Em
nosso blog já demonstramos que Agostinho não pode ser contado entre os
advogados da imaculada conceição aqui e aqui. O site heresias
católicas tem dois ótimos artigos sobre o assunto aqui e aqui. Outro artigo que aborda
a evidência histórica do período medieval pode ser visto aqui.
Esses artigos trazem o testemunho de vários pais da igreja negando a imaculada
conceição explicitamente ou implicitamente. Eles demonstram claramente,
amparados num bom número de estudiosos inclusive católicos, que Maria cometeu
pecados – posição defendida por Irineu e Tertuliano (séc. II), Orígenes (séc.
III), João Crisóstomo e Cirilo de Alexandria (Séc. IV-V).
Outra
posição pode ser encontrada em alguns pais do séc. IV – Agostinho, Ambrósio,
Cirilo de Jerusalém e Gregório Nazianzeno defenderam que Maria foi santificada
antes de conceber Cristo. Os católicos costumam apresenta-los como testemunha
da doutrina romana, mas esse não é o caso. Eles acreditavam que Maria foi livre
de pecados pessoais em algum ponto da vida, mas ela estava no domínio do pecado original. O testemunho
histórico contra a doutrina romana é convincente. Se pudermos falar de um consenso, pode-se dizer que está contra a igreja romana. No entanto, os
apologistas católicos costumam citar outros pais da igreja desse mesmo período
(séc. II – IV) como defensores dessa doutrina. É de interesse especial o artigo
hospedado aqui, pois traz o trabalho
de um reconhecido mariólogo da igreja romana. Nossas citações de Juniper
Carol podem ser encontradas nesse artigo. Vamos analisar os supostos testemunhos a favor da imaculada conceição e adicionar outros (ainda não abordados nos artigos recomendados) negando
esse dogma.
Justino Mártir
(100-165)
Justino
escreveu no meio do segundo século.
Em seu debate com Trifo, ele afirma que todos os homens pecaram e desafia seu oponente
a citar alguma pessoa que não precisaria ser salva por Cristo devido ao
cometimento de pecados pessoais. É um desafio que católicos romanos não
poderiam fazer:
Agora, nós sabemos que
ele não vai para o rio, porque Ele precisava do batismo ou da descida do
Espírito como uma pomba. Assim como Ele se submeteu a nascer e ser crucificado,
não porque Ele precisava de tais coisas, mas
por causa da raça humana, que desde Adão caiu sob o poder da morte e da astúcia
da serpente, e cada um dos quais tem cometido transgressões pessoais. (Diálogo com Trifo 88)
Justino
Mártir - fazendo eco ao ensino bíblico da pecaminosidade universal - afirma que
todos desde Adão, com exceção de Cristo, cometeram transgressões pessoais.
Toda a
raça humana encontra-se sob uma maldição. Pois
está escrito na lei de Moisés, "Maldito todo aquele que não permanece em
todas as coisas que estão escritas no livro da lei" [Deuteronômio 27:26]. Ninguém tem feito tudo com perfeição, nem
você vai se atrever a negar isso. Alguns
mais e outros menos têm observado as ordenanças prescritas. Se aqueles que
estão sob esta lei parecem estar sob uma maldição por não ter observado todos
os requisitos, quanto mais estarão todas as nações que praticam a idolatria,
seduzem jovens e cometem outros crimes? Se
o Pai de todos desejou que seu Cristo tomasse sobre si a maldição de toda
família humana, sabendo que depois de ter sido crucificado e morto Ele
ressuscitou, por que você discute sobre Ele, que
se submeteu a sofrer essas coisas de acordo com a vontade do Pai, como se Ele
estivesse amaldiçoado, e nem sequer se lamenta por vocês mesmo. (Ibid 95)
Ele segue o mesmo entendimento que
os protestantes – toda a humanidade está debaixo da lei do pecado, sem nenhuma exceção feita a Maria.
Clemente de Alexandria
(150-215)
Agora, meus filhos, o
nosso professor é como Seu Pai Deus, cujo filho é sem pecado, irrepreensível, e
com uma alma desprovida de paixão. Deus em forma de homem, imaculado, o
ministro da vontade do Pai, a Palavra que é Deus, que está no Pai, que está à
direita do Pai, e com a forma de Deus é Deus. Ele é para nós impecável. A ele devemos tentar com todas as nossas forças equiparar as nossas
almas. Ele está totalmente livre de paixões humanas, por isso ele também é o único juiz, porque somente ele é sem pecado.
No entanto, vamos tentar o quanto pudermos pecar o menos possível. Nada é tão
urgente do que a libertação das paixões e distúrbios, e então o controle da
nossa capacidade de cair em pecados que se tornaram habituais. O melhor seria não pecar de maneira alguma,
o que afirmamos ser uma prerrogativa de Deus somente (...) mas Ele
regozija-se com o arrependimento do pecador - ama o arrependimento que sucede
aos pecados. Esta Palavra [Jesus] do
qual falamos somente é sem pecados, pois o pecado é natural e comum a todos. (O
pedagogo 1:2 e 3:12)
Clemente
opõe toda a humanidade que está em pecado ao único que é sem pecado – Jesus
Cristo. Seria inexplicável o pai alexandrino fazer tais afirmações se ele
tivesse recebido alguma tradição apostólica que afirmava a imaculada conceição
de Maria.
Hipólito de Roma
(170-235)
Hipólito
é a testemunha mais antiga apresentada pelos defensores da doutrina romanista:
A arca, que foi feita de madeira incorruptível [Ex
15:10] era o Salvador. A arca simbolizava o tabernáculo de seu corpo, que
era imune à decadência e não gerou nenhuma corrupção pecaminosa (...) O Senhor
não tinha pecado, porque em sua humanidade Ele foi formado a partir da madeira incorruptível, ou seja, da
Virgem e do Espírito Santo, forrada dentro e fora como com o ouro mais puro
da Palavra de Deus.
(Hipólito, no Salmo 22, citado por Teodoreto, Dialogo 1; PG 10:610, 864-5)
A
citação claramente aponta que a arca da aliança era um tipo de Cristo e não de
Maria. Existem outros sérios problemas:
(1)
Essa citação pertence aos fragmentos exegéticos de Hipólito sobre os quais há
dúvidas a respeito da autenticidade. Até mesmo o mariólogo Juniper
Carol diz:
(...)
há um testemunho que atribui mais intimamente a santidade de Maria. Se
podemos confiar em um fragmento sobre o Salmo 22 atribuído a Hipólito
(...) (Fonte)
(2)
Ele não diz que Maria era formada de “madeira incorruptível”, mas que Jesus foi
assim formado a partir da “virgem e do Espírito Santo”. O qualificador “madeira
incorruptível” se refere à concepção de Cristo. Justamente pelo seu nascimento ser uma novidade, é
que Cristo não foi contaminado pelo pecado original, pois sua concepção
envolveu a participação do Espírito Santo. Já Maria não foi gerada pelo
Espírito Santo. Ela nasceu de uma concepção carnal natural, o que implica num nascimento não imaculado;
(3)
A tradução em questão não me parece a mais adequada. Traduzindo a partir do
texto do site católico New Advent, ficaria assim:
E, além disso, a arca de madeira incorruptível era o
próprio Salvador. Pois essa significava o tabernáculo imperecível e incorruptível próprio (do Senhor), que foi gerado sem a corrupção do pecado.
O pecador na verdade faz esta confissão: Minhas feridas fediam e eram corruptas
por causa da minha loucura. Mas o Senhor foi sem pecado, feito de madeira incorruptível no que se refere à sua humanidade;
isto é, da Virgem e do Espírito Santo
interiormente, e exteriormente da palavra de Deus, como uma arca coberta de
ouro puro.
Essa
citação deixa mais claro que o qualificador “madeira incorruptível”
não pode ser atribuído à Maria. Cristo herdou sua humanidade (madeira imperecível)
de Maria e do Espírito Santo numa concepção imaculada. Ir além e afirmar a
concepção imaculada de Maria é ler algo que não está escrito. Mesmo Juniper
Carol escreve:
A evidência existente,
portanto, se pequena, indica suficientemente que, para alguns dos escritores
ante-Nicenos no Ocidente, a ideia de santidade e pureza é atribuída à pessoa de
Maria. Isso não nos justifica em
concluir com certeza qual a natureza desta santidade, retratando-os como portadores de uma tradição histórica, ou em atribuir
a eles uma crença formal em uma Imaculada Conceição.
Cipriano de Cartago
(?-258)
Cipriano
geralmente é ignorado nesse debate. Todavia, ele escreveu alguns livros ao seu
discípulo Quirino com o intuito de passar a ele trechos da Escritura que
continham os ensinos da igreja. Logo no início da obra, ele escreve:
Cipriano a seu filho
Quirino, saudações. De sua fé e devoção que você manifesta no Senhor Deus,
amado filho, você me pede para juntar
das Escrituras Sagradas para sua instrução algumas passagens importantes sobre
o ensino religioso de nossa escola; buscando
por um curso sucinto de leitura sagrada, para que sua mente, entregue a
Deus, não possa ser esgotada com longos ou numerosos volumes de livros, mas,
instruída com um resumo dos preceitos celestiais, possa ter um saudável e largo
compêndio para alimentar sua memória. E por que eu te devo uma abundante e
amorosa obediência, eu fiz o que você desejava. (Tratado 12, Livro III)
Cipriano
então escreve:
Em Jó: Pois quem é puro
da sujeira? Ninguém; mesmo que sua vida
seja de um dia na Terra. Também no Salmo cinquenta: Eis que fui concebido
em iniquidades, e em pecado me concebeu minha mãe. Também na Epístola de João: Se dissermos que não temos pecado,
enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. (Ibid., cap. 54)
Ele
junta então alguns trechos da Escritura para ensinar a pecaminosidade
universal, sem obviamente estabelecer nenhuma exceção à Maria. São basicamente
os textos usados pelos protestantes para ensinar a mesma coisa. Em outra obra afirma o mesmo:
E, novamente, em sua epístola, João diz: "Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós." Mas se ninguém pode estar sem pecado, qualquer um que diga que não tem culpa é orgulhoso ou tolo. Quão indispensável é a misericórdia divina, que sabendo que ainda são encontradas algumas feridas em pessoas que foram curadas mesmo após a sua cura, deu remédios saudáveis e cura as feridas novamente! (Tratado 8: Das obras e esmolas, Seção 3)
Hilário de Poitiers
(300-368)
Hilário
é outro pai da igreja não citado pelos artigos protestantes que também oferece importante testemunho. O estudioso católico Michael O'Carroll escreve:
No incidente de Maria e
os irmãos esperando por Jesus [Mateus 12: 46-50], [Hilário de
Poitiers] propõe uma singular exegese: "Mas desde que ele veio para os
seus e eles não o receberam, em sua
mãe e irmãos a Sinagoga e os israelitas são prenunciados, evitando entrar e se achegar a ele." (Theotokos
[Wilmington, Delaware: Michael Glazier, Inc., 1988], p 171)
Hilário
afirma que Maria prenunciava a atitude pecadora dos judeus de não se
aproximarem de Cristo. Isso implica na pecabilidade de Maria. O erudito J.N.D
Kelly também escreve:
Hilário também entendia
que Maria deveria enfrentar o juízo de
Deus por causa dos seus pecados [Tratado em Salmos 118; PL 9:523]. (Patrística, Origem e
desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã [Editora Vida Nova, 1994],
p. 379)
Isso
também foi afirmado por Carol:
Na Gália, por exemplo,
Santo Hilário de Poitiers pode de alguma forma conciliar uma profunda
reverência pela virgindade de Maria com uma passagem tortuosa em que ela parece destinada a submeter-se
ao exame do juízo de Deus por falhas que são corriqueiras (Tratado em Sl.
118; PL 9:523). Ele insiste, também, que
Nosso Senhor é o único sem pecado, e
isso em virtude do Seu nascimento excepcional (Da Trindade, livro 10, cap.
25; PL 10:364-6).
Essa
última citação pode ser vista abaixo:
Porque Cristo tinha
realmente um corpo, mas único, como convinha a sua origem. Ele não veio à existência através de incidentes paixões por uma
concepção humana: Ele veio na forma de nosso corpo por um ato de seu
próprio poder. Ele levou a nossa coletiva humanidade sob a forma de um servo,
mas estava livre dos pecados e imperfeições do corpo humano: que possamos
estar Nele, porque Ele nasceu da Virgem, e ainda assim nossas falhas não podem
estar nele, porque Ele é a fonte de sua própria humanidade, nascido como homem,
mas não nascido sob os defeitos de
concepção humana (...) Embora Ele tenha sido feito em forma de homem, Ele
não sabia o que era pecado, pois sua
concepção foi à semelhança de nossa natureza, [mas] não na posse de nossas
falhas.
(Sobre a trindade, Livro X, capítulo 25)
Cristo
seria o único sem pecado, pois a sua concepção é singular. Como Maria nasceu a
partir de uma concepção normal, não poderia foi preservada do pecado
original. Em outros lugares, Hilário escreve que o ventre de Maria foi
santificado pelo Espírito no momento da concepção de Jesus (não de Maria) [Da
Trindade, Livro II, capítulos 24-26]. Era o corpo de Jesus, como se vê, não de
Maria, que desfrutou da primeira e única concepção imaculada e foi o primeiro
"corpo sagrado" na história. Hilário claramente acreditava que ele
tinha essa informação sobre "a realidade do nascimento Divino" a
partir da autoridade "desses textos" e "da linguagem dos
Apóstolos" [Da Trindade, Livro I, capítulo 28].
Atanásio de Alexandria
(296-373)
Os apologistas católicos costumam trazer a seguinte citação:
Porque Ele não
simplesmente desejou se encarnar, ou desejou apenas se aparecer. Pois se Ele
quisesse apenas aparecer, Ele seria capaz de mostrar Sua aparência divina por
alguns outros e maiores meios também. Mas Ele teve um corpo de nossa espécie, e
não apenas isso, mas de uma impecável e
imaculada virgem, que não conheceu homem, um corpo limpo e em verdade puro de
relação com homens. (Sobre a Encarnação do
Verbo 8:3)
Essa
citação não afirma uma concepção imaculada. No máximo, poderia dar suporte a
impecabilidade de Maria. Porém, nem isso pode ser extraído. O contexto deixa
claro em que sentido Maria era pura e imaculada – “que não conheceu homem, um
corpo limpo e em verdade puro de relação com homens”. A pureza em questão se
referia ao estado virginal de Maria no momento da encarnação.
Efrém o Sírio (306-373)
A
seguinte citação de Efrém geralmente é trazida:
Você somente e sua mãe
são mais belos do que qualquer outro, pois não há nenhum defeito em você, nenhuma mancha em sua mãe. Quem dos
meus filhos pode se comparar em beleza a estes? (Nisibene Hymns 27:8)
A questão é se ao dizer que Maria não tem nenhuma mancha, ele estava se
referindo: (1) não ter cometido nenhum pecado pessoal; (2) Ser encontrada sem pecado num dado momento sem implicar em impecabilidade; ou (3) ter sido preservada de todos os pecados inclusive o original. Muitos
estudiosos defendem a visão 1. Entre eles poderíamos citar Juniper Carol cuja
opinião pode ser vista no artigo já citado. Nós defendemos a visão 2. Efrém não traz
nenhuma qualificação dos pecados referidos. Não há no contexto nenhuma
referência ao pecado original, por isso, afirmar a visão 3 é ir além do que
está escrito. Efrém
escreve em outra obra como se Maria estivesse dizendo:
O Filho do Altíssimo
veio habitar em mim e me tornei Sua Mãe, e como por um segundo nascimento eu
fui levada a ele, então ele me levou ao
segundo nascimento, porque Ele colocou os trajes de sua mãe. Ela vestiu seu
corpo com a sua glória. (Sobre a Natividade de Cristo na carne 11)
Se
Maria participou de um segundo nascimento, a implicação é que ele teve que ser
regenerada e, portanto, tinha pecados. O estudioso católico romano Michael
O'Carroll traz outras citações relevantes de Efrém:
É dito que Maria foi
batizada: “Eu sou uma esposa. Tu és puro. Eu
sou serva e filha pelo sangue e pela água. Você me comprou e batizou. O
filho divino veio e habitou em mim e eu me tornei sua mãe” [3]. Novamente, ele
fala do olho purificado pela luz do sol e então diz: "Em Maria, como no
olho, a Luz veio habitar e limpou seu
espírito, refinou seus pensamentos, santificou sua mente e purificou sua
virgindade." [4] Esses textos não contradizem a santidade inicial de
Maria, nem outros encontrados na versão armena do Diatessaron no qual ele parece implicar falta ou dúvida
sobre a ressurreição. Aqui, Efrém parece confundir Maria com Maria Madalena. (Theotokos [Wilmington, Delaware: Michael
Glazier, Inc., 1988], pp. 132-133)
Quem
desejar verificar online essa citação pode acessar aqui. As notas de rodapé com as referências dos textos são:
[3]
Nativity Hymns, 16, 10-11
[4]
Church Hymns 36,2
O’Carrol
defende a visão 1 (impecabilidade de Maria). Porém, os textos que traz
implicam no contrário. Efrém se refere à Maria como sendo purificada, batizada
espiritualmente, refinada e santificada. Todas essas expressões obviamente
eliminam qualquer possibilidade de concepção virginal, mas fazem mais do que
isso – afirmam a pecabilidade de Maria. Ele ainda cita um texto onde Efrém
afirma que Maria duvidou da ressurreição. Obviamente isso seria pecado. A
justificativa é que o sírio confundiu as Marias. Todavia, isso confirma que
Efrém atribuiu pecados à mãe de Jesus. Se ele a identificasse como sem nenhum
pecado, não cometeria tal engano. Por tudo isso, a visão 2 é a mais credível. Quando
Efrém se refere à Maria como sem nenhuma mancha, não estava se referindo a um
estado existente desde a concepção. Ele se referia a um determinado
ponto da vida de Maria após ter sido santificada sem excluir pecados
anteriormente cometidos.
Epifânio de Salamina
(310-403)
Em
sua obra Panarion Epifânio fala de Maria em termos bastante elogioso, mas ele não ensinou a imaculada conceição. Carol afirma:
Não apenas é Nossa
Senhora devidamente preparada para receber a Palavra em seu ventre; ela é
“agraciada em todos os sentidos” (Panarion haer 78, 24). Será que isso implica que ela foi concebida livre do pecado? Como
Epifânio não conseguiu deduzir sua doutrina da Segunda Eva, a semelhança de
Maria a Eva na impecabilidade original, portanto
aqui ele não faz nenhuma inferência a partir da plenitude de graça de Maria.
No entanto, o seu “agraciada em todos os sentidos” não é para ser tomada de
ânimo leve; pois com referência a Nossa Senhora, Epifânio está ciente de que
ele deve manter um olhar atento sobre a sua linguagem e sua teologia. É por
isso que ele reprova as Coliridianos que fazem de Maria uma deusa, oferecendo
sacrifício para ela, e rejeita a tese do Proto-evangelho de Tiago, que Nossa
Senhora foi concebida virginalmente (Panarion haer 78, n 23,.. 79, n 5). E
ainda assim ele pode falar dela como “agraciada em todos os sentidos.” A frase não precisa envolver a concepção
sem pecado, mas sugere alta santidade (...)
O
máximo que esses autores católicos conseguem extrair de Epifânio é uma "alta
santidade". Ele não afirma que ela teve uma concepção imaculada ou levou uma
vida sem pecados segundo a visão de Epifânio.
Ambrósio de Milão
(339-397)
Ambrósio
é um dos mais citados como advogado da imaculada conceição. Ele de fato
acreditava que Maria não cometeu pecados pessoais, mas não a excluía do domínio do
pecado original:
Ele era o homem na
carne de acordo com a sua natureza humana, para que pudesse ser reconhecido,
mas em poder estava acima do homem, para que não pudesse ser reconhecido, então
ele tem a nossa carne, mas não tem as falhas desta carne. Ele não foi gerado, como é cada homem, através de relações entre macho
e fêmea, mas nasceu do Espírito Santo e da Virgem. Ele recebeu um corpo
imaculado, no qual não somente não há pecados, mas no qual nem a geração nem a concepção foi manchada por qualquer
dose de mácula. Nós homens somos
todos nascidos sob o pecado e nossa própria origem está no mal como se lê nas
palavras de Davi: "Pois eis que fui concebido em iniquidade, e em
pecado me minha mãe me gerou." (Do arrependimento 1:3:12-13)
Ambrósio
acreditava que Jesus teve um nascimento imaculado porque ele não foi gerado
como o resto dos homens – através de relações sexuais. Como Maria foi gerada
como o resto dos homens, estaria no domínio do pecado original. Isso
fica especialmente claro numa citação que Agostinho fez de Ambrósio:
Pois dentre os nascidos
de mulher, Jesus é o único que é santo
em todas as coisas. Ele foi o único
que não experimentou os contágios de corrupção terrena pela novidade de seu
nascimento imaculado, em função de Sua majestade celestial. (Contra Juliano, Livro
1:10)
Não
poderia ficar mais claro. A concepção de Jesus é única, por isso somente ele é
imaculado. Maria não era uma exceção a essa regra. Carol reconhece:
Por outro lado, Ambrósio não parece ciente das implicações de sua frase. Em qualquer caso, o germe do futuro desenvolvimento está,
indiscutivelmente, lá, especialmente uma vez que, a sua maneira de pensar, se
você aprecia o que Maria é, você deve reconhecer com o que é apropriado em tal
mãe (Epist 63, n 110.; PL 16:1270-1).
Os
autores católicos defendem que a imaculada conceição é uma implicação das
palavras de Ambrósio. O problema é que o próprio não parece ter percebido essa
implicação. Esse é um argumento muito comum entre aqueles que adotam a teoria do
desenvolvimento da doutrina. O argumento tem alguns problemas bem graves:
(1)
Não há como afirmar que um autor antigo aceitaria a implicação que teólogos de
séculos depois atribuiriam a suas ideias. Além do mais, uma ideia pode ter
várias implicações. Não há como saber quais delas o autor aceitaria ou não;
(2) Ao
perceber uma determinada implicação de uma ideia, o autor poderia mudar de
posição. Isso acontece com frequência com os seres humanos em qualquer campo de
conhecimento. Você pode defender uma determinada ideia, mas quando percebe que traz implicações inaceitáveis, você abandona a ideia original.
Gregório de Nissa
(335-394)
Somente o Senhor é livre da possessão do adversário. Ele conformou-se a nós e nossas paixões, ainda assim não tinha pecado [Hb 4.15].
"O príncipe deste mundo está chegando e ele não tem nenhum poder sobre
mim" [Jo 14.30].
(Comentário sobre Eclesiastes, Homilia 7)
A
implicação é que somente Cristo foi sem pecado.
Jerônimo (347-420)
Jerônimo
é especialmente importante. Todo o argumento bíblico a favor da imaculada
conceição é levantado a partir da saudação angélica (Lc. 1:28). Na vulgata,
Jerônimo traduziu “Kecharitoméne” como “gratia plena”, ou seja, cheia de graça.
Muitos tradutores têm suficientemente demonstrado que a tradução mais adequada
é agraciada. Essa se amolda melhor ao contexto de Lucas 1. Independente da tradução
mais adequada, não há absolutamente nada nessa passagem que implique na
imaculada conceição. Para mais detalhes veja aqui.
O
fato é que o próprio Jerônimo não seguiu o entendimento romanista, aliás,
nenhum pai da igreja interpretou Lucas 1:28 como indicando a imaculada
conceição. Em sua obra contra os pelagianos ele pressupõe a universalidade do pecado, cuja
única exceção é Cristo. Os pelagianos afirmavam que era possível alguém viver
sem pecar e Jerônimo os desafia a citar ao menos um exemplo:
Habilidade médica,
artesanato, e assim por diante, são encontrados em muitas pessoas, mas sempre estar sem pecado é uma
característica do poder divino somente. Portanto, ou me dê um exemplo daqueles que estiveram sempre sem pecados ou se
você não consegue encontrar alguém, confesse a sua incapacidade, deixe de
lado o estilo jocoso e não zombe dos ouvidos dos tolos como se esses fossem os
[ouvidos] de vocês. Pois quem irá
admitir que um homem pode fazer o que nenhum homem jamais foi capaz de fazer? (Contra os pelagianos
1:19)
Os
pelagianos poderiam facilmente responder o argumento de Jerônimo se o próprio
sustentasse a imaculada conceição. Se a igreja de fato tivesse tal ideia como
artigo de fé, o desafio de Jerônimo seria um verdadeiro “tiro no pé”.
Porque, se um homem pode ser sem pecado, sendo
claro que os Apóstolos não eram sem pecado, um homem poderia ser maior do que
os Apóstolos. Para não falar dos patriarcas e profetas cuja justiça sob a
lei não era perfeita como diz o Apóstolo: "Porque todos pecaram e foram
destituídos da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente por sua graça,
por meio da redenção que há em Cristo Jesus: a quem Deus propôs para ser a
propiciação.” [Romanos 3:23] (Ibid., 1:14)
O
argumento de Jerônimo é idêntico ao argumento protestante contra a doutrina
romana. A mesma passagem usada por ele para afirmar a pecaminosidade universal
é usada pelos protestantes.
É a minha própria
opinião que nenhuma criatura pode ser
perfeita no que concerne à verdade e justiça perfeita. Mas que um é
diferente do outro e a justiça de um homem não é a mesma que outro, ninguém
duvida, nem ainda que um pode ser maior ou menor que o outro, e ainda que,
relativamente à sua própria condição e capacidade, homens que não são justos
quando comparado com os outros podem ser chamados de justos. (Ibid., 1:26)
Mais
uma afirmação da pecaminosidade universal. Ele ainda argumenta que os homens
estão em diferentes níveis de justiça. O fato de alguém ser chamado de justo
não implica que não tenha pecados ou que outros não sejam mais justos. Jerônimo estava respondendo ao argumento pelagiano de que muitos foram
chamados de justos nas Escrituras, logo eles teriam levado vidas sem pecado.
Prevejo que muitos católicos argumentariam que em momento algum ele afirma que
Maria pecou, apesar de essa ser a implicação lógica. Ocorre que nessa mesma
obra, Jerônimo citou Maria. A questão é então ao contrário – se ele afirma a
pecaminosidade universal e ao se referir à Maria não atribui a ela o status de
exceção – Maria estava no domínio do pecado original:
Elizabete e Zacarias, a
quem você apresenta e com quem você cobre-se como com um escudo impenetrável, pode ensinar-nos quão longe eles estavam da
santidade de Maria Santíssima, Mãe do Senhor, que, consciente de que Deus
estava habitando nela, proclama sem reserva "Eis que a partir de agora
todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Pois Ele me fez grandes coisas; e
santo é o seu nome. E Sua misericórdia vai de geração em geração aos que o
temem". Onde, observe, ela diz que
é abençoada não por seu próprio mérito e virtude, mas pela misericórdia de Deus
que habita nela. E o próprio João, o
maior entre os filhos do homem, é melhor do que seus pais (...) E, novamente, ele em comparação a alguém
que é inferior será um pecador em relação a alguma outra virtude, relativamente
a si ou para outra pessoa; e assim acontece que quem é pensado para ser o
primeiro, é inferior àquele que é seu superior em alguma outra coisa particular
(...) Não nos é dito que um homem pode
ser sem pecado, que é o seu ponto de vista, mas que Deus, se ele escolher, pode
manter um homem livre do pecado, e a partir da sua misericórdia guardá-lo
para que ele possa ser sem defeito. E eu digo que todas as coisas são possíveis
com Deus; mas que tudo o que um homem deseja não é possível a ele, especialmente, um atributo que não pertence
a nenhuma coisa criada (...) (Ibid., 1:23-24)
Jerônimo
claramente coloca Maria no grupo de pessoas que já cometeram pecados, apesar de
tê-la como um exemplo de santidade. Peceba que ele a coloca no mesmo grupo que
João Batista, a quem ele não considerava perfeito. Se existe um contexto onde
Jerônimo necessariamente afirmaria a imaculada conceição seria aqui. Ele
necessariamente deixaria claro que o falado a respeito de todo resto da
humanidade não se aplicaria à Maria. Não só não diz isso, como implica no
contrário. Ele insiste que uma pessoa pode ser considerada justa a vista de
outra, mas sem implicar que ela seja perfeita. O ponto é que o pelagiano usou
Elizabete e Zacarias como exemplos de perfeição. Jerônimo cita então Maria e
João que seriam ainda mais santos num contexto em que afirma diferentes
“níveis” de santidade e justiça. A ideia era mostrar que havia pessoas mais
santas que aquelas apontadas pelo pelagiano, sem, no entanto, afirmar a
perfeição delas.
E embora ele professe
imitar, ou melhor, completar o trabalho do abençoado mártir Cipriano no tratado
que escreveu a Quirino, não percebe que ele disse exatamente o oposto no
trabalho em discussão. Cipriano, no
quinquagésimo quarto título do terceiro livro, estabelece que ninguém está
livre da mancha e sem pecado, e ele imediatamente dá provas. (Ibid., 1:32)
Jerônimo
afirma o testemunho de Cipriano conforme trouxemos – ele implicitamente negou a
imaculada conceição. O proeminente historiador protestante Philip Schaff
escreveu:
Jerônimo ensinou a pecaminosidade universal, sem
qualquer exceção.
(History of the Christian Church, vol. 3, [Hendrickson, 2011], p. 418 n. 2)
Teodoreto de Cirro
(393-457)
Se Ele se fez carne não
por transformação, mas tomando a carne, e tanto a qualidade anterior como a
posterior são adequadas a ele como Deus feito carne, como disse há pouco, então
as naturezas não foram confundidas, mas permaneceram inalteradas. Enquanto
mantivermos assim perceberemos também a harmonia dos Evangelistas, pois
enquanto um proclama os atributos divinos do unigênito Senhor Cristo, o outro
enuncia as suas qualidades humanas. Assim também Cristo o nosso próprio Senhor
nos ensina num momento chamando a si próprio de Filho de Deus e em outro Filho
do homem: num momento Ele honra sua mãe
pois lhe deu seu nascimento; em outro Ele a repreende como seu Senhor. (Diálogos 2)
Teodoreto
faz referência a João 2:4 em que Maria é repreendida por Jesus por sua pressa
prematura. Outros pais da igreja identificaram aí também uma falha de Maria,
logo não poderiam defender a impecabilidade, muito menos a imaculada conceição.
O testemunho de outros
pais ocidentais
Carol e
Ullathorne nos dão um relato de vários outros pais do Ocidente:
Em Roma, Mário Vitorino estende especificamente à
Maria a imperfeição que ele atribui à própria ideia de mulher (Em epist
Pauli ad Galatas, lib 2; PL 8:1176-7), enquanto
Ambrosiastro entende a espada de tristeza de Simeão como a dúvida de Maria no
morte do Senhor - uma dúvida
removida somente pela Ressurreição (QUEST Veteris et Novi Test, cap 76, n
2.).
Na África, o bispo Santo Optato de Mileve (antes
de 400 dC), vê a carne de Cristo sem pecado, por causa da sua concepção única, só Cristo é perfeitamente santo, o resto de
nós é “metade perfeito”; cada homem, mesmo se de pais cristãos, nasce com um
espírito imundo (Contra Parm Donat, lib 1, cap 8; lib 4, cap 7; lib 2, cap
20; lib 4, cap 6). Perto de Granada, na Espanha, Dom Gregório de Elvira (ou Gregory Baeticus, em homenagem à
província de Baetica, Espanha) parece
numerar Maria entre os antepassados que teria transmitido ao Redentor um corpo
sujo e aberto para o pecado (Hom em Cant canticorum).
E, no entanto, o clima
de pensamento e sentimento prometia as idéias de Ambrósio com entusiasmo,
especialmente em seu próprio norte da Itália, onde a influência do ascetismo e
da permanência pessoal de Atanásio tinha aberto o caminho. Assim, St. Zeno de
Verona (ou Zenone da Verona) implica que Maria, como as virgens que ele estava
abordando, era “santa de corpo e espírito”, e afirma que ela tinha “merecido”
para levar o Salvador das almas (Tractatus, lib 1, tr 5,3; lib 2, tr 8,2; PL
11:303,414), embora ele parece ver em
Maria falhas morais que teve de ser cortada antes da Encarnação, ou simultaneamente
com ela (PL 11:352).
Testemunho de outros
pais orientais
Fulgêncio
de Ruspe – um autor do século V – escreve:
Pois a carne de Maria, que tinha sido concebida em iniquidades da
maneira natural, era a carne do pecado, que gerou o Filho de Deus, à
semelhança da carne do pecado (...) (D. E. Thomas, The Golden Treasury of
Patristic Quotations [Oklahoma City: Hearthstone Publishing, 1996], pp. 180-181)
João
Damasceno (considerado o último dos pais da igreja) escreveu no século VII:
Mas Deus o fez por
natureza sem pecado e o dotou do livre arbítrio. Por pecado, eu não quero dizer que o pecado não podia
encontrar-se nele (pois esse é o caso da deidade somente), mas que o pecado
é o resultado da livre vontade que ele possui, em vez de uma parte integrante
da sua natureza. (NPNF2:
Vol. IX, An Exact Exposition of the Orthodox Faith, Book II, Chapter 12)
Conclusão
A
evidência histórica contra o dogma da imaculada conceição é avassaladora. A
posição majoritária entre os pais da igreja é que Maria cometeu pecados e
somente Cristo é de fato imaculado. O estudioso católico Bernard A. McKenna
escreve:
Não foi até os séculos XII e XIII que a questão foi
colocada em causa nas escolas de teologia, e por
volta de meados do século XVI, quase
ninguém colocava a Imaculada Conceição em dúvida. (The Dogma of the
Immaculate Conception [Washington, D.C., 1929] p. 89)
Atualizações (14/06/2016)
Constituições
Apostólicas (380)
Nenhum homem está livre do pecado, exceto Ele que
se fez homem por nós, pois está escrito: "Nenhum homem é puro da
imundícia; não, nem que seja por apenas um dia”. (2:3:18)
Apolinário (310-390)
Que seus irmãos ainda
não acreditavam nele podemos aprender com João, ao passo que de Marcos também
ouvimos a mesma coisa: pois a sua própria família tentou colocar as mãos sobre
ele, como se pensassem que ele estivesse fora de si Em razão do seu estado de
espírito, o Senhor muitas vezes não os mencionou como sua própria família. Em
vez disso, Ele aponta aqueles que são obedientes [como sua família] (...) Mesmo que temporariamente ele teve uma
desavença com Maria, como Simeão havia predito, quando ele tinha dito "uma
espada traspassará sua própria alma". Ela superou estas coisas, como
era apropriado, e o Senhor graciosamente fez menção a ela em sua paixão e a
confiou ao discípulo amado. (cited in Manlio
Simonetti, ed., Ancient Christian Commentary On Scripture: New Testament Ia:
Matthew 1-13 [Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 2001], 261)
Ambrósio (séc. IV)
Assim, então, ninguém está sem pecado exceto Deus, pois
ninguém é sem pecado, exceto Deus (...) ninguém está sem pecado, exceto
Deus (...) Portanto Ele não cometeu nenhum pecado, e se Ele é sem pecado, não é
uma criatura. Pois toda a criatura é
exposta à capacidade do pecado, e o eterno Deus somente é livre do pecado e sem
mácula.
(Do Espírito Santo 3:18:133-4, 3:18:136)
Jerônimo (séc. IV)
Ao contrário, ele [Jesus] preferiu os apóstolos a seus
parentes, que também nós, em
termos de grau de afeição, podemos preferir o espírito ao invés da carne (...) Sua mãe e seus irmãos, isto é, a sinagoga e
povo judeu, estão lá fora. Eles desejam entrar e se tornam indignos de suas
palavras.
(Thomas Scheck, trans., St. Jerome: Commentary On
Matthew [Washington, D.C.: The Catholic University Of America Press, 2008],
2:12:49, 150-1)
Quase
todos os argumentos em favor dos dogmas marianos e do status de Maria se
baseiam no fato dela ser a mãe de Jesus segundo a carne. Jerônimo captou a
ideia bíblica de que as relações espirituais eram superiores as carnais.
O que! Deus tem me
ordenado ser o que Ele é e não colocar diferença entre mim e meu criador, ser
maior do que o maior dos anjos, ter um poder o qual nem anjos possuem?
Impecabilidade é uma característica de Cristo, "que não cometeu pecado,
nem dolo algum se achou em sua boca." Mas
se eu sou isento do pecado assim como ele, como a impecabilidade continuará a
ser sua marca distintiva? (Epístola 133:8)
O
argumento de Jerônimo deixa implícito que impecabilidade é uma marca distintiva
de Deus.
Atanásio (séc. IV)
Quem não irá admirar
isso? Ou quem não concorda que tal coisa é verdadeiramente divina? Pois se as
obras da palavra da divindade não tivessem tomado um corpo, o homem não tinha
sido deificado, e novamente, não teriam sido as propriedades da carne
atribuidas à Palavra. O homem não teria sido completamente entregue a partir
delas, mas apesar de elas terem cessado por pouco tempo, como eu disse antes, o
pecado ainda teria permanecido nele e a corrupção, como foi o caso com a
humanidade antes dele. Por esta razão
muitos, por exemplo, foram feitas santos e limpos de todo o pecado, ou
melhor, Jeremias foi santificado mesmo desde o ventre, e João, enquanto ainda
no útero, pulou de alegria ao ouvir a voz de Maria portadora de Deus. No
entanto "a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não
pecaram à semelhança da transgressão de Adão”; e assim o homem permaneceu
mortal e corruptível como antes, susceptível às paixões características de sua
natureza
(...) Pois não mais de acordo com nossa antiga origem em Adão nós morremos,
mas de agora em diante nossa origem e toda enfermidade da carne foi transferida
para a Palavra, que ascendeu da
terra, e a maldição do pecado foi removida, porque Ele esteve em nós e se tornou uma maldição por nós. E com razão, pois como todos nós somos da terra e
morremos em Adão, assim somos regenerados pela água e o Espírito. Em Cristo
somos todos vivificados. (Quatro discursos contra os arianos 3:33)
Atanásio
afirma a pecaminosidade universal num contexto em que um suposto nascimento
imaculado de Maria seria certamente mencionado. Percebam que ele faz referência
a indivíduos que foram santificados ainda no ventre (Jeremias e João Batista),
mas não faz nenhuma concessão especial à Maria.
Teodoro de Mopsuéstia
(séc. V)
Se João [Batista]
está sendo julgado contra outras pessoas por ter nascido de uma mulher, ele
será achado como o maior de todos eles. Somente
ele ficou cheio do Espírito Santo dentro do útero de sua mãe. (cited in Manlio Simonetti, editor, Ancient Christian Commentary on
Scripture: New Testament Ia: Matthew 1-13 [Downers Grove, Illinois:
InterVarsity Press, 2001], 222)
Crísipo de Jerusalém
(sec. V)
Maria
irá com todos surgir da queda, na qual seu relacionamento com Eva a
envolveu. (cited in Michael O'Carroll, Theotokos [Wilmington,
Delaware: Michael Glazier, Inc., 1988], 102)
O'Carroll,
um estudioso católico romano, comenta:
Será que C. [Crísipo]
acredita que Maria estava sujeita ao pecado original? A referência a sua relação com Eva na qual ela foi envolvida na queda
parece implicar isso, assim como o fato de que C. teve o cuidado de
salientar isenção de Jesus de todo pecado. (Ibid.)
Beda (séc. VIII)
Eis que a Palavra coeterna de Deus Pai, a luz da luz que nasceu antes dos séculos, irá receber no fim dos tempos carne e alma não carregada com qualquer pecado, e vai entrar no mundo a partir de um ventre virginal, como o noivo de seu trono. Portanto, o que irá nascer será chamado santo, Filho de Deus. Em distinção da nossa santidade, somente a Jesus é dito ter nascido santo. (cited in Steven McKinion, ed., Ancient Christian Commentary On Scripture: Old Testament X: Isaiah 1-39 [Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 2004], 140)
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