O site
apologistas católicos publicou uma resposta ao nosso artigo sobre
Tomás de Aquino e a Imaculada Conceição.
Eles defenderam a tese de que Tomás abraçou a ideia da imaculada conceição no fim
de sua vida. No artigo a qual inicialmente respondemos,
o apologista católico afirmou em suas conclusões:
Porém é certo que ele morreu crendo na Imaculada
conceição da virgem Maria, o que é atestado em seus escritos mais tardios, o que derruba toda a teoria protestante de
que um doutor católico tenha negado um dogma católico.
Como
ele é o autor dessa tese, cabe a ele o ônus da prova. Ele não disse apenas que
é possível que Tomás tenha mudado, mas afirmou que é algo certo. Vamos então
analisar se ele tem motivos justificáveis para ter essa certeza. Além do mais,
a tese de nosso oponente tem um erro de natureza lógica. Ainda que Tomás
tivesse mudado de posição no fim de sua vida, a afirmação “um doutor católico
negou um dogma católico” continua verdadeira.
A autenticidade da
citação da obra “Exposição da saudação angélica”
O
problema do argumento católico é que ele se baseia numa obra sobre a qual há
sérias dúvidas a respeito da autenticidade do trecho que contém a expressão “nec
originale”. Nós trouxemos uma versão crítica dessa obra produzida por autores católicos que não contém essa expressão.
Perceba que essa não é somente a opinião de autores protestantes, mas de
católicos. Isso por si só já seria suficiente para refutar a certeza aludida
pelo católico, pois até mesmo entre os críticos textuais católicos, a questão é
disputada e gera dúvidas.
Além
disso, o link acima pertence à Fundação Tomás de Aquino, que é ligada a
Universidade de Navarra. Eles têm como projeto disponibilizar todos os textos
de Tomás através da internet. A apresentação inicial da fundação pode ser vista aqui.
Portanto, estamos falando de uma fonte confiável. Agora,
o principal argumento do meu texto, com o qual ele não interagiu, é que Tomás
nega explicitamente a imaculada conceição na mesma obra:
Sed Christus excellit
beatam virginem in hoc quod sine originali conceptus et natus est. Beata autem virgo in
originali est concept (…)
Cristo excedeu a Virgem
Santíssima no fato de que ele foi
concebido e nascido sem pecado original. Mas a Santíssima Virgem foi concebida
em pecado original, mas não nasceu nele.
Poucas
linhas antes do texto onde é alegado que Tomás defendeu a imaculada conceição,
ele a negou. Deixe-me explicitar duas premissas:
(1) Há
um trecho da obra em que Tomás afirma que Maria foi concebida em pecado
original;
(2) Há
outro trecho, em que ele defende a liberdade de Maria do pecado original, sobre
o qual há sérias dúvidas de autenticidade mesmo entre os autores católicos.
A
explicação mais plausível é que a ideia da liberdade do pecado original não faz
parte da obra original. Nós poderíamos também alegar que Tomás era
esquizofrênico a ponto de se contradizer num espaço de poucas linhas, mas
acredito que essa é uma hipótese não muito provável. Parece que essa versão foi traduzida para o inglês aqui. É possível que se trate de uma
versão diferente e então teríamos outra edição crítica corroborando a nossa
posição, contudo, o texto me pareceu muito similar, o que faz pensar que se
trate da mesma edição. A tradução para o inglês deixa clara a posição de Tomás:
Cristo excedeu a
Santíssima Virgem no fato de que Ele foi concebido e nascido
sem o pecado original, enquanto a Santíssima Virgem foi concebida em pecado
original, mas não nasceu nele. [Como na Suma, mas de outra forma em I
Sent., C. 44, q. 1, ad. 3]
O tradutor (ou seria o editor?) ainda fez
questão de destacar entre os colchetes que se trata da mesma opinião exposta na
Suma Teológica. Onde está a suposta mudança de posição? Mas não para por ai. Há
outra tradução aparentemente de uma edição diferente aqui. O texto igualmente não contém a
suposta defesa da imaculada conceição, pelo contrário, apresenta a mesma
negação das demais. Nela, ainda vemos a seguinte nota de rodapé:
(1) Nesta avaliação, St. Tomás errou ao não considerar que para a mais
perfeita redenção é adequado ter o mais perfeito redentor, e isso não somente depois de contrair o pecado, desde a concepção, mas
antes mesmo de contraí-la, na concepção. Cf. Ineffabilis Deus, Papa Pio IX.
O próprio tradutor aponta como Aquino
contrariou o documento papal “Ineffabilis Deus”, que declarou o dogma da
imaculada conceição. Há ainda uma
publicação católica que comenta o texto em questão. Numa nota de rodapé, eles
escrevem:
(1) St. Tomás diz que Maria foi purificada do pecado original no útero, em vez de concebida sem pecado original.
Ele escreveu muito antes da definição da Imaculada Conceição, em 1854 e, ao
contrário de Duns Scotus, não pensava que era da fé. (Fonte)
Até mesmo o apologista Jimmy Akin traz um comentário sobre a mesma obra reconhecendo a negação da
imaculada conceição, sem mencionar qualquer trecho que dissesse o contrário.
A opinião dos estudiosos
No
meu artigo inicial, eu trouxe a opinião de Richard Gibbings. O site católico
basicamente aplicou um argumento ad hominem a opinião desse autor o
qualificando como um “anti-católico”. Os católicos que defendem a mudança de
posição de Agostinho citam sempre o mesmo estudioso - o tomista
Réginald Garrigou-Lagrange. Garrigou afirma com base no estudo de Rossi que a
citação seria autêntica. O apologista traz o argumento:
O Especialista Giovanni Felice Rossi, em sua famosa edição crítica
do Expositio salutationis angelicae, mostrou que a citação está presente em 16 dos 19 manuscritos analisados e o próprio Rossi
conclui que a citação da forma que apresentamos é certamente autêntica.
Vamos
pressupor que Rossi está certo – realmente a citação está presente em 16 dos
19. Esse critério somente é insuficiente para provar a autenticidade da
citação. Mais importante do que a quantidade de manuscritos é a qualidade dos
manuscritos. Se ele realmente deseja substanciar a sua posição, espero que de
fato prove que são 16 manuscritos e que eles justificam considerar a citação
autêntica. Simplesmente trazer a opinião de autores católicos claramente
comprometidos em salvar o dogma católico não é suficiente para fechar a
questão. Garrigou ainda escreveu:
Apesar da objeção levantada pelo Pe P. Synave (42) o texto
parece ser autêntico. Se for, então, São Tomás voltou atrás no final da sua
vida e mudou - podemos acreditar por seu amor da Mãe de Deus - para a posição
que ele tinha adotado quando afirmou Imaculada Conceição, em seu Comentário
sobre as Sentenças. Nem é o texto que estamos considerando a única indicação de
tal retorno (43).
O próprio Garrigou
aponta a objeção de outro estudioso católico. A questão é – se a autenticidade
do texto é objetada até mesmo por estudiosos católicos, como o apologista
católico pode afirmar que é certo que Tomás mudou de posição? Além disso, ele
se limita a dizer que “parece” autêntica – uma afirmação mais cuidadosa e
contida. Ainda é trazida outra fonte:
O que Pedro Espinosa diz é crucial aqui. Como demonstrado por Rossi,
a citação está presente nos melhores e mais antigos manuscritos, e ela foi
substituída posteriormente por “ipsa virgo”. Logo não foi uma “falsificação
romanista”, foi exatamente o contrário, as palavras “nec originale” foram na
realidade trocadas em versões posteriores, provavelmente um erro de copista, ou
outro motivo desconhecido.
Pedro
Espinosa não é especialista em Tomás. Na verdade se trata de um ilustre
desconhecido sem qualquer relevância acadêmica. O pior de tudo é a tese de que
na verdade a falsificação foi trocar “nec originale” por “ipsa virgo”. Trata-se
de uma tese para a qual não é apresentado nenhum argumento. Nem o próprio
Garrigou afirmou isso em seu livro. E por último:
Poderíamos citar aqui a exaustão autores tomistas que confirmam que
na realidade as palavras “nec originale” que foram retiradas e que São Tomás
mudou e reafirmou a imaculada conceição de Maria como a obra de J.M Voste
“Comentarius Iliam p. Summae Theolo. S. Thomae”, porém consideramos o que aqui
está suficiente como prova.
Qual
é o sentido de citar uma obra que supostamente o apoia sem trazer a respectiva
citação? Ele provavelmente copiou a citação desse site aqui,
que igualmente não traz a suposta prova. Trata-se claramente de uma evidência
anedótica. Isso se dá quando alguém alega ter apoio ou evidências a uma tese,
mas não traz as referidas evidências. Diante de tudo isso, o apologista
católico tenta passar a ideia de que sua tese é amplamente apoiada pelos
especialistas. Ele citou apenas um reconhecido tomista e transmite essa opinião
como se fosse majoritária. Mas, nada poderia estar mais longe da realidade. Juniper
Carol, considerado a maior autoridade em mariologia no séc. XX, cuja obra é
considerada de referência no meio católico, escreveu:
São
Tomás de Aquino (1225-1274) tratou a questão da Imaculada Conceição apenas
incidentalmente, como cognato à sua consideração da impecabilidade de
Cristo. Ele seguiu o ensino de St. Bernardo, e assim possivelmente
se pode considerar que sua relutância em admitir a imunidade de Maria do pecado
desde o primeiro momento da sua concepção foi devido ao fracasso dos
escolásticos em desenvolver uma noção precisa do momento da concepção e
animação. Alguns expoentes de St. Tomás
têm se esforçado para estabelecer que o Doutor Angélico virtualmente ensinou a
Imaculada Conceição, e certamente eles têm sustentando que a
"concepção" tinha sido tratada de forma completamente por ele. Mas
a maioria dos estudantes de St. Tomás estão bastante preparados para admitir
que o Doutor Angélico simplesmente negou a liberdade de Maria do pecado
original. (Fonte)
Apesar
dos esforços do apologista católico, Carol esclarece que a maioria dos tomistas
simplesmente admite o óbvio. Já prevejo a alegação de que Carol não está
tratando de uma possível mudança no fim da vida de Tomás, porém, é simplesmente
inexplicável nenhuma menção explícita a isso em seu tratado sobre mariologia.
Se Carol acreditasse numa mudança de posição, ele obviamente faria menção a
isso, afinal estamos falando de um autor católico romano que acredita nesse
dogma mariano. De maior
interesse é a nota de rodapé n. 173:
Cf. G. M. Roschini, O.S.M., La Mariologia di S. Tommaso (Roma, 1950),
pp. 236-237. É extremamente difícil
conciliar o parecer do St. Tomás em n S. Th., III, q. 27, a. 2 ad 2um, com a
imunidade de Maria do pecado original: "... si nunquam anima B.
Virginis fuisset contagio originalis peccati inquinata, hoc derogaret dignitati
Christi, secundum quam est universalis omnium Salvator." Cf. Dominicus
Palmieri, S. J., op. cit., p. 291; Armandus Plessis, S.M.M., Manuale
Mariologiae Dogmaticae (Pont-Chateau, 1942), p. 60; Emile Campana, Marie dans
le Dogme Catholique (Montrejeau, 1913), Vol. 2, p. 200.
Só nessa nota, Carol cita quatro tomistas: G.
M. Roschini, Dominicus Palmieri, Armandus Plessis e Emile Campana. A própria Enciclopédia Católica
afirma:
St. Tomás, primeiramente se pronunciou a favor da doutrina em seu
tratado sobre as "Sentenças" (I. Sent. c. 44, q. I ad 3), contudo, na "Suma Teológica",
concluiu contra ela. Muita discussão tem surgido quanto ao fato de St.
Tomás ter ou não negado que a Santíssima
Virgem foi imaculada no instante de sua animação, e livros de eruditos foram escritos para reivindicar que ele realmente
chegou à conclusão negativa. No entanto, é difícil dizer que St. Tomás não exigia um instante, pelo menos, após
a animação de Maria, antes de sua santificação. Sua grande dificuldade
parece ter surgido a partir da dúvida de
como ela poderia ter sido redimida se ela não tivesse pecado. Esta
dificuldade levantou nada menos do que
dez passagens em seus escritos (veja, por exemplo, Suma III: 27: 2, ad 2).
Mas, enquanto St. Tomás, assim negou o
ponto essencial da doutrina, ele próprio estabeleceu os princípios que,
depois de terem sido reunidos e trabalhados permitiram a outras mentes fornecer
a verdadeira solução desta dificuldade de suas próprias premissas. (Fonte)
A ideia de que Tomás mudou de opinião é tão
“difundida” e “aceita” que nem a Enciclopédia faz qualquer menção a isso. É
mencionada a concordância inicial de Aquino e depois a sua clara discordância.
Vejam que o ponto de discussão não é se ele negou ou não a imaculada conceição,
mas se ele acreditava que Maria foi imaculada no momento da animação ou algum
tempo depois. Alguém em sã consciência acredita que uma publicação como essa
não mencionaria que um dos maiores doutores da igreja não morreu negando um
dogma, mas o aceitou no fim da vida? Ainda mais sendo a posição majoritária dos
tomistas? O apologista católico tenta formular um argumento da autoridade com
base em apenas um tomista. Ele não demonstrou que essa é a posição majoritária
entre os tomistas. E de fato ele sequer conseguirá. Garrigou é “uma voz que
clama no deserto” nessa questão.
A própria Enciclopédia reconhece que a
posição da santificação após a animação é a mais defensável e conta com muitos
apoiadores. Tomás compreendia que Maria precisou ser redimida, logo ela
precisaria ter contraído o pecado. Os católicos hoje afirmam com base em Duns
Escoto que Maria foi redimida preventivamente. Alguns chegam a afirmar que se
Aquino tivesse ouvido essa explicação, teria a acatado prontamente. No entanto,
é muito improvável que um filósofo como Tomás sequer tivesse cogitado a
hipótese de uma redenção preventiva.
A negação de do dogma é algo tão sacramentado
mesmo entre os teólogos católicos que não é difícil encontrar páginas na
internet trazendo a opinião de estudiosos que aceitam a negação. Podemos citar
Francis Beckwith, Fr. William G. Most, e o já citado Jimmy Akin.
Em 1839, um professor de teologia do Colégio
São Tomás de Aquino chamado Mariano Spada publicou a obra “Esame Critico sulla
dottrina dell’ Angelico Dottore S. Tommaso di Aquino circa il Peccato
originale, relativamente alla Beatissima Vergine Maria”. O título traduzido seria “Um exame crítico da
doutrina de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, sobre o pecado original
em relação à Santíssima Virgem Maria”. Ela pode ser acessada aqui. O mais importante é o objetivo da
obra. Spada intentava trazer uma interpretação de Tomás que aliviasse o
constrangimento de Pio IX ao declarar um dogma negado pelo teólogo (veja aqui). Contudo, se Tomás tivesse morrido
acreditando nessa doutrina, não haveria constrangimento algum. Mas, o mais
importante é que em nenhum momento Spada lança mão do argumento de que Tomás
morreu acreditando na doutrina. Se havia um momento onde a suposta mudança
deveria ficar evidente, seria aqui.
Cumpre ainda destacar outra citação trazida
pelo apologista:
(...) vale a pena mostrar aqui ao que encontramos o seguinte no
Volume VI “Mariologia”, do Manual de Teologia Dogmática de Pohle-Preuss, página
67:
“5. O Ensino de São Tomás --- Os teólogos estão divididos em sua
opinião sobre qual era a mente de São Tomás em relação à Imaculada Conceição.
Alguns francamente admitem que ele se opôs , pois em sua época ainda não era um
dogma definido, mas insistem que ele na prática admitiu o que ele formalmente
negou. Outros afirmam que o Doutor angélico defendeu expressamente a Imaculada
Conceição e que as (cerca de quinze) passagens adversas citadas dos seus
escritos deve ser consideradas como interpolações posteriores. Entre esses dois
extremos estão dois outros grupos de teólogos, um dos quais afirmam que São
Tomás estava indeciso em sua atitude para com a Imaculada Conceição, enquanto o
outro apenas mantém a impossibilidade de provar que ele se opunham a ela”.
É
digno de nota observar até onde certos autores católicos vão para reabilitar a
doutrina católica. Afirmar que todas as citações de Tomás em que nega a imaculada
conceição é uma interpolação é simplesmente uma aberração. Essas ocorrem
principalmente na Suma Teológica, a sua obra mais bem atestada. Eu duvido que
haja qualquer edição da Suma Teológica que exclua todas essas supostas interpolações.
Ademais, afirmar que Tomás negou formalmente a doutrina, mas a aceitou na
prática é outra tentativa esdrúxula. Alguns católicos querem de toda a forma passar
a imagem de um Tomás “esquizofrênico”. Dizer também que ele não se opôs a ela é
outra tentativa frágil, pois é bem atestado a partir de passagens da Suma que
ele se opôs. Eu não conheço o resto desse livro, mas seria interessante dizer
quais são os teólogos que sustentam posições tão absurdas, caso contrário, se
torna mais uma evidência anedótica. Todavia, o mais importante é que a posição
do apologista católico não está entre as elencadas por esse autor. Nenhuma das
quatro posições afirma que ele negou o dogma e voltou atrás no fim da vida.
Outras supostas
citações que provam o apoio de Tomás à imaculada concepção
Diante
dos vários problemas da citação da saudação angélica, o romanista apela a
outras três citações. Das três, apenas uma está em português. Vamos então analisa-la
primeiro:
Tem havido alguns, de
fato, tão presunçosos dizendo que o
homem poderia viver neste mundo e por sua própria força sem ajuda e evitar o
pecado. Mas esta condição não foi dada a ninguém, exceto Cristo, que tinha
o Espírito além de qualquer medida, e à Santíssima Virgem, que era cheia de graça e em quem não houve pecado. “E a respeito de
quem”, isto é, a Virgem, “quando a questão é pecado eu não desejo fazer nenhuma
menção”, diz Santo Agostinho.”
Ele
não afirma que Maria foi livre do pecado original. Inclusive a citação de
Agostinho também não afirma isso – ambos se limitam a dizer que Maria não cometeu pecados pessoais.
Isso fica claro quando se traz a afirmação que Tomás rejeita: “tão presunçosos
dizendo que o homem poderia viver neste mundo e por sua própria força sem ajuda
e evitar o pecado”. Ele claramente está se referindo a pecados pessoais
cometidos durante a vida. Somente Cristo e Maria teriam vivido sem cometê-los. Para ficar ainda
mais claro, vejamos a continuação dessa citação:
Mas para todos os outros santos, nunca foi concedido que
não devam incorrer em pecado, pelo menos venial: "Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós
mesmos, e a verdade não está em nós". E, por outro lado, esta mesma
petição prova isso; pois é evidente que todos os Santos e todos os homens dizem
"Pai Nosso", no qual está contido "Perdoai nossas ofensas".
Assim, todos admitem e confessam que são pecadores ou transgressores. Se, portanto, você é um pecador, você deve
temer e se humilhar. (Fonte)
Todo
o contexto aponta em que sentido Maria era diferente dos demais – ela,
diferente de outros santos nunca cometeu pecados durante a vida. Todos os demais
pelo menos pecados veniais cometeram. Essa interpretação é mais consistente com
todo o pensamento de Tomás de Aquino.
Depois são trazidas citações em latim sem
tradução. Qual o propósito de um site em português que escreve para pessoas que em
sua maioria não sabem latim trazer uma citação sem tradução? Ele então cita
comentário de Tomás sobre Gálatas. Pode ser visto aqui o texto em latim com a respectiva tradução para o inglês:
O significado deste
testemunho, ele explica, quando diz: Ele não diz: "E a seus
descendentes", como falando de muitos, mas como de um só, "E à tua
descendência" Ele explica isto de acordo com o próprio espírito em que o
testamento foi feito. Isso é óbvio das palavras do testamento: Ele não diz:
"e aos seus descendentes", como de muitos, isto é, como Ele o faria, se
fosse válida para muitos, mas como de um só: "E à tua descendência"
que é Cristo, porque Ele é o único através de quem e no qual todos poderiam ser
abençoado. Pois Ele somente e
exclusivamente é aquele que não está sob a maldição da culpa, apesar do
fato de que fez a si mesmo maldição por nós. Por isso, é dito, "Eu estou sozinho até que passe"
(Sl. 140:10); e, novamente "Não há
ninguém que faça o bem, nem um sequer" (Sl. 13:3); "Um homem
entre mil que eu encontrei" (ou
seja, Cristo, que foi sem qualquer pecado), "uma mulher entre todos elas eu não encontrei", que fosse
totalmente imune de todo pecado, pelo menos original ou venial ( Ecl.
7:29).
O
texto em latim:
Unde dicitur in Ps. CXL,
10: singulariter sum ego, et cetera. Item: non
est qui faciat bonum, et cetera. Eccle. VII, 29: virum de mille
unum reperi, scilicet Christum, qui esset sine omni peccato, mulierem
autem ex omnibus non inveni, quae omnino a peccato immunis esset, ad minus
originali, vel veniali.
O texto em questão está afirmando
justamente o oposto. Tomás usa vários textos bíblicos para expressar que
somente Cristo foi sem pecado. E ainda afirma que nenhuma mulher foi encontrada
sem pecado. Não há nenhuma referência à Maria no texto. A fundação Tomás de Aquino igualmente usa um texto em que não
há qualquer referência à Maria:
Eccle. VII, 29: virum de mille
unum reperi, scilicet Christum, qui esset sine omni peccato, mulierem autem ex
omnibus non inveni, quae omnino a peccato immunis esset, ad minus originali,
vel veniali.
Por último, é trazida uma citação
do comentário ao Salmo XVIII, 6, a partir da mesma fonte que temos trazido os
textos anteriores:
idest in beata virgine, quae nullam habuit obscuritatem peccati: Cant.
4: tota pulchra es amica mea, et macula non est in te.
O texto em latim e inglês pode
ser visto aqui. A
tradução seria:
(...) é
que ele [Jesus] colocou seu corpo no sol, ou seja, na Virgem Santíssima, que não tinha as trevas do pecado. Cant. 4:
“Você é completamente linda, minha amiga, e
não há nenhuma mancha em você.”
Tomás aplica o texto de Cânticos à
Maria. Ele não afirma que Maria foi concebida sem pecado. Percebam que o texto se refere ao momento da encarnação, quando
Cristo “colocou seu corpo” na virgem. Nesse momento, Maria já havia sido
santificada, portanto, não tinha mais nenhuma mancha. Isso obviamente não
implica que ela foi concebida sem o pecado original.
O problema da datação das obras
Creio já termos argumentos
suficientes para afirmar que a hipótese mais plausível é que Tomás não mudou de
ideia. Porém, existe outro problema com a tese católica – a datação das obras.
É preciso demonstrar confiavelmente que as obras onde supostamente ele afirma a
doutrina mariana são posteriores a todas as citações onde nega a mesma
doutrina. De acordo com três listas cronológicas que podem ser vistas aqui, aqui e aqui, a Suma Teológica foi escrita
entre 1266 e 1273. A saudação angélica teria sido escrita entre 1268 e 1273. Os
comentários das epístolas de Paulo estariam entre 1265 e 1273. O mais tardio
seriam os comentários sobre os salmos no intervalo 1272-1273.
Todas as obras invocadas para
provar a suposta mudança estão dentro do intervalo de elaboração da Suma
Teológica. Isso nos permite concluir que mesmo que as referidas citações
apoiassem a tese católica, não há como estabelecer que a mudança de posição foi
no sentido de apoiar a doutrina católica. Seria temporalmente possível uma
mudança no sentido de negar a doutrina.
O pensamento geral de
Aquino
Na
seção “O pensamento Geral de Tomás de Aquino”, o artigo católico tenta explicar
os motivos pelos quais ele negou o dogma católico:
Logo, o que o protestante em questão não entende é que quando
falamos “negar”, não quer dizer que ele tinha a mesma concepção protestante, ou
que ele negava que Maria era imaculada, mas sim que sua ideia da impecabilidade
de Maria, não compreendia o momento da concepção. Maria seria Concebida em
pecado, mas Nascida sem pecado.
E
quem afirmou que Tomás tinha a mesma concepção protestante? O fato de um
teólogo negar um dogma católico não implica dizer que ele abraçou a posição
protestante. Fazendo malabarismo para negar o óbvio, ele afirma: “Maria seria
Concebida em pecado, mas Nascida sem pecado”. Logo, Maria não teve uma
concepção imaculada, o que é contradizer o dogma católico. O fato de ele
acreditar que ela foi santificada antes do nascimento é irrelevante. Isso não
muda a implicação lógica de que um “doutor” católico romano negou um dogma
católico.
Basicamente,
Tomás acreditava que a animação (o momento em que o corpo recebe a alma) ocorre
depois da concepção do corpo. Dessa forma, Maria, em sua concepção, recebeu um
corpo manchado pelo pecado. Só depois ela receberia a alma. Em virtude disso, o
apologista argumenta:
Logo, São Tomás além de não pensar como um protestante na questão do
pecado atual, também não pensava da mesma forma sobre a questão do pecado
original mesmo quando “negou” a imaculada conceição, uma vez que sua ideia da
Concepção do embrião era diferente, por isso seus comentários desfavoráveis
existiram.
Se
Tomás acreditasse que a alma é infusa no momento da concepção do corpo, sua
opinião sobre a imaculada conceição seria diferente? A resposta é não. O próprio Garrigou escreveu:
Os textos que temos considerado até agora não implicam, portanto, em
qualquer contradição do dogma da Imaculada Conceição. Eles poderiam até mesmo
ser mantidos se a ideia de redenção preventiva fosse introduzida. Há, porém, um texto que não pode ser tão
facilmente explicado. Na III Sent., dist. III, q. 1, a. 1, ad 2am qm, nós lemos: "Nem
(aconteceu), mesmo no instante da
infusão da alma, ou seja, pela graça sendo então dado a ela, de modo a preservá-la de incorrer no pecado
original. Somente Cristo entre os homens tem o privilégio de não precisar de
redenção. (Fonte)
A santificação de Maria ocorreu após a
animação. Ela não foi preservada do pecado original no momento em que recebeu a
alma. Dessa forma, mesmo que a concepção do corpo e a animação ocorressem no
mesmo momento, Maria teria contraído o pecado original segundo Aquino.
Resposta à seção conclusões e minhas próprias conclusões
Assim, a tal “falsificação romanista” não tem qualquer fundamento e
é muito improvável. As mentes caluniosas agora serão obrigadas a provar os
seguintes pontos:
1) Que sabem mais do que os tomistas a respeito de São Tomás.
(1) Essa é só mais uma falácia lógica. O
argumento da autoridade é probabilístico. Ele apenas torna uma posição mais
provável, mas não é suficiente para fechar a questão. O mesmo poderia ser dito
a respeito dos católicos que se metem a falar de Lutero. Baseado nesse tipo de
argumento, um apologista católico não poderia afirmar nada sobre Lutero e estar
certo se estiver em desacordo com o que os especialistas protestantes em Lutero
afirmam.
(2) O apologista católico apresentou apenas
um reconhecido tomista. Nós apresentamos a posição do mariólogo Carol que
apontou pelo menos quatro tomistas que acreditam no oposto. Mas ele foi além e
afirmou que a maioria dos estudantes de Aquino concordam que ele simplesmente
negou a imaculada conceição. Dessa forma, se o argumento católico fosse válido,
quem deve explicações é que defende a posição minoritária segundo a qual Tomás
teria mudado de opinião.
2) Que os 16 dos 19 manuscritos analisados por Rossi que contém a
expressão “NEC ORIGINALE”, são “falsificações romanistas” e os 3 restantes que
são os verdadeiros.
Antes
de tudo é preciso estabelecer que de fato existe 16 de 19 manuscritos contendo
“nec originale” e que esses são os mais confiáveis e justificam confiar que
trazem o texto original. Eu obviamente não analisei nenhum desses manuscritos e
não foi baseado nesse argumento que afirmei se tratar de uma falsificação
romanista.
3) Que as outras citações apresentadas tal qual a do Comentário aos
Gálatas são falsificadas também.
(1)
Eu não afirmei que essas outras citações são falsificações. Eu afirmei que a
interpolação do “Comentário sobre a Saudação Angélica” é uma falsificação.
Então, eu não tenho o ônus de provar algo que não aleguei;
(2)
Eu sequer preciso provar que essas outras citações são falsificações, pois
nenhuma delas afirma que Maria foi preservada do pecado original. Limitam-se a
afirmar a impecabilidade de Maria ou sua grande pureza, portanto, são
irrelevantes para o debate em questão;
(3)
Caberia ainda ao apologista determinar qual das versões do comentário aos
Gálatas é a definitiva. O link que ele apresentou contém mais de uma versão.
Qual é a verdadeira? Nós apresentamos a versão usada pela fundação Tomás de
Aquino que não afirma a imaculada conceição. Pelo contrário, a nega.
É muito estranho que pouco tempo após a morte de São Tomás tenham
existidos manuscritos com a expressão em questão e alguém a tenha falsificado.
Pouco
tempo quando? Em nenhum momento o apologista estabeleceu a idade dos tais
manuscritos.
Por que alguém nesta época, onde supostamente os autores negavam a
imaculada Conceição de Maria, teria se preocupado em falsificar pelo menos 16
manuscritos acrescentando ali algo que ele próprio não escreveu? Qual a
probabilidade disso? Quase nula!
No
período do século XII ao XVI, houve intenso debate sobre a imaculada conceição
de Maria. Não foi alegado que não havia defensores dessa doutrina, caso
contrário, não existiria debate algum. Houve um intenso conflito nesse período
entre franciscanos (pró-imaculada) e dominicanos (contra-imaculada). Portanto,
trata-se apenas de mais um argumento falacioso.
O
apologista ainda afirma num exercício de “futurologia” que Tomás teria aceitado
a definição dogmática do séc. XIX, pois ele acatava a autoridade da igreja
romana. Qualquer coisa que Tomás tenha dito sobre a autoridade do papa e de
Roma só é válida para igreja de seus dias ou antecedente. Não há como saber a
sua reação se ele visse a igreja romana de hoje. Nós não encontramos, por
exemplo, em Tomás uma afirmação explícita da infalibilidade papal. Não por
acaso, há atualmente diversos grupos na igreja romana afirmando que o
magistério atual apostatou da fé. E, geralmente, esses grupos se apoiam em
Tomás.
Ademais,
o argumento mais inaceitável é a afirmação de que não é problemático o fato de
um doutor da igreja ter negado um dogma. Eles nos dizem que não há problema,
pois o dogma só foi definido em 1854. O apologista católico ainda afirma que os
pais da igreja discordavam sobre a trindade para substanciar sua ideia. Esse argumento tem uma série problemas:
(1)
Nenhum pai da igreja negou a trindade como Aquino negou a imaculada conceição,
portanto, é uma falsa analogia. Eles poderiam divergir sobre detalhes
secundários da doutrina, mas concordavam com os pontos principais: por exemplo,
a divindade de Cristo. Já Tomás negou o elemento principal da doutrina. Além do
mais, a trindade é uma ideia mais complexa do que a imaculada conceição ou
impecabilidade de Maria. Afirmar que alguém não cometeu pecados é uma ideia
simples que não exigira séculos e séculos de reflexão. Todavia, vários pais da
igreja ensinaram que Maria cometeu pecados pessoais.
(2)
Esse argumento implica que não havia problema em negar a divindade de Cristo
antes do concílio de Niceia. Alguém em sã consciência acredita que a crença na
divindade de Cristo só se tornou obrigatória após a definição do concílio. Quem
o fizesse antes, não poderia ser considerado herege?
(3)
Pais da igreja como Irineu dedicaram a vida a combater heresia gnóstica. Mas
partindo do pressuposto católico, os gnósticos sequer poderiam ser chamados de
hereges naquele tempo, pois até então não havia nenhuma afirmação dogmática
contra eles. Ninguém poderia considerar Marcião um herege por negar a
canonicidade do Antigo Testamento, afinal a igreja só afirmaria dogmaticamente o
cânon séculos depois;
(4)
Os apóstolos deixam de ser uma autoridade real. Essa é a implicação mais
inaceitável. O que eles pregaram ou ensinaram só se tornaria de assentimento
obrigatório após a definição dogmática da igreja, que como vimos, só viria 18
séculos depois. Não importa se eles ensinaram claramente a trindade, a
concepção virginal, a ressurreição e todo o resto. Só depois da aprovação da
igreja é que tais doutrinas seriam obrigatórias;
(5)
A igreja romana reivindica manter incólume o depósito apostólico. O que ela
define não seria uma inovação, mas apenas a afirmação daquilo que foi a fé da
igreja desde sempre. Por isso, o fato de reconhecidos teólogos medievais, 12
séculos depois dos apóstolos, negarem essa suposta doutrina apostólica é
extremamente grave. Se a imaculada conceição é parte do depósito da fé, quais
as evidências históricas favoráveis? Simplesmente não há. O que vemos são pais
da igreja, papas e teólogos medievais negando a doutrina;
(6)
A igreja romana reivindica ter um carisma especial que permite guiar os fiéis
na crença correta. Como isso pode ser possível se apenas 17 séculos depois o
magistério finalmente afirmou “infalivelmente” a crença correta? Como o
Espírito Santo pode permitir que gerações e gerações de cristãos mantivessem a
doutrina errada? Como não acreditamos que o Espírito Santo é ineficiente,
rejeitamos a reivindicação romanista.
Em
síntese, o apologista católico falhou em provar a autenticidade da citação,
falhou em trazer provas adicionais de sua tese e falhou em demonstrar que sua
opinião é majoritária entre os especialistas tomistas. Nós reafirmamos os
motivos que nos levaram a concluir que se trata de uma falsificação: (1) Há
várias edições críticas dessa obra que não contém o trecho em questão e
principalmente; (2) A mesma obra poucas linhas antes da interpolação afirma
claramente que Maria foi concebida no pecado original.
O
apologista católico se agarra com unhas e dentes a opinião minoritária de
Garrigou. Esse é o resultado prático da Sola Eclésia. Os católicos,
infelizmente, não podem buscar a verdade por si próprios. Eles precisam aceitar
de antemão e sem qualquer senso crítico o que a igreja romana determina como
dogma. Por isso, mesmo diante de tanta evidência contrária, se agarram a
qualquer posição simpática à igreja romana. Caso semelhante ocorre com Jerônimo.
Os eruditos protestantes e católicos são majoritários em afirmar que ele negou
a canonicidade dos apócrifos. Ainda assim, quando surge um ou outro autor
católico “remando contra a corrente” e afirmando que Jerônimo mudou de ideia,
os apologistas se agarram a ele como se representasse a posição correta, a
despeito das evidências.
Um
último esclarecimento se faz necessário. Em nenhum momento eu afirmei que o
site apologista católicos é o responsável pela falsificação. Obviamente, a
interpolação é muito mais antiga que o site e que qualquer pessoa que lá
escreva. Acredito que o autor do artigo leu algum site em inglês e replicou a
tese. É possível que sequer soubesse das dúvidas que pairam sobre a citação.
Esse site é bem conhecido por deturpar os pais da igreja, trazer citações fora
do contexto e apresentar citações a partir obras de origem duvidosa – algo que
eu já explorei mais de uma vez em meus artigos (dois exemplos podem ser visto
aqui e aqui).
Agora, se eles inventam citações eu não sei, e até que se prove o contrário,
creiamos que não.
Atualização (13/06/2016)
“Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades criadas, nenhuma seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual”. [Continuação] Foi todavia sob Deus, visto que havia nela o poder de pecar.”
O primeiro texto onde Tomás de Aquino supostamente teria afirmado a imaculada conceição NÃO FALA DA CONCEIÇÃO DE MARIA. Diz apenas que Maria foi imune do pecado original e do atual, mas não diz que isto aconteceu na sua concepção.
Por exemplo, a doutrina católica diz que todos os fiéis são imunes do pecado original no batismo. A doutrina da imaculada conceição não é ficar imune do pecado original mas ter sido concebida sem pecado original.
Não há no texto nenhuma referência à concepção de Maria logo não há nenhuma afirmação da imaculada concepção.
O texto continua dizendo “Foi todavia sob Deus, visto que havia nela o poder de pecar“.
Se Tomás de Aquino diz que havia nela o poder de pecar necessariamente não podia entender que ela foi imaculadamente concebida. O que ele quer dizer é que pela graça de Deus a certa altura da sua existência foi imune do pecado original e atual. Nada de imaculada conceição portanto.
O texto citado faz parte da obra "Comentário das Sentenças de Pedro Lombardo". O texto em latim pode ser visto aqui:
Ad tertium dicendum, quod puritas intenditur per recessum a contrario: et ideo potest aliquid creatum inveniri quo nihil purius esse potest in rebus creatis, si nulla contagione peccati inquinatum sit; et talis fuit puritas beatae virginis, quae a peccato originali et actuali immunis fuit. Fuit tamen sub Deo, inquantum erat in ea potentia ad peccandum.
Isso nos leva a uma reflexão importante. Teólogos como Tomás poderiam afirmar que Maria não tinha mancha ou pecados, mas não é suficiente para provar a imaculada conceição. Como bem dito, é necessário demonstrar que a opinião do teólogo indica a posição de que Maria foi preservada do pecado original desde a concepção. Aquino cria que ela foi santificada ainda no útero da sua mãe, mas não desde a concepção. Portanto, não há qualquer evidência de que ele tenha aceitado tal doutrina em qualquer fase de sua vida.
Agradeço ao blog Conhecereis a Verdade pelo excelente apontamento.
Atualização (13/06/2016)
O Hugo do excelente blog Conhecereis a Verdade fez um comentário que merece ser colocado nessa atualização. Nosso artigo respondeu a tese de que Tomás passou a acreditar na imaculada conceição mais para o fim da vida. No entanto, o artigo católico defendeu que Aquino acreditava na imaculada conceição no início da vida, tendo mudado de posição no meio e retornado a posição no fim. O comentário a seguir esclarece um ponto que deixamos passar - mesmo no início, a evidência apontada não suporta o dogma da imaculada conceição:
O primeiro texto onde Tomás de Aquino supostamente teria afirmado a imaculada conceição NÃO FALA DA CONCEIÇÃO DE MARIA. Diz apenas que Maria foi imune do pecado original e do atual, mas não diz que isto aconteceu na sua concepção.
Por exemplo, a doutrina católica diz que todos os fiéis são imunes do pecado original no batismo. A doutrina da imaculada conceição não é ficar imune do pecado original mas ter sido concebida sem pecado original.
Não há no texto nenhuma referência à concepção de Maria logo não há nenhuma afirmação da imaculada concepção.
O texto continua dizendo “Foi todavia sob Deus, visto que havia nela o poder de pecar“.
Se Tomás de Aquino diz que havia nela o poder de pecar necessariamente não podia entender que ela foi imaculadamente concebida. O que ele quer dizer é que pela graça de Deus a certa altura da sua existência foi imune do pecado original e atual. Nada de imaculada conceição portanto.
O texto citado faz parte da obra "Comentário das Sentenças de Pedro Lombardo". O texto em latim pode ser visto aqui:
Ad tertium dicendum, quod puritas intenditur per recessum a contrario: et ideo potest aliquid creatum inveniri quo nihil purius esse potest in rebus creatis, si nulla contagione peccati inquinatum sit; et talis fuit puritas beatae virginis, quae a peccato originali et actuali immunis fuit. Fuit tamen sub Deo, inquantum erat in ea potentia ad peccandum.
Isso nos leva a uma reflexão importante. Teólogos como Tomás poderiam afirmar que Maria não tinha mancha ou pecados, mas não é suficiente para provar a imaculada conceição. Como bem dito, é necessário demonstrar que a opinião do teólogo indica a posição de que Maria foi preservada do pecado original desde a concepção. Aquino cria que ela foi santificada ainda no útero da sua mãe, mas não desde a concepção. Portanto, não há qualquer evidência de que ele tenha aceitado tal doutrina em qualquer fase de sua vida.
Agradeço ao blog Conhecereis a Verdade pelo excelente apontamento.
Bruno, você acabou com o sujeitinho. Do início ao fim, parecia uma tortura longa e penosa na qual o apologista católico implorava para parar de apanhar. Um cidadão que se dá ao trabalho de escrever uma pseudo "refutação" ao seu texto onde não explica nem contra-argumenta NADA do texto onde Tomás de Aquino EXPLICITAMENTE defende que Maria cometeu o pecado original NA MESMA obra que o cretino usa para dizer que ele "mudou de opinião", não merece ser levado a sério e nem contra-argumentado. Mais vergonhoso ainda é ver o pilantra blefando com aquilo que desconhece completamente, como quando afirma que todos os tomistas estão do lado dele - uma típica demonstração de como esse sujeito é um mentiroso profissional, que sequer se envergonha de sua infâmia a serviço da mentira.
ResponderExcluirPara trazer mais diversão ao debate, só mesmo na parte em que ele coloca na boca de Tomás de Aquino a crença na imaculada conceição de qualquer jeito, mesmo dizendo que ele "mudaria de opinião" se vivesse nos dias de hoje. Ou seja, não basta deturpar toda a obra do indivíduo, ainda tem que dar uma de vidente e colocar palavras na boca dele que ele jamais disse. Daqui a pouco vai começar a dizer que Tomás de Aquino subiria as escadarias do Senhor do Bonfim e colocaria o santinho de cabeça pra baixo. O sujeito é cretino até não ter mais como. Mente, e mente descaradamente.
Vou postar com prazer sua refutação no meu blog, nos próximos dias. Continue nesse trabalho genial a serviço da defesa da fé. Não se deixe intimidar por essa raça de víboras.
Abraços!
Obrigado pelo apoio o Lucas.
ExcluirO que chamou mais atenção "na refutação" foi nem ele nem o Garrigou (até onde ele trouxe no texto) terem lidado com o fato de que na mesma obra Tomas negou explicitamente a imaculada conceição.
Abraço!
Os apologistas católicos são peritos em fazer as pessoas mudar de opinião depois de morrerem :)
ResponderExcluirIsso é verdade.
ExcluirSalvemos Aquino, Jerônimo, Cipriano e tantos outros da apologética católica.
Esse é um dos principais objetivos desse blog!
Continue assim, Bruno. Seu trabalho é genial. Trás a luz de muitos protestantes que a patrística está sendo refém de vários mentirosos apologistas católicos como o Rafael Rodrigues, e que essas mentiras precisam ser desmascaradas.
ResponderExcluir“Ao terceiro, respondo dizendo que se consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma criatura que, entre as realidades criadas, nenhuma seja mais pura do que ela, se não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa, que foi imune do pecado original e do atual”. [Continuação] Foi todavia sob Deus, visto que havia nela o poder de pecar.”
ResponderExcluirO primeiro texto onde Tomás de Aquino supostamente teria afirmado a imaculada conceição NÃO FALA DA CONCEIÇÃO DE MARIA. Diz apenas que Maria foi imune do pecado original e do atual, mas não diz que isto aconteceu na sua concepção.
Por exemplo, a doutrina católica diz que todos os fiéis são imunes do pecado original no batismo. A doutrina da imaculada conceição não é ficar imune do pecado original mas ter sido concebida sem pecado original.
Não há no texto nenhuma referência à concepção de Maria logo não há nenhuma afirmação da imaculada concepção.
O texto continua dizendo “Foi todavia sob Deus, visto que havia nela o poder de pecar“.
Se Tomás de Aquino diz que havia nela o poder de pecar necessariamente não podia entender que ela foi imaculadamente concebida. O que ele quer dizer é que pela graça de Deus a certa altura da sua existência foi imune do pecado original e atual. Nada de imaculada conceição portanto.
Coloquei como atualização do artigo. Obrigado pelo excelente comentário!
ExcluirBruno Lima vc mais uma vez teve seus argumentos reduzidos a nada neste blog. Vc deveria parar de conviver com Lucas louco, o protestante mais desequilibrado e revoltado da internet, vc está ficando como ele e não tem humildade para reconhecer um erro, tentando usar até o maior doutor da igreja católica contra ela própria. Vc simplesmente recorreu ao google tentando encontrar alguma coisa ou referência para reformular uma refutação, demonstrando total ignorância da teologia Tomista. Vc ignorou os mais antigos códices e manuscritos de Santo Tomas que o Rafael postou, e ainda o Professor Enrique Alarcon que adicionou uma nota à passagem e reconsiderando a questão. Depois vc mudou de assunto e ainda traduziu referências deturpadas do Wikipédia. Fico pensando qual a importância da opinião de Tomas de Aquino pra um protestante, já que ele era um "romanista"? Isso só comprova mais uma vez, que o protestantismo é um mero anticatolicismo, não buscam a verdade.
ResponderExcluirParece mais implicância de querer protestar e tumultuar contra qualquer coisa que o catolicismo ensina, do que interesse de encontrar a verdade, por mais que uma prova seja demonstrada claramente, será feito um esforço tremendo para distorce-la de algum modo.
“Bruno Lima vc mais uma vez teve seus argumentos reduzidos a nada neste blog. Vc deveria parar de conviver com Lucas louco, o protestante mais desequilibrado e revoltado da internet, vc está ficando como ele e não tem humildade para reconhecer um erro, tentando usar até o maior doutor da igreja católica contra ela própria.“
ExcluirQual foi a outra vez que meu argumento foram refutados? Teria sido daquela vez em que o sr. disse que os cristãos ficaram três séculos sem saber que o bispo de Roma era o papa, ainda assim, o sr. defendeu que existia um papado? É isso que você chama de refutação?
Esse é justamente o ponto – o maior doutor da igreja católica negava um dogma católico e a despeito de todas as tentativas de suavizar esse fato, trata-se de um exemplo relevante de como a igreja romana não mantém as mesmas doutrinas ao longo do tempo, pelo contrário, ela inova.
“Vc simplesmente recorreu ao google tentando encontrar alguma coisa ou referência para reformular uma refutação, demonstrando total ignorância da teologia Tomista. “
Desculpe-me por recorrer ao google. Vou lembrar da próxima vez que eu não posso usar links do site da fundação Tomás de Aquino com os textos do teólogos e suas respectivas traduções. Sempre que eu quiser usar uma fonte, vou a alguma biblioteca porque está proibido usar o google. Só um detalhe, quando o senhor vai dizer a mesma para os sites católicos? E o yahoo pode usar ou também é um problema?
Além de o seu argumento ser hipócrita é falacioso. Invalidar um fonte por sua origem é um tipo de falácia genética.
“Vc ignorou os mais antigos códices e manuscritos de Santo Tomas que o Rafael postou, e ainda o Professor Enrique Alarcon que adicionou uma nota à passagem e reconsiderando a questão.“
Ele não reconsiderou a questão no site. Ele apenas introduziu um comentário afirmando que há outra versão crítica com o termo “nec originale”. No entanto, continuam hospedando uma versão que não contém o termo. E ainda que ele resolva adotar a outra versão no site, isso não mudará o fato de que outros textos críticos da mesma obra produzidos por católicos não contém o termo. Ademais, foram postados os manuscritos mais antigos a partir de uma amostra previamente selecionada. Não foram sequer catalogados todos os manuscritos existentes.
“Depois vc mudou de assunto e ainda traduziu referências deturpadas do Wikipédia.”
Onde eu mudei de assunto? E onde está a deturpação das referências? Por acaso eu postei os links do google books. Interessante que o artigo católico também postou links do mesmo lugar. O sr. acha que as referências dele também foram deturpadas. Você tem algo mais além de uma acusação sem provas?
(cont...)
Excluir“Fico pensando qual a importância da opinião de Tomas de Aquino pra um protestante, já que ele era um "romanista"? Isso só comprova mais uma vez, que o protestantismo é um mero anticatolicismo, não buscam a verdade.”
Fico pensando qual a importância da opinião de Lutero para um católico, já que ele era um “protestante”? Isso só comprova mais uma vez que o catolicismo é um mero antiprotestantismo, não buscam a verdade.
Da mesma forma que os católicos usam Lutero para tentar impugnar o protestantismo, nós usamos teólogos católicos para demonstrar as inconsistências do romanismo. Por isso há bastante valor apologético nisso. É no mínimo interessante o sr. nos acusar de não buscar a verdade. Ai há uma diferença enorme entre nós dois. Eu de fato posso buscar a verdade já você não. Você simplesmente precisa se agarrar a qualquer explicação em favor dos dogmas da sua igreja, por mais fraca que seja. Não me espanta que você aceite tão fácil a ideia de que Tomás abraçou a imaculada conceição na obra Saudação Angélica, você tem por paradigma não aceitar nada que contrarie a autoridade “infalível” da sua igreja.
“Parece mais implicância de querer protestar e tumultuar contra qualquer coisa que o catolicismo ensina, do que interesse de encontrar a verdade, por mais que uma prova seja demonstrada claramente, será feito um esforço tremendo para distorce-la de algum modo.”
Pelo contrário, é justamente pelo interesse na verdade que nos dedicamos a mostrar as inovações doutrinárias da igreja romana. De fato, há uma prova muito clara e um esforço enorme em distorcê-lo. Por exemplo:
Se eu lhe dissesse que o indivíduo X foi limpo do pecado original ainda no útero da sua mãe. O sr. concluiria então que esse individuo não contraiu o pecado original? Se o sr. acha que ele não contraiu o pecado original e oferecer uma interpretação satisfatória, terei todo o prazer em afirmar que eu estava errado.
No entanto, se você simplesmente fizer mais um malabarismo exegético como provavelmente fará, restará provado aqui quem está de fato deturpando uma evidência clara. Estou ansiosamente esperando sua solução interpretativa para o caso.
"Na América há no máximo uma centena de pessoas que odeia a Igreja Católica. Entretanto, existem milhões de pessoas que odeiam aquilo que acreditam ser a Igreja Católica - o que é muito diferente." [Fulton Sheen]
ResponderExcluirConcordo que boa parte das pessoas tem uma visão errada do romanismo, o que não é de se estranhar pois a maioria dos católicos romanos conhecem muito pouco da doutrina de sua própria Igreja. Se as pessoas entendessem de fato o que a doutrina católica romana propõe, acredito que a rejeição seria maior. O romanismo é de fato muito pior do que parece.
Excluir