quarta-feira, 15 de março de 2017

A Ausência do Papado em Fontes Primitivas


Uma maneira de estudar o cristianismo primitivo é olhar para ele através dos olhos de seus oponentes. Muitas vezes noto que os primeiros opositores descrevem a religião cristã de uma maneira que contradiz as afirmações católicas romanas sobre a história da igreja. É instrutivo observar o que homens como Trifo, Celso e Caecilio nos falam sobre o cristianismo primitivo e quais argumentos eles usam contra a religião cristã. Também é importante notar como indivíduos como Justino Mártir, Orígenes e Minucio Félix respondem em nome do Cristianismo. Essas primeiras interações entre cristãos e seus críticos nos fornecem muitas evidências contra as reivindicações do catolicismo (e ortodoxia oriental, etc.) sobre a veneração das imagens, a oração aos mortos e outras questões.

Um dos problemas mais importantes para o catolicismo nas primeiras respostas ao cristianismo é a ausência de qualquer referência ao papado. Lembrem-se, os católicos muitas vezes nos dizem o quão importante o papado supostamente seria. Supostamente devemos pensar que é o fundamento da igreja, central para a unidade cristã, uma fonte infalível de ensinamento cristão, e assim por diante. Eles nos dizem como o papado é valioso e quão prático é, como seria uma boa ideia em tantos níveis ter um ofício assim. Muitas nos apontam para João 17:21, como se Jesus estivesse se referindo à unidade denominacional sob o catolicismo romano e o papado. Bem, se precisamos nos submeter ao papado "para que o mundo possa crer" (João 17:21), não deveríamos esperar que o mundo saiba que o papado existe e nos referirmos a ele ao discutir o cristianismo? Não seria isso especialmente verdadeiro nos primeiros séculos da história da igreja, quando, de acordo com muitos católicos, havia uma unidade tão generalizada e consistente sob o papa? E se, em vez de reconhecer tal unidade e responder a ela ao longo das linhas de João 17:21 ou se concentrar no papado como uma das questões mais fundamentais a serem abordados (como seria de esperar se o cristianismo fosse católico romano na época), as primeiras respostas ao cristianismo não mostrassem nenhum conhecimento de que um papado existia e às vezes fazia comentários sugerindo sua inexistência?

Algo que vale a pena considerar neste contexto é o que Celso, um pagão do século II e crítico do cristianismo, disse sobre a desunião cristã e como Orígenes, um cristão, respondeu. Nem Celso e suas fontes judaicas, nem as outras fontes não cristãs mais antigas se referem a um papado. E temos muito mais do que os documentos Diálogo com Trifo de Justino Mártir e Contra Celso de Origenes para citar. Larry Hurtado observa:

Seja qual for o seu sucesso real, é claro que alguns cristãos fizeram esforços impressionantes para divulgar suas obras, não só entre os outros cristãos, mas também mais amplamente. Aqui também é difícil encontrar um esforço equivalente por outros grupos religiosos da época (...) Filo de Alexandria poderia servir como uma espécie de precedente, mas o número absoluto de textos das apologias cristãs é sem precedentes. (Destroyer Of The Gods [Waco, Texas: Baylor University Press, 2016], 132-3, 90, 249)

Homens como Aristides e Tertuliano escreveram apologias em que responderam a objeções ao cristianismo e anteciparam outras possíveis objeções. Eles abordam a divindade de Jesus, seu nascimento virginal, sua ressurreição, a segunda vinda, a inspiração das escrituras, como interpretar várias passagens da escritura, normas morais cristãs, os apóstolos, mestres cristãos, a natureza da igreja e muitos outros tópicos. Todavia, eles não dizem nada sobre um papado, nem para explicá-lo, defendê-lo, antecipar objeções a ele, ou qualquer outra coisa.

Tradução do original aqui.

3 comentários:

  1. Na verdade, o conceito do Papado não só está ausente nas fontes primitivas como também durante todo o primeiro milénio. Veja-se o caso paradigmático de um próprio bispo de Roma, Gregório Magno, que no século VI rejeita horrorizado o título de bispo universal.

    O que há durante o primeiro milénio do cristianismo é episódios de bispos romanos que pretendiam ter mais poder do que aquele que lhes era reconhecido e são prontamente rechaçados pelos demais bispos.

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    1. Sem dúvida....

      O ponto do artigo é demonstrar como esta ausência é relevante. Se existisse algo como o ofício papal na Igreja Primitiva, nós nem estaríamos discutindo sua existência. Isto deixaria provas cabais e irrefutáveis (inclusive nas apologias contra os críticos do cristianismo). O que vemos é exatamente o contrário.

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