentos:
Em
outra carta ao mesmo bispo, Agostinho
falou de áreas do mundo que não haviam sido exploradas, de modo que era
impossível dizer quantas nações talvez houvesse a quem o evangelho ainda não
havia sido pregado (Epístola 197:4). Muito antes disso, em sua carta a
Deogratias, referindo-se aos gentios que poderiam não ter tido a chance de
chegar à fé salvadora, Agostinho insistiu que a ninguém faltava a essa oportunidade e que se Deus a recusasse a
alguém, era porque ele previa que se fosse oferecido, a pessoa recusaria. Em
outras palavras, a solução anterior de
Agostinho era colocar a culpa no indivíduo pelo fato de que a oportunidade de
chegar à fé não lhe foi dada. Mais
tarde, no período anti-pelagiano, Agostinho propôs uma nova solução para este
problema: a culpa universalmente
contraída do pecado original era suficiente para justificar Deus condenando não
apenas os bebês que morreram sem o batismo, mas também os adultos que morreram
na ignorância da fé cristã. Há boas razões para acreditar que foi seu
esforço em reconciliar a exclusão dessas duas categorias de pessoas da salvação
com a justiça de Deus que levou Santo
Agostinho à sua teoria sobre as consequências do pecado original para toda a
raça humana.
Santo
Agostinho estava firmemente convencido de que aqueles que estavam do lado de fora da igreja por falta de fé e batismo
não podiam ser salvos, e ele não
conhecia nenhuma alternativa entre salvação e condenação ao inferno. Foi
apenas séculos depois que a ideia de “limbo” para crianças morrendo sem batismo
ganharia terreno. Na opinião de Agostinho, essas crianças, excluídas da
salvação por falta de batismo, devem estar no inferno, para sofrer, como ele
disse, “a punição mais branda de todas” (Encbiridion ad Laurentium de fide et
spe et caritatej 23:93). Refletindo sobre o que ele entendia ser a certeza de
que crianças que morrem sem o batismo e os adultos que morrem na ignorância da
fé cristã certamente devem ser condenados. Agostinho
chegou à conclusão de que, se Deus é justo condenando-os como tais, deve-se
concluir que ele seria justo se condenasse toda a raça humana ao inferno. A
culpa que justificaria a Deus se ele escolhesse fazer isso poderia ser apenas a
culpa do pecado original. E assim
Agostinho chegou à sua ideia de que todos os descendentes de Adão constituem
uma “massa damnata”, merecendo ser condenado ao inferno, de modo que, se alguns
são poupados, é pela pura misericórdia de Deus. Aqui estão dois exemplos do
pensamento de Agostinho sobre esse assunto:
“Agora
esta graça de Cristo, sem a qual nem crianças nem adultos podem ser salvos, não
é dada em troca de méritos, mas é um presente gratuito; por esta razão é
chamado de "graça". Portanto, todos aqueles que não são libertados
por essa graça, seja porque não puderam
ouvir [a mensagem do evangelho], ou porque eles se recusaram a obedecer, ou,
sendo incapaz de ouvi-lo por causa de sua infância, eles não receberam o banho
batismal pelo qual eles poderiam ser salvos. Todos estes, eu digo, são justamente condenados, porque eles não estão
sem pecado - seja o pecado original que eles contraíram ou os pecados que
eles adicionaram por seus próprios atos perversos (...) toda a massa, portanto,
incorre na penalidade, e se a merecida
punição da condenação fosse imposta a todos, seria sem dúvida justamente
dispensada (...) Alguém que julga corretamente não poderia culpar a justiça
de Deus por condenar toda a humanidade ”. (Da Natureza e da Graça 4-5)
“Se,
como a própria verdade nos diz, ninguém é libertado da condenação que
incorremos através de Adão, exceto pela fé em Jesus. E, ainda, aquelas pessoas não evitarão a condenação
por dizer que não ouviram o evangelho, desde que a fé vem pelo ouvir (...) No entanto, nem aqueles que nunca ouviram o
evangelho nem aquelas que por razão da sua infância eram incapazes de crer
(...) estão separados desta massa a qual certamente será condenada.” (Da
corrupção e da Graça 7:11-12) (Sullivan, p. 37-38)
É claríssimo que, em sua fase
anti-pelagiana (a mais tardia), Agostinho não apelava mais a presciência de
Deus para resolver o problema dos não-evangelizados. Ele afirmava que todos
eles estavam justamente condenados por causa do pecado original e de seus
pecados pessoais. Sullivan ainda diz:
A
completa consequência do pensamento de Agostinho a respeito da condenação dos
infantes que morreram sem batismo e dos
adultos que morreram na ignorância da fé cristã era que ele não via como poderia
ser verdade que Deus desejava que todos fossem salvos. Seu conceito da
vontade divina era que ela sempre era eficaz. Isto é, se Deus deseja,
necessariamente acontecerá como ele deseja. Como ele estava certo de que
infantes e adultos não seriam salvos, Ele
não podia ver como poderia ser dito que Deus desejava a salvação deles.
(Sullivan, p. 38)
Isto extrapola a nossa
discussão, mas todo esse arrazoado levou Agostinho a acreditar na eleição
incondicional. Ou seja, a chave para entender a opinião de Agostinho sobre a
salvação fora da igreja está mais na sua soteriologia do que na sua
eclesiologia.
Os
seguidores de Agostinho
Para terminar esta parte,
trataremos de alguns dos seguidores de Agostinho. Um deles – Fulgêncio de Ruspe
– merece especial atenção, pois suas palavras ecoariam mil anos depois no
Concílio de Florença, a qual será estudado no próximo artigo. Sullivan traz o relatório
sobre Fulgêncio:
Aquele
que seguiu Agostinho até o último patamar de seu ensinamento anti-pelagiano, e
até mesmo o expressou em sua forma mais radical, foi um bispo norte-africano
como Agostinho: Fulgêncio de Ruspe (468-533). Aqui está uma passagem de uma
obra de Fulgêncio intitulada “Sobre a verdade da predestinação”, que mostrará
como ele seguiu fielmente a liderança de Santo Agostinho.
“Se
fosse verdade que Deus desejava universalmente que todos fossem salvos e
chegassem ao conhecimento da verdade, como é que a própria verdade ocultou de
alguns homens o mistério de seu conhecimento? Certamente, àqueles a quem ele
negou tal conhecimento, ele também nega a salvação (...) Portanto, ele desejou salvar aqueles a quem deu
conhecimento do mistério da salvação e não desejou salvar aqueles a quem ele
negava o conhecimento do mistério da salvação. Se ele tivesse pretendido a
salvação de ambos, ele teria dado o conhecimento da verdade para ambos”. (3:16-18)
A
seguinte declaração de Fulgêncio estava destinada a entrar na história da nossa
questão de uma maneira extraordinária, como foi incorporada a um decreto do
Concílio de Florença em 1442.
“O
mais firmemente asseguro e de nenhuma maneira duvido de que não apenas todos os pagãos, mas também
todos os judeus, e todos os hereges e cismáticos que morrem fora da Igreja
Católica, irão para o fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos.” (De fide,
ad Petrum 38) (Sullivan, p. 43)
Sullivan também cita outro
seguidor de Agostinho – o monge Gottschalk:
Um
monge saxão do século IX chamado Gottschalk, que era um ávido leitor das obras
anti-pelagianas de Santo Agostinho e de Fulgêncio de Ruspe, publicou um
trabalho cuja tese era que, visto que
Deus predestinou algumas pessoas à condenação eterna, não podia ser dito que
Deus quis a salvação de todos, ou que Cristo sofreu pela redenção de todos.
(Sullivan,
p. 44)
É importante mencionar que a
ideia agostiniana de que a vontade salvífica de Deus não era universal nunca se
tornou o padrão da Igreja antiga. Tal ideia foi rejeitada mesmo por alguns de
seus seguidores como Próspero de Aquitânia. Apesar disto, Próspero continuava a
seguir a ideia de que os pagãos não poderiam ser salvos sem fé em Cristo:
Pode
ser verdade que, assim como sabemos que em tempos antigos alguns povos não
foram admitidos à comunhão dos filhos de Deus, também hoje existem nas partes
mais remotas do mundo algumas nações que ainda não viram a luz do mundo - a
graça do Salvador. Mas não temos dúvidas de que, no julgamento oculto de Deus, para eles também foi designado um tempo de
chamada, quando eles ouvirão e aceitarão o Evangelho que agora permanece
desconhecido para eles. Mesmo agora eles recebem aquela medida de ajuda
geral que o Céu sempre concedeu a todos os homens. A natureza humana, é
verdade, foi ferida por uma ferida tão
severa que a especulação natural não pode levar uma pessoa ao pleno
conhecimento de Deus se a verdadeira luz não dissipar toda a escuridão do seu
coração. Em seus desígnios inescrutáveis, o bom e justo Deus não derramou
essa luz tão abundantemente nas eras passadas quanto nos nossos dias. (De vocatione 2:17)
Ele estava ciente da
existência de povos não alcançados. Contudo, estes povos ainda seriam chamados
e aceitariam o evangelho. Ou seja, eles não seriam salvos apenas pelo
conhecimento da revelação geral contida nas coisas criadas. Isto fica claro
quando afirma “a especulação natural não pode levar uma pessoa ao pleno
conhecimento de Deus”. Encerramos esta parte do período patrístico com a conclusão
de que o atual ensino da Igreja de Roma não pode evocar a tradição mais
primitiva em seu favor. No próximo artigo, analisaremos os concílios medievais
e outros teólogos de renome.