Introdução
Os
que acompanham nosso blog sabem que nos envolvemos num debate com o site
apologistas católicos sobre Tomás de Aquino e a imaculada Conceição.
Recentemente foi publicada uma resposta ao nosso último artigo. Os mesmos
argumentos foram utilizados e como anteriormente, alguns de nossos argumentos
não foram respondidos. Num debate, o ônus da prova recai sobre quem afirma. A
afirmação positiva é do apologista católico. O ponto central do debate é se
Tomás mudou ou não de ideia. A falsidade ou autenticidade da citação é um ponto
secundário que serve como elemento de prova, mas a evidência em si não é tão
importante quanto a alegação que se pretende provar. Meus comentários do artigo
anterior estarão em azul e os do apologista em vermelho. Na seção “introdução”
do seu artigo anterior, apologista católico afirmou:
No seu texto inicial o protestante afirmou que era “falsificação
romanista”, agora o discurso muda e passa para “há sérias duvidas”, temos aqui
uma mudança de discurso bastante significativa.
Não
mudei de discurso. Eu afirmei que era uma falsificação romanista, mas eu não
disse que havia certeza de que se tratava de uma falsificação. Eu não
qualifiquei minha afirmação como certa ou infalível, por isso, o fato de eu
afirmar que há sérias dúvidas é compatível com minha afirmação anterior. Quando
alguém diz “o sol vai nascer amanhã”, isso quer dizer necessariamente que é uma
afirmação infalível? Obviamente não. Por mais provável que seja o nascer do
sol, é possível que um dia isso não aconteça, portanto, qualquer afirmação a
respeito é meramente provável. Eu continuo acreditando que se trata de uma
falsificação porque as evidências disponíveis apontam para isso.
Quando
estamos lidando com a autenticidade de uma obra, citação ou mesmo a
interpretação de um texto, o máximo que podemos ter é a posição mais provável
ou plausível. Não há nenhum intérprete ou crítico textual infalível que pudesse
produzir uma interpretação infalível de Tomás de Aquino.
Apesar de a igreja romana supostamente ter um magistério infalível, é sabido
que nenhuma declaração “infalível” sobre as obras de Tomás foi produzida até
hoje. Dessa forma, num debate como esse,
vence quem apresenta a posição mais plausível que melhor se encaixa as
evidências disponíveis. Todavia, o apologista católico tenta se esvair de sua
responsabilidade imputando a mim algo que ele fez. Quem afirmou certeza foi
ele:
Porém é certo que ele
morreu crendo na Imaculada conceição da virgem Maria.
Por
isso, meu artigo anterior atacou as bases dessa “certeza”. Ele afirma que a
citação é autêntica com base na edição crítica de Rossi, no entanto, outras
edições críticas produzidas por católicos não contém “nec origiale”. Ele citou
tomistas que apoiavam sua posição, no entanto, a maioria dos tomistas
discordaria, conforme opinião da obra de Juniper Carol. Nenhum dos argumentos
que ele trouxe sustenta a tese inicialmente defendida. Agora, quem der uma lida
nos últimos artigos, verá que não afirma mais tal certeza. Pelo contrário, ele
afirmou:
Assim, a tal “falsificação romanista” não tem
qualquer fundamento e é muito improvável.
Se a mudança de opinião com base no referido texto era certa,
porque agora ele apela às probabilidades? Onde está a certeza?
Aqui é famosa falácia ad populum, está argumentando que algo é
verdade ou não simplesmente porque uma suposta maioria aceita determinado
ponto, e é nesse argumento junto o argumento ad ignoratiam que ele tenta se
basear em todo o seu texto.
Além
do frequente cometimento de falácias, o apologista católico demonstra pouco
preparo para detectar falácias. Onde eu disse que minha posição é
necessariamente verdadeira porque a maioria dos tomistas a adotam? O apologista
tentou em seu artigo formular um argumento da autoridade quando afirmou em suas
conclusões:
Que sabem mais do que os tomistas a respeito de São
Tomás.
A implicação desse argumento é que minha tese só poderia
estar certa se fosse apoiada pelos tomistas. Isso sim é uma falácia do apelo à
autoridade, porque pressupõe que os tomistas necessariamente estão certos.
Ainda que tal argumento não fosse falacioso, ele estaria adotando uma premissa
falsa, pois não existe a “posição dos tomistas”, afinal a posição católica não
é defendida por todos os tomistas ou sequer pela maioria. O apologista também
disse:
Ele ainda diz que eu estava afirmando que estava apoiado em uma
maioria de autores tomistas. Ora, onde tem isso no meu texto? Não afirmei em
nenhum lugar, até porque “maioria” serve de que?
Ele
simplesmente retrocedeu de sua posição original, pois o argumento de que eu
deveria provar saber mais do que os tomistas pressupõe necessariamente que a
maioria dos tomistas apoiava a posição dele. Ele também disse:
Poderíamos citar aqui a exaustão autores tomistas que confirmam que
na realidade as palavras “nec originale” que foram retiradas e que São Tomás
mudou e reafirmou a imaculada conceição de Maria (...)
Até
agora estamos esperando as “citações a exaustão”. Ele também cometeu a falácia
do apelo à autoridade em outro trecho:
Porém, o interessante disto tudo é que o interlocutor parece querer
ensinar são Tomás para católicos, e achar que durante séculos os tomistas nunca
explicaram a questão e ficaram calados até os protestantes descobrirem que essa
é uma “falsificação romanista”.
Primeiro, eu não afirmei nada disso. Segundo,
ele sugere que é inadequado um não católico ensinar “são Tomás para os
católicos”. Essa afirmação pressupõe que para alguém estar certo sobre Tomás,
não pode estar em oposição aos estudiosos católicos. Na verdade, é uma mistura
de apelo à autoridade com ad hominem. Ele repetiu a mesma falácia aqui:
Na realidade, a resposta que ele dá se baseia em uma tentativa do
Apologista protestante americano Francis Turrentin em desqualificar esta
citação que é mencionada na obra de Réginald
Garrigou-Lagrange, um dos maiores teólogos do século XX e o maior
Tomista de seu tempo. É interessante notar que o americano, além de querer
ensinar o pensamento de São Tomás ao Garrigou (...)
Ele
sugere que é inadequado um apologista americano desqualificar a citação do
suposto “maior tomista de seu tempo”. Além disso, ele confunde a falácia do
apelo à autoridade e a falácia ad populum. O apelo à autoridade necessariamente
se refere a especialistas ou pessoas de notório saber no assunto em questão, já
ad populum se refere ao apelo à maioria não qualificada. Se eu afirmasse: “a
maioria das pessoas não acredita que Tomás mudou de posição, logo ele não mudou
de posição”, seria uma falácia ad populum, mas eu não teci esse tipo de
argumento. Ademais, em nenhum momento eu apelei à ignorância como ele diz. Eu
não afirmei que os autores tomistas não conheciam a suposta mudança, logo ela
não existiu. Pelo contrário, eu disse que a maioria dos tomistas afirmam que
Tomás negou a imaculada conceição sem fazer qualquer menção a uma suposta
mudança de posição. Isso é um argumento do silêncio e não o apelo à ignorância,
até porque eu acredito que os tomistas estão cientes da existência da “tese da
mudança”. Argumentos do silêncio podem ou não ser falaciosos. Isso vai depender
das circunstâncias em que o silêncio é invocado.
Supunha
que alguém afirme que sua casa foi arrombada. Todavia, depois de uma perícia se
verifica que não há qualquer sinal de arrombamento. Todas as portas e janelas
estão intactas. Isso aponta que não houve nenhum arrombamento. Da mesma forma,
historiadores usam argumentos do silêncio para determinar se um evento
aconteceu ou não. Isso se dá quando o acontecimento do evento sob determinadas
circunstâncias era esperado. Apologistas católicos também fazem amplo uso do
argumento do silêncio. Quando apontamos a controvérsia de Cipriano com Estevão,
é comum ouvir que Cipriano não faz uma negação explícita da autoridade de
Estevão. O mesmo argumento é também trazido na controvérsia pascal que envolveu
Vítor e os bispos de Ásia. Obviamente, são argumentos falaciosos porque nos
dois casos a autoridade do bispo romano foi negada, mas há circunstâncias em
que o silêncio tem muita força probatória.
Agora,
imagine um autor católico romano que simplesmente afirma que Tomás negou a
imaculada conceição sem mencionar qualquer possível mudança de posição, e
levemos em conta que o contexto dessa citação se deu numa passagem em que são
mencionados outros autores que defendem que Aquino apoiou o dogma católico. Há
algumas alternativas: (1) acreditar que esse autor não conhecia a “tese da
mudança”; (2) Acreditar que ele cria nessa tese, mas a ignorou ou (3) Acreditar
que ele de fato não aceita essa tese. A opção (1) é pouquíssimo plausível tendo
em vista que se trata de especialistas e segundo nosso oponente a “tese da
mudança” é antiga e bem disseminada. A opção (2) é também improvável, pois se
trataria de um especialista católico que crê no dogma católico se esquecendo de
mencionar o fato de um dos maiores doutores da igreja romana não ter morrido
negando o dogma. A opção (3) é mais
provável, tendo em vista que se trata de autores que deveriam conhecer a tese e
teriam todo o interesse em aceitar que Tomás morreu como um bom católico romano
crente na imaculada conceição.
Além
do fato do apologista nos acusar de cometer a falácia que ele cometeu, no meu
artigo eu fiz questão de enfatizar:
O argumento da autoridade é probabilístico. Apenas torna uma posição mais provável, mas não é
suficiente para fechar a questão.
Imagine que há uma pessoa doente. Você a leva a vários
médicos diferentes e todos afirmam que se trata de meningite. Não contente você
a leva a um curandeiro que afirma se tratar de câncer. Obviamente, a posição
dos médicos é mais confiável ou provável que a do curandeiro. Porém, ainda há
uma chance (por menor que seja) que o curandeiro esteja certo e os médicos
errados. Dessa forma, quando citamos a apoio de um especialista, estamos tornando
nossa posição mais provável do que sem esse apoio, o que não implica que a
posição do especialista está imune ao erro. Por último, ele ainda me acusa de
comete um ad hominem no seguinte comentário:
O apologista católico se agarra com unhas e
dentes a opinião minoritária de Garrigou. Esse é o resultado prático da Sola
Eclésia. Os católicos, infelizmente, não podem buscar a verdade por si
próprios.
Nesse trecho eu apenas constatei um fato, sequer estava
formulando um argumento. Não disse que ele estava errado causa disso. Isso sim
seria um ad hominem. Eu simplesmente constatei a realidade de que os “bons
católicos” não são livres para pensarem por si mesmos e precisam aceitar os
dogmas da igreja romana, por mais que as evidências sejam contrárias. Os qualifico
como “bons” porque é isso que um católico deve fazer, a despeito do fato de a
maioria dos católicos agirem como protestantes quando se trata de acatar ou não
os ensinamentos do magistério da igreja.
Com essa frase fica evidenciado que o protestante
não tem conhecimento sobre essa questão, até porque essa mesma opinião é
encontrada em Giovani Felice Rossi famoso por sua edição crítica dos escritos
de São Tomás, e também dada anos depois pelo tomista Pe. Jacques-Marie Vosté
(dominicano como São Tomás), ambos anteriores a Lagrange, logo, além de não
saber do que fala a respeito da questão, acha que isso é opinião formulada por
Lagrange e que estamos nos apoiando nele, como que não vimos outros autores
falando da questão.
Eu afirmei que a opinião de Garrigou era minoritária com base
na citação da obra de Juniper Carol. Dizer que alguém tem uma opinião
minoritária não é o mesmo que dizer que ele é o único a defender tal posição.
Uma minoria não é necessariamente composta por um homem, mas pode ser composta
por vários. No meu próprio artigo, eu inclusive citei a posição de Rossi. Mais
um detalhe – não foi trazida qualquer evidência de que Rossi apoiasse a “tese
da mudança”. Até onde se trouxe, ele argumenta em favor da autenticidade do
trecho, mas isso não implica que Tomás morreu acreditando na imaculada
conceição. Quanto ao Voste, eu disse que o artigo do site católico trouxe uma
evidência anedótica:
Poderíamos citar aqui a exaustão autores tomistas
que confirmam que na realidade as palavras “nec originale” que foram retiradas
e que São Tomás mudou e reafirmou a imaculada conceição de Maria como a obra de
J.M Voste “Comentarius Iliam p. Summae Theolo. S. Thomae”, porém consideramos o
que aqui está suficiente como prova.
Vejam que ele sequer citou a página da obra em questão. Só
agora no artigo mais recente ele traz a citação de Garrigou que aponta a
citação de Voste. Dessa forma, nenhuma falácia foi refutada porque não foi
cometida. Ele também ataca alguns de meus outros artigos sobre a questão dos
apócrifos. Esse tema será tratado em artigos a parte que serão publicados nas
próximas semanas.
Trata-se aqui do argumento ad hominem a minha
pessoa, o que ignorarei. Mas agora ele deve demonstrar em qual site em inglês
tem a questão da autenticidade do texto, como fez dizendo que eu supostamente
copiei a menção ao Padre Vosté do site do Thaylor Marshall.
Esse comentário foi
direcionado ao seguinte trecho do meu artigo:
Acredito
que o autor do artigo leu algum site em inglês e replicou a tese. É possível
que sequer soubesse das dúvidas que pairam sobre a citação.
Mais uma vez – onde está o
ad hominem? Onde eu afirmei que ele está errado porque copiou uma citação de um
artigo em inglês? O apologista católico parece equiparar ao ad hominem qualquer
comentário sobre suas crenças ou fontes. O artigo do Taylor Marshal que eu
apontei tem o mesmo tipo de argumentação e cita o Voste igualmente sem citar a
página. Como o site apologistas católicos se utiliza bastante de sites
católicos em inglês, era natural supor que a citação saiu daí.
Quanto ao Mariano Spada, não
há problema se o mesmo argumento está no Wikipédia. Diferente do que ele diz,
eu não traduzi o trecho do Wikipedia. Basta observar as minhas palavras para
perceber que foram escritas de próprio punho e não traduzidas palavra por
palavra.
Em
1839, um professor de teologia do Colégio São Tomás de Aquino chamado Mariano
Spada publicou a obra “Esame Critico sulla dottrina dell’ Angelico Dottore S.
Tommaso di Aquino circa il Peccato originale, relativamente alla Beatissima
Vergine Maria”. O título traduzido seria
“Um exame crítico da doutrina de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico,
sobre o pecado original em relação à Santíssima Virgem Maria”. Ela pode ser
acessada aqui. O mais importante é o objetivo da obra. Spada intentava trazer
uma interpretação de Tomás que aliviasse o constrangimento de Pio IX ao
declarar um dogma negado pelo teólogo (veja aqui). Contudo, se Tomás tivesse
morrido acreditando nessa doutrina, não haveria constrangimento algum. Mas, o mais
importante é que em nenhum momento Spada lança mão do argumento de que Tomás
morreu acreditando na doutrina. Se havia um momento onde a suposta mudança
deveria ficar evidente, seria aqui.
A página em questão tem o
mérito de trazer links com a obra do autor. Por que eu não poderia usar esses
links que estão num site confiável como o Google Books? Se um artigo de
internet cita uma fonte, eu necessariamente preciso citar a fonte de onde a
fonte saiu? Se esse é o caso, o site apologistas católicos terá que ser
fechado, pois o que mais há em seus artigos são citações tiradas de artigos de
apologistas americanos como o Dave Armstrong. É lógico que eu não preciso citar
o site de onde uma citação saiu, basta que se aponte a fonte da própria
citação. O mais interessante é que o apologista sequer atacou o argumento. Até
mesmo Spada que escreveu uma obra antes da definição do dogma para
compatibilizá-lo com Tomás não fez uso do argumento católico. Se a “tese da
mudança” era tão aceita pelos tomistas como ele originalmente defendeu, porque
essa obra não usou tal tese. Seria um argumento e tanto para quem deseja salvar
o dogma católico.
Sobre a negação da imaculada conceição
na Exposição da Saudação Angélica
O principal argumento que eu
trouxe é que na mesma obra Tomás nega a doutrina romanista. Se eu me proponho a
refutar alguém, é esperado que eu interaja com o principal argumento do meu
oponente. Todavia, o artigo anterior não interagiu com o meu principal
argumento. Somente no artigo mais recente, ele ensaiou uma tentativa de
resposta.
Ao contrário do que ele afirma tratamos disso sim
no texto anterior, ou ele não quis ler ou pode ser que eu não tenha deixado
claro.
Eu estou especialmente interessado que ele mostre onde no
texto anterior esse argumento foi tratado. Essa foi a “refutação” que
simplesmente ignorou o principal argumento do “refutado”.
Por que necessariamente as palavras “nec originale”
não fazem parte da obra original a partir dessa suposta contradição? Poderíamos
argumentar também que o discurso anterior onde há a suposta contradição é que
não está na obra, ou seja, esse argumento de “explicação plausível” pode servir
também pra quem quiser dizer que o trecho anterior é falso, baseado na
veracidade das palavras “nec originale”. Ele está escolhendo o que quer aceitar
como verdadeiro ou não baseado em uma suposta contradição. Por que ele não diz
que o trecho anterior é o que não faz parte do discurso? Claro, porque não
convém a ele, só convém achar que “nec originale” é que é “falsificação romanista”.
A grande questão é que sobre
o trecho que nega a imaculada conceição não pairam dúvidas sobre autenticidade,
enquanto o trecho invocado pelo católico está envolto em controvérsias e dúvidas.
Meu argumento pode ser atacado de três maneiras:
(1) Afirmar que o trecho
invocado por mim é de origem duvidosa. O apologista católico bem gostaria de
fazer isso, mas não há dúvidas sobre a autenticidade desse trecho. Até mesmo
autores que defendem a “tese da mudança” não negam a autenticidade desse
trecho;
(2) Afirmar que Tomás se
contradisse. Porém, trata-se de uma hipótese pouco provável tendo em vista se
tratar de uma contradição explícita e de fácil percepção. Uma solução seria
afirmar que se tratam de trechos escritos em períodos diferentes da vida de
Tomás. O problema é que não há evidência para isso. Ademais, a obra é bem curta
e provavelmente foi escrita num curto período de tempo.
(3) Atribuir um significado
ao texto harmônico com a imaculada conceição.
Nenhuma das três hipóteses é
defensável, portanto, nosso argumento é a melhor explicação. Ele se amolda
melhor ao sentido claro do texto e ao pensamento geral de Tomás contra a
imaculada conceição. Isso implica que a passagem duvidosa é de fato é uma
interpolação. Vejamos a interpretação católica:
Primeiramente, como conciliar os dois textos então?
Estariam em contradição? A solução é simples, no trecho anterior a “nec
originale” São Tomás está falando que ela foi “in originali concepta” isto
obviamente deve ser entendido no sentido que ela foi concebida pelos pais que
tinham a mancha do pecado original, logo temos que entender ai “concebida” no
sentido da cópula dos pais, não da transmissão do pecado pelos pais a ela.
Assim na primeira frase ela foi concebida com os pais com a mancha do pecado
original e na segunda frase fica claro que esse pecado não foi transmitido a
ela, por isso mesmo ele fala que não lhe ocorreu pecado original.
O argumento católico é que
Maria teria nascido a partir de relações sexuais de pessoas manchadas pelo
pecado original, por isso teria sido concebida em pecado. Admiro a criatividade
dessa explicação, mas definitivamente não é plausível. Ele está empurrando para
o texto informações que não estão lá. Em toda a obra não há qualquer menção a forma como os pais de Maria a geraram. Na verdade,
eles sequer são citados. Nem no contexto imediato nem no contexto geral há
qualquer informação que dê apoio a essa interpretação. Verifiquemos a citação
em contexto estendido:
Da Santíssima Virgem é dito ser cheia de
graça de três maneiras. Em primeiro lugar, porque a sua alma estava cheia de
graça. A graça de Deus é dada para duas finalidades principais, ou seja, fazer
o bem e evitar o mal. A Santíssima Virgem, então, recebeu a graça no grau mais
perfeito, porque ela tinha evitado todo o pecado mais do que qualquer outro
Santo depois de Cristo. POIS O PECADO É
TANTO ORIGINAL, E DESSE ELA FOI LIMPA NO ÚTERO, como mortal ou venial, e
destes, ela estava livre. Assim, é dito: "Você é justa minha amada e não
há mancha em você" [Sg 4:7]. Santo Agostinho diz: "Se pudéssemos
reunir todos os santos e perguntar-lhes se eles eram totalmente sem pecado,
todos eles, com exceção da Virgem diriam a uma só voz: "Se dissermos que não
temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós" [1 Jo
1:8]. Eu, no entanto, excetuo esta Virgem santa de quem, por causa da honra de
Deus, gostaria de omitir qualquer menção do pecado" [Da natureza e da
graça 36]. Porque sabemos que a ela foi concedida a graça de superar todo tipo
de pecado por Ele a quem ela mereceu conceber e dar à luz, e ele certamente era
totalmente sem pecado. CRISTO EXCEDEU A
VIRGEM SANTÍSSIMA NO FATO DE QUE ELE FOI CONCEBIDO E NASCIDO SEM PECADO
ORIGINAL. MAS A SANTÍSSIMA VIRGEM
FOI CONCEBIDA EM PECADO ORIGINAL, MAS NÃO NASCEU NELE.
O contexto imediato se
refere à concepção no pecado original e não ao fato dos pais de Maria ter
pecados. Mas, não para por aí. O pior de tudo é que Tomás diz explicitamente:
“e desse ela foi limpa no útero”. Se ela não foi concebida em pecado, como
poderia ter sido limpa no útero? Como alguém que não está sujo pode ser
limpo? É interessante observar que Aquino se referia à Maria como pura, sem
mancha, sem qualquer pecado, cheia de graça, mas ainda assim negava a imaculada
conceição. A razão é muito simples. Maria teria sido santificada ainda no útero.
A partir de então ela estava cheia de graça e livre de qualquer mancha. Todavia,
não foi desde a concepção. Os apologistas católicos costumam trazer qualquer
afirmação sobre a pureza de Maria como suporte à imaculada conceição, mas isso
não é suficiente. É preciso demonstrar que ela foi totalmente pura desde a
concepção. Esse é um elemento central do dogma, por isso se chama “imaculada concepção”. Qualquer tipo de
santificação após a concepção não é o dogma católico, mas uma negação explícita
do dogma. O texto em latim pode ser verificado no site da fundação Tomás de
Aquino aqui.
Peccatum enim aut est
originale, et de isto fuit mundata in utero; aut mortale aut veniale, et de
istis libera fuit.
Não por acaso, as traduções
para o inglês trazem o termo “pecado original” e inclusive apontam que essa foi
a mesma posição expressa na Suma Teológica. A interpretação alternativa é um
“duplo twist carpado” para tentar negar o significado óbvio. Mas eis que surge
um interessante argumento:
Argumento parecido é dado por protestantes que
negam a existência do pecado original quando apresentamos os Salmos 38 (...)
Logo, Cristo neste texto foi “concebido” sem pecado, porque sua mãe não tinha
pecado nem teve contato sexual, e Maria foi “concebida” em pecado, porque seus
pais tinham pecado, que não foi transmitido a ela, então “concebida” deve se
entender ai como o estados dos pais no ato sexual que como diz ele próprio,
“não se pode realizar sem libidinagem” (Compêndio Teológico – CCXXIV), logo
essa é uma das explicações que harmoniza o texto. Se isso não satisfizer o protestante, podemos
então adotar a opção presentada de achar que São Tomás era esquizofrênico.
Claro que aqui vai argumentar que “isso é malabarismo” ou “está deturpando”,
então que prove que todos os manuscritos são falsos.
Seria interessante saber
quem são esses protestantes. Os maiores exegetas protestantes das Escrituras
consideram o texto de Salmos 38 como referente ao pecado original, pois a fé
reformada afirma claramente a crença no pecado original. Agora, quando um
apologista católico precisa utilizar um suposto argumento protestante para
demonstrar como um teólogo escolástico do século XII não negou a imaculada
conceição, mostra que algo está errado. É uma comparação totalmente anacrônica
e sem sentido que o próprio parece reconhecer. O mais interessante é a “lógica”
do apologista. Existe muita controvérsia sobre o “nec originale”. Se o texto
precisa ser harmonizado, a citação autêntica deveria prevalecer sobre a
duvidosa. No entanto, ele inverte o processo. O padrão é a citação duvidosa
estabelecer a interpretação da citação autêntica. Estudiosos patrísticos e
críticos textuais não trabalham dessa forma – uma obra sobre a qual não há
dúvidas de autenticidade possui valor probatório superior a uma de origem
duvidosa.
No mais, porque eu tenho que
provar que todos os manuscritos são falsos? Isso implicaria que um
texto autêntico necessariamente deveria estar em todos os manuscritos – uma
tese absurda. Além disso, ele traz uma citação sem nenhum contexto numa obra
diferente e de contexto diferente da citação discutida. Se ele quisesse trazer
alguma substância a essa interpretação (o que seria inútil devido ao contexto
imediato), deveria demonstrar outros textos de Tomás em que ser concebido no
original possuía o significado de ser gerado através de relações sexuais
naturais. Em todos os textos que li tal significado não está presente.
Ele também afirma que Garrigou Lagrange não lida
com este fato, sendo que eu coloquei nos comentários a obra “A Sintese
Tomista”, onde o Garrigou fala desta questão:
Vejamos o que eu disse:
O que chamou mais atenção "na refutação"
foi nem ele nem o Garrigou (até onde ele trouxe no texto) terem lidado com o
fato de que na mesma obra Tomas negou explicitamente a imaculada conceição.
Eu fiz questão de frisar “até onde ele trouxe no texto”. E
sim, ele não tratou essa objeção no texto anterior nem trouxe no artigo
qualquer posição desse autor tratando da divergência.
Percebam aqui que Garrigou Lagrange faz menção a
mais 2 Tomistas o Padre Frietoff e também outra sessão de outra edição do
Boletim Tomista escrita em 1933 por Mondonnet. São mais dois tomistas apoiando
a ideia, até aqui já mostramos cinco.
Essa definitivamente não é a conclusão lógica da citação
trazida. Vejamos:
(...)
e se quer evitar neste escrito uma
contradição inaceitável em algumas linhas de distância, deve se ver nas
palavras “in originali concepta” o “debitum contrahendi” em razão do corpo formado por geração ordinária, e não o pecado
original em si, o que só pode estar na alma (cf. Fríetoff C., loc. cit., p.
329, e P. Mandonnet em "Thomiste Bulletin", de Janeiro a março 1933
Notas et Communications, pp. 164- 167).
Garrigou não está necessariamente afirmando que esses dois
autores adotam essa hipótese, tanto é que começa a afirmação com um “se”. Eles
poderiam apenas afirmar que essa é a única opção viável para harmonizar o
texto, sem necessariamente adotá-la. Além do mais, não há nada nessa citação
que implique que esses autores adotava a versão crítica de Rossi e defendessem
a “tese da mudança”.
O apologista traz a explicação de Garrigou, segundo o qual
Tomás acreditava que a concepção do corpo e a animação eram estágios distintos.
Essa questão é irrelevante para a harmonização do texto, pois ele afirmou
explicitamente que Maria foi limpa do pecado original no útero. Os católicos
tentam “salvar” o dogma romanista apelando a essa distinção. Todavia, é
irrelevante uma vez que ele acreditava na santificação de Maria após a
animação. Ainda que o momento da concepção envolvesse a geração do corpo e a
infusão da alma, a santificação seria após a infusão. Portanto, Maria não teria
uma concepção imaculada.
E, ainda, que Aquino discordasse da imaculada conceição
apenas por uma questão filosófica, o problema persistiria. Se algum pai da
igreja negasse a trindade por questões filosóficas, ele estaria escusado do
cometimento de heresia? Obviamente não. É comum os apologistas tentarem
suavizar a contradição afirmando que Aquino concordava com os elementos
centrais da doutrina. Todavia, Aquino negou o elemento central do dogma. Maria
teria sido cheio de graça desde a concepção. Isso é central e não secundário.
Se os católicos fossem consistentes com a frequente alegação de que o
magistério da igreja apenas preserva a fé sempre crida pela igreja, deveria
considerar Tomás um herege. Ademais, é interessante trazer a nota de rodapé 41
do livro de Garrigou:
(41) A objeção foi
levantada Boletim Tomista de Júlio-Dezembro 1932, p. (579) no qual nós lemos o
mesmo opúsculo um pouco antes: "Ipsa (Virgo) omne peccatum vitavit magis
quam alius sanctus, praeter Christum. Peccatum
autem aut est originate et de isto fuit mundata in utero; aut mortale aut
veniale et de istis libera fuit. Sed Christus excellit B. Virginem in hoc quod
sine originali conceptus et natus fuit. Beata autem Virgo in originali concepta, sed non nata." Existe contradição entre esse texto e ao
que parece bem autêntico e as linhas mais abaixo. É inverossímil que a poucas
linhas de distância se encontre o sim e o não. A dificuldade se desaparece
quando se tem em conta que para São Tomás a concepção do corpo, no início da
evolução do embrião, precede em pelo menos um mês a animação, que é a concepção
passiva consumada, antes do qual não existe a pessoa, pois ainda não existe a
alma racional.
Garrigou reconhece a autenticidade do texto e propõe uma
explicação que não responde à questão. Se Maria foi limpa do pecado original,
ela necessariamente não foi preservada do desse pecado.
Outras
citações que comprovaria a “tese da mudança”
Nesta seção do artigo, o apologista católico sequer interagiu
com os nossos argumentos. Ele basicamente repetiu as mesmas coisas e trouxe
citações que não trazem nenhuma afirmação da imaculada conceição. Tratemos
primeiro do comentário aos Gálatas. A versão trazida pela fundação Tomás de
Aquino é bem diferente da que o apologista trouxe:
Pois Ele somente e exclusivamente é aquele
que não está sob a maldição da culpa, apesar do fato de que fez a si mesmo maldição por nós. Por
isso, é dito, "Eu estou sozinho até
que passe" (Sl. 140:10); e, novamente "Não há ninguém que faça o
bem, nem um sequer" (Sl. 13:3); "Um homem entre mil que eu
encontrei" (ou seja, Cristo, que foi sem qualquer pecado), "uma
mulher entre todos elas eu não encontrei", que fosse totalmente imune de
todo pecado, pelo menos original ou venial ( Ecl. 7:29).
Nessa versão não há qualquer referência à Maria. Se alguma
conclusão pode ser tirada, seria no sentido de negar a imaculada conceição,
pois se afirma que nenhuma mulher imune ao pecado original ou venial foi
encontrada. Porque deveríamos adotar a versão apresentada por ele e não essa
que ao menos é adotada pela Fundação Tomás de Aquino? Ele não traz nenhum
argumento a seu favor, se limitando a postar uma versão presente no google
books sem apresentar sequer as qualificações da fonte. Quem escreveu essa
versão? Quem atesta que o trecho sobre Maria está nos manuscritos mais antigos?
Antes de tudo, é necessário estabelecer a versão correta.
Eu coloquei o Volume XXIII do Sancti Thomas Opera
Ominia de 1862 onde são demonstradas as várias versões dos comentários aos
Gálatas e os antiquíssimos manuscritos que a contém, como demonstrei no caso de
“nec originale”, porém esse trecho aos Gálatas é trabalho para outro texto que
vai resultar no mesmo trabalho deste. O protestante simplesmente ignorou isso e
todas as explicações que tem no link e nas palavras de Pedro Espinosa e
simplesmente foi na internet procurar os textos baseado nas versões posteriores
nas quais as palavras foram retiradas.
Pedro Espinosa não argumentou nada. Ele apenas se limitou a
afirmar sua versão preferida e apontar outra fonte que supostamente provaria a
autenticidade. De fato, o interlocutor católico terá muito trabalho em provar
mais essa citação duvidosa. É no mínimo suspeito que as citações a favor da
“tese de mudança” sempre estejam envoltas em controvérsia. Porque será? No
entanto, vou poupar o trabalho do apologista católico. Mesmo a versão que ele
apresentou não implica na imaculada conceição:
Por
isso, é dito, ‘Eu estou sozinho até que passe’; e, novamente ‘Não há ninguém
que faça o bem, nem um sequer’; ‘Um homem entre mil que eu encontrei’ (ou seja,
Cristo, que foi sem qualquer pecado), "uma mulher entre todos elas eu não
encontrei", que fosse totalmente imune de todo pecado, pelo menos original ou venial. Exceto a
puríssima e louvável Virgem.
Percebam a sutileza. Tomás diz que não foi encontrada mulher
que não tenha contraído pecado original OU venial. A exceção não precisaria
necessariamente ser livre do pecado original, bastaria não ter cometido pecado
venial. Nesse aspecto, Maria seria uma exceção, pois não teria cometido
qualquer pecado venial. Se a citação dissesse pecado original E venial, a
exceção necessariamente deveria ter sido livre dos dois. Todavia, Maria poderia
ser uma exceção por simplesmente não ter incorrido em pecado venial.
Sobre os salmos, eu tratei em mais detalhes no meu artigo
anterior. Nenhuma das citações afirma:
(1) Que Maria não incorreu em pecado original; ou
(2) Que Maria foi livre de qualquer pecado desde a concepção.
Eles basicamente se limitam a afirmar que Maria não tinha
nenhuma mancha ou pecado. O apologista pressupõe que o pecado original está
incluso. O problema é que Tomás diferencia claramente os pecados nos trechos em
que trata da questão. Como vimos em citações anteriores, ele diferencia entre
pecado mortal, venial, atual ou original. No mais, é preciso demonstrar que
Maria foi livre de qualquer pecado desde a concepção, o que não é afirmado nos
comentários aos salmos. Nós inclusive vimos que na citação da saudação
angélica, o escolástico afirmou a pureza de Maria ao mesmo tempo em que afirma seu
nascimento no domínio do pecado original.
Datação
das obras
Esse foi um ponto ignorado pela resposta. Como argumentei no
meu artigo anterior, o católico precisa necessariamente estabelecer uma data
confiável para as referidas citações, provando que Tomás passou a acreditar no
dogma católico no fim da vida:
Porém,
existe outro problema com a tese católica – a datação das obras. É preciso
demonstrar confiavelmente que as obras onde supostamente ele afirma a doutrina
mariana são posteriores a todas as citações onde nega a mesma doutrina. De
acordo com três listas cronológicas que podem ser vistas aqui, aqui e aqui, a
Suma Teológica foi escrita entre 1266 e 1273. A saudação angélica teria sido
escrita entre 1268 e 1273. Os comentários das epístolas de Paulo estariam entre
1265 e 1273. O mais tardio seriam os comentários sobre os salmos no intervalo
1272-1273.
Percebe-se que os períodos
se sobrepõem. Ainda que o apologista estivesse certo sobre a saudação angélica,
não seria suficiente, pois o período tradicionalmente atribuído à obra está
entre 1268 e 1273, enquanto a Suma Teológica está entre 1266 e 1273. As
citações contrárias à imaculada conceição estão na terceira parte da Súmula,
que foi escrita mais para o final. Qual teria sido a última posição de Aquino
então?
Sobre
a autenticidade do termo “nec originale”
Essa é a seção mais decepcionante do texto. O apologista
católico traz a posição de Rossi. Ora, disso já sabíamos. A questão é se há
evidências confiáveis que apontem que os textos que contém a expressão
justificam atribuir-lhe autenticidade a despeito de outros manuscritos não
conterem e de outras versões críticas não concordarem. Ele afirmou
anteriormente:
Que os 16 dos 19 manuscritos analisados por Rossi
que contém a expressão “NEC ORIGINALE”, são “falsificações romanistas” e os 3
restantes que são os verdadeiros.
Minha resposta foi:
Antes
de tudo é preciso estabelecer que de fato existe 16 de 19 manuscritos contendo
“nec originale” e que esses são os mais confiáveis e justificam confiar que trazem
o texto original. Eu obviamente não analisei nenhum desses manuscritos e não
foi baseado nesse argumento que afirmei se tratar de uma falsificação
romanista.
Tudo o que ele fez foi
replicar a tese de Rossi. Vejamos as premissas adotadas pelo católico:
Dos 16 dos 19 antigos manuscritos analisados por
Rossi contém a expressão “nec originali”.
Um detalhe aqui pode passar despercebido.
Dado a força probatória que o apologista atribui a isso, é passada a impressão
de que existem apenas 19 manuscritos. Mas, observe-se que não é isso que Rossi
ou Garrigou afirmam. Eles afirmam que Rossi analisou 19 manuscritos. Esses 19
são todos os manuscritos existentes? Caso não sejam, quantos
outros existem e qual o conteúdo deles? É possível fazer um caso probatório forte
quando se seleciona de antemão quais as evidências serão utilizadas e se deixa
de lado as outras não favoráveis. Não estou afirmando que esse é o caso, mas se
o apologista católico não traz essas informações, a afirmação de que 16 de 19
favorecem sua posição perde bastante relevância.
Além disso, eu não questionei a veracidade da citação de
Garrigou, mas se de fato as provas que eles alegam ter são verdadeiras. Isso
sequer implica dizer que eles estão mentindo, afinal eles podem estar
sinceramente errados sobre a datação, o número de manuscritos e etc. Agora
vejamos o comentário “maroto” do apologista:
Para não precisar apresentar todos os 16
manuscritos, porque além de ser obviamente um grande trabalho para apenas um
texto e demorar muito tempo para conseguir todos, selecionei apenas os 3 mais
antigos e melhores que contém a palavra “Nec Originale” e solicitei a
Biblioteca do Seminário de Torino, e que já servem como prova, por serem
justamente os mais antigos que se tem conhecimento. Também solicitei 1 dos 4
outros que a palavra foi raspada ou suprimida.
Ele diz que iria provar que todos os 16 manuscritos teriam o
termo “nec originale”, agora ele nos diz que “selecionou 3” apenas. A questão é
como isso prova que os 16 manuscritos contêm o termo “nec originale”, se o
máximo que ele fez foi apresentar três favoráveis? Ainda mais, dos quatro
manuscritos que não contém o termo, ele traz apenas um com uma suposta
raspagem.
As mais antigas versões contém a expressão “nec
originali”.
Essa premissa também não foi provada pelos seguintes
problemas:
(1) A única razão apresentada para acreditarmos na datação
desses manuscritos é a autoridade de Rossi. Não é apresentada evidência
favorável às datas ali colocadas. Isso é contraditório, pois ele afirmou que as
edições críticas que apresentamos não provavam nada. Todavia, ele apenas
oferece um argumento de autoridade. Porque deveríamos aceitar a datação de
Rossi como suficiente para afirmar autenticidade e rejeitar outras edições?
Para quem diz trazer evidências, isso é muito pouco;
(2) Se esses dezesseis manuscritos são os mais antigos, quais
as datas dos demais que não contém a expressão? Percebam que em nenhum momento
os manuscritos contrários são datados. Se ele deseja determinar quais os
manuscritos mais antigos, necessariamente deve apontar as possíveis datas de
todos os analisados. Lembremos que sequer sabemos se esses são todos os
manuscritos.
(3) Mesmo na datação do Rossi, a maioria dos manuscritos é do
final do século XIV ou século XV. Há ai um período de mais de 100 anos entre a
morte de Tomás e a data desses manuscritos.
Nas versões que não contém a expressão “nec
originali” estas palavras foram suprimidas.
Posteriormente as palavras “nec originali” foram
substituídas por “ipsa virgo”.
Ele só trouxe um manuscrito demonstrando que a expressão “nec
originali” foi suprimida, portanto, não provou sua alegação. Além do mais ele não
trouxe um manuscrito sequer para provar que após a supressão, foi adicionado
“ipsa virgo” ao lugar. Porque essa expressão teria sido suprimida? E possível
inclusive que tenha por um copista que acreditou se tratar de uma interpolação,
afinal linhas antes Tomás tinha negado o que supostamente acabara de afirmar.
Quanto aos meus comentários sobre Pedro Espinosa mantenho que
se trata de um ilustre desconhecido. Em nenhum momento eu afirmei que a tese
católica estava errada por esse motivo. A questão é que o apologista quis
formular um argumento de autoridade usando um autor que sequer é uma autoridade
na questão. Espinosa também não trouxe nenhum argumento favorável à sua tese,
limitando-se a citar outra fonte. Por outro lado, Richard Gibbings trouxe sim
argumentos. Ele assim como nós citou a contradição grotesca que resultaria ao
se considerar a passagem duvidosa como autêntica.
Sobre
os autores tomistas supostamente favoráveis à tese da mudança
Eu trouxe no artigo anterior uma citação atribuída por mim a
Juniper Carol extraída de sua obra sobre Mariologia. Eu não retirei a citação
diretamente do livro, mas da transcrição do capítulo sobre a imaculada
conceição hospedada num site católico. Como o próprio site atribui o texto a
Carol, fui induzido a acreditar que esse capítulo era de autoria dele. Isso não
muda a relevância da fonte, pois saiu de uma obra de referência no assunto. E
como Carol foi o editor do livro, provavelmente também endossa a opinião de que
a maioria dos tomistas admite que Tomás negou a imaculada conceição.
Eu aleguei com base nessa citação que a posição majoritária
dos tomistas não era favorável ao apologista católico, e ele não provou o
contrário. Eu não afirmei que Garrigou é o único defensor, mas que é o mais
citado. Uma minoria não é necessariamente uma pessoa. É uma questão de lógica
rudimentar. Também não disse que não havia qualquer apoio a essa tese antes da
proclamação do dogma em 1854.
Quanto a Enciclopédia Católica, trata-se apenas de mais uma
fonte relevante que mostra que a principal disputa sobre Tomás não é sequer uma
suposta mudança (que sequer é mencionada), mas o momento que a purificação ocorreu.
O fato de uma edição posterior apontar um autor que manifesta uma posição
diferente da maioria é irrelevante. A própria citação que eu trouxe já apontava
isso. Por último o autor católico apresenta a opinião do suposto “maior tomista
brasileiro”.
Não estamos falando aqui de qualquer pessoa, de
qualquer autor que possamos encontrar na internet, mas de Dom Odilão Moura, um
célebre tomista brasileiro que dedicou toda sua vida intelectual a estudar o
tomismo. Como é que o protestante pode afirmar que essa era opinião minoritária
de Lagrange baseado na omissão de outros autores, se vários vultos do tomismo
falam sobre a questão? É por isso que não há qualquer condição de debater com
alguém que tem a menor noção do assunto, mas que acha que pode chegar na
internet e falar do negócio com uma simples pesquisa no google.
O fato de o suposto “maior tomista brasileiro” abraçar uma
posição não implica que esta não seja minoritária. Acho que não é sequer
preciso trazer o significado que o dicionário atribuiu ao termo “minoria” né.
Eu de fato não conhecia Dom Odilão Moura, mas sei que se um indivíduo X foi
limpo do pecado original no útero de sua mãe, isso implica que ele nasceu no
domínio do pecado original. E me parece que nenhum dos tomistas trazidos deu
qualquer explicação razoável para isso até agora.
No mais, é muita hipocrisia um site como esse condenar alguém
por fazer pesquisas no google. De onde será que saiu a maioria das pesquisas
dele? De onde sai os links que
ele passa. Como um site que copia quase todos os seus argumentos de blogs
americanos pode criticar o fato de alguém usar o google. Ele provavelmente deve
usar o yahoo. Quem acompanha meus artigos, já deve ter percebido que eu vou
muito além de apenas trazer argumentos de outros sites (o que eu obviamente
faço sempre que considerar um bom argumento).
Há séries de artigos no meu
blog baseadas em livros inteiros que li (é o caso da série sobre sucessão
apostólica fundamentada na obra do Francis Sullivan). Há capítulos inteiros
retirados de livros que li (como os artigos do papado retirados da obra de
Klaus Schatz ou Hans Kung). Para alguém que defende teses absurdas como a de
que Gregório de Nissa acreditava no purgatório, sendo que se tratava de um
universalista, recomendo fortemente que use mais o google, mas não apenas para
pesquisar em blogs católicos de baixa qualidade. Sem contar as citações
totalmente descontextualizados de autores protestantes como J.N.D Kelly. Kelly
afirmou explicitamente em sua obra que não havia evidência para acreditar que
Agostinho via o bispo de Roma como supremo e infalível. Todavia o apologista
católico copiou uma citação descontextualizada de Kelly para afirmar que
Agostinho defendia a infalibilidade papal (veja aqui).
Diante disso tudo, qual a relevância do protestante
em trazer autores que não mencionaram a tese?
Demonstrar que a tentativa
católica de apresentar um consenso ou posição majoritária em favor de sua tese
fracassou. Nesse último artigo, ele adotou um tom mais cuidadoso, mas no
anterior, quis implicar que a maioria dos tomistas apoiava sua posição, o que não
é verdade. E apesar de ter apresentado alguns nomes a mais, sua posição
continua não sendo a majoritária.
São aqui mais 14 tomistas a favor de que São Tomás
não era contrário ao dogma ou mudou de opinião, todas as obras estão
referenciadas para quem quiser procurar, claro que não vamos citar todos aqui,
pois seria um trabalho longo.
Errado mais uma vez: (1) Garrigou não afirma que todos esses
são tomistas; (2) Ele apenas diz que para tais teólogos, Tomás foi favorável ao
privilégio; (3) Garrigou não afirma que esses teólogos defenderam qualquer tipo
de mudança (isso ficou por conta do apologista). Além do mais, a afirmação “são
favoráveis ao privilégio” é no mínimo ambígua e não implica necessariamente na
ideia de que Tomás afirmou explicitamente o dogma. Eles poderiam, assim como
outros, estar expressando a ideia de que Aquino defendeu a pureza excelsa de Maria,
o deixando muito próximo à definição dogmática (o que é um argumento
falacioso).
Sobre
a “retificação” do site Corpus Thomisticus
Quem ler essa seção do artigo católico perceberá que não
houve retificação alguma. Retificar é corrigir algo que estava errado e isso
não aconteceu. O site apenas acrescentou um comentário afirmando que há outra
versão com “nec originale”. Como isso pode ser uma retificação? Eles continuam
hospedando uma versão que não contém o termo. Caso o apologista quisesse fazer
um forte argumento de autoridade deveria convencer o autor do texto crítico a
se retificar, o que obviamente não aconteceu e nem sabemos se seria possível.
Além disso, nós apresentamos pelo menos duas versões desse texto desfavoráveis
ao pleito católico. No mais, há muitos outros textos a serem “retificados” no
corpus thomisticus. Como já vimos, eles têm o hábito de hospedar textos não
muito simpáticos à causa católica.
Só resta agora ver onde o protestante vai dizer que
está apoiado.
Além dos outros argumentos trazidos, vou continuar apoiado
nas versões críticas do texto que não contém “nec originale”. Uma delas
inclusive continua hospedada ..... adivinha onde? No site Corpus Thomisticus.
No dia que eles se manifestarem oficialmente afirmando que a versão de Rossi está
correta e as outras erradas e deixarem de hospedar a versão “errada”, ai sim o
apologista tem fundamentos para afirmar que houve uma “retificação”. Quanto à
manifestação do diretor do site, ele próprio afirma que questão é controversa. Parece-me
algo bem diferente de afirmar que é certo. E o fato de pairar dúvidas
importantes sobre a autenticidade do termo é um ponto central do nosso argumento.
Tomás
acreditou na imaculada conceição no início da vida?
A tese de Garrigou é que Tomás acreditava na imaculada
conceição no início de sua vida. Como evidência, é apresentada a seguinte
citação da obra “Comentários das Sentenças de Pedro Lombardo”:
Ao
terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do
contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades
criadas, nenhum seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio
do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual. (I
Sent., d. 44, q. 1, a. 3)
Essa é a citação apresentada pelo primeiro artigo do
apologista católico. A expressão “imune do pecado original” parece apresentar
um significado claro. Todavia, eu cometi o erro básico de não verificar essa
citação para ver o contexto. O blog Conhecereis a Verdade trouxe na caixa de
comentários a continuação:
Foi
todavia sob Deus, visto que havia nela o
poder de pecar.
Essa é uma tradução possível. Outra tradução seria potência
do pecado. O apologista afirma que Maria não poderia ter sido imune ao pecado
original se o tivesse contraído. Como não seria possível contrair o pecado
original mais de uma vez, não há sentido em se falar de imunização. Maria
necessariamente foi imune ao pecado original porque foi preservada de
contraí-lo. Se a citação parasse ai, de fato seria a melhor explicação. No
entanto, o que vem depois não se coaduna. Como é improvável que Tomás
mantivesse uma contradição tão patente, alguma explicação que harmonize todos
os dados precisa ser dada. Sobre a afirmação de que havia em Maria a potência
do pecado, o apologista explica:
O autor protestante traduz o termo “potentiam ad
peccatum” inexatamente, este significa “potência ao pecado”, e não “poder de
pecar”, muito embora possa em algum contexto ser traduzido assim, mas no caso
isso deve ser entendido como os Escolásticos entendiam. Fora isso o protestante
tem que urgentemente estudar o que é “ato” e “potência” para os escolásticos,
explicar isso aqui é demasiado extenso.
O problema do argumento protestante seria “não entender os
escolásticos”. Mas como os escolásticos entendiam? “No momento não posso dizer,
é demasiado extenso”. O motivo pelo qual não explica é bem simples, a definição
de potência que os escolásticos adotavam (de acordo com a filosofia
aristotélica) favorece a intepretação protestante. Diga-se de passagem, não é
sequer “demasiado extenso” explicar. Ato é o que algo é num dado momento.
Potência é a capacidade de algo se tornar outra coisa. Por exemplo, uma semente
tem a potência de se tornar uma árvore. Isso quer dizer que Maria tinha a
capacidade de pecar. Havia nela o potencial de se tornar uma pecadora, o que
não a levou a cometer pecados pessoais porque teria sido purificada ainda no
útero. Como o blog Conhecereis a Verdade bem disse, se Maria tinha a capacidade
do pecado, ela necessariamente não foi livre do pecado original desde a
concepção.
Parece que o apologista católico previu essa objeção. Como
ele resolve o problema? Apelando a teoria da redenção preventiva de Duns Scoto.
Maria teria sido redimida preventivamente. Esse argumento tem um grande
problema. Tomás de Aquino nunca adotou a teoria da redençaõ preventiva. Um dos
motivos pelos quais Tomás rejeitou a imaculada conceição é que para ele toda a
raça humana deveria ser redimida. Se Maria não contraiu o pecado original, ela
seria uma exceção e tornaria mentiroso o ensino bíblico de que toda a
humanidade necessita de redenção. Isso foi claramente apontado pela Enciclopédia
Católica:
No
entanto, é difícil dizer que St. Tomás não exigia um instante, pelo menos, após
a animação de Maria, antes de sua santificação. Sua grande dificuldade parece ter surgido a partir da dúvida de como
ela poderia ter sido redimida se ela não tivesse pecado. Esta dificuldade
levantou nada menos do que dez passagens em seus escritos (veja, por exemplo,
Suma III: 27: 2, ad 2). Mas, enquanto St. Tomás, assim negou o ponto
essencial da doutrina, ele próprio estabeleceu os princípios que, depois de
terem sido reunidos e trabalhados permitiram a outras mentes fornecer a
verdadeira solução desta dificuldade de suas próprias premissas.
(Fonte)
A implicação lógica é que redenção preventiva não fazia parte
do pensamento de Aquino. Percebam que ele expressou esse pensamento repetidas
vezes numa obra posterior a que estamos discutido. E não há absolutamente
nenhuma evidência de que acreditou na redenção preventiva e mudou de opinião. O
erro crasso da explicação católica é ao invés de procurar justificar a tese em
outros escritos de Tomás, preferiram importá-la de um teólogo que tinha um
pensamento oposto na questão. Não por acaso, Scoto afirmou enquanto Aquino
negou a imaculada conceição.
Mas e a questão da imunidade ao pecado original? Tendo em
vista que: (1) Maria tinha o poder de pecar; (2) A redenção preventiva não é
uma explicação cabível, a expressão “imune ao pecado original” não poderia
significar “não ter contraído o pecado original”. A explicação mais plausível
que coaduna com a própria citação e com todo o pensamento de Tomás é que Maria
teria sido imune dos efeitos e não da contração do pecado original. O pecado
original inclina o homem a cometer outros pecados. Segundo Tomás, quando Maria
foi purificada ainda no útero, ela teria perdido a capacidade de cometer
pecados (algo que todos os outros santos tinham). O apologista católico ainda
respondeu:
Há potencia ao pecado pela própria natureza
intrínseca de qualquer humano de poder pecar, mas a graça infundida em Maria não permitia ela pecar. Adão não
tinha pecado original, mas ele tinha a potência ao pecado mesmo sendo feito
limpo de qualquer pecado, e não pecou até determinado momento, porém Maria, mesmo tendo potência ao pecado, nasceu
sem ele como Adão, e não pecou durante sua vida por consequência da Graça de
Deus que necessitou mais do que qualquer um de nós, mas continuou com a potência.
Há uma contradição na explicação. Maria recebeu uma graça tão
grande que não lhe permitia pecar, no entanto ela continuou com potência, ou
seja, com a capacidade de pecar? É preciso escolher qual das duas manter.
Ademais, o paralelo entre Maria e Adão é inadequado. Adão de fato não tinha o
pecado original, portanto, não tinha uma inclinação inata ao pecado. No
entanto, diferente de Maria, ele não recebeu nenhuma graça especial que lhe
impedia de pecar. No pensamento de Tomás, Maria não continuou com a potência do
pecado, mas deixou de tê-la quando foi purificada. Além do mais, Maria foi
concebida como todos os outros seres humanos, e, portanto, diferente de Adão já
estava sob o domínio do pecado original.
Conclusão
O meu argumento continua de pé. A tentativa de harmonizar um
texto que claramente rejeita a imaculada conceição falhou totalmente. O
apologista também não lidou com a questão da datação das obras – um ponto central do argumento dele. Ele simplesmente parte do pressuposto de que a
interpolação é autêntica e deve guiar a interpretação do resto do texto. Porém,
este é o jeito errado de fazer as coisas. O texto sobre o qual não há dúvidas
tem precedência sobre o de origem duvidosa.
Ele também falhou em provar a existência de outros textos que
apoiem a tese da mudança da opinião. Também falhou em trazer evidências
suficientes favoráveis à autenticidade de “nec originale”. Ele se limitou a
peneirar a evidência e trazer apenas a amostra conveniente como se isso
fechasse a questão. Todo argumento em favor da autenticidade se baseia na
autoridade de Rossi. A datação, antiguidade e até mesmo a amostra dos
manuscritos depende da autoridade dele. Essa não é uma prova decisiva, uma vez
que há outras edições críticas que seguem o caminho oposto.
Se o site católico deseja substanciar sua tese, tem as seguintes
alternativas:
(1) Provar que a interpretação verdadeira não nega a
imaculada conceição na saudação angélica (duvido que isso seja possível sem fazer
outro “duplo twist carpado”);
(2) Provar que existe uma contradição explícita – algo que
até mesmo os defensores da “tese da mudança” consideram inaceitável;
(3) Provar a falsidade do trecho que nega o dogma.
Improvável que o faça uma vez que até mesmo Rossi e Garrigou afirmam a
autenticidade.
Tomás é apenas um exemplo entre os muitos teólogos, papas e
pais da igreja que negaram a imaculada conceição. A tentativa católica é um
exemplo prático da Sola Eclesia que Inácio de Loyola sintetizou em tão poucas
palavras:
Acredito que o branco que
eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado.