terça-feira, 8 de março de 2016

Agostinho e o Catolicismo Romano - Parte 4 (Sola Scriptura)



Neste artigo vamos terminar o assunto autoridade em Agostinho. Já demonstramos sua visão a respeito da autoridade da igreja, da tradição, dos concílios e de como ele via a Escritura como a autoridade suprema. Seria possível escrever um livro só com as citações de Agostinho a respeito da autoridade única da Escritura. O Lucas banzoli já escreveu um ótimo artigo onde são catalogadas as principais citações do bispo de Hipona a respeito aqui. Como a intenção desse blog é somar esforços aos já existentes e não ser repetitivo, não traremos todas as citações, quem desejar ver as outras pode conferir no link acima.

A autoridade suprema da Escritura

Em tais termos, poderíamos nos divertir sem medo de ofender um ao outro no campo da Escritura, mas eu poderia muito bem perguntar se a diversão não foi à minha custa. Eu confesso a sua bondade de que eu aprendi a render este respeito e honra apenas aos livros canônicos da Escritura: Desses somente eu mais firmemente tenho acreditado que os autores foram completamente livre de erro. E se nesses escritos eu esteja confuso por qualquer coisa que me parece oposta à verdade, não hesitaria em supor que o manuscrito seja defeituoso, ou o tradutor não pegou o significado do que foi dito, ou eu mesmo tenho falhado em entender isso. (Carta 82 a Jerônimo)

Agostinho discutiu com Jerônimo a respeito do episódio narrado em Gálatas 2, em que Paulo repreende a Pedro. Nenhum dos lados pressupõe que Pedro fosse um papa. Seria esperado que isso fosse mencionado caso acreditassem nessa doutrina. Nenhum dos lados também pressupõe que houvesse uma autoridade interpretativa infalível e vinculante daquele texto. Jerônimo defendia que tudo seria um teatro e Agostinho obviamente discordou dessa interpretação. Nessa discussão, a autoridade da Escritura era suprema para ambos. Agostinho declarou que apenas da Escritura é inerrante, o que implica em sua autoridade suprema.

Você diz que é inacreditável que Paulo tenha repreendido Pedro, já que o próprio Paulo havia feito o mesmo. Não estou no momento perguntando sobre o que Paulo fez, mas sobre o que ele escreveu. Isso é mais pertinente à matéria que tenho na mão, ou seja, a confirmação da verdade universal e inquestionável das divinas Escrituras, que foram entregues a nós para a nossa edificação na fé, e não por homens desconhecidos, mas pelos apóstolos, e tendo a partir desse relato [dos apóstolos] recebido como o padrão canônico autoritário...“ (Ibid)

Em sua exposição da Epístola de Paulo aos Gálatas eu descobri uma coisa que me preocupou muito. Pois se declarações falsas em si mesmas foram admitidas na Sagrada Escritura, que autoridade restará para nós? (Carta 40:3)

A Escritura era o padrão canônico autoritário.

Quem é que se submete a divina Escritura, senão aquele que a lê ou ouve piamente, submetendo a ela como a autoridade suprema? (Do Sermão do Monte, Livro I, 11)

Ou quem além de ti, nosso Deus, fez para nós aquele firmamento de autoridade sobre nós em Sua Escritura divina? Como é dito, pois o Céu vai ser dobrado como um pergaminho; e agora está estendido sobre nós como uma pele. Pois sua divina Escritura é da mais sublime autoridade, uma vez que aqueles mortais a quem Ele dispensou isso a nós foram submetidos à mortalidade. (Confissões, Livro XIII, 15)

Este mediador, tendo falado o que Ele julgou suficiente primeiramente pelos profetas, em seguida por Seus próprios lábios, e depois pelos apóstolos, também produziu a Escritura canônica, que tem autoridade suprema, e à qual nos submetemos assentimento em todos os assuntos. (A Cidade de Deus, Livro XI, 3)

A Escritura não era apenas uma autoridade em pé de igualdade com outras, mas era a autoridade suprema e final, diferente dos católicos romanos que atribuem esse papel ao magistério da igreja. Tradição e magistério eram autoridades subordinadas à Escritura.

A Suficiência Material das Escrituras

Embora essa posição esteja sendo abandonada pelos teólogos católicos nos últimos anos, muitos ainda dizem que a Escritura não tem todas as doutrinas que o cristão necessita para ser salvo e ter vida em Cristo. Frequentemente apelam à tradição como um suplemento doutrinário. Agostinho escreve:

Entre as coisas que são ditas abertamente na Escritura devem ser encontrados todos os ensinos que envolvem a fé, os hábitos de vida, a esperança e a caridade que temos discutido. (A Doutrina Cristã, II:9)

Essa citação testemunha a suficiência material e formal. Todas as coisas quem envolve a fé e a vida estão contidas na Escritura, não de forma obscura ou incompreensível, mas de forma aberta e clara.

Se alguém pregar, seja com referência a Cristo ou à sua igreja, ou a qualquer outro assunto que se refira à nossa fé e vida, não direi se nós, mas sim o que Paulo acrescenta: se um anjo vindo do Céu pregar qualquer coisa além do que recebestes pela Escritura sobre a Lei e os Evangelhos, que seja anátema. (Contra Litteras Petiliani, Livro III, 6)

A implicação é que qualquer doutrina sem uma base escritural deveria ser rejeitada, ou seja, o que foi escrito era suficiente.

Que mais eu vos ensino além do que leio no apóstolo? Pois a Escritura Sagrada fixa a regra para a nossa doutrina, a menos que ousemos ser mais sábios do que devemos (...) Portanto, não devo ensinar-vos qualquer outra coisa, a não ser expor-vos as palavras do Mestre. (De Bono Viduitatis, 2)

A Sagrada Escritura que chamamos canônica, Antigo e Novo Testamento, é a fonte da fé pela qual o justo vive. (A Cidade de Deus, Livro XIX, 18)

Todas essas citações implicam suficiência material e formal, pois Agostinho pressupõe que a Escritura por si mesma instrui o cristão.

Deveis notar e reter particularmente em vossa memória que Deus quis lançar um firme fundamento nas Escrituras contra erros traiçoeiros, um fundamento contra o qual ninguém, que de algum modo fosse considerado cristão, ousasse falar. Porquanto, quando ele se ofereceu ao povo para que o tocasse, isso não o satisfez, exceto se ele também confirmasse o coração dos crentes com base nas Escrituras, pois ele anteviu que o tempo chegaria em que não haveria coisa alguma a tocar, porém teria alguma coisa a ler. (In Epistolam Johannis Tractus, 2)

Agostinho pressupõe que toda pregação de Jesus e por consequência a revelação especial de Deus está guardada na Escritura. Nós não podemos ouvir Jesus diretamente e tocá-lo como os discípulos podiam, mas o que temos hoje para saber o que ele ensinou? As Escrituras. Se Agostinho sustentasse uma tradição suplementar, a menção aqui seria inevitável.

Recebam meus filhos a regra de fé, que é chamada de símbolo [ou credo]. Quando o receberem, escrevam-no em seu coração, e diariamente repitam-no para vocês mesmos ... Pois esse é o credo que vocês devem repetir e responder. Essas palavras que ouvistes estão nas Divinas Escrituras espalhadas de cima a abaixo, mas nele [no credo] estão reduzidas a uma só, de modo que a memória de pessoas lentas não seja afligida, para que cada pessoa possa ser capaz de dizer e capaz de sustentar o que ele acredita. (Sobre o Credo de Nicéia: um sermão aos catecúmenos, 1)

É comum ver católicos argumentarem que a existência do credo é uma prova da insuficiência da Escritura. Lembremos que o credo é o que pais da igreja mais antigos como Irineu, Tertuliano e Orígenes chamavam de tradição apostólica ou regra da fé. Agostinho acreditava que a regra da fé (o credo) nada mais era do que um resumo das Escrituras. O credo visava facilitar aos crentes memorizarem e declararem as doutrinas fundamentais de sua fé, que estavam “nas Divinas Escrituras espalhadas de cima a abaixo”.

A Suficiência Formal das Escrituras

Apologistas católicos mais sofisticados deixaram de atacar a suficiência material e passaram a atacar a suficiência formal, isto é, a ideia de que as verdades necessárias para a salvação e vida em Cristo estão expostas de forma clara nas Escrituras. Ela contém tudo o que é necessário, não de forma obscura, mas de forma clara ou perspicaz. Temos uma série de artigos que mostram quão firmemente os pais da Igreja defenderam a suficiência formal aqui.

E enquanto cada homem pode encontrar lá tudo o que ele aprendeu de útil em outro lugar, ele vai encontrar lá [nas Escrituras] em maior abundância coisas que não se encontram em nenhum outro lugar, mas que podem ser aprendidas apenas na sublimidade e simplicidade maravilhosas das Escrituras. (NPNF1: Vol. II, A Doutrina Cristã, Livro II, Capítulo 42)

Desta forma, os fatos da história cristã iriam provar a verdade da profecia e a profecia provaria as reivindicações de Cristo. Chame de fantasia, se não for realmente o caso de que os homens de todo o mundo têm sido levados e agora são levados a acreditarem em Cristo lendo esses livros. (NPNF1: Vol. IV, Resposta a Fausto o Maniqueu, Livro XVI, §20)

Ele adotou em seu discurso todo o antigo texto das Escrituras. Tudo o que há naquelas antigas Escrituras fala de Cristo; mas somente se ela encontrar ouvidos. Ele também "abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras". Por isso devemos também orar por isso, que Ele abra nosso entendimento. (NPNF1: Vol. VII, Dez Homílias sobre a Primeira Epístola de João, Homilia 2, 1 John 2:12-17, §1)

Portanto, eu tenho nesta carta, que chegou a você, mostrado por passagens da Sagrada Escritura, que você pode examinar por si mesmo, que nossas boas obras e piedosas orações não poderiam existir em nós, a menos que tenhamos recebido tudo a partir dele. (Epístola 214:4)

O Espírito Santo dispôs a Escritura Sagrada de uma forma tão magnificente e proveitosa que, por meio das claras passagens, ele sacia a fome, e por meio das passagens obscuras ele evita a aversão. Porque dificilmente alguma coisa provém das passagens obscuras, mas o que é afirmado em outra parte é mais claro. (Agostinho, citado em Pieper, Christian Dogmatics, p. 324)

A pessoa que lê algum escrito em voz alta para outros obviamente sabe o que está pronunciando, enquanto aquele que ensina as pessoas em classes de alfabetização faz isso para que possam ler. Cada um deles, da mesma maneira, está entregando o que recebeu. Da mesma forma, aqueles que explicam ao público o que eles entendem das Escrituras estão, por assim dizer, realizando o cargo de leitor e pronunciando letras que conhecem, enquanto aqueles que estabelecem regras sobre como elas devem ser entendidas são como a pessoa que alfabetiza, que dá as regras, isto é, sobre como ler. Então, assim como a pessoa que sabe ler não requer outro leitor quando ele se apodera de um volume, para dizer o que está escrito nele, da mesma forma, aqueles que compreenderam as regras que estou me esforçando para passar irão reter um conhecimento destas regras, como letras, quando se depararem com qualquer coisa obscura nos livros sagrados, e não vão exigir que outra pessoa descubra por eles o que está envolto em obscuridade. Em vez disso, seguindo-se certas pistas, eles serão capazes de obter o significado oculto de uma passagem sem qualquer erro, ou, no mínimo, evitar cair em qualquer opinião absurdamente equivocada. (John E. Rotelle, O.S.A., ed., As Obras de Santo Agostinho, Parte I, Vol. 11, trans. Edmund Hill, O.P., De Doctrina Christiana, Prologue §9 (New York: New City Press, 1996), p. 104)

Agostinho tratou em sua famosa obra “Doutrina Cristã” sobre a interpretação bíblica. Ele procura ensinar regras de exegese bíblica que permitiriam aos seus leitores descobrirem o correto significado dos textos. Em nenhum momento ele pressupõe a existência de um intérprete infalível ou diz que seus leitores seriam incapazes de interpretar corretamente. A partir das citações acimas, são vistos todos os elementos da doutrina reformada a respeito da suficiência formal:

(1)  As Escrituras são claras porque cumprem o objetivo divino de salvar o homem. Se assim não fosse, Deus teria falhado em sua missão;
(2)  O bispo também diz que devemos orar pedindo a iluminação do Espírito Santo;
(3)  Passagens obscuras são esclarecidas por outras mais claras;
(4)  Os leitores poderiam por si mesmo chegar às verdades bíblicas;
(5)  A Escritura em si mesma possui função magisterial.

A confirmação dos estudiosos

Traremos o testemunho de vários estudiosos sobre a visão de Agostinho da autoridade. Como temos feito em outros artigos, privilegiamos os estudiosos católicos romanos.

Robert Eno, um católico romano especialista em Agostinho, escreve:

Na visão de Agostinho, havia uma hierarquia definida de autoridades. À Sagrada Escritura foi atribuída a mais alta autoridade para a determinação do ensino. Depois da Escritura vinha a tradição e a prática da Igreja universal. Finalmente, havia os órgãos de autoridade dentro da Igreja que possuía poderes de decisão. O mais notável desses órgãos era o "concílio plenário da Igreja universal". Além disso, dentro de qualquer processo teológico, a razão desempenhou um papel importante, embora subordinado ... Concílios também estão subordinados à Escritura ... Em outros lugares, o bispo de Hipona observou que tanto católicos como donatistas estavam de acordo sobre a supremacia da Escritura .... Mas Agostinho, recorde-se, subordina tudo às Escrituras, não só os escritos de bispos influentes como Cipriano, mas também costumes da igreja universal. (Doctrinal Authority In Saint Augustine, Augustinian Studies, Vol. 12 - 1981, pp. 133-134, 138-139, 141, 144-145, 149, 158)

Eno confirma o que vimos em nossos estudos. Agostinho defendia uma hierarquia de autoridades, na qual a Escritura era final e suprema. O também especialista em Agostinho A.D.R. Polman escreve:

Desde os seus primeiros escritos em diante, St. Agostinho foi claramente e plenamente convencido da autoridade divina da Sagrada Escritura, e não reconhecia nenhuma autoridade acima dela. Em seu famoso debate com Jerônimo, ele observou que a Escritura deve ser colocada no mais alto ápice da autoridade. (A.D.R. Polman, The Word of God According to St. Augustine, Grand Rapids: Eerdmans, 1961, p.63)

O também católico romano Louis Bouyer escreve:

Os padres da Igreja, St. Agostinho acima de tudo, eles próprios praticaram essa devoção derivada da Escritura, cujo ideal os protestantes constantemente apoiaram; eles dificilmente conheciam algum outro. Sem dúvida eles foram muito mais cuidadosos do que muitos protestantes em não isolar a Palavra de Deus em sua forma estabelecida na Escritura de sua forma viva na Igreja, sobretudo na liturgia. Mas, feita esta reserva ... eles não eram menos entusiastas ou insistente ou formais, em recomendar esse uso da Escritura e realmente promovê-lo. Particularmente de St. João Crisóstomo pode-se reunir exortações e prescrições redigidas em termos mais forçados. Eles têm sido muitas vezes lembrados por aqueles protestantes, a partir do século XVI em diante, o melhor fundamento na antiguidade cristã. Seria impossível encontrar mesmo entre os protestantes declarações mais abrangentes do que aquelas abundantes em St. Jerônimo: Ignoratio scripturarum, ignoratio Christi é sem dúvida a mais lapidar, mas não necessariamente a mais explícita. (Louis Bouyer, The Spirit and Forms of Protestantism (Cleveland: World Publishing, 1964), pp. 129, 132–133. Translated by A.V. Littledale. First published by Les Editions du Cerf, Paris, 1954)

O famoso medievalista Jacques Le Goff disse:

Como sacerdote, bispo e intelectual cristão, Agostinho estava convencido de que a Bíblia era o "fundamento" de todos os ensinamentos religiosos ... Onde a Bíblia não é clara, nada de concreto pode ser afirmado ... (Jacques Le Goff, The Birth of Purgatory, trans. Arthur Goldhammer (Chicago: The University of Chicago Press, 1984), p.63)

Terminamos nossos artigos sobre a visão de Agostinho sobre a autoridade. Em conclusão, podemos dizer que ele adotou o que poderia ser chamado de posição reformada sobre a autoridade. A Escritura era a única autoridade infalível, sendo o juiz final e supremo das controvérsias doutrinárias. A igreja tinha autoridade, que era exercida em última instância pelo concílio plenário. As tradições eclesiásticas eram importantes e influenciavam as opiniões teológicas de Agostinho. O consenso universal da igreja com relação a certos costumes também era autoritário. Porém, todos esses eram autoridades subordinadas à Escritura.

No próximo artigo de nossa série vamos tratar da mariologia de Agostinho.

10 comentários:

  1. O que tem haver as escrituras serem "fonte de fé" ou "autoridade sumprema" com a doutrina "SOMENTE AS ESCRITURAS" inventada por Lutero?
    Mesmo que tudo estivesse nas escrituras, ainda assim é necessário uma autoridade extra bíblica infalível para explica-las pois cada pessoa interpreta de um jeito, assim como houve uma autoridade infalível para escreve-las e uma autoridade extra bíblica para reconhecer quais livros eram sagrados dentre centenas de apócrifas. Agostinho nunca foi adepto da sola scriptura, isso é uma ilusão protestante:

    “Acredito que esta prática venha da TRADIÇÃO APOSTÓLICA, ASSIM COMO TANTAS OUTRAS PRÁTICAS NÃO ENCONTRADAS NOS ESCRITOS DELES NEM NOS CONCÍLIOS DE SEUS SUCESSORES,...” (Santo Agostinho, Batismo 5,23-31)

    E esta é A TRADIÇÃO FIRME DA IGREJA CATÓLICA, EM RELAÇÃO AO BATISMO DE CRIANÇAS, que certamente não puderem ainda "com o coração para crer para justiça e com a boca para fazer confissão para a salvação"...(santo agostinho, on baptism, against the donatists – book iv,23)

    "...Contudo, não deve ser objeto de desprezo o costume da mãe Igreja em batizar as crianças, e de forma alguma considerá-lo supérfluo, E NÃO DEVERIA SER CONSIDERADO SE NÃO FOSSE UMA TRADIÇÃO APOSTÓLICA..." – (Santo Agostinho, Comentário ao Gênesis, Livro X, XXIII, 39)

    “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse A AUTORIDADE DA IGREJA CATÓLICA.” (Contra a Carta de Mani 5,6)

    “Mas com relação àquelas observâncias que seguimos cuidadosamente e que o mundo todo mantém, E QUE NÃO VEM DA ESCRITURA, MAS DA TRADIÇÃO, é-nos concedido compreender que foi ordenado e recomendado que a guardássemos seja pelos próprios apóstolos, seja pelos Concílios plenários, a autoridade que é tão vital para a Igreja.” (Carta a Januário, I).

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    1. “O que tem haver as escrituras serem "fonte de fé" ou "autoridade sumprema" com a doutrina "SOMENTE AS ESCRITURAS" inventada por Lutero?”

      Tem a ver com o fato de que ser a autoridade suprema é a definição da Sola Scriptura – uma doutrina que não foi inventada por Lutero, mas amplamente defendida pelos pais da igreja, cujo exemplo notável foi Agostinho. “Somente as Escrituras” deve ser lida a luz da frase qualificadora que vem adiante “é uma regra infalível de fé”. Os reformadores não afirmavam que a Escritura era a única autoridade. Eles reconheciam a autoridade da igreja e da tradição, mas afirmam que essas eram subordinadas à autoridade final e suprema das Escrituras. Se existe outra autoridade infalível como um corpo de doutrinas apostólicas extra-bíblicas passadas através da tradição ou um magistério infalível, parece que os pais da igreja não sabiam disso.
      Você como um católico romano não pode afirmar juntamente com Agostinho que a Escritura é a autoridade suprema. No catolicismo romano, a Escritura é apenas uma das autoridades, e sequer é suprema. A autoridade suprema é o magistério, pois a Escritura não fala por si mesma. Ela só pode dizer o que o magistério romano diz que ela diz.

      “Mesmo que tudo estivesse nas escrituras, ainda assim é necessário uma autoridade extra bíblica infalível para explica-las pois cada pessoa interpreta de um jeito, assim como houve uma autoridade infalível para escreve-las e uma autoridade extra bíblica para reconhecer quais livros eram sagrados dentre centenas de apócrifas. Agostinho nunca foi adepto da sola scriptura, isso é uma ilusão protestante:”

      Daria para escrever um livro só apontando os problemas do seu argumento. Ai vão os principais:

      (1) Se precisamos de uma autoridade infalível para explicar as Escrituras, pois as pessoas podem interpretá-la de forma divergente, quem interpreta infalivelmente as palavras do magistério? Ao longo da história os católicos têm interpretado de forma divergente as palavras do magistério. Você saberia dizer por exemplo se o Concílio de Trento ensinou a insuficiência material da Escritura? Teólogos católicos divergem sobre esse ponto. Afinal, existe salvação fora da ICAR? A liberdade de culto e consciência é algo louvável ou ruim? Os últimos papas são hereges apóstatas como afirmam os sedevacantistas? Essas são apenas algumas questões que suscitam interpretações divergentes;

      (2) Se precisamos do magistério infalível para explicar a interpretação da Escritura, onde está essa explicação infalível? Até hoje, a igreja romana não produziu um comentário bíblico infalível ou até mesmo um catecismo infalível. Os mais otimistas afirmam o magistério trouxe a interpretação infalível de no máximo 12 textos bíblicos. Dessa forma, pela lógica do seu argumento, o magistério romano não pode ser esse guia infalível, pois ao longo de vários séculos, ele falhou em cumprir sua função. Você, como católico romano, depende do livre exame para interpretar 99% do conteúdo bíblico. E mais, nenhum magistério na história produziu isso. Dessa forma, com base no seu argumento, não existe nenhum magistério infalível de fato, pois nenhum deles seria capaz de afastar a necessidade de um intérprete falível no fim das contas;

      (3) Se precisamos de um magistério infalível para nos é ou que dizer o que a Bíblia ela diz, mas importante seria termos um magistério infalível para nos dizer quem é o verdadeiro magistério. Há várias igrejas reclamando serem a verdadeira e estar ensinando a verdade. Qual delas é a verdadeira? Para responder essa pergunta você tem duas opções: (a) ou afirma que a igreja romana infalivelmente definiu que ela própria é a verdadeira e cai num raciocínio circular ou (b) afirma que você chegou a essa conclusão através da investigação da história e da Escritura, ou seja, usando o seu falível julgamento privado. Nem é preciso dizer que nesse segundo caso, você estará operado sob um paradigma protestante;

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    2. (cont...)

      (4) Você pode nos dizer quais são todas as declarações infalíveis que o magistério romano produziu? Já lhe adianto que ninguém sabe ao certo. Os mais otimistas dizem que foram 12, os mais pessimistas apenas 2. Veja que até para determinar quando há uma declaração infalível/falível você depende do seu livre exame falível. Dessa forma, que valor há num magistério quem além de ter produzido pouquíssimas declarações infalíveis, sequer criou um cânon dessas declarações?

      (5) A ideia que algum bispo iria infalivelmente manter a doutrina apostólica pelos séculos dos séculos é anti-bíblica e anti-histórica. Ninguém no primeiro milênio ousou falar que o bispo de Roma era infalível. Você não encontrará essa doutrina em nenhum pai da igreja, muito menos Agostinho. A Escritura por sua vez não aponta para nenhum magistério infalível após os apóstolos. Portanto, a posição católica romana é insustentável.

      “Agostinho nunca foi adepto da sola scriptura, isso é uma ilusão protestante”

      Veremos abaixo. Entre as centenas de citação que poderia trazer, destaco algumas:
      Infalibilidade somente das Escrituras:

      Em tais termos, poderíamos nos divertir sem medo de ofender um ao outro no campo da Escritura, mas eu poderia muito bem perguntar se a diversão não foi à minha custa. Eu confesso a sua bondade de que eu aprendi a render este respeito e honra apenas aos livros canônicos da Escritura: Desses somente eu mais firmemente tenho acreditado que os autores foram completamente livre de erro. E se nesses escritos eu esteja confuso por qualquer coisa que me parece oposta à verdade, não hesitaria em supor que o manuscrito seja defeituoso, ou o tradutor não pegou o significado do que foi dito, ou eu mesmo tenho falhado em entender isso. (Carta 82 a Jerônimo)

      Parece que Agostinho esqueceu o bispo romano que também era infalível. Sobre a suficiência material:

      Entre as coisas que são ditas abertamente na Escritura devem ser encontrados todos os ensinos que envolvem a fé, os hábitos de vida, a esperança e a caridade que temos discutido. (A Doutrina Cristã, II:9)

      Essa citação testemunha a suficiência material e formal. Todas as coisas quem envolve a fé e a vida estão contidas na Escritura, não de forma obscura ou incompreensível, mas de forma aberta e clara.

      Se alguém pregar, seja com referência a Cristo ou à sua igreja, ou a qualquer outro assunto que se refira à nossa fé e vida, não direi se nós, mas sim o que Paulo acrescenta: se um anjo vindo do Céu pregar qualquer coisa além do que recebestes pela Escritura sobre a Lei e os Evangelhos, que seja anátema. (Contra Litteras Petiliani, Livro III, 6)

      Pregar qualquer coisa que não conste dos livros canônicos implica em anátema, logo, todas as doutrinas devem estar na Escritura. Sobre a Suficiência Formal que você negou ao dizer precisamos do magistério infalível:

      O Espírito Santo dispôs a Escritura Sagrada de uma forma tão magnificente e proveitosa que, por meio das claras passagens, ele sacia a fome, e por meio das passagens obscuras ele evita a aversão. Porque dificilmente alguma coisa provém das passagens obscuras, mas o que é afirmado em outra parte é mais claro. (Agostinho, citado em Pieper, Christian Dogmatics, p. 324)

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    3. As coisas necessárias são ensinadas de forma clara.

      A pessoa que lê algum escrito em voz alta para outros obviamente sabe o que está pronunciando, enquanto aquele que ensina as pessoas em classes de alfabetização faz isso para que possam ler. Cada um deles, da mesma maneira, está entregando o que recebeu. Da mesma forma, aqueles que explicam ao público o que eles entendem das Escrituras estão, por assim dizer, realizando o cargo de leitor e pronunciando letras que conhecem, enquanto aqueles que estabelecem regras sobre como elas devem ser entendidas são como a pessoa que alfabetiza, que dá as regras, isto é, sobre como ler. Então, assim como a pessoa que sabe ler não requer outro leitor quando ele se apodera de um volume, para dizer o que está escrito nele, da mesma forma, aqueles que compreenderam as regras que estou me esforçando para passar irão reter um conhecimento destas regras, como letras, quando se depararem com qualquer coisa obscura nos livros sagrados, e não vão exigir que outra pessoa descubra por eles o que está envolto em obscuridade. Em vez disso, seguindo-se certas pistas, eles serão capazes de obter o significado oculto de uma passagem sem qualquer erro, ou, no mínimo, evitar cair em qualquer opinião absurdamente equivocada. (John E. Rotelle, O.S.A., ed., As Obras de Santo Agostinho, Parte I, Vol. 11, trans. Edmund Hill, O.P., De Doctrina Christiana, Prologue §9 (New York: New City Press, 1996), p. 104)

      Os leitores da Escritura poderiam sem a assistência de um magistério infalível através das ferramentas exegéticas corretas compreender os escritos sagrados. É notável que em sua sobre “A Doutrina Cristã”, Agostinho fala bastante sobre como interpretar as Escrituras, mas em nenhum momento aponta para um magistério infalível liderado pelo bispo romano que traria a interpretação definitiva. Ou Agostinho era um péssimo professor ao ignorar uma doutrina tão fundamental, ou ele realmente desconhecia essa doutrina. Até mesmo os concílios estavam sujeitos a autoridade maior das Escrituras:

      Nem eu para prejudicar-te devo argüir com o Concílio de Niceia, nem tu a mim deves argüir com o Concílio de Rímini, como se tivesse de decidir a questão antecipadamente. Nem estou sujeito à autoridade deste, nem estás sujeito à autoridade daquele. Pelas autoridades das Escrituras, não pelas pessoais de cada um desses dois Concílios, mas pelas que são comuns a um e ao outro, dispute coisa com coisa, causa com causa, razão com razão. (Contra Maximino e Ário, II, XIV, 3)

      Sobre o papado. Veja o que um estudioso católico romano (Robert Eno) especialista em Agostinho escreveu:

      Em outro lugar eu argumentei em detalhes a visão de Agostinho sobre a autoridade na Igreja e que, na minha opinião, o concílio [não o Papa] foi o principal instrumento para resolução de controvérsias .... Eu acredito que Agostinho tinha grande respeito pela igreja romana cuja antiguidade e origens apostólicas ofuscou, de longe, outras igrejas no Ocidente. Mas assim como em Cipriano, a tradição colegial e conciliar africana foi preferida na maioria das vezes. (The Rise of the papado [Wilmington, Delaware: Michael Glazier, 1990]., p. 79)
      Eno também escreve:

      É claro que Agostinho tinha um respeito genuíno para a posição da igreja de Roma na Igreja universal. Na verdade, seus pontos de vista eram provavelmente mais amigáveis do que os de muitos de seus colegas africanos. Agostinho, afinal de contas, tinha um conhecimento pessoal da cidade, bem como de alguns clérigos romanos. Não obstante, sua ação na crise pelagiana não alterou sua visão básica do concílio plenário como a última instância em disputas na Igreja, nem a sua visão da atividade conciliar em geral como o caminho comum para resolver problemas intra-eclesiais além do nível da igreja local (...) Pedro foi o primeiro dos Apóstolos, segurando o Principatus do Apostolado. Mas, qualquer Apóstolo seria maior do que qualquer bispo como o Apostolado é maior do que o episcopado. (“Doctrinal Authority In Saint Augustine", Augustinian Studies, Vol. 12 - 1981, pp. 171)

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    4. (Cont...)

      Sobre a relação da Igreja com a Escritura, Agostinho não adotou seu paradigma. Não é a igreja quem autentica a Escritura, mas a Escritura quem autentica a igreja:

      Não deixe que estas palavras sejam ouvidas entre nós "eu digo" ou "você diz", mas vamos ouvir "Assim diz o Senhor"; pois há certos livros de nosso Senhor em cuja autoridade ambos os lados concordam; lá vamos procurar nossa Igreja, lá vamos julgar a nossa causa. Deixemos que sejam removidas de nosso meio as coisas que citamos uns contra os outros, não com apoio nos livros canônicos divinos, mas de outras fontes quaisquer. Talvez alguém possa perguntar: Por que desejais remover essas coisas do vosso meio? Porque não queremos a santa igreja aprovada por documentos humanos, mas sim pelos oráculos divinos. (Ibid., cap. 3, §5)

      Em sua controvérsia com os donatistas, ele nunca os acusou de estarem fora da igreja por não estar em comunhão com o bispo de Roma. Não era um suposto magistério romano que resolveria a contenda entre eles, mas a autoridade suprema, a Escritura.

      Você também afirmou que a igreja infalivelmente determina os livros que são ou não Escritura. Essa é uma falácia que diminui a honra a Deus. Quem determinou o cânon foi Deus, foi ele que decidiu inspirar certos e livros e não inspirar outros. A igreja apenas reconhece o que já era uma realidade objetiva. Se o seu argumento fosse verdadeiro, teríamos que admitir que ninguém conhecia de fato o cânon até o séc. XVI (quando o Concílio de Trento definiu a questão). Ocorre que os pais da igreja assim como Agostinho já tinham certos livros como canônicos sem essa suposta decisão infalível:

      Na questão das Escrituras canônicas, ele deve seguir a autoridade do maior número de igrejas católicas, entre as quais estão aquelas que merecem ocupar assentos apostólicos e receber epístolas. Ele observará essa regra a respeito das Escrituras canônicas: preferirá aqueles pontos aceitos por todas as igrejas católicas, e não as que alguns não aceitam; entre aqueles que não são aceitos por todos, ele deve preferir aqueles que são aceitos pelo maior número de igrejas importantes, em vez de apoiados por poucas igrejas pequenas de autoridade inferior. Se ele descobrir que alguns são mantidos pela maioria das igrejas, outros pelas igrejas de autoridade com maior peso, ainda que esta condição não seja plausível, deve manter para que haja igual valor. (On Christian Doctrine, Livro 2, seção VIII (Nova York: Liberal Arts Press, 1958), p. 41)

      Agostinho apelou ao reconhecimento corporativo do cânon. Ele não menciona uma autoridade infalível que tivesse dado a lista correta, muito menos o bispo romano. A ideia que só podemos saber o cânon graças a uma autoridade extra-bíblica infalível não passava pela cabeça dele.
      Diante da evidência, até mesmo o católico romano Robert Eno:

      Na visão de Agostinho, havia uma hierarquia definida de autoridades. À Sagrada Escritura foi atribuída a mais alta autoridade para a determinação do ensino. Depois da Escritura vinha a tradição e a prática da Igreja universal. Finalmente, havia os órgãos de autoridade dentro da Igreja que possuía poderes de decisão. O mais notável desses órgãos era o "concílio plenário da Igreja universal". Além disso, dentro de qualquer processo teológico, a razão desempenhou um papel importante, embora subordinado ... Concílios também estão subordinados à Escritura ... Em outros lugares, o bispo de Hipona observou que tanto católicos como donatistas estavam de acordo sobre a supremacia da Escritura .... Mas Agostinho, recorde-se, subordina tudo às Escrituras, não só os escritos de bispos influentes como Cipriano, mas também costumes da igreja universal. (Doctrinal Authority In Saint Augustine, Augustinian Studies, Vol. 12 - 1981, pp. 133-134, 138-139, 141, 144-145, 149, 158)

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    5. Escritura >>>> tradição (prática universal da igreja) >>>>>> concílios ( a maior instância de autoridade na igreja. Agostinho acreditava numa hierarquia de autoridades que está de acordo com a doutrina reformada da Sola Scriptura.

      “Acredito que esta prática venha da TRADIÇÃO APOSTÓLICA, ASSIM COMO TANTAS OUTRAS PRÁTICAS NÃO ENCONTRADAS NOS ESCRITOS DELES NEM NOS CONCÍLIOS DE SEUS SUCESSORES,...” (Santo Agostinho, Batismo 5,23-31)

      E esta é A TRADIÇÃO FIRME DA IGREJA CATÓLICA, EM RELAÇÃO AO BATISMO DE CRIANÇAS, que certamente não puderem ainda "com o coração para crer para justiça e com a boca para fazer confissão para a salvação"...(santo agostinho, on baptism, against the donatists – book iv,23)

      "...Contudo, não deve ser objeto de desprezo o costume da mãe Igreja em batizar as crianças, e de forma alguma considerá-lo supérfluo, E NÃO DEVERIA SER CONSIDERADO SE NÃO FOSSE UMA TRADIÇÃO APOSTÓLICA..." – (Santo Agostinho, Comentário ao Gênesis, Livro X, XXIII, 39)

      “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse A AUTORIDADE DA IGREJA CATÓLICA.” (Contra a Carta de Mani 5,6)

      “Mas com relação àquelas observâncias que seguimos cuidadosamente e que o mundo todo mantém, E QUE NÃO VEM DA ESCRITURA, MAS DA TRADIÇÃO, é-nos concedido compreender que foi ordenado e recomendado que a guardássemos seja pelos próprios apóstolos, seja pelos Concílios plenários, a autoridade que é tão vital para a Igreja.” (Carta a Januário, I).

      Você não lidou com nenhuma das citações de Agostinho a favor da Sola Scriptura e então copiando do site católico que eu respondi nessa série traz qualquer citação que traga a palavrinha tradição sem sequer trazer o sentido no qual a palavra foi utilizado. Eu analisei todas essas citações, trazendo o respectivo contexto, e demonstrando que nenhuma delas contraria a Sola Scriptura. Recomendo que leia toda a série, especialmente as partes 1 a 4 que tratam da autoridade. Especificamente sobre essas citações, leia as partes 2 e 3:

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/03/agostinho-e-o-catolicismo-romano-parte.html

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/03/agostinho-e-o-catolicismo-romano-parte_7.html

      Em nenhum dessas citações, Agostinho afirma uma igreja ou magistério infalível, ou afirma uma tradição com doutrinas preservadas fora da Escritura ou uma interpretação infalível da própria Escritura. Quando ele usa o termo tradição, muitas vezes se refere a doutrinas bíblicas ensinadas pela igreja como a trindade por exemplo. Quando ele se refere a algo que não foi escrito, se refere a costumes mantidos pela igreja e não a doutrinas. Nada do que você trouxe prova que ele tinha outra regra infalível de fé além da Escritura sagrada.

      Agradeço pelos seus comentários.

      Fique na PAZ!

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  2. Não existe insubordinação entre a tradição e as escrituras, pois ambas se completam, ambas são palavras de Deus. É totalmente impossível entender integralmente as escrituras sem conhecer a tradição cristã, sendo que a bíblia não é auto explicativa, ou seja, não basta ler pra entender. Pela tradição, que a igreja explica o que foi escrito. Agostinho já dizia: “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse A AUTORIDADE DA IGREJA CATÓLICA.” (Contra a Carta de Mani 5,6)”. Veja que o próprio Agostinho fala, que crer nas escrituras devido autoridade infalível que recebeu a igreja, pois só a igreja é que distingui “palavra de Deus” de “heresia”.

    Nós cremos que o magistério iniciou-se com os apóstolos e se perpetua em seus sucessores legitimamente ordenados. Sendo assim, se vc crer na bíblia, é porque inevitavelmente crer em quem escreveu oras, ou seja, crer primeiro nos autores sagrados (magistério). O papel aceita tudo, e é o magistério quem escreve, e diz o que é palavra de Deus e o que é heresia, é algo lógico e racional. O grande equívoco protestante é o fundamentalismo, de fazer uma interpretação da Bíblia somente a partir do que está escrito. Mas a Palavra de Deus não está presa à escrita. Para entendermos integralmente as escrituras como palavra divina, devemos estar em comunhão com a Tradição, com o Magistério e com o corpo eclesial. Qualquer coisa fora disso é pessoal.

    Sobre isso São Vicente faz uma clara reflexão:
    ...quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus laços e permanecer sadio e íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, SOB O AUXÍLIO divino, duplamente: com A AUTORIDADE DA LEI DIVINA E COM A TRADIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA. Sem embargo, ALGUÉM PODERIA OBJETAR: Posto que o Cânon das Escrituras é em si mais que suficientemente perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? Precisamente porque a Escritura, por causa de sua mesma sublimidade, NÃO É ENTENDIDA POR TODOS DE MODO IDÊNTICO E UNIVERSAL. De fato, as mesmas palavras são interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Se pode dizer que tantas são as interpretações quantos são os leitores. Vemos por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo , Sabélio de outro, Donato, Eunomio, Macedônio, de outro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinar, Prisciliano, Joviano, Pelágio, Celestino, e em nossos dias, Nestório. É pois, sumamente necessário, ante as múltiplas e arrevesadas tortuosidades do erro, que a interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça seguindo a pauta do sentir católico. (São Vicente, Commonitory, Capítulo 2).”

    Foi por querer interpretar individualmente as escrituras, desconsiderando a tradição e a Igreja, é que surgiram todas essas heresias, como gnosticismo, montanhismo, sabelianismo, arianismo, pelagianismo, nestorianismo, monofisismo, catarismo, protestantismo, jansenismo, etc.

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  3. Como que Agostinho não fala de um magistério? Mais uma vez vc demonstra não conhecer suas obras, mas apenas citações isoladas. Agostinho está sempre falando da autoridade da igreja Católica, de que não podemos desprezar autoridade da igreja em relação ao batismo infantil, a autoridade da igreja que ensina oração pelos mortos, a autoridade da igreja que o levou a crer nos evangelhos. Não somente Agostinho, mas os pais da igreja sempre recorreram a Roma para resolver questões. Agostinho faz diversos apelos a Roma, vc pode ler por exemplo a carta 209 ao Papa Celestino.

    O fato de Agostinho e os pais da Igreja considerarem as escrituras sublimes, não tem nada haver com sola scriptura. Agostinho nunca disse que todas práticas cristãs estão somente na bíblia.

    “Acredito que esta prática venha da TRADIÇÃO APOSTÓLICA, ASSIM COMO TANTAS OUTRAS PRÁTICAS NÃO ENCONTRADAS NOS ESCRITOS DELES NEM NOS CONCÍLIOS DE SEUS SUCESSORES,...” (Santo Agostinho, Batismo 5,23-31)

    Qual parte vc não entendeu de "TANTAS OUTRAS PRÁTICAS FORA DOS ESCRITOS DOS APÓSTOLOS?"
    O próprio Agostinho como vc sabe, ensinava batismo de crianças com base na tradição. Ensinava oração pelos mortos, como já lhe provei no outro artigo, ensinava sobre a primazia de Pedro, entre tantas outras coisas que para o protestantismo não está na bíblia.

    A própria escritura nos fala que nela há coisas difíceis de entender, que podem levar o homem a ruína se forem interpretadas de maneira errada (2PD 3,16). Este versículo já é o suficiente para colocar abaixo o livre exame, e a necessidade de uma autoridade extra bíblica infalível, pois todos nós sabemos que a bíblia é realmente um conjunto de livros complexos, escrito por autores diferentes, em épocas e culturas diferentes e em 3 idiomas diferentes, e que não pode ser entendida apenas lendo.

    Irineu de Lion já dizia que a igreja, pela sucessão ininterrupta, preserva e transmite a explicação que foi ouvida da boca dos apóstolos:
    A verdadeira gnose [conhecimento] é a doutrina dos apóstolos, é a antiga difusão da Igreja em todo o mundo, é o caráter distintivo do Corpo de Cristo que consiste na sucessão dos bispos aos quais foi confiada a Igreja em qualquer lugar ela esteja; é a conservação fiel das Escrituras que chegou até nós, a explicação integral dela, sem acréscimos ou subtrações, a leitura isenta de fraude e em plena conformidade com as Escrituras, explicação correta, harmoniosa, isenta de perigos ou de blasfêmias...(Irineu de Lion, Contra as Heresias - IV, 33-8).

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  4. Agostinho já dizia: Fé sem Razão é nula!
    A sola scriptura é uma doutrina sem a mínima razão e lógica. Primeiro que essa doutrina nem está na própria bíblia, ou seja, refuta a si mesma. A sola scriptura é por tanto anti bíblica!

    Se Cristo queria fundar a religião do livro, então pra que a promessa do Paráclito (Jo 14,16.26; 15,26; 16,7.13) e seu efetivo derramamento (At-2)?
    Para que precisaríamos do Espírito Santo, se tudo já está na Bíblia? O que Ele viria ensinar, se tudo já foi ESCRITO e pode ser interpretado corretamente por qualquer pessoa?

    Além disso a Bíblia não caiu pronta do Céu com ziper e tudo. A Bíblia É uma síntese da pregação dos Apóstolos. Se não fosse a Igreja Católica, com seus monges a copiarem manualmente as Escrituras durante 1.500 anos, onde estaria a Bíblia? Se ela fosse suficiente, como saberíamos a lista dos livros canônicos, se ela não traz a lista deles? Para haver sola scriptura, necessariamente deveria existir uma lista dos livros inspirados existentes, sendo que a bíblia não é um livro, mas um conjunto de livros, sendo ainda que existia centenas de supostos livros inspirados como apocalipse de Pedro, apocalipse de Paulo, evangelho de Tome, etc etc etc.

    Eusébio de Cesareia, 200 anos após a morte dos apóstolos, conta que ainda naquela época não se sabia quais livros sagrados existentes. Ele coloca em dúvida vários livros como 2º e 3º João, 2º Pedro, Hebreus que nem se sabia quem era o autor, e o livro do Apocalipse que era um livro de difícil entendimento. Como então poderia existir sola scriptura?

    Acho que para qualquer pessoa de mediana inteligência, já é o suficiente para entender que a TRADIÇÃO APOSTÓLICA é indispensável para o entendimento da Palavra de Deus. E que essa tradição foi preservada pela hierarquia da igreja de maneira intacta juntamente com as escrituras.

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    Respostas
    1. Respondido aqui:

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/respondendo-objecoes-sola-scriptura.html

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