Neste artigo, por cristãos
pós-apostólicos quero dizer aqueles que viveram logo após os apóstolos (séc.
II). Abaixo apresento um sumário de afirmações sobre as crenças desses cristãos
que não representa apenas minha própria opinião, mas o consenso de
historiadores católicos e protestantes:
- Não havia papado.
- Havia várias formas de
governo da igreja, incluindo formas que não envolviam o episcopado monárquico.
- Os líderes da Igreja eram
obrigados a cumprir elevados padrões morais e doutrinários, e era considerado
aceitável desobedecer ou separar-se de um líder que violava esses padrões.
- Quando a sucessão apostólica
foi discutida, foi definida de maneiras diferentes por diferentes fontes, e os
conceitos discutidos envolveram raciocínios e qualificações que não encontramos
no catolicismo moderno.
- Os bebês não foram batizados
inicialmente, e a prática posterior do batismo infantil foi em grande parte
feita por uma razão diferente e em um momento diferente do que vemos no
catolicismo moderno.
- Havia diferentes visões
sobre a eucaristia e João 6, às vezes, era interpretado metaforicamente.
- Embora a maioria das
primeiras fontes pós-apostólicas defendesse alguma forma de justificação
através das obras, alguns defendiam a justificação somente pela fé e aqueles
que defendiam a justificação através de obras discordavam entre si sobre a
natureza das obras, na maioria das vezes contradizendo o catolicismo romano.
- Eles acreditavam que Maria
pecou.
- Muitas vezes discutiam
assuntos como assunções corporais e o que aconteceu com homens como Enoque e
Elias sem mencionar uma assunção corporal de Maria. O conceito de uma suposição
de Maria está ausente, inclusive em contextos onde seria apropriado
mencioná-lo.
- O primeiro cristão a
discutir sobre a virgindade perpétua de Maria negava a ideia.
- As passagens das Escrituras
frequentemente citadas em apoio às doutrinas marianas (ex. Apocalipse 12) foram
interpretadas de forma diferente do que os católicos romanos.
- O conceito de Purgatório era
não só ausente como amplamente contraditado.
- Houve oposição generalizada
à veneração de imagens.
- Havia uma crença
generalizada de que a oração deve ser oferecida apenas a Deus, não a anjos ou
seres humanos falecidos.
- Apesar da aceitação de
alguns livros apócrifos como escritura, alguns deles não são aceitos pelo
catolicismo romano e algumas fontes rejeitaram os livros apócrifos.
- O pré-milenismo foi a
escatologia mais popular.
Eu não coloquei citações neste
artigo porque há em meu blog artigos específicos fartamente documentando tais
afirmações. Além disso, eu me limitei às afirmações que até mesmo os
historiadores católicos poderiam concordar. Mais coisa poderia ser dita com o
apoio de bons argumentos. A luz desse sumário, a resposta é óbvia – tais
cristãos não eram católicos romanos.
Muita gente costuma perguntar
quando o catolicismo romano surgiu. A resposta depende do critério adotado. Eu
prefiro a abordagem que diz que Roma fazia parte de uma confederação de Igrejas
Cristãs que formavam a Igreja Católica Antiga. Ocorre que com o passar do tempo
Roma se afastou do evangelho e atualmente deve ser considerada uma igreja
apóstata (o que não implica que não há verdadeiros cristãos na Igreja Romana).
Quando essa apostasia aconteceu? Em que momento Roma deixou de ser uma igreja
cristã com problemas doutrinários e se transformou numa Igreja apóstata? Não há
como dizer. Para fins didáticos, nós gostamos de adotar certas datas como
marcos, mas a verdade é que a história não acontece assim. Esse processo de
apostasia não aconteceu da noite para o dia. Foi gradual, tendo sido acelerado
ou retardado a depender da época.
Como assim havia um papa em 1054? e os anteriores eram o que? então pq só a igreja de roma se destacou e virou esse imperio? então a igreja em 431 que declarou maria theotokos não foi a catolica romana? foi qual então? Aonde estavam os protestantes antes da Reforma protestante?
ResponderExcluirO papado é definido como um bispo que possui primazia jurisdicional sobre toda a igreja. Como até 1054 a igreja Oriental era parte da igreja católica e não reconhecia esse tipo de primazia, não havia papado.
ExcluirQual a relevância do "Império que Roma virou para essa discussão? Quando lemos a descrição dos últimos dias não vemos o cristianismo sendo descrito como uma religião poderosa que possuía um império. Dado o fato de que Roma virou este Império na base de conchavos políticos e muita corrupção, isso não atesta sua validade como igreja de Cristo. Pelo contrário, isso só demonstra o péssimo testemunho histórico dessa igreja apostata.
A Igreja que se reuniu em Éfeso em 431 não era católica romana pois não professava as inovações doutrinarias de Roma que só surgiriam séculos depois.
Sua última pergunta é sem sentido. Se os protestantes formam o movimento oriundo da reforma protestante, como eles poderiam existir antes da Reforma. A pergunta a ser feita é as doutrinas desses protestantes são inovações ou uma recuperação da doutrina apostólica. A Escritura apresenta as evidências para tais doutrinas, por isso as igrejas protestantes são verdadeiras e Roma é falsa.
O que define a validade de uma igreja não é sua antiguidade mas a validade de sua doutrina. Se antiguidade fosse critério de ortodoxia, Simão o mago seria o campeão da ortodoxia.
A questão maior é se as doutrinas de sua igreja foram pregadas pelos apóstolos. Sob esse critério rejeitamos o evangelho de Roma.
Pode citar alguma referência sobre a descrença na imaculada e virgindade de Maria? Parabéns pelo blog.
ResponderExcluirPodemos citar vários sobre a imaculada conceição que amplamente negada:
Excluirhttps://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/papas-e-teologos-medievais-contra.html
https://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/os-pais-da-igreja-e-imaculada-conceicao.html
Sobre a virgindade perpétua - o exemplos mais conhecido foi de Tertuliano que negou a virgindade no parto e pós-parto. Além dele, outros pais da igreja negaram explicitamente a virgindade no parto. Há também Helvídio que debateu com Jerônimo. Além disso, Orígenes e Basílio testemunham que cristãos ortodoxos negavam que Maria permaneceu virgem por toda a vida:
https://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/a-virgindade-perpetua-de-maria-e.html
Se havia controvérsia quanto as doutrinas que se estabeleceram nos Romanos como isso foi possível pois os pais da igreja que eram contra não se opuseram a essas doutrinas, houve uma imposição para ser aceita?
ResponderExcluirNão entendi o sentido da sua pergunta. Os pais da igreja se opuseram às doutrinas citadas. Pegue o caso da Imaculada Conceição, a posição de que Maria cometeu pecados pessoais ou não foi preservada do pecado original foi amplamente manifestada no período patristico. Somente no período escolástica (ser. XII) a preservação do pecado original passou a ser amplamente aceita. Não havia qualquer pai da igreja nesse período, como eles poderi se opor a essa doutrina então? Ainda assim, mesmo entre os teólogos medievais houve resistência - cujo caso notável é Tomás de Aquino.
ExcluirAs doutrinas abraçadas pela Igreja romana levaram séculos para a aparecer e obviamente contaram com oposição. Esse blog documenta fartamente tal fato.