terça-feira, 30 de julho de 2019

Os Concílios Ecumênicos de Niceia (325), Constantinopla (381), Calcedônia (451) e a Falibilidade Conciliar



O Concílio de Niceia produziu o seguinte credo em oposição ao arianismo:

Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Ε em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai; Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por quem foram feitas todas as coisas que estão no céu ou na terra. O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem. Padeceu e ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus Ele virá para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo. E quem quer que diga que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia, ou que antes que fosse gerado ele não existia, ou que ele foi criado daquilo que não existia, ou que ele é de uma substância ou essência diferente (do Pai), ou que ele é uma criatura, ou sujeito à mudança ou transformação, todos os que falem assim, são anatematizados pela Igreja Católica.

Todavia, o credo mais comumente referido como Niceno não é o acima. Um outro credo supostamente produzido no Primeiro Concílio de Constantinopla traz o seguinte texto:

Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por quem, foram feitas todas as coisas. O qual por nós homens e para a nossa salvação, desceu dos céus: se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está assentado à direita do Pai. Ele virá novamente, em glória, para julgar os vivos e os mortos; e o Seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas. E na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos; e a vida do mundo vindouro. Amém.

As diferenças entre os dois estão negritadas. É nítido que se tratam de credos diferentes. Observem que o Credo de Constantinopla exclui a porção final do credo de Niceia. A maior parte das diferenças não são significativas, mas a exclusão os trechos finais de cada credo e os trechos “isto é, da substância do Pai; Deus de Deus” (Niceia) e “gerado do Pai antes de todos os séculos” (Constantinopla) são significantes. Eu afirmei que este último credo foi supostamente produzido pelo Concílio de Constantinopla porque não há nenhuma evidência deste texto anterior ao que foi apresentado no Concílio de Calcedônia. Este Concílio decretou:

(...) Nós renovamos o credo inerrante dos pais. Nós proclamamos todo o credo dos 318 [Credo Niceno de 325]; e fizemos pelos nossos próprios pais que concordaram com essa declaração da religião - os 150 que mais tarde se reuniram na grande Constantinopla e puseram seu selo no mesmo credo. (Decretos dos Concílios Ecumênicos, Volume 1, Norman P. Tanner, editor de S.J., 1990, p. 83.)

Dessa forma, sabe-se que o credo de Niceia não é o mesmo de Constantinopla. Além disso, “o primeiro concílio de Constantinopla não era originalmente um concílio geral” (Joseph Pohle, The Trinity, English trans. Arthur Preuss, 1912, p. 129).

Assim, temos um credo de um concílio “ecumênico”, que “não era originalmente um conselho geral”, alterando (por deleção) o Credo Niceno de 325 e o Quarto Concílio Ecumênico declarando equivocadamente que o credo promulgado no Concílio de Constantinopla em 381 era “o mesmo credo” que foi promulgado em Niceia em 325. Esta me parece ser uma forte evidência da falibilidade dos concílios ecumênicos.

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