quinta-feira, 10 de março de 2016

Agostinho e o Catolicismo Romano - Parte 5 (Maria)


Neste artigo iremos analisar o testemunho de Agostinho a respeito dos dogmas marianos e títulos concedidos à Maria pela igreja romana.

Imaculada Concepção

Os apologistas católicos demonstram que Agostinho cria que Maria não cometeu pecados durante sua vida. Eles cometem um erro muito comum que é confundir impecabilidade com concepção imaculada. Esse dogma afirma que Maria foi concebida livre do pecado original e não apenas livre de pecados pessoais. Tomás de Aquino negou a concepção imaculada, ainda assim, sustentava que Maria viveu sem pecados. Agostinho e Ambrósio acreditavam que apenas Jesus foi livre do pecado original, logo, eles negaram essa doutrina:

É, portanto, um fato observado e estabelecido, que nenhum homem nascido de homem e mulher, isto é, por meio de união corporal, pode ser livre do pecado. Todo aquele que, de fato, está livre do pecado, é também livre de uma concepção e nascimento deste tipo. Além disso, conforme exposto no Evangelho segundo Lucas, ele diz: Não foi a coabitação com um marido que abriu os segredos do útero da Virgem; uma vez que foi o Espírito Santo que infundiu a semente imaculada em seu ventre não violado. Pois dos que nasceram de mulher, somente o Senhor Jesus é santo, na medida em que Ele não experimentou contato com a corrupção terrena, devido à novidade do Seu nascimento imaculado; Não, ele repeliu-o por sua majestade celestial (Sobre a graça de Cristo e sobre o pecado original – capítulo 47)

Agostinho também escreve:

Sendo este o caso, desde o momento quando por um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, e assim passou para todos os homens até o final desta geração carnal e destruição do mundo, das crianças que eles geram e são geradas, nunca existiu nem existirá um ser humano que, colocado nessa vida, pode-se dizer que não tenha nenhum pecado, com exceção do único Mediador, que nos reconciliou ao nosso Criador através do perdão dos pecados. (NPNF1: Vol. V, On Merits and Forgiveness of Sins, and on the Baptism of Infants, Book II, Chapter 47)

Ele cita com aprovação as seguintes palavras de Ambrósio:

Pois dentre os nascidos de mulher, Jesus é o único que é santo em todas as coisas. Ele foi o único que não experimentou os contágios de corrupção terrena pela novidade de seu nascimento imaculado, em função de sua majestade celestial. (Contra Juliano, Livro I, 10)

Ambrósio escreve:

Vamos, portanto, considerar se o Espírito Santo tem alguma destas marcas que possam testemunhar a sua divindade. E primeiro vamos tratar do ponto de que ninguém está sem pecado senão Deus, e exigir que eles provem que o Espírito Santo tem pecado. (NPNF2: Vol. X, On the Holy Spirit, Book III, Chapter 18, §134)

As citações de Ambrósio trazidas pelo site apologistas católicos provam que ele foi santificada pela graça e viveu sem pecados, mas não provam a concepção imaculada. Para Agostinho, o nascimento de Jesus era uma novidade, portanto, o nascimento de Maria não poderia ter sido imaculado. J.N.D Kelly afirma:

Agostinho negou a possibilidade de todos os outros homens, mas concordou que Maria era a única exceção; ela havia sido mantida sem pecado, no entanto, não pelo esforço de sua própria vontade, mas como resultado da graça dada a ela em vista da encarnação. Por outro lado, ele não defende (como por vezes tem sido alegado) que ela nasceu isenta de toda mancha de pecado original (a doutrina posterior da imaculada conceição) ... Maria de fato tinha nascido sujeita ao pecado original assim como todos os outros seres humanos; mas tinha sido entregue a partir de seus efeitos ‘pela graça do renascimento. (J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrine, [HarperOne, 1978], p. 497)

O erudito católico Bonifácio Ramsey admite:

Nós ainda não encontramos as doutrinas da imaculada conceição de Maria e sua assunção em Ambrósio. (Boniface Ramsey, Ambrose, [Routledge, 1997], p. 51)

Nesta mesma linha, o historiador reformado Philip Schaff observa que:

Em uma observação incidental contra Pelágio, ele concordou com ele excetuando Maria, do real (mas não do original) pecado (...) Ele ensinou que Maria nasceu e viveu sem pecado, mas não ensinou sua imaculada conceição (...) Ela foi santificada por uma operação especial do Espírito Santo antes de seu nascimento. (Philip Schaff, History of the Christian Church, vol. 3, [Hendrickson, 2011], pp. 418, 419)

O católico Luigi Gambero escreve:

Sem dúvida, ele exclui qualquer pecado pessoal de Maria. É possível supor que Agostinho também pretende excluir o pecado original? Para nós parece mais seguro adotar a posição contrária, que é defendida por muitos especialistas e parece estar mais de acordo com os numerosos textos agostinianos. (Luigi Gambero, Mary and the Fathers of the Church: The Blessed Virgin Mary in Patristic Thought, [Ignatius Press, 1999], p. 226)

Outro estudioso católico-romano que concorda com isso é Peter M. Fehlner, que admite:

A sua [de Agostinho] resposta ao ponto específico não diz que Maria é inoxidável na concepção; ao contrário, ele deixa a porta aberta para uma santificação libertadora no útero. Ele escreveu: ‘Nós não entregamos Maria ao diabo pela condição de seu nascimento; por esta razão, sua própria condição encontra uma solução na graça do renascimento. (Peter M. Fehlner, The Virgin Mother’s Predestination and Immaculate Conception, ed. Mark I. Miravalle, Mariology: A Guide for Priests, Deacons, Seminarians, and Consecrated Persons, [Mark I. Miravalle, S.T.D., 2007], p. 248)

Afirmando o mesmo, o apologista católico Peter M. Stravinskas disse:

Agostinho acreditava que Maria estava no domínio do pecado original. (Peter M. Stravinskas, The Catholic Answer Book of Mary, [Our Sunday Visitor Publishing, 2000 ], p. 50)

Assunção de Maria

Esse é um dogma mariano sem qualquer fundamentação histórica. Sua fonte é a literatura apócrifa do séc. IV. Agostinho falou sobre Maria em diferentes obras e contextos, mas não faz qualquer menção a esse dogma. Se ele de fato sustentasse a mariologia católica romana, um fato tão importante jamais passaria despercebido. O maniqueu Fausto escreve em sua resposta a Agostinho:

Além disso, não é apenas Elias, mas também Moisés e Enoque que você acredita serem imortais, e terem ascendido com seus corpos para o céu. (Citado em Agostinho, resposta a Fausto o maniqueísta, 26:1)

Em outra ocasião, Agostinho menciona que as pessoas às vezes perguntavam para onde os seres humanos que foram corporalmente tirados da terra iriam (A graça de Cristo e o pecado original, 2:27). Ele menciona que as pessoas perguntavam sobre Enoque, Elias e Paulo, mas, mais uma vez, Maria não é mencionada. Em vários contextos propícios, o bispo de Hipona poderia ter afirmado sua crença na assunção de Maria, mas não o fez. O papa Pio XII, ao definir o dogma da assunção, escreve:

Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. (Fonte)

Os católicos frequentemente citam as passagens acima e afirmam que a arca da aliança era figura de Maria. Agostinho não detinha essa interpretação. Ele entendia que a arca era figura da Igreja:

"Levanta-te, ó Senhor, toma teu lugar de descanso" (v. 8). Ele disse ao Senhor adormecido, "Levanta-te". Sabemos que dormia e que ressuscitou ... '"Tu e a arca de vossa santificação": Quer dizer levanta-te a arca da tua santificação, que Tu santificaste, e pode levantar também. Ele é o nosso chefe, Sua arca é a Sua Igreja: Ele levantou primeiro, a Igreja irá levantar também. O corpo não se atreveria a prometer sua própria ressurreição, salvo se a cabeça levantasse antes. O corpo de Cristo, que nasceu de Maria, tem sido entendido por alguns como a arca de santificação, de modo que as palavras significam: Levanta-te com o teu corpo, para aqueles que não acreditam possam tocar. (Comentários dos Salmos 132:8)

Ele ainda menciona que alguns interpretavam a arca como o corpo de Cristo, mas ao que parece, desconhecia que alguém interpretasse como sendo Maria. Nota-se que Maria foi mencionada nesse contexto, ainda assim, ele não relacionou a arca a ela. Pio XII ainda afirmou: “Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica”.

Em contraste, o historiador protestante Philip Schaff escreve:

Ela [a Assunção de Maria] repousa, no entanto, sobre uma base puramente apócrifa. O inteiro silêncio dos apóstolos e dos professores da igreja primitiva relacionado à partida de Maria incitou a curiosidade para todos os tipos de invenções, ao ponto de uma tradução sobre Enoque e Elias foi atribuída a ela. No tempo de Orígenes alguns inferiram de Lucas 2:35, que ela havia sofrido martírio. Epifânio não vai decidir se ela morreu e foi sepultado ou não. Dois escritos apócrifos gregos de transitu Mariae, do fim do quarto ou do início do século V, e depois pseudo-Dionísio o aeropagita e Gregório de Tours († 595), pela primeira vez, contêm a lenda que a alma da mãe de Deus foi transportada para o paraíso celestial por Cristo e seus anjos na presença de todos os apóstolos, e na manhã seguinte o corpo dela também teria sido transladado para lá em uma nuvem e ali se uniu com a alma. Posteriormente, a lenda foi ainda mais embelezada, e além dos apóstolos, os anjos e os patriarcas também, até mesmo Adão e Eva, foram feitas testemunhas do espetáculo maravilhoso. (seção 83)

Eric Svendsen afirma que Agostinho defendia que a mulher em Apocalipse 12 era o povo de Deus e não Maria:

Agostinho representa um escritor do século V que detém de forma inequívoca a visão do "povo de Deus" em Apocalipse 12. (Eric Svendsen, Who Is My Mother? [Amityville, New York: Calvary Press, 2001], pp. 203)

E nisso que se baseia o dogma que faz os que duvidam naufragarem da fé divina – uma lenda.

Maria Mãe de Deus

O site veritatis traz a seguinte citação espúria de Agostinho: "Maria é Mãe de Deus, feita pela mão de Deus" (S. Agost. in orat. ad heres). Esse artigo deveria ser urgentemente revisado, pois traz vários testemunhos espúrios. Eles apontam Dionísio o aeropagita, quando é sabido que a obra em questão é apócrifa. Também apontam o testemunho dos apóstolos André, João e Tiago, quando é sabido por todos que essas palavras são de fontes não escritas por eles e sem nenhuma confiabilidade histórica. Outra citação espúria de Agostinho consta do livro “Glórias de Maria” de Afonso de Ligório. A citação que seria do sermão 208 diz o seguinte:

Maria foi a única que mereceu ser chamado de Mãe e Esposa de Deus. (Sermão 208)

Esse sermão consta da edição beneditina das Obras de Agostinho e teria sido feito por ocasião da festa da assunção de Maria. Ocorre que nesse período, não havia tal festa no norte da África. O sermão é uma produção posterior que foi atribuída a Agostinho. Numa obra autêntica, ele escreveu:

Naquele tempo, pois, quando estava envolvido em atos divinos, Ele repeliu, como uma desconhecida, ela que era a mãe, não da Sua divindade, mas da sua fraqueza [humanidade]. (NPNF1: Vol. VII, Tratados sobre João, Tratado XIX, §1º, João 19:24-30)

Agostinho nunca atribuiu à Maria o título de Mãe de Deus e foi cuidadoso ao afirmar que Maria era mãe da natureza humana, mas não da natureza divina de Cristo.

Virgindade Perpétua

Nesse ponto específico, Agostinho se aproximou da visão católica romana. Ele acreditava que Maria permaneceu virgem durante toda a vida. O apologista católico trouxe a seguinte citação:

... permaneceu virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo, virgem ao alimentá-lo em seu peito, sempre virgem. (Sermão 186)

No tempo de Agostinho, a ideia da virgindade perpétua estava bem sedimentada, mas não se poderia falar de um consenso unânime dos pais nessa questão. A evidência mais antiga sugere o contrário, algo que pretendemos tratar num artigo a parte.

Maternidade espiritual e outros títulos marianos

Os católicos alegam que em João 19:26-27, Jesus torna Maria mãe espiritual de todos os crentes ao dizer para João “Eis ai tua mãe”. O ensino da maternidade espiritual tem várias implicações importantes. Maria exerceria vários papéis na vida dos católicos que inclui interceder, aproximar o católico de Cristo, auxiliar na santificação e na luta contra o pecado. Agostinho não interpretou a passagem dessa forma. Para ele, Jesus estava ensinando o cuidado que os filhos devem ter com os pais e por isso pediu que João cuidasse de sua mãe:

O bom professor fez o que Ele, assim, lembrou-nos que deve ser feito, e por Seu exemplo ensinou aos discípulos que cuidar de seus pais deveria ser um motivo de preocupação dos filhos piedosos .... Foi desta sã doutrina que o apóstolo Paulo aprendeu o que ele próprio ensinou, quando disse: "Mas, se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o infiel". E o que são essas familiares preocupações referentes a todos, como de pais para filhos, ou dos filhos aos pais? Deste preceito mais salutar o próprio Mestre dos santos dá o exemplo a partir de si mesmo, quando, não como Deus para com a virgem a quem Ele havia criado e governado, mas como um homem para com a mãe, que o criou, e aos que agora estava deixando para trás, Ele forneceu em certa medida um outro filho no seu lugar. O motivo pelo qual fez isso Ele indica nas palavras que se seguem ao evangelista dizendo: "E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa", falando de si mesmo. (Tratados sobre João, 119:1-3)

O motivo pelo qual Jesus recomendou Maria a João foi o cuidado que os filhos devem ter com os pais. Ele não extrai desse texto nenhum significado espiritual além. O site apologistas católicos traz então um artigo que provaria a maternidade espiritual de Maria em Agostinho aqui.

Algumas citações em que Agostinho traça paralelos entre Maria e a Igreja são trazidas. Basicamente, os paralelos nascem do fato de que segundo Agostinho Maria era mãe e virgem, da mesma forma a igreja seria mãe e virgem num sentido espiritual. A citação abaixo é de especial interesse:

(...) É porque, entre todas as mulheres, Maria é a única a ser ao mesmo tempo virgem e mãe, não somente pelo espírito, mas também pelo corpo. Ela é mãe conforme o espírito, não de quem é nossa Cabeça, isto é, do Salvador do qual ela nasceu espiritualmente. Pois todos os que nele creram — e nesse número ela mesma se encontra — são chamados com razão “filhos do esposo” (Mt 9,15). Mas ela é certamente a mãe de seus membros — que somos nós — porque cooperou com sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja, que são membros daquela cabeça: exceto na carne, a mãe do próprio cabeça. Pois cabia àquela nossa cabeça, por causa de um notável milagre, ser gerado segundo a carne de uma virgem, assim ele poderia demonstrar que seus membros seriam nascido segundo o Espírito, da Igreja virgem: portanto somente Maria tanto no espírito como na carne é uma mãe e uma virgem: a mãe de Cristo e uma virgem de Cristo; mas a Igreja, nos Santos que devem possuir o reino de Deus, no espírito realmente é totalmente a mãe de Cristo, totalmente virgem de Cristo, mas na carne não completamente, mas certamente uma virgem de Cristo, e certamente uma mãe, mas não de Cristo. Em verdade, tanto as mulheres fiéis que são casadas como as virgens dedicadas a Deus, por condutas sagradas, e o amor que procede de um coração puro, e a boa consciência e a fé não fingida, porque elas fazem a vontade do Pai, são num sentido espiritual mães de Cristo. Mas aqueles que na vida conjugal dão à luz (as crianças) segundo a carne dão à luz não a Cristo, mas a Adão, e correm para que seus filhos sejam tingidos em seus Sacramentos, podendo tornar-se membros de Cristo, pois eles sabem o que eles têm dado à luz. (De Virginitate 6,6)

Agostinho faz alusão a Mateus 12:46-50, em que Jesus responde: “Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Jesus estava ensinando contra o que os católicos fazem – elevar a pessoa de Maria por ter gerado a natureza humana de Cristo. Jesus colocou os laços espirituais acima dos carnais. Àquele que fazia a vontade do Pai seria tão ou mais digno do que os seus parentes na carne. Por isso, Agostinho afirma que num sentido espiritual, a igreja, os crentes e as mulheres casadas ou virgens são mães de Jesus. Ele então contrasta com Maria que além de ser mãe espiritual, pois ela é também parte da igreja, é mãe carnal, afinal gerou sua natureza humana. Dentro desse contexto, é afirmado “Mas ela é certamente a mãe de seus membros — que somos nós — porque cooperou com sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja”. O bispo de Hipona não estava defendendo a maternidade espiritual de Maria como entendem os católicos romanos. Maria seria mãe dos cristãos porque fez parte do plano redentor de Deus. Desse ponto de vista, Raabe seria tão mãe da igreja como Maria. José seria pai da igreja e Paulo seria pai da igreja gentílica, pois todos eles foram instrumentos no plano redentor de Deus.

A questão é se os católicos querem apenas ensinar isso quando dizem que Maria é mãe dos cristãos. Definitivamente não. O ensino romanista vai muito além disso e do que Agostinho ensinou. Por ser uma mãe espiritual, Maria teria vários ofícios que a Escritura atribui a Cristo. Ela seria “mediadora de todas as graças”, “advogada”, “intercessora”, “rainha dos céus”. Maria protegeria seus filhos e os ajudaria em sua santificação. Mais a frente veremos o pensamento de Agostinho a respeito da intercessão e do culto aos santos. Por hora, basta dizer que ideia que de orações deveriam ser dirigidas à Maria e de que ele seria a mediadora de todas as graças não consta de seu ensino. Ele não utilizava os títulos acima para se referir a Maria. Se os católicos desejam provar que ele adotou a mariologia romana, deveriam nos mostrar onde Agostinho ensinou por exemplo que Maria teria acumulado méritos diante de Deus, e por isso, deveríamos invoca-la para que nossas orações sejam respondidas. Agostinho nunca ensinou que Maria fosse necessária para se chegar a Cristo ou que somos indignos demais para ir até Jesus, por isso deveríamos orar a Maria.

O bispo de Hipona jamais endossaria as seguintes palavras de Luís Maria Grignion de Montfort:

Há muitos iludidos que pretendem alcançar a união com Deus sem recorrer constantemente a Nosso Senhor que é o caminho, a verdade e a vida. Outro erro seria querer chegar a Nosso Senhor sem passar por Maria, a quem a Igreja chama, em uma festa especial, Mediadora de todas as graças.

Nesse caso, Jesus teria deixado de ser o mediador entre Deus e os homens, para ser mediador entre Deus e Maria. Ela seria um caminho necessário para chegar a Cristo. Obviamente, tal ideia seria absurda aos ouvidos de Agostinho. O proeminente historiador Philip Schaffer escreve:

Por outro lado, os numerosos escritos de Atanásio, Basílio, Crisóstomo e Agostinho, não fornecem nenhum exemplo de uma invocação de Maria. Epifânio mesmo condena a adoração à Maria, e chama a prática das mulheres coliridianas de fazer oferendas a ela de blasfemas e perigosas para alma. Todo o silêncio da história em relação ao culto da Virgem até o fim do século IV prova claramente que era estranho ao espírito original do cristianismo, e pertence às muitas inovações da era pós-Nicéia. (Fonte)

43 comentários:

  1. Cara, essa série sobre Agostinho está INCRÍVEL!
    Todos estão na minha lista de estudo.
    Meus parabéns mano! Deus te abençoe!

    Uma dúvida: tu é presbiteriano?

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    1. Muito bom saber que lhe edificando meu irmão!

      Eu faço parte de uma Igreja Batista, mas tenho um pezinho lá na IPB. Então acho que sou um batisteriano rsrsrsrs.

      Que Deus o abençoe!

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    2. Cara, seu blog é muito bom. Meus parabéns. Espero que continue este trabalho.

      Dá vontade de imprimir todos os seus artigos na forma de um livro e ficar lendo, haha.

      Abraços

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    3. Obrigado Davi,

      Seu blog também é muito bom. Já o tinha lido sem saber que você era o autor. Fico feliz em saber que os artigos estão sendo proveitosos. Postamos hoje a parte 6:

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/03/agostinho-e-o-catolicismo-romano-parte_17.html

      Nessa semana, pretendo postar mais duas partes e encerrar a série.

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  2. Desculpe-me, mas, não entendi.
    Maria, afinal, pecou ou não pecou no decorrer de sua vida terrena antes ou após o nascimento de Cristo? Por quê ela diz sobre Deus ser seu salvador se ela não pecou após seu nascimento?

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    1. Desculpe a demora em responder Beto e Rosa,

      Esse artigo trata da opinião de Agostinho que não necessariamente era o ensino bíblico. Para ele, Maria nasceu no domínio do pecado original, mas não cometeu pecados pessoais durante a vida.

      Você apontou corretamente que Maria tinha consciência de era um pecadora, sendo que a Escritura fala em diversas partes sobre a pecaminosidade universal do homem sem fazer qualquer exceção a Maria (Rm. 3:23; 1Jo 1:8). Dessa forma, o ensino bíblico é que Maria cometeu pecados pessoais, o que não excluir seu testemunho exemplar de fé e obediência a Deus.

      Recomendo esse artigo do Lucas a respeito da abordagem bíblica da questão:

      http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2015/02/maria-pecou.html

      Deus o abençoe!

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  3. 1. Santo Agostinho cria que a virgem Maria foi purificada do pecado original antes de nascer, e viveu toda a sua vida sem cometer nenhum pecado. Não é o que o Protestantismo ensina.
    2. É silencioso quanto ao assunto da assunção por Santo Agostinho, segundo o proposto na citação acima. Argumento do silêncio não vale.
    3. A doutrina da maternidade divina é corretamente aceita por santo Agostinho, que afirma que Maria é mãe da fraqueza de Cristo. Isso está conforme essa verdade. O que está acima não refuta isso.
    4. Santo Agostinho ensina a virgindade perpétua de Maria. O Protestantismo atual nega isso.
    Se o objetivo é mostrar que Santo Agostinho está mais próximo do Protestantismo, não está conseguindo.

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    1. “1. Santo Agostinho cria que a virgem Maria foi purificada do pecado original antes de nascer, e viveu toda a sua vida sem cometer nenhum pecado. Não é o que o Protestantismo ensina.”

      (a) Você parece concordar que Maria não teve uma concepção imaculada, a não ser que o “antes de nascer” se refira ao tempo da concepção. De toda a forma, Agostinho negou explicitamente o dogma da imaculada conceição. Isso é um problema sério para teológica católica, pois, aquele que supostamente seria o maior teólogo do catolicismo romano negou uma doutrina que necessariamente deve ser crida para a salvação;

      (b) De fato, ele ensinou que Maria viveu uma vida sem pecados pessoais e os protestantes geralmente afirmam que ela cometeu pecados pessoais. Porém, isso não é um problema sério para a teologia protestante. Agostinho não afirmou que crer na impecabilidade pessoal de Maria era uma doutrina essencial da fé cristã necessária para a salvação. Acreditamos que ele estava equivocado a respeito, mas nada que implicasse num ensino herético. O problema maior existe para a teológica católica que afirma guardar as doutrinas sempre cridas pela igreja.

      “2. É silencioso quanto ao assunto da assunção por Santo Agostinho, segundo o proposto na citação acima. Argumento do silêncio não vale.”

      Argumentos do silêncio podem ter valor sim. Historiadores fazem uso frequente desse tipo de argumento quando tentam determinar a ocorrência ou não de um fato histórico ou se determinada pessoa defendia ou não uma ideia. O argumento do silêncio tem valor especialmente em contextos em que se esperaria a menção a um determinado fato ou ideia. Deixe-me dar um exemplo patrístico claro:

      Vicente de Lérins em sua obra commonitorium afirma que irá demonstrar por quais critérios a verdade católica pode ser distinguida da heresia. Ele menciona vários critérios, mas entre eles não aponta para uma igreja infalível nem para um bispo infalível. É plausível concluir que nesse contexto o argumento de que Vicente não acreditava num bispo infalível é plausível, uma vez que no contexto em que era esperada a menção a essa crença, ela não ocorreu. Não precisaríamos de uma declaração explícita do tipo “não existe um bispo infalível” ou “o bispo de Roma não é infalível”, na verdade, é exatamente isso que se espera de uma crença que não era crida – não se espera uma afirmação positiva nem negativa a seu respeito.

      Como nosso artigo demonstrou, Agostinho falou a respeito de personagens que foram assuntos aos céus. A assunção corpórea não foi um tema que passou despercebido em seus escritos. Além disso, ele é o pai da igreja cuja obra é mais extensa, tendo escrito sobre uma diversidade de termas num longo período de tempo. Maria também foi um personagem frequente em seus escritos, nós temos acesso a muitos relatos e doutrinas que de uma forma ou outra mencionam Maria. Nesse contexto, caso Agostinho cresse na assunção corpórea de Maria como um artigo de fé ou mesmo com um fato ocorrido, se esperaria um menção clara disso em seus escritos. A hipótese de que ele simplesmente se esqueceu de mencionar essa fato/doutrina é muito improvável. A hipótese mais provável para explicar o quadro que temos é que ele desconhecia essa doutrina assim como os pais da igreja que o precederam. É reconhecido até mesmo por estudiosos católicos que a assunção corpórea de Maria é mencionada pela primeira vez em literatura apócrifa do séc. IV, que inclusive foi condenada pelo Papa Gelásio II como literatura herética.

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    2. (cont...)

      “3. A doutrina da maternidade divina é corretamente aceita por santo Agostinho, que afirma que Maria é mãe da fraqueza de Cristo. Isso está conforme essa verdade. O que está acima não refuta isso.”

      Não há registro de que Agostinho tenha usado o termo “Mãe de Deus” para se referir à Maria. Não encontramos o termo em latim “mater dei” em seus escritos. Ele também foi cuidadoso em afirmar que Maria foi mãe da natureza humana de Cristo. Nesse aspecto, ele está sim mais próximo da abordagem protestante que é mais cuidadosa. O protestantismo reconhece que o termo grego theotokos (portadora de Deus) pode ser usado de forma ortodoxa, desde que sua ênfase seja cristológica. A intenção dos pais da igreja ao usarem esse termo no séc. IV e no Concílio de Éfeso era assegurar uma cristologia correta e não conceder um louvor desmedido à Maria. Infelizmente, o termo acabou sendo utilizado com uma ênfase diferente e ao longo dos séculos seguintes fomentando uma atitude idólatra em relação à Maria. Devido à ambiguidade que provoca e a possibilidade de má compreensão, é preferível que não seja utilizado. Por isso, a sua utilização é não recomendável apesar de ser possível o uso correto.

      O fato é que Santo Agostinho em seus vários escritos nunca usou o termo Mãe Deus, muito menos da forma como o catolicismo romano faz hoje para legitimar a elevação da figura de Maria a uma posição que ela nunca teve na igreja primitiva.

      "4. Santo Agostinho ensina a virgindade perpétua de Maria. O Protestantismo atual nega isso.
      Se o objetivo é mostrar que Santo Agostinho está mais próximo do Protestantismo, não está conseguindo."

      O objetivo primário desta série era comparar as crenças de Agostinho com aquelas professadas pelo catolicismo romano. Inclusive, foi admitido que nesse ponto da virgindade perpétua ele estava mais próximo do catolicismo romano. Ainda assim, nossa conclusão é que Agostinho não poderia ser considerado um católico romano como muitas vezes é alegado pela apologética católica. O fato de ele acreditar na virgindade perpétua é muito pouco para quem deseja provar o contrário. Nós vimos que na questão da autoridade (a mais fundamental para esse debate), ele estava muito longe da posição católica romana e mais próximo da posição reformada. Até mesmo na mariologia, o bispo de Hipona está bem distante do catolicismo romano. O único dogma mariano que encontra apoio em Agostinho é o da virgindade perpétua, os demais não podem conta-lo como testemunha. Além disso, outros pontos como a maternidade espiritual dos cristãos, a invocação de Maria em orações, o culto à imagem de Maria, os títulos marianos de advogada, rainha dos céus, medianeira de todas as graças e corredentora não encontram apoio em Agostinho. Olhando o todo, me parece claro que Agostinho estaria sim muito mais próximo de uma visão protestante.

      Além do mais, mesmo na questão da virgindade perpétua, não há evidência que considerasse isso uma artigo de fé necessário para a salvação como hoje considera a igreja romana. Não temos problema com alguém que equivocadamente acredita que Maria permaneceu virgem toda a vida, mas entende que isso não é parte do evangelho. Temos problema com aqueles que transformam isso num dogma de assentimento obrigatório. Alguns pais da igreja poderiam acreditar que Maria foi sempre virgem sem considerar isso um artigo de fé obrigatório para o cristão. O pai da igreja Basílio comentou que a visão de que Maria teve outros filhos depois de Jesus "foi amplamente difundida e, embora não aceita por ele mesmo, não era incompatível com a ortodoxia". (JND Kelly, Early Christian Doctrines [San Francisco, Califórnia: HarperCollins Publishers, 1978 ], p. 495).

      Fique na PAZ!

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  4. No tempo de Agostinho, a ideia da virgindade perpétua estava bem sedimentada, mas não se poderia falar de um consenso unânime dos pais nessa questão. A evidência mais antiga sugere o contrário...

    Engraça como esses caras demonstram admiração por Agostinho e Jerônimo entre outros, mas quando eles claramente ensinam uma doutrina da Igreja, os protestantes transforma-os em hereges inventores de doutrinas, e desonestamente dizem que eles simplesmente inventaram tal doutrina no seu tempo, e que não receberam como tradição da igreja ou que não conseguiam interpretar a bíblia corretamente como os só protestantes conseguem hoje.

    Epifânio, Eusébio de Cesareia e Orígenes explicam que os "irmãos de Jesus" eram filhos somente de José, de outro casamento anterior. Os pais da Igreja são unânimes sobre a virgindade de Maria. Orígenes, Hipólito de Roma, Santo Atanásio, Jerônimo e inclusive o próprio Agostinho, que considerava Maria como modelo virginal da Igreja:

    Mas ela é certamente a mãe de seus membros, que somos nós, porque cooperou com sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja, os membros desta divina Cabeça, da qual ela mesma é a verdadeira mãe conforme a carne.... Somente Maria, portanto, é mãe e virgem, no espírito e no corpo. É Mãe de Cristo e também Virgem de Cristo. Mas a Igreja, nos santos que hão de possuir o reino de Deus, é, segundo o espírito, toda ela mãe e toda ela virgem de Cristo." - (Santo Agostinho, De Virginitate 6,6)

    Com efeito, há um matrimônio espiritual no qual temos que viver com o máximo de castidade, uma vez que Cristo concedeu à sua Igreja, no espírito, o que sua mãe possuía no corpo: SER MÃE E VIRGEM. ” (Agostinho, sermão 138,9).

    São Jerônimo chegou a escrever uma obra inteira para falar da virgindade de Maria, "A Virgindade Perpétua de Maria Santíssima". Em outro lugar ele ainda escreve sobre isso e também fala do celibato do clero:

    O próprio Cristo é virgem; e sua mãe também é virgem; sim, embora ela seja sua mãe, ELA AINDA É VIRGEM ...A virgindade de Cristo e da Virgem Maria têm dedicado em si os primeiros frutos da virgindade para ambos os sexos. Os apóstolos, quer tenham sido ou virgens, embora casados, viveram uma vida de celibato. Aquelas pessoas que SÃO ORDENADAS PARA SER BISPOS, SACERDOTES E DIÁCONOS OU SÃO VIRGENS ou viúvas, ou, pelo menos, quando depois de terem recebido o sacerdócio, fazem VOTOS DE CASTIDADE PERPÉTUA. (São Jerônimo, Cartas 48, 21).

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    1. “Engraça como esses caras demonstram admiração por Agostinho e Jerônimo entre outros, mas quando eles claramente ensinam uma doutrina da Igreja, os protestantes transforma-os em hereges inventores de doutrinas, e desonestamente dizem que eles simplesmente inventaram tal doutrina no seu tempo, e que não receberam como tradição da igreja ou que não conseguiam interpretar a bíblia corretamente como os só protestantes conseguem hoje.”

      A sua capacidade de distorcer o quem alguém escreve é admirável. Não afirmamos que eles são hereges e inventores de doutrinas. A crença na virgindade perpétua por si mesma não é uma heresia para os protestantes. Nossa dificuldade é com aqueles que consideram essa doutrina uma crença necessária para salvação.

      Muito menos afirmamos que eles inventaram essas doutrinas. Eles estavam sinceramente enganados a respeito. Eles não eram infalíveis como a sua própria denominação afirma, então porque não podemos discordar deles em algum ponto? Aliás, você próprio precisa ter a mesma postura. Jerônimo, por exemplo, negou a virgindade no parto. Você discorda dele nesse ponto? Agostinho ensinou a eleição incondicional? Deve supor que você também discorda? Se você pode considerar que eles nem sempre estavam certos ou interpretaram corretamente a Escritura, porque os protestantes não podem?

      O senhor tem sido pouco polido em nossas interações. Em todos os seus comentários nos chama de desonestos, além de outras acusações às quais foi desafiado a provar e até agora não provou nada. Apesar de você já ter feito uma série de informações erradas que qualquer pessoa com mínimo conhecimento histórico sabe estarem erradas, você não foi chamado de desonesto ou tolo. Dessa forma, se deseja continuar comentando neste blog, terá que demonstrar algum espírito Cristão e discutir as ideias sem recorrer ofensas pessoais.

      “Epifânio, Eusébio de Cesareia e Orígenes explicam que os "irmãos de Jesus" eram filhos somente de José, de outro casamento anterior.”

      Obrigado por trazer esses exemplos. Os três também afirmavam que Maria teve um parto normal. Isso nos mostra como a doutrina da virgindade perpétua não pode ser rastreada pelo corredor da história. Orígenes acreditava na virgindade pós-parto, mas deixou bem claro que isso não era um artigo de fé. As pessoas eram livres para aderir ou não a essa ideia. Não é isso que a sua igreja ensina. Aliás, você acredita que os irmãos de Jesus eram filhos de José de um casamento anterior? Essa não é a tese defendida pela maioria dos apologistas de Roma. Eusébio, por sua vez, nunca fez qualquer afirmação explícita a favor da virgindade pós-parto.

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    2. (cont...)

      “Os pais da Igreja são unânimes sobre a virgindade de Maria. Orígenes, Hipólito de Roma, Santo Atanásio, Jerônimo e inclusive o próprio Agostinho, que considerava Maria como modelo virginal da Igreja:”

      Sua afirmação não poderia estar mais errada. A evidência histórica mais antiga que dispomos diz justamente o contrário. Tertuliano negou explicitamente a virgindade no parto e pós-parto de Maria. Muitos historiadores, inclusive católicos romano, afirmam que Hegésipo e Irineu acreditavam que Maria teve outros filhos além de Jesus. Hipólito não afirma o que você alega. Até mesmo o Mariólogo Juniper Carol reconhece que não há nele nada decisivo a favor da virgindade perpétua. Além do mais, nenhum dos citados, com exceção de Agostinho, ensinou a virgindade perpétua de Maria. A ideia de que Maria foi virgem no parto e no pós parto só conta com testemunho patrístico positivo e confiável no quarto século, ou seja, 300 anos após os apóstolos. Essa é mais uma dessas doutrinas preservadas oralmente por séculos quem ninguém conheceu antes?

      “São Jerônimo chegou a escrever uma obra inteira para falar da virgindade de Maria, "A Virgindade Perpétua de Maria Santíssima". Em outro lugar ele ainda escreve sobre isso e também fala do celibato do clero:”

      O senhor também acredita que o celibato clerical é uma tradição apostólica? Como isso é possível se os apóstolos eram casados e inclusive levavam suas esposas em viagens missionárias (1 Coríntios 9:5)?

      Clemente de Alexandria no século II escreveu:

      Ou também vão desaprovar os apóstolos? Porque Pedro Felipe criaram filhos (...) conta-se, pois, que o bem-aventurado Pedro, quando viu que sua própria mulher era conduzida ao suplício, alegrou-se por seu chamamento e seu retorno para casa, e gritou forte para animá-la e consolá-la, chamando-a por seu nome e dizendo: ‘Oh, tu, lembra-te do Senhor!’ (HE 3:30:1-2)

      Caso o Senhor deseje saber mais a respeito, recomendo nossos artigos mais recentes:

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/a-virgindade-perpetua-de-maria-e.html

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/05/a-virgindade-perpetua-de-maria-e_23.html

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  5. Olá Respostas cristãs

    Agora vou comentar sobre a Santa Variação.

    Bom vamos lá,Jesus na Eternidade pré-criação como um ser total era 100% Divino ou seja Plenamnet Divino e isso significa que Jesus como um todo ou como escrevi antes o set pleno e completo de Jesus era só e somente 100% Deus. Quando Jesus se encarna o ser total, completo e pleno de Jesus tinha duas Santas Naturezas a Divina e Humana então Jesus na esfera da criação não eram dois Jesus´s ou seja um Jesus 100% Humano e um outro Jesus 100% Divino mas sim um só Jesus um ser completo, e pleno e total. Sendo assim o aspecto Divino de Jesus na Eternidade era exatamente igual a Natureza Divina de Jesus na criação? Não, pois se fosse exatamente igual, Jesus na esfera da criação seria exatamente igual a que Ele era na Eternidade e a Sua Natureza Humana não pareceria. Considerando que Jesus sempre foi tanto na Eternidade como na criação um ser total então a Natureza Divina Dele na Eternidade identificava Ele como tal como ser completo e na criação as Duas Naturezas identificavam Ele como um ser completo se a Natureza Divina fosse igual nas duas esferas então Jesus na criação deveria ser igualzinho como Ele era na Eternidade. Sendo assim Maria poderia ser mãe de Deus do aspecto Divino Dele na criação. Maria não poderia ter sido esposa de Deus Pai pois ela não é eterna ao passo que na Natureza Divina de Jesus na criação ela de certa forma participou pois houve uma santa variação na Natureza Divina de Jesus isto é não houve uma variação "da' mas "na" Natureza. Maria sendo 100% humano participou da natureza humana de Jesus.

    Um grande abraço

    Luiz

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    1. Se eu compreendi bem Luiz, você defende que a natureza de divina de Jesus "variou" formando sua natureza humana, por isso, Maria seria corretamente chamada de mãe de Deus. Posso não ter reproduzido bem sua posição aqui, mas foi o que compreendi.

      A sua descrição não me parece biblicamente correta. É da essência da natureza divina que não haja variação. O que aconteceu na encarnação foi uma acréscimo de natureza a Jesus. Ele que era somente divino recebe uma natureza humana a partir de Maria. Dessa forma, como Agostinho bem observou, Maria seria mãe dessa natureza humana pois ela a gerou.

      Todavia, reconhecemos que "theotokos" pode ser usado de forma ortodoxa. Basicamente significa que Maria "portou" ou "carregou" em seu ventre o verbo de Deus. Ou seja, a criança que ela carregava possuía natureza humana e divina. Ocorre que o termo traduzido para o latim "mater dei" ou português "mãe de Deus" é ambíguo e pode ser usado de forma incorreta, além apenas de assegurar uma correta cristologia.

      Infelizmente, quando as pessoas usa o termo hoje, elas não estão tentando assegurar uma correta cristologia. O uso sequer está focado sobre a pessoa de Jesus. Pelo contrário, trata-se de uma forma de elevar indevidamente a pessoa de Maria. Por isso, consideramos o uso do termo não recomendável.

      Há o argumento de que como Maria não gerou a natureza humana de Jesus, ela não poderia ser chamada de Mãe de Deus. Parece-me um argumento válido. Outro problema é que o termo "mãe de Deus" não capta o verdadeiro significado de "Theotokos", temos ai mais um motivo para evitá-lo.

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  6. Eu só queria entender porque vc admira tanto Agostinho, e até criou vários artigos para mostrar que ele não era católico romano, sendo que vc demonstra que a opinião dos padres após o ano 300 não podem ser muito levado a sério? Parece que vc herdou do Lucas Banzoli esse argumento de defesa onde desconsideram a opinião dos pais da igreja após o século III, insinuando como se eles simplesmente tivessem inventado doutrinas e não transmitindo uma tradição cristã que receberam, ou seja, seriam hereges por estarem inventando, é o que vc diz indiretamente.

    Sobre Santo Epifânio vc pode conferir o que ele diz aqui:
    ...desde que Tiago, que foi chamado o irmão do Senhor e quem era seu apóstolo, foi imediatamente feito o primeiro bispo. Ele era filho de José de nascimento, mas foi classificada como o irmão do Senhor por causa de sua educação em conjunto. Pois este Tiago era filho de José pela primeira esposa de José, NÃO POR MARIA, como eu disse em muitos outros lugares e tratados de forma mais clara para você. (The Panarion of Epiphanius of Salamis, Part 29. 3,9)

    ...quero dizer Tiago, José, Judas e Simão, os filhos de José por outra mulher. José não tinha relações com a Virgem, DEUS ME PERDOE – APÓS ENGRAVIDAR A VIRGEM É ENCONTRADA INVIOLADA. (Part 28. Epiphanius Against the Cerinthians 7,6)
    http://www.masseiana.org/panarion_bk1.htm#29

    ...uma alma racional e um corpo de Maria toda santa, SEMPRE VIRGEM, por uma concepção imaculada, sem conversão, e se fez homem na natureza...(Santo Hipolito de Roma, Fragmento VIII)
    http://www.earlychristianwritings.com/text/hippolytus-dogmatical.html

    Antes do ano 300:
    Tu que és o Filho unigênito e Palavra de Deus, imortal; que enviou para a nossa salvação para se tornar carne da SANTA MÃE DE DEUS E SEMPRE VIRGEM MARIA;...(Divina Liturgia de São Tiago Menor, VI)

    O Sacerdote reza: Comemorando a nossa toda santa, pura, mais gloriosa, senhora e mãe de Deus e SEMPRE VIRGEM MARIA... (Divina Liturgia de São Tiago Menor, XLV)

    ..."não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não estão entre nós todas as ? "Mateus 13: 55-56 Eles pensaram, então, que Ele era o filho de José e Maria. Mas alguns dizem que, baseando-se em uma tradição no Evangelho de acordo com Pedro, como é o direito, ou "O Livro de Tiago," que os irmãos de Jesus eram filhos de José por uma ex-esposa, com quem se casou antes de Maria. Agora, AQUELES QUE DIZEM QUE ASSIM O DESEJAREM PARA PRESERVAR A HONRA DE MARIA NA VIRGINDADE ATÉ O FIM, para que esse corpo dela, que FOI DESIGNADA PARA MINISTRAR A PALAVRA...(Orígenes, Comentário sobre evangelho de Matheus, livro 10,17).

    Para a santa Virgem guardado cuidadosamente a tocha da virgindade, e deu ouvidos diligentemente que não deveria ser extinta ou contaminada. (Gregório de Neocesareia, A Segunda Homilia da Anunciação à Santa Virgem Maria)

    Para se Maria, como aqueles que declaram com mente sã exaltar a ela, NÃO TINHA OUTRO FILHO, MAS JESUS, e ainda Jesus diz para sua mãe, "Mulher, eis aí teu filho", e não "Eis que você tem esse filho também” (Orígenes, Comentário ao Evangelho de João, Livro 1, 6)

    Quanto a Tertuliano ele diz que Maria perdeu a virgindade ao dar a luz, porém não diz que teve relações com seu marido José ou que teve outro filho além de Cristo. Suas obras são de grande importância histórica, mas não se pode levar a sério tudo que ele fala sobre doutrina, tendo em vista no herege que transformou-se no fim da vida. Sobre ele São Jerônimo fala: “De Tertuliano não direi senão que não pertenceu à Igreja.” (São Jerônimo, A Virgindade Perpétua virgindade de Maria 4,19)

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    1. Eu nunca afirmei que a opinião dos pais após o ano 300 não pode ser levada a sério. O que eu afirmo é que só porque uma ideia foi popular 300 anos depois dos apóstolos, não implica que esta sempre foi a crença da igreja, muito menos uma tradição apostólica. Esse é precisamente o caso da virgindade perpétua de Maria. Se você afirma que algo sempre foi crido pela igreja cabe a você documentar sua afirmação, e não é com citações do século IV que isso estará provado.

      Além do mais, o que hoje você chama de tradição da igreja era apenas uma ideia entre outras presente na igreja primitiva. O investigador sensato precisa rastrear a historicidade dessas ideias e pesar o valor das fontes. Um pai da igreja do séc. II, por exemplo, está numa melhor posição para receber uma tradição histórica correta do que um pai do séc. IV. O fato de a virgindade perpétua ter se tornado um dogma na igreja romana não implica que a questão sempre foi vista como um artigo de fé. Mesmo entre os pais que defenderam a virgindade pós-parto ou no parto, a maioria não via a questão como um artigo de fé. Os crentes eram livres para acreditar ou não nisso.

      Você trouxe duas citações de Epifânio. Na primeira ele defende a virgindade pós-parto. Na segunda, ele defende a concepção virginal, pois a virgem foi encontrada inviolada após ENGRAVIDAR. O que ele não ensinou foi a virgindade no parto. Ele disse:

      “(...) o Unigênito ABRIU O VENTRE virginal” (Haer 78:19)

      Sobre Hipólito, eu respondi detalhadamente no meu artigo. Mas deixo aqui a opinião do reconhecido mariologista católico Juniper B. Carol:

      É lamentável que nós não tenhamos nenhum testemunho claro de seus contemporâneos, COMO SANTO HIPÓLITO. No Ocidente, Cipriano, Novaciano, Arnóbio e Lactâncio, como já mencionado, não contribuem em nada positivo; o mesmo acontece com Gregório o taumaturgo e Denis de Alexandria no Oriente. Embora um defensor das práticas ascéticas da virgindade, Metódio É TÃO VAGO QUANTO HIPÓLITO SOBRE A VIRGINDADE DE MARIA. (Ibid)

      Ele ainda cita outro mariólogo católico com a mesma opinião:

      Os textos mais pertinentes que conhecemos de Hipólito relativos à virgindade de Maria são extratos da "A Arca da Aliança" (conservado por Teodoreto); cf. a edição em Griechische christliche Schriftsteller, publicado pela Kirchenvater Kommission da Academia Prussiana, Vol. 1, Parte 2 (Leipzig), p. 146 f.; Também PG, 1, 83, 85-88. Há também uma passagem da Benedictiones Moysis, se alguém pode invocar a versão georgiana que temos em Texte und Untersuchungen, Vol. 26, Parte 1, p. 75. OS DOIS TEXTOS NÃO SÃO DEFINITIVOS A FAVOR OU CONTRA A VIRGINDADE DE MARIA. CF. TAMBÉM G. JOUASSARD, art. cit. (Supra, nota 129), Vol. 12, 1932, pp. 509-532 e Vol. 13, 1933, pp. 25-37. (Ibid)

      Eu particularmente acredito que o “termo sempre virgem” foi uma interpolação posterior num escrito autêntico de Hipólito. O mesmo ocorreu em outras obras hoje consideradas espúrias. Ninguém nesse período usava esse termo para se referir a Maria. O primeiro uso documentado só iria acontecer no séc. IV. Mas, observando o próprio texto, percebe-se que Hipólito estava se referindo ao momento da encarnação, e até esse tempo Maria foi sempre virgem. Ainda tem o erudito patrístico Hans von Campenhausen que afirma que Hipólito negou a virgindade perpétua :

      No Ocidente antes de Hilário - isto é, até meados do século IV - não há nenhuma testemunha para a "sempre virgem" [virgindade perpétua], o que dificilmente pode ser um mero acaso (...) Hipólito também se refere aos "irmãos de Jesus" como os filhos de José e Maria. (The Virgin Birth In The Theology Of The Ancient Church [Eugene, Oregon: Wipf & Stock, 2011], n. 4 on 48-9)

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    2. (cont...)

      Esses eruditos são mais confiáveis que os apologistas católicos, por isso eu fico com eles. Quando a liturgia de São Tiago, que eu espero que você não acredite que foi escrita por Tiago, trata-se de um documento do séc. IV ou até mesmo do séc. V. Em relação a Orígenes, ele acreditava por influência dos ascetas na virgindade pós-parto, mas não na virgindade no parto. Mais uma vez cito Carol:

      Assim, ele [Orígenes] se expressou EM TERMOS INCOMPATÍVEIS COM A VIRGINDADE DE MARIA NO PARTO EM SUAS HOMILIAS SOBRE SÃO LUCAS, (142) traduzidas por São Jerônimo. Do ponto de vista contrário expresso na tradução Rufino das homilias de Orígenes sobre Levítico podemos concluir que Orígenes vacilou sobre este assunto ou que ele mudou sua opinião definitivamente? G. Jouassard é da opinião que Rufino muito provavelmente reescreveu o texto original de Orígenes para torná-lo conforme a sua visão pessoal de que Maria permaneceu virgem no parto. (Ibid)

      Além do mais, Orígenes não defendia a virgindade pós-parto como um artigo de fé. Carol escreve:

      O contraste entre a posição inflexível de Clemente e a posição vacilante de Orígenes (e as próprias declarações de Clemente corroboram isso) MOSTRA QUE OS CATÓLICOS NO EGITO CONSIDERAVAM QUE A QUESTÃO DA VIRGINDADE DE MARIA NO PARTO FOI ABERTA À DISCUSSÃO E DE MANEIRA NENHUMA RESOLVIDA DEFINITIVAMENTE. O mesmo era verdade para virgindade pós-parto de Maria? SEM DÚVIDA, POIS APESAR DE ORÍGENES ADOTAR A OPINIÃO DE CLEMENTE AQUI, ELE NUNCA AFIRMA OU MESMO IMPLICA QUE HAVIA QUALQUER OBRIGAÇÃO PARA UM CATÓLICO FAZÊ-LO. Em vez disso, expressa sua CLARA COMPREENSÃO DE QUE A VIRGINDADE DE MARIA APÓS O PARTO ERA A VISÃO PARTICULAR DAQUELES ASCETAS DEDICADOS À PRÁTICA DA VIRGINDADE e foi baseada em seu conceito de sua virgindade completa e perpétua. (Ibid)

      Se a ideia era um artigo de fé da igreja, isso seria inexplicável. Já no século II, a concepção virginal de Cristo era um artigo de fé. Irineu e Tertuliano atacaram violentamente quem negava isso. Se eles tivessem recebido a virgindade perpétua como artigo de fé, eles naturalmente a defenderiam, pois eram ideias relacionadas. Da virgindade antes do parto para a virgindade pós-parto seria uma implicação natural. No entanto, o que vemos é total liberdade de opinião a respeito.

      Sobre Gregório Taumaturgo, a citação que você trouxe não afirma virgindade perpétua. Ele fala do momento da anunciação do anjo e se refere ao fato de Maria ser uma virgem. Nada disso implica que ela permaneceu para sempre virgem. Juniper Carol faz um grande apanhado da questão na história da igreja e sequer cita Gregório, o que ele jamais deixaria de fazer se houvesse nele um testemunho a favor da doutrina católica. Carol escreve:

      É lamentável que nós não tenhamos nenhum testemunho claro de seus contemporâneos, como Santo Hipólito. No Ocidente, Cipriano, Novaciano, Arnóbio e Lactâncio, como já mencionado, não contribuem em nada positivo; O MESMO ACONTECE COM GREGÓRIO O TAUMATURGO e Denis de Alexandria no Oriente. Embora um defensor das práticas ascéticas da virgindade, Metódio é tão vago quanto Hipólito sobre a virgindade de Maria. (Ibid)

      Por último, Tertuliano. Ele acreditava sim que Maria teve outros filhos:

      As duas sacerdotisas de santidade cristã, a monogamia e a castidade: uma modesta em Zacarias o sacerdote, outra absoluta em João o mensageiro: uma apazigua Deus; outra prega Cristo; uma proclama um sacerdote perfeito; outra exiba "mais do que um profeta" - ele que não só tem pregado ou pessoalmente apontado, mas batizou Cristo. Pois quem era mais digno de realizar o rito inicial sobre o corpo do Senhor, do que carne semelhante em tipo àquela que concebeu e deu à luz esse [corpo]? E NA VERDADE ERA UMA VIRGEM, PRESTES A CASAR-SE UMA VEZ POR TODAS DEPOIS DO SEU PARTO, que deu à luz Cristo, para que CADA TÍTULO DE SANTIDADE PUDESSE CUMPRIR-SE NA PARENTELA DE CRISTO, POR MEIO DE UMA MÃE QUE ERA TANTO VIRGEM, COMO ESPOSA DE UM SÓ MARIDO. (Sobre a Monogamia 8)

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    3. (cont...)

      John P. Meier (padre e um dos maiores estudiosos bíblicos do séc. XX) escreve:

      O paralelo com Zacarias sugere naturalmente A RELAÇÃO SEXUAL NORMAL E FÉRTIL. (Op. Cit., p. 68)

      Ainda temos Hegésipo, o escritor mais antigo de todos. Ele claramente diferenciou irmãos de primos ao se referir à parentela de Jesus.

      Hegésipo se refere a Judas “como irmão do senhor segundo a carne” (História Eclesiástica 3:20). Em outro lugar, ele se refere a Simeão “um primo do Senhor” (HE 4:22). Ele conhecia a diferença dos termos gregos para irmão e primo e se referiu a Judas como “segundo a carne” e também a Tiago como “irmão do senhor” (HE 2:23:4). A teóloga católica Ruether afirma:

      Sua frase "seu irmão segundo a carne" decisivamente aponta para a tradição de Jerusalém que esses irmãos eram conhecidos como os irmãos de Jesus. (Citado em Eric Svendsen, Who Is My Mother? [Amityville, New York: Calvary Press, 2001], pp. 66)

      O renomado estudioso católico John P. Meier escreve:

      (...) no século II, por exemplo, Hegésipo, um convertido do judaísmo, provavelmente vindo da Palestina parece ter considerado os irmãos e irmãs de Jesus como sendo verdadeiros irmãos, distintos dos primos e tios que Hegésipo também menciona. (Meier, John P. "A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus". p. 360, footnote 39)
      A evidência mais antiga sugere que Maria não foi “sempre virgem”. Além disso, sua tentativa de desmerecer o testemunho de Tertuliano é inválida. Ele não foi visto como um herege por muitos pais da igreja. Vejamos o que Cipriano pensava:

      Eu mesmo vi um certo Paulo, um velho de Concordia - uma cidade da Itália, que quando era um homem muito jovem, tinha sido secretário do beato Cipriano que já estava em idade avançada. Ele disse que tinha visto como Cipriano estava acostumado a nunca passar um dia sem ler Tertuliano, e que frequentemente lhe dizia: "Dá-me o mestre," significando com isso Tertuliano. (Vidas dos homens ilustres 53)

      Tertuliano nunca deixou a igreja. A ideia de que ele fundou um grupo cismático não é real. O erudito ortodoxo John McGuckin escreve:

      Por volta de 205 seus [de Tertuliano] escritos mostram um respeito cada vez maior às ideias Montanistas, mas o estilo de Montanismo que era então influente no Norte da África era uma forma muito moderada do movimento original da Ásia Menor, e não há nenhuma indicação clara de que ele saiu da comunidade católica. (The Westminster Handbook To Patristic Theology [Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press, 2004], p. 325)

      O teólogo e padre católico Francis Sullivan escreveu:

      Deve-se notar, contudo, que Tertuliano permaneceu ortodoxo em relação aos dogmas cristãos fundamentais, e enquanto rejeitou algumas reinvindicações feitas por bispos católicos, não há evidência de que tenha deixado a Igreja Católica para se juntar ou formar um grupo cismático. (From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, pp. 155-156)

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    4. (cont...)

      Além disso, ele era um asceta. Ou seja, a pré-disposição de Tertuliano seria para afirmar algo como a virgindade perpétua. A sua adesão ao montanismo também é irrelevante. Esse era um grupo rigorista que criticava a atitude cada vez mais flexível da igreja para com os que pecavam. Portanto, não há nenhuma evidência de que eles negavam a virgindade de Maria ou que havia alguma resistência a isso. Sendo um grupo rigorista, a tendência é que ele visse a virgindade como algo louvável. Dessa forma, o testemunho de Tertuliano é muito forte e longe da narrativa católica que tenta desqualifica-lo, se de fato a atual doutrina romana fosse considerado um artigo de fé, Tertuliano não o teria negado. Carol escreve:

      Tertuliano é inequivocamente claro e radical. Ele aceita a concepção virginal de Cristo como uma verdade dogmática. Mas, uma vez que entrou em sua polêmica com os docetistas, marcionitas e valentinianos, ele é implacável na defesa do nascimento de Cristo como inteiramente normal e na descrição de Maria como a mãe de vários filhos depois de Cristo. Tertuliano em sua franqueza não pretende ser tradicional e nunca agrada a qualquer autoridade dogmática. Por outro lado, ele não manifesta a menor consciência de que suas negações da virgindade perpétua de Nossa Senhora contradizem qualquer tradição eclesiástica, pelo menos, conhecidas por ele. (Ibid)

      Mesmo no séc. IV, muitas pessoas de autoridade e consideradas ortodoxas vão negar a virgindade perpétua de Maria. Mesmo pais da igreja que acreditavam na virgindade pós parto afirmam claramente que não se tratava de um artigo de fé da igreja. Basílio é esclarecedor:

      [A opinião de que Maria deu à luz várias crianças depois de Cristo] (...) não é contrária à fé, pois a virgindade foi imposta à Maria como uma necessidade, apenas até o tempo em que ela serviu como um instrumento para a Encarnação, enquanto, por outro lado, a sua virgindade subsequente não tinha grande importância no que diz respeito ao mistério da Encarnação. (Homilia in sanctum Christi generationem; PG, 31, 1457-1476)

      Se você deseja continuar essa interação sobre a virgindade perpétua de Maria, peço que leia os meus novos artigos e comente neles. Caso deseje continuar repetindo os mesmo argumentos a cada comentário como foi em outras discussões sem interagir com o que eu já respondi, eu não tenho tempo para uma interação improdutiva como essa.

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  7. O senhor também acredita que o celibato clerical é uma tradição apostólica? Como isso é possível se os apóstolos eram casados e inclusive levavam suas esposas em viagens missionárias (1 Coríntios 9:5)?

    Primeiro que essa tradução de 1coríntios 9,5, na bíblia protestante está adulterada conforme o original, não diz nada de “esposa crente”, mas “mulher irmã” que acompanhavam os apóstolos ajudando nas coisas materiais assim como acompanhavam Jesus (Lc 8,1-3)

    De qualquer maneira mesmo que fossem esposas isso não mudaria nada, pois com certeza os apóstolos eram mesmo casados. A questão é que desde os apóstolos já se demonstrava a necessidade do clero ter vida celibatária para pregar a boa nova, por amor ao reino dos céus (MT 19,12). Os apóstolos deviam ser casados mas dizem ter abandonado tudo para trabalhar pelo reino: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Lc 18,28).
    E Cristo os felicita por isso dizendo: “Todo o que deixar por amor de meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá cento por um e possuirá a vida eterna” (Lucas 18,28-30).

    O próprio Paulo admite ser celibatário (1Cor 7,7).

    A Igreja então finalmente estabelece como regra o celibato para o clero a partir do concílio de Elvira no Ano 303, e no concílio de Nicea em 325.

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    1. “Primeiro que essa tradução de 1coríntios 9,5, na bíblia protestante está adulterada conforme o original, não diz nada de “esposa crente”, mas “mulher irmã” que acompanhavam os apóstolos ajudando nas coisas materiais assim como acompanhavam Jesus (Lc 8,1-3)”

      Então os protestantes adulteraram a tradução de 1 Cor. 9:5? Você acha que as bíblias abaixo também foram adulteradas?

      Bíblia de Jerusalém:

      “levar uma irmã, UMA ESPOSA”

      The New American Bible:

      “levar uma esposa cristã”

      New Jerusalém Bible:

      “E não temos o direito de ser acompanhado por uma esposa cristã...”

      Todas essas traduções podem ser verificadas na bíblia online católica:

      http://www.bibliacatolica.com.br/the-new-american-bible-vs-new-jerusalem-bible/1-corinthians/9/

      Sabe o que todas essas bíblias têm em comum? São traduções católicas. Mas vamos ao texto grego:

      μὴ οὐκ ἔχομεν ἐξουσίαν ἀδελφὴν γυναῖκα περιάγειν, ὡς καὶ οἱ λοιποὶ ἀπόστολοι καὶ οἱ ἀδελφοὶ τοῦ Κυρίου καὶ Κηφᾶς;

      O termo em questão é γυναῖκα. E advinha qual é a tradução? Exatamente esposa. O mesmo termo é usado nas seguintes passagens: Mateus 1:20; 1:24; 5:28; 5:31; 5:32; 14:3; 18:25; 18:3; Marcos 12:19; 12:23; Lucas 4:26; 7:44; 1 Cor. 5:1; 7:2; 7:10; 7:10; 7:11.

      São mais de 50 ocorrências e em 90% delas a tradução é ESPOSA. Em 5% é a “mulher de alguém” que obviamente significa esposa. Verifique nas próprias Bíblias Católicas as passagens acima.

      “De qualquer maneira mesmo que fossem esposas isso não mudaria nada, pois com certeza os apóstolos eram mesmo casados.”

      Se eles eram casados, como a igreja pode exigir um celibato obrigatório?

      “A questão é que desde os apóstolos já se demonstrava a necessidade do clero ter vida celibatária para pregar a boa nova, por amor ao reino dos céus (MT 19,12).”

      Era necessário, mas os próprios apóstolos não seguiam?

      Os apóstolos deviam ser casados mas dizem ter abandonado tudo para trabalhar pelo reino: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Lc 18,28).

      Os apóstolos deveriam estar dispostos a largar tudo se necessário fosse. Isso não quer dizer que eles largaram suas esposas e famílias. A resposta de Jesus não afirma que é necessário largar esposa e família para servi-lo, mas que quem fizer isso seria recompensado.

      Além de Paulo mencionar os apóstolos viajando com suas esposas, ou seja, eles obviamente não as deixaram, Clemente mencionou a esposa de Pedro o acompanhando em seu martírio, o que implica que ele não a abandonou e obviamente não interpretou os ensinos de Jesus como você. Clemente também diz:

      "Ao mesmo tempo, a Igreja recebe integralmente o marido de uma mulher, SEJA ELE SACERDOTE OU DIÁCONO ou leigo, supondo sempre que ele usa SEU CASAMENTO sem culpa." (Stomata 3:13)

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    2. (cont...)

      “O próprio Paulo admite ser celibatário (1 Cor 7,7)”

      Mas ele nunca ensinou que o celibato fosse uma condição para o episcopado. Pelo contrário, os presbíteros da igreja poderiam ser casados e ter famílias. (1 Tm 3:2-4)

      Definitivamente, não havia nenhuma tradição apostólica que ensinava o celibato obrigatório. Sócrates Escolástico escreveu:

      "No Oriente, de fato, todos os clérigos, e até mesmo os próprios bispos, abstêm-se de suas esposas, mas eles fazem isso por vontade própria, E NÃO PELA NECESSIDADE DE QUALQUER LEI, pois tem havido entre elas MUITOS BISPOS, QUE TIVERAM FILHOS COM SUAS ESPOSAS LEGAIS DURANTE O SEU EPISCOPADO." Sócrates Escolástico (História Eclesiástica, 5:22)

      Hipólito, se referindo ao bispo romano Calixto, escreveu:

      "No tempo deste homem (Calixto bispo de Roma), BISPOS, SACERDOTES E DIÁCONOS, que tinham sido casados duas vezes ou três vezes, começaram a ser autorizados a manter seu lugar entre o clero." Hipólito (A refutação de todas as heresias, 9:7)

      "No Oriente, de fato, todos os clérigos, e até mesmo os próprios bispos, abstêm-se de suas esposas, mas eles fazem isso por vontade própria, e não pela necessidade de qualquer lei, pois tem havido entre elas muitos bispos, que tiveram filhos com suas esposas legais durante o seu episcopado." Sócrates Escolástico (História Eclesiástica, 5:22)

      A própria Enciclopédia Católica diz:

      “ESTA LIBERDADE DE ESCOLHA parece ter durado todo o período que podemos chamar, com Vacandard, de o primeiro período da legislação da Igreja, ou seja, ATÉ O TEMPO DE CONSTANTINO E DO CONCÍLIO DE NICÉIA.”

      “Uma tentativa extenuante foi realmente feita por alguns escritores, dos quais o falecido professor Bickell foi o mais distinto, para provar que, mesmo nesta data inicial, a Igreja exigiu o celibato de todos os seus ministros dos graus mais elevados. MAS O PONTO DE VISTA CONTRÁRIO, representado por estudiosos como Funk e Kraus, PARECE MUITO MELHOR FUNDAMENTADO E GANHOU ACEITAÇÃO GERAL DOS ÚLTIMOS ANOS.”

      “A Igreja então finalmente estabelece como regra o celibato para o clero a partir do concílio de Elvira no Ano 303, e no concílio de Nicea em 325.”

      O sínodo de Elvira era local, logo não poderia vincular toda a igreja. O concílio de Niceia não impôs o celibato obrigatório. A enciclopédia católica mais uma vez escreve:

      Se pudermos confiar no relato de Sócrates, que acabamos de citar, FOI FEITA UMA TENTATIVA no Concílio de Nicéia, (talvez pelo Bispo Osius que também esteve em Elvira) para impor uma lei semelhante à aprovada no conselho espanhol. Mas Paphnutius, como vimos, ARGUMENTOU CONTRA ELE, e os pais de Nicéia estavam satisfeitos com a proibição expressa no terceiro cânone que proibiu “mulieres subintroductas”. (http://www.newadvent.org/cathen/03481a.htm)

      Essa proibição não se referia a casamentos, mas a mulheres que passavam a viver na casa dos bispos sem pertencerem a sua família. Essa questão do celibato seria objeto de leis mais ou menos rígidas, tanto é que havia papas casados como Adriano II (867-872). O celibato obrigatório só seria definitivamente imposto na igreja latina no Quarto Concílio de Latrão (1215)

      É verdade que a partir do séc. IV começam a surgir sínodos e leis canônicas restringindo o casamento para o clero. Isso só reforça nosso ponto – o fato de uma ideia ser popular num período não implica que ela sempre teve esse status, muito menos que é uma tradição apostólica. Por esse motivo, o qualquer pessoa sensata deve fazer e estudar toda a história da igreja para verificar se uma determinada tradição de fato foi legada para os apóstolos. As peculiares doutrinas romanas não chegam nem perto de passar nesse teste.

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  8. "Você trouxe duas citações de Epifânio. Na primeira ele defende a virgindade pós-parto. Na segunda, ele defende a concepção virginal, pois a virgem foi encontrada inviolada após ENGRAVIDAR. O que ele não ensinou foi a virgindade no parto. Ele disse:
    “(...) o Unigênito ABRIU O VENTRE virginal” (Haer 78:19)"

    Então ele defende que Maria perdeu a virgindade no parto e voltou a ser virgem no pós parto? Que incoerência, essa citação que vc tirou não sei de onde, não prova nada. Epifânio diz claramente que Maria permaneceu “inviolada” após o parto na citação que mostrei anteriormente, diz que não teve outros filhos. E ainda diz:
    ...depois de ter nascido na carne, em Belém, da SEMPRE VIRGEM MARIA, noiva de José. The Panarion of Epiphanius of Salamis, Part 29. 6,8)

    Aqui ele enumera os hereges e diz:
    O quinquagésimo oitavo, aqueles que dizem que Santa Maria, A SEMPRE VIRGEM, teve relações sexuais com José após dar à luz o Salvador. (Epifânio, Proem 4,8)

    Aqueles que dizem que Santa Maria, A SEMPRE VIRGEM, teve relações sexuais com José depois de dar à luz o Salvador, que tenho chamado-os 'Antidicomarians. (Epifânio, Proem 5,9)

    "No Ocidente antes de Hilário - isto é, até meados do século IV - não há nenhuma testemunha para a "sempre virgem" [virgindade perpétua], o que dificilmente pode ser um mero acaso (...) Hipólito também se refere aos "irmãos de Jesus" como os filhos de José e Maria. (The Virgin Birth In The Theology Of The Ancient Church [Eugene, Oregon: Wipf & Stock, 2011], n. 4 on 48-9)"

    Hipolito não fala muito sobre o assunto, mas deixei evidente uma frase sua. Agora mostre onde então Hipólito afirma que os “irmãos de Jesus” eram filhos de Maria. Vc mais uma vez copiou esse argumento de um site estrangeiro, sem consultar na fonte. Eu não teria coragem de ficar copiando essas respostas de sites estrangeiros sem conhecer toda a obra do autor em seu contexto. Será que Hans Von falava neste sentido? Veja que "irmão se Jesus" está entre aspas. Tem que ver o contexto e ver se isso ai está escrito mesmo.

    E NA VERDADE ERA UMA VIRGEM, PRESTES A CASAR-SE UMA VEZ POR TODAS DEPOIS DO SEU PARTO, que deu à luz Cristo, para que CADA TÍTULO DE SANTIDADE PUDESSE CUMPRIR-SE NA PARENTELA DE CRISTO, POR MEIO DE UMA MÃE QUE ERA TANTO VIRGEM, COMO ESPOSA DE UM SÓ MARIDO. (Sobre a Monogamia 8)

    Não sei onde Tertuliano afirma ai que Maria teve outros filhos, vc ta forçando a barra.

    John P. Meier (padre e um dos maiores estudiosos bíblicos do séc. XX) escreve:
    O paralelo com Zacarias sugere naturalmente A RELAÇÃO SEXUAL NORMAL E FÉRTIL. (Op. Cit., p. 68)

    O que isso quer dizer? Cadê o contexto?

    “Basílio é esclarecedor:
    [A opinião de que Maria deu à luz várias crianças depois de Cristo] (...) não é contrária à fé, pois a virgindade foi imposta à Maria como uma necessidade, apenas até o tempo em que ela serviu como um instrumento para a Encarnação, enquanto, por outro lado, a sua virgindade subsequente não tinha grande importância no que diz respeito ao mistério da Encarnação. (Homilia in sanctum Christi generationem; PG, 31, 1457-1476)”

    Basílio não está esclarecendo nada contra a virgindade, ele só mostra claramente que a virgindade de Maria serviu de instrumento como mistério do milagre da encarnação sem relação sexual, mas que sua VIRGINDADE SUBSEQUENTE já não tinha grande importância para entender este milagre.

    Basílio também ensinou: Pois os amigos de Cristo não toleram ouvir que a Mãe de Deus nunca deixou de ser uma virgem" (São Basílio Magno, Homilia Em Sanctum Christi generationem, V).

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    1. SOBRE EPIFÂNIO E HIPÓLITO

      Se Jesus abriu o útero da virgem ao nascer, logo essa citação prova sim muita coisa. Quem traz essa citação e afirma o que eu disse é J.N.D Kelly, considerado por muita gente o maior erudito patrístico do séc. XX:

      Embora Epifânio ainda sustentasse que “o Unigênito abriu o ventre virginal” (Haer 78:19), não nos surpreendemos ao encontrar Crisóstomo proclamando em harmonia com Gregório de Nissa a virgindade de Maria no nascimento de Jesus e também depois. (Op Cit, p.378)

      A citação que você trouxe é que é irrelevante:

      APÓS ENGRAVIDAR a virgem é encontrada inviolada.

      É uma questão simples de interpretação. A virgem é encontrada inviolada após engravidar e não após o parto. Ele apenas está afirmando a concepção virginal. Maria não teve relações com nenhum homem para então engravidar. Vou deixar que Juniper Carol lhe responda também:

      Foi este conceito que parece ter sido o fundamento da sua [João Crisóstomo] segurança sobre a virgindade de Maria, pois ele estava absolutamente convencido de sua virgindade perpétua, E ESPECIFICOU O NASCIMENTO VIRGINAL - UMA CONVICÇÃO NÃO ENCONTRADA, COMO VIMOS, EM EPIFÂNIO, nem em São Gregório Nazianzeno, e apenas vagamente proposta por Anfilóquio.

      Nem o especialista da sua própria igreja concorda com sua tese. As outras duas citações de Epifânio apenas afirmam que Maria não teve filhos e não teve relações conjugais com José. É isso que ele entendia como “sempre virgem” – uma mulher que nunca fez sexo. Esse é o conceito natural de virgindade, porém, sua igreja também inclui um suposto nascimento virginal que não era aceito por Epifânio.

      “Hipolito não fala muito sobre o assunto, mas deixei evidente uma frase sua.”

      Como já demonstrado, os eruditos não afirmam que Hipólito defendeu a virgindade perpétua como inicialmente você trouxe.

      “Vc mais uma vez copiou esse argumento de um site estrangeiro, sem consultar na fonte. Eu não teria coragem de ficar copiando essas respostas de sites estrangeiros sem conhecer toda a obra do autor em seu contexto. Será que Hans Von falava neste sentido? Veja que "irmão se Jesus" está entre aspas. Tem que ver o contexto e ver se isso ai está escrito mesmo.”

      Quem disse que não chequei a fonte? Você diz a mesma coisa para os sites católicos que praticamente só replicam o que sites americanos trazem? Você tem feito isso com frequência ao copiar citações em nossas discussões. Eu não preciso ter lido toda uma obra para saber que uma fonte existe e duvido que você tenha lido todas as obras dos pais da igreja que cita. No mais, a maioria das fontes que eu cito estão disponíveis para verificação online (principalmente no google books). Você poderia verificar aqui:

      https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=jKAQAQAAIAAJ&focus=searchwithinvolume&q=Hippolytus

      Hans cita numa nota de rodapé de Hipólito via os irmãos de Jesus como filhos de José e Maria a partir de uma fonte em francês na nota de rodapé n. 4. Dessa forma, sim, Hans afirmou que Hipólito negou a virgindade perpétua de Maria. Se a citação afirma que eram filhos de Maria e José, é uma implicação lógica que eram irmãos de Jesus.

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    2. SOBRE TERTULIANO

      As duas sacerdotisas DE SANTIDADE CRISTÃ, A MONOGAMIA E A CASTIDADE: UMA MODESTA EM ZACARIAS O SACERDOTE, outra absoluta em João o mensageiro: uma apazigua Deus; outra prega Cristo; uma proclama um sacerdote perfeito; outra exiba "mais do que um profeta" - ele que não só tem pregado ou pessoalmente apontado, mas batizou Cristo. Pois quem era mais digno de realizar o rito inicial sobre o corpo do Senhor, do que carne semelhante em tipo àquela que concebeu e deu à luz esse [corpo]? E na verdade era uma virgem, prestes a casar-se uma vez por todas depois do seu parto, que deu à luz Cristo, PARA QUE CADA TÍTULO DE SANTIDADE PUDESSE CUMPRIR-SE NA PARENTELA DE CRISTO, por meio de uma mãe que era tanto virgem, como esposa de um só marido. (Sobre a Monogamia 8)
      Tertuliano está afirmando que Maria viveu esses dois estágios da santidade Cristã: a castidade e a monogamia. Se a monogamia é um estágio diferente da castidade, logo Maria não permaneceu casta. É uma simples conclusão lógica. Além do mais, ele traz Zacarias como exemplo de Monogamia. E todos sabemos que Zacarias teve relações naturais com sua mulher, logo Maria, ao viver a monogamia, teve relações naturais com José. Em outro lugar, Tertuliano escreve:

      Ninguém senão os que ouvem as minhas palavras e as praticam”. Deste modo transferiu os nomes DAS RELAÇÕES CONSANGUÍNEAS a outros que considerava mais estreitamente relacionados com Ele por causa da fé deles (...) Não é surpreendente que preferisse gente de fé aos seus próprios parentes, que não possuíam tal fé. (Contra Marcião 4:19)

      Como os irmãos de Jesus poderiam ter relações consanguíneas com ele se eram filhos apenas de José ou meramente primos? A implicação lógica é que seus irmãos eram também filhos de Maria.

      Primeiro de tudo, ninguém teria dito a ele que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, SE ELE NÃO ESTIVESSE CERTO DE QUE TINHA UMA MÃE E IRMÃOS, e que eles eram as pessoas a quem estava anunciando. (ibid., 7)

      No entanto, devemos acreditar que Tertuliano estava falando de primos? É um hipótese muito improvável. Mas como de costume, vou deixar quem os especialistas católicos refutem sua tese (verifiques as fontes no meu artigo específico). Ruether escreve:

      Ele assume que eles eram filhos naturais de Maria e José, nascidos após o nascimento de Jesus, e ele não está ciente de nenhuma tradição ortodoxa em contrário. (Op. Cit., p. 67)

      Juniper B. Carol escreve:

      Tertuliano é inequivocamente claro e radical. Ele aceita a concepção virginal de Cristo como uma verdade dogmática. Mas, uma vez que entrou em sua polêmica com os docetistas, marcionitas e valentinianos, ELE É IMPLACÁVEL NA DEFESA DO NASCIMENTO DE CRISTO COMO INTEIRAMENTE NORMAL E NA DESCRIÇÃO DE MARIA COMO A MÃE DE VÁRIOS FILHOS DEPOIS DE CRISTO. Tertuliano em sua franqueza não pretende ser tradicional e nunca agrada a qualquer autoridade dogmática. Por outro lado, ELE NÃO MANIFESTA A MENOR CONSCIÊNCIA DE QUE SUAS NEGAÇÕES DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE NOSSA SENHORA CONTRADIZEM QUALQUER TRADIÇÃO ECLESIÁSTICA, PELO MENOS, CONHECIDAS POR ELE.

      Kelly manifesta a mesma opinião. Meier, outro reconhecido teólogo católico, afirma o mesmo. A citação que você pediu o contexto fala justamente disso – do paralelo com Zacarias que eu mostrei acima. Desconheço qualquer estudioso renomado do assunto que negue isso.

      Além do mais, o próprio Jerônimo implicitamente reconheceu o desacordo de Tertuliano. Helvídio citou Tertuliano e Vitorino a seu favor. Sobre Vitorino, ele prontamente negou que fosse um testemunho contrário. Já sobre Tertuliano, ele apenas desqualifica a fonte sem afirmar que ele não negava a doutrina.

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    3. SOBRE BASÍLIO

      “Basílio não está esclarecendo nada contra a virgindade, ele só mostra claramente que a virgindade de Maria serviu de instrumento como mistério do milagre da encarnação sem relação sexual, mas que sua VIRGINDADE SUBSEQUENTE já não tinha grande importância para entender este milagre.”

      A sua incapacidade entender o que é escrito é admirável. Eu não afirmei que Basílio está negando a virgindade pós-parto. Eu afirmei que ele está dizendo que não é algo contrário à fé negar essa ideia – portanto – para ele a virgindade pós-parto não é um artigo de fé. Ele claramente afirmou: “NÃO É CONTRÁRIA A FÉ”. Mais uma vez, deixemos que os especialistas falem:

      A resposta provocada pelo discurso Eunomius é típica do temperamento e atitude dos tempos. A resposta veio de uma fonte católica, que temos fortes razões para acreditar que foi São Basílio, na forma de um discurso sobre a festa da Teofania. Neste sermão, após breves comentários sobre a geração eterna do Verbo, o autor retoma o seu ponto principal, que é comentar o relato do nascimento temporal do Cristo dada por São Mateus. O autor também concentra a sua atenção sobre a possibilidade de relações conjugais entre Maria e St. José depois do nascimento de Cristo. Ele rejeita essa possibilidade, mas não apelando à crença dogmática. ELE NÃO TEM CONSCIÊNCIA DE QUALQUER OBRIGAÇÃO SOB ESTE ÂNGULO, E ATÉ MESMO GENEROSAMENTE ADMITE QUE NÃO EXISTE TAL OBRIGAÇÃO. A fé, ele candidamente admite, EXIGE APENAS QUE SE ACREDITE NA PERMANÊNCIA DA VIRGINDADE DE MARIA ATÉ (E INCLUINDO) A ENCARNAÇÃO. APÓS A CONCEPÇÃO VIRGINAL NÃO HÁ NENHUMA OBRIGAÇÃO IMPOSTA PELA FÉ. (Juniper Carol)

      Kelly escreve:

      (...) mas também Basílio de Cesareia, ao criticar este último, deixou implícito qUE TAL IDEIA ERA AMPLAMENTE ACEITA E, EMBORA ELE PRÓPRIO NÃO A ACEITASSE, NÃO ERA INCOMPATÍVEL COM A ORTODOXIA. (J.N.D Kelly, Patrística, Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã [Editora Vida Nova, 1994], p. 377-378)

      Além do mais, Carol explica que a crença de Basílio na virgindade pós-parto era baseada em literatura apócrifa:

      Apesar deste aberto reconhecimento da liberdade de opinião, o autor passa a enfatizar que muitos excelentes cristãos - ele os chama de "Philochristoi" - RECUSARIAM ADMITIR QUE NOSSA SENHORA TEVE RELAÇÕES CONJUGAIS COM ST. JOSÉ. Ele aceita e defende seus pontos de vista e acrescenta como uma razão a narrativa DE UM CERTO ZACARIAS, QUE MORREU EM DEFESA DA HONRA DE MARIA. Podemos passar sobre esta razão confirmatória, QUE NÃO É CERTAMENTE ADEQUADA PARA PROVAR A VIRGINDADE PÓS-PARTO DE MARIA, mas não devemos encobrir a situação revelada por TAL FÁBULA SENDO USADA COMO PROVA. Pois, é evidente a partir deste discurso que em uma região do mundo grego, aparentemente, a Ásia Menor, um importante homem da igreja, sem dúvida, O ARCEBISPO DE CESARÉIA, ST. BASÍLIO NEM SUAS IGREJAS METROPOLITANAS NÃO DETINHAM A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA COMO UMA VERDADE DOGMÁTICA.

      É isso. Ainda no séc. IV, um pai da igreja afirma (e outros fariam o mesmo) que a virgindade perpétua não era uma verdade dogmática. Devemos agradecer Basílio por reconhecer isso, pois sua crença tinha bases muito frágeis. Ademais, não temos nenhuma afirmação de Basílio a favor da virgindade no parto.

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  9. Não era intenção minha falar do celibato aqui, mas vc iniciou, então...
    A Igreja é uma instituição, e assim como qualquer instituição ela tem direitos e deveres de impor suas regras. Mas nós cremos que quem dirige a Igreja é o Espírito Santo de Deus, e que não são regras meramente humanas sem importância. O celibato é uma disciplina que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos pelos concílios, mas que tem base apostólica, e na bíblia onde é demonstrado sua necessidade aos ministros.
    Quando Jesus escolhe os apóstolos e diz que quem deixar casa, campo, pai, mãe, mulher e filhos por amor ao Reino dos Céus, Ele está imprimindo a identidade do ministro da Igreja, não somente a missão de pregar a palavra, mas de um estilo de vida que deveriam ter. A Igreja sempre enxergou o episcopado como uma imitação do próprio Cristo, que era celibatário e não tinha bens próprios, mas apenas saiu a pregar a palavra.
    Quando Cristo chamou os apóstolos eles muito provavelmente já eram casados. Porém já era nítido essa necessidade de uma vida celibatária, por amor ao reino MT 19,12. A verdade é que a Igreja sempre exigiu o celibato dos clérigos, mas também sempre ordenou homens casados. Pode parecer ser uma contradição mas não é. A partir da ordenação sacerdotal, os homens casados e escolhidos pela Igreja para serem sacerdotes deixavam o uso do matrimônio e passavam a viver em continência, como na citação de Jerônimo que mostrei anteriormente. Sempre houve clérigos casados como Adriano que vc cita, pois homens casados também eram ordenados, porém a Igreja sempre orientou a vida de celibato, mesmo quem era casado deveria guardar continência e não morar mais com a mulher.

    São Paulo, que era celibatário 1COR 7,7, deu orientações sobre aqueles haveria de cuidar das coisas do Senhor:
    1COR 7,32 “O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa.

    O Concílio de Elvira, no Cânon xxxiii: Fica plenamente decidido impor aos bispos, aos presbíteros(Sacerdotes) e aos diáconos, como a todos os clérigos no exercício do ministério, a seguinte proibição: que se abstenham das suas esposas e não gerem filhos; quem porém o fizer, deve ser afastado do estado clerical."

    O Concílio de Nicéia na verdade não proíbe a ordenação de homens casados, mas proibiu o casamento após ordenação, mas já dizia que os clérigos deveriam manter o celibato, proibindo a convivência com mulher que não fosse parente:

    Nicéia, Canon 3: O grande Sínodo tem rigorosamente proibido qualquer Bispo, Sacerdote, Diácono ou qualquer um dos clérigos que seja, ter em sua casa uma mulher que lhe seja estranha, com exceção apenas a mãe, ou uma irmã, ou uma tia.

    Para entender a razão do celibato O Papa Pio XII escreve na encíclica "Menti Nostrae":

    "É precisamente porque ele deve ser livre de todas as preocupações profanas e consagrar-se totalmente ao serviço de Deus, que a Igreja estabeleceu a lei do celibato, a fim de que seja sempre mais manifesto a todos que o Sacerdote é ministro de Deus e pai das almas".
    "Por esta obrigação do celibato, muito longe de perder inteiramente o privilégio da paternidade, o sacerdote o aumenta ao infinito, porque, embora não suscite posteridade nesta vida terrestre e passageira, engendra uma outra para a vida celeste e eterna".
    FONTE: VATICANO

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    1. “Não era intenção minha falar do celibato aqui, mas vc iniciou, então...”

      O primeiro a trazer a questão do celibato foi você.

      “A Igreja é uma instituição, e assim como qualquer instituição ela tem direitos e deveres de impor suas regras. Mas nós cremos que quem dirige a Igreja é o Espírito Santo de Deus, e que não são regras meramente humanas sem importância.”

      O ponto em discussão é se o celibato obrigatório é uma tradição apostólica – e definitivamente não é. O que a igreja romana fez foi inventar regras que não existiam na igreja e não foram ensinadas por Cristo ou algum apóstolo. Como não acreditamos que o Espírito Santo pode se contradizer, temos que rejeitar sua alegação. Além do mais, como você sabe que o celibato obrigatório é um ensino da igreja inspirado pelo Espírito Santo?

      “Quando Cristo chamou os apóstolos eles muito provavelmente já eram casados. Porém já era nítido essa necessidade de uma vida celibatária, por amor ao reino MT 19,12”

      Esse raciocínio é uma contradição. Se a vida celibatária era uma NECESSIDADE, os apóstolos não poderiam ter continuado casados e muito menos ordenar homens casados. Isso evidencia que eles não entenderam Mateus 19:12 como você. Jesus não ensinou nessa passagem ou em qualquer outra que um líder eclesiástico necessariamente deveria abrir mão do casamento para ocupar tal carto.

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    2. (cont...)

      “A verdade é que a Igreja sempre exigiu o celibato dos clérigos, mas também sempre ordenou homens casados (...)”

      Essa é definitivamente a explicação mais absurda que já ouvi sobre um suposto celibato na igreja primitiva. Eles eram ordenados casados, continuavam casadas, mas tinham que se abster de suas esposas? O Senhor poderia citar ao menos algum estudioso que referenda sua tese? Além do mais, a própria igreja romana afirma que a relação conjugal é um direito do marido ou esposa. Paulo também afirmou que era um direito do cônjuge (1 Cor. 7:3). No mais, até mesmo os estudiosos católicos estão contra essa tese absurda. A própria enciclopédia católica afirma que até o Concílio de Niceia havia total liberdade na questão, inclusive com a existência de bispos com filhos. Você acredita também que esses filhos são do período pós-ordenação? Você poderia nos mostrar algum cânone afirmando essa necessidade de ordenado casado se abster de sua esposa num período anterior ao séc. IV?

      Sobre a citação de Jerônimo, a enciclopédia católica afirma:

      “St. Jerônimo parece ainda falar de um costume geralmente observado quando declarou que clérigos ‘mesmo que eles podem ter esposas, deixar de ser maridos’.”

      Isso pode ter sido um costume de alguns nos dias de Jerônimo, mas não era uma lei canônica. Não nos opomos a quem voluntariamente deseja seguir uma vida celibatária, mas nos opomos àqueles que afirmam que o celibato é uma tradição apostólica de observância obrigatória. Além disso, a afirmação de que os apóstolos eram casados, mas não coabitavam com suas mulheres não tem valor histórico e nos mostram mais um exemplo de como Jerônimo anacronicamente projetava suas ideias ascéticos, da mesma forma como fez com Maria.

      “Sempre houve clérigos casados como Adriano que vc cita, pois homens casados também eram ordenados, porém a Igreja sempre orientou a vida de celibato, mesmo quem era casado deveria guardar continência e não morar mais com a mulher.”

      Evidências? Fontes? Estudiosos? Adriano por exemplo tinha filhos, o que não era muito incomum entre papas mesmo “celibatários”.

      No mais, Paulo não afirma que o celibato é obrigatório ou condição para exercer o episcopado. Tanto é que ele ordenou homens casados que deveriam manter relações conjugais com suas esposas.

      Sobre o Concílio de Elvira já respondi. Além de ser uma evidência do séc. IV (não prova sua alegação), ele não vinculava toda a igreja.

      O Concílio de Niceia não afirma que o bispo casado deve deixar sua mulher. O que ele afirma é que um bispo não deve manter uma mulher ESTRANHA em sua casa, com exceção daquelas que pertenciam a sua família. Obviamente, o Concílio não se referiria a esposa do bispo como uma ESTRANHA. Essa medida visava evitar falatório e mau testemunho a respeito da honra do bispo.

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  10. O próprio John McGuckin que vc citou está afirmando que Tertuliano aderiu às ideias do Montanismo. Se ele aderiu a essa heresia então é um herege, oras. Não é preciso que ele tenha fundado uma seita ou “igreja” própria. As heresias do montanhismo eram graves, e contrariava doutrinas “primárias” e fundamentais do cristianismo. Uma delas era a Trindade.

    São Jerônimo (epístola 43) chega a falar um pouco de suas heresias, onde os Montanistas não acreditavam na doutrina da Santíssima Trindade. Mas que acreditavam que eram 3 deuses, e que por isso até comemoravam a quaresma 3 vezes no ano, sendo 1 pra cada deus. Enquanto Jerônimo diz toda igreja comemorava a quaresma e o pentecostes uma vez no ano conforme a tradição apostólica.

    O fato de Cipriano ler Tertuliano não implica que por isso ele não tenha sido um herege, não significa que Cipriano aceitava tudo que ele ensinava. Um exemplo, é que Tertuliano era contra batismo de crianças, enquanto São Cipriano dizia que crianças deviam ser batizadas devido pecado original herdado de Adão. Os maiores doutores da igreja Agostinho e Tomas de Aquino se basearam muito nos escritores pagãos como Platão ou Sócrates, e nem por isso quer dizer que aceitavam tudo que os pagãos ensinavam. Então claro que Tertuliano ensinou coisas importantes sobre a fé e a história daquele tempo, mas ele aderiu a uma heresia grave, e por isso não pode ser citado sozinho para afirmar algo sobre fé.

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    1. “São Jerônimo (epístola 43) chega a falar um pouco de suas heresias, onde os Montanistas não acreditavam na doutrina da Santíssima Trindade. Mas que acreditavam que eram 3 deuses, e que por isso até comemoravam a quaresma 3 vezes no ano, sendo 1 pra cada deus. Enquanto Jerônimo diz toda igreja comemorava a quaresma e o pentecostes uma vez no ano conforme a tradição apostólica.”

      Não é a epístola 43, mas a 41 em que ele fala sobre o Montanismo. A enciclopédia católica escreve:

      “É interessante ter em conta o relato de São Jerônimo, escrito em 384, das doutrinas de Montanismo como acreditava que elas foram em seu próprio tempo (...) São Jerônimo se recusa a acreditar na história do sangue de um bebê; mas seu relato é exagerado além do que os montanistas teriam admitido que realizaram.” (http://www.newadvent.org/cathen/10521a.htm)

      O relato de Jerônimo não é confiável e não é endossado por nenhum historiador do movimento montanista.

      “O fato de Cipriano ler Tertuliano não implica que por isso ele não tenha sido um herege, não significa que Cipriano aceitava tudo que ele ensinava.”

      Cipriano não apenas o lia, mas o considerava um mestre teológico, logo não poderia considera-lo um herege. Um homem rígido como Cipriano teria reagido a descrença de Tertuliano na virgindade perpétua se o considerasse um artigo de fé. Nem nós afirmamos que Cipriano concordavam em tudo, mas ele com certeza não o considerava herege.

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    2. (cont...)

      “Um exemplo, é que Tertuliano era contra batismo de crianças, enquanto São Cipriano dizia que crianças deviam ser batizadas devido pecado original herdado de Adão.”

      O batismo infantil não era um artigo de fé nesse período, logo é uma discordância irrelevante para a discussão. Mesmo no século IV, vemos pais da igreja recomendando atrasar o batismo. Muitos pais da igreja que nasceram em lares cristãos foram batizados somente na fase adulta como Agostinho e Crisóstomo. Gregório Nazianzo escreveu:

      Que assim seja, alguns dirão, no caso daqueles que perguntam sobre o batismo; o que você tem a dizer sobre os que ainda são crianças, e não conscientes nem do pecado nem da graça. Devemos batizá-los também? Certamente (...) Mas em relação aos outros [infantes] dou o meu parecer DE QUE SE DEVE ESPERAR ATÉ O FINAL DO TERCEIRO ANO, OU UM POUCO MAIS OU MENOS, QUANDO ELES PODEM SER CAPAZES DE OUVIR E DE RESPONDER ALGO SOBRE O SACRAMENTO, para que, mesmo que eles não se possam compreendê-lo perfeitamente, mas de qualquer forma eles podem conhecer os contornos, e, em seguida, para santificá-los na alma e no corpo com o grande sacramento da nossa consagração. (Orações 40:28)

      “Os maiores doutores da igreja Agostinho e Tomas de Aquino se basearam muito nos escritores pagãos como Platão ou Sócrates, e nem por isso quer dizer que aceitavam tudo que os pagãos ensinavam.“

      Eles não consideravam esses autores mestres teológicos como Cipriano considerava Tertuliano, portanto, é irrelevante para a questão.

      “Então claro que Tertuliano ensinou coisas importantes sobre a fé e a história daquele tempo, mas ele aderiu a uma heresia grave, e por isso não pode ser citado sozinho para afirmar algo sobre fé.”

      Não consideramos que ele aderiu a uma heresia grave. O quadro traçado pelos especialistas em Tertuliano não é esse. Nem ele nem algum pai da igreja pode isoladamente ser citado para determinar um ponto de fé. Nossa discordância da doutrina romana não se baseia apenas em Tertuliano, mas em vários outros pais da igreja e principalmente na Escritura. Tertuliano é apenas uma importante evidência histórica de como as alegações de Roma são falsas. Não havia qualquer tradição dogmática no século II ou III que afirmava a virgindade perpétua de Maria. Isso tanto é verdade que o próprio Tertuliano defendeu com energia o dogma da concepção virginal contra os hereges, no entanto, ninguém fez o mesmo nesse período em relação ao suposto dogma mariano.

      Além de tudo, a adesão de Tertuliano ao montanismo ou não é irrelevante para sua crença na virgindade perpétua. Como demonstramos em nosso artigo, não havia nenhum pré-disposição no montanismo para negar tal ideia. Visto que eles eram um grupo rigorista, a tendência é que vissem com bons olhos a ideia da virgindade.

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    3. (cont...)

      "O próprio John McGuckin que vc citou está afirmando que Tertuliano aderiu às ideias do Montanismo. Se ele aderiu a essa heresia então é um herege, oras. Não é preciso que ele tenha fundado uma seita ou “igreja” própria. As heresias do montanhismo eram graves, e contrariava doutrinas “primárias” e fundamentais do cristianismo. Uma delas era a Trindade."

      Sua abordagem é anacrônica. Não interessa o que hoje a igreja diz sobre o montanismo. O que importante é como esse movimento era visto em sua época. No mais, os montanistas nunca negaram a trindade ou algum ponto fundamental do cristianismo do séc. II-III. Tertuliano mesmo escreveu sua fórmula trinitária no período montanista, logo é improvável que eles negassem a trindade. O dicionário patrístico afirma:

      A doutrina do montanismo, DIFICILMENTE ATACÁVEL DO PONTO DE VISTA DOGMÁTICO, criou dificuldades para a Igreja (...) (http://www.e-cristianismo.com.br/historia-do-cristianismo/montano-e-o-montanismo.html)

      O proeminente historiador protestante Philip Schaffer escreve:

      NA DOUTRINA, MONTANISMO CONCORDOU EM TODOS OS PONTOS ESSENCIAIS COM A IGREJA CATÓLICA, E SEGUROU COM FIRMEZA A REGRA TRADICIONAL DE FÉ. TERTULIANO FOI COMPLETAMENTE ORTODOXO DE ACORDO COM O PADRÃO DE TEMPO. Ele se opôs batismo infantil no pressuposto de que os pecados mortais não poderiam ser perdoados depois do batismo; MAS O BATISMO DE CRIANÇAS AINDA NÃO ERA UM DOGMA CATÓLICO, E FOI DEIXADO AO CRITÉRIO DOS PAIS. ELE CONTRIBUIU PARA O DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA ORTODOXA DA TRINDADE, afirmando contra Patripassianismo uma distinção pessoal em Deus e o Espírito Santo. O Montanismo não estava enraizado no ebionismo, no judaísmo, nem no Gnosticismo ou paganismo, MAS NO CRISTIANISMO; E SEUS ERROS CONSISTIAM NUM EXAGERO DAS IDEIAS E EXIGÊNCIAS CRISTÃS. (http://www.ccel.org/a/schaff/history/2_ch10.htm)

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  11. “Esse é o conceito natural de virgindade, porém, sua igreja também inclui um suposto nascimento virginal que não era aceito por Epifânio.”

    O fato de Epifânio e Hipólito talvez não falarem da virgindade no parto, não implica que tinham pensamento contrário ao qual a igreja ensina hoje, até porque eles consideravam-na como Sempre Virgem, então muito provavelmente aceitavam este Dogma da virgindade Antes, Durante e Após o parto. Agora convenhamos que o ponto principal de debate entre o protestantismo atual e a Igreja neste tema, é que o protestantismo DE HOJE defende que os “irmãos de Jesus” na bíblia eram filhos de Maria. O protestantismo atual distanciou-se até mesmo dos primeiros reformadores quando o assunto é Mariologia, tais como Lutero, Calvino, Zuinglio e demais, que acreditavam no desígnio de Maria, ser preparada por Deus apenas para carregar a palavra encarnada em seu ventre, e mais nenhum outro homem.

    A Igreja não defende a virgindade perpétua de Maria simplesmente por defender, ela faz isso porque percebe que há um propósito de Deus por traz. E mesmo que ninguém tivesse deixado escrito nada sobre a virgindade de Maria na era primitiva, a Igreja hoje não teria um pensamento diferente a esse respeito pelo fato de haver um propósito divino. Por isso Agostinho e outros padres, mesmo 300 anos depois, ensinam sobre tal doutrina, pois entenderam que tem um objetivo que faz parte do contexto da fé cristã. Sua virgindade era um desígnio de Deus desde o início, e há uma lógica e um sentido nisto, não se trata apenas de provar um estado virginal de Maria simplesmente sem sentido. A Igreja enxerga sua virgindade perpétua como um mistério de Cristo, e não um simples estado ou privilégio, mas um desígnio de Deus para a sua maternidade espiritual sobre toda a Igreja, e também como um modelo para a Igreja que deve ser virgem e Mãe, e para todos aqueles que consagram suas vidas a Cristo e ao anúncio do Evangelho. Por isso São Jerônimo disse:
    A virgindade de Cristo e da Virgem Maria têm dedicado em si os primeiros frutos da virgindade para ambos os sexos. Os apóstolos, quer tenham sido ou virgens, embora casados, viveram uma vida de celibato. (São Jerônimo, Cartas 48, 21).

    “Você tem feito isso com frequência ao copiar citações em nossas discussões. “

    Algumas coisas que eu copiei aqui são apenas frases dos pais da igreja, mas com as devidas referências no final para que vc possa consultar em sites como NewAdvent. Diferente de vc copiar a opinião própria das pessoas como vc já fez aqui e no outro debate sobre purgatório.

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    1. Epifânio e Hipólito não foram silentes a respeito da virgindade no parto. Eles afirmaram explicitamente que o parto foi normal – o útero da virgem teria sido aberto. Os reformadores citados de fato acreditavam na virgindade pós-parto de Maria, mas não consideravam isso um artigo de fé. Esse é o cerne da questão. Além disso, o protestantismo felizmente é uma religião que permite a correção. Eles estavam errados nesse ponto, e o peso das evidências fez com que a verdade emergisse. Infelizmente, no romanismo as ideias erradas uma vez dogmatizadas se auto-perpetuam. Tradições explicitamente equivocadas como os dogmas marianos não podem ser corrigidas.

      “E mesmo que ninguém tivesse deixado escrito nada sobre a virgindade de Maria na era primitiva, a Igreja hoje não teria um pensamento diferente a esse respeito pelo fato de haver um propósito divino.”

      Isso explica muita coisa. Como eu disse em outra resposta, você não é sensível às evidências, e nem poderia ser. No mais, que propósito divino é esse? Você afirmou que ele existe, mas não disse qual? Porque Maria deveria necessariamente permanecer virgem por resto de sua vida?

      “Algumas coisas que eu copiei aqui são apenas frases dos pais da igreja, mas com as devidas referências no final para que vc possa consultar em sites como NewAdvent. Diferente de vc copiar a opinião própria das pessoas como vc já fez aqui e no outro debate sobre purgatório.”

      Nem todas as citações dos pais da igreja que você trouxe podem ser acessadas em algum recurso online. Copiar a opinião das próprias pessoas? Se eu cito um autor, obviamente isso só pode ser a opinião dele.

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  12. “Juniper B. Carol escreve:
    Tertuliano é inequivocamente claro e radical. Ele aceita a concepção virginal de Cristo como uma verdade dogmática. Mas, uma vez que entrou em sua polêmica com os docetistas, marcionitas e valentinianos, ELE É IMPLACÁVEL NA DEFESA DO NASCIMENTO DE CRISTO COMO INTEIRAMENTE NORMAL E NA DESCRIÇÃO DE MARIA COMO A MÃE DE VÁRIOS FILHOS DEPOIS DE CRISTO. Tertuliano em sua franqueza não pretende ser tradicional e nunca agrada a qualquer autoridade dogmática. Por outro lado, ELE NÃO MANIFESTA A MENOR CONSCIÊNCIA DE QUE SUAS NEGAÇÕES DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE NOSSA SENHORA CONTRADIZEM QUALQUER TRADIÇÃO ECLESIÁSTICA, PELO MENOS, CONHECIDAS POR ELE.”

    Vc deveria tentar entender a lógica do mistério e do sentido da virgindade perpétua de Maria, que é algo inerente à fé cristã. Se não fosse algo importante, os pais da igreja, como Epifânio, não chegariam ao ponto de chamar de hereges aqueles que dizem que Maria teve relações conjugais. Santo Ambrósio, que é outro doutor da igreja, chega a dizer que teria sido uma loucura se José tivesse tido relações carnais com Maria. Por tanto é uma questão de fé, e há um sentido e uma importância doutrinal neste Dogma, ou então qual problema Maria ter tido relações e outros filhos? Mas vc parece não estar em busca da verdade, só quer encontrar um autor da igreja primitiva que ensine aquilo que vc deseja acreditar. Se vc quer continuar implicando só porque 1 entre 100 pais da igreja ensinou algo contrário à igreja, então que seja. Mas eu prefiro confiar no sentido teológico de Jerônimo que é considerado doutor da igreja, sobre tal doutrina, até porque eu mesmo entendo que foi um desígnio divino, do que acreditar num herege montanista só porque viveu um pouco mais próximo a época apostólica. O próprio autor que vc citou crítica Tertuliano como não sendo bem visto pelas autoridades dogmáticas.


    A sua incapacidade entender o que é escrito é admirável. Eu não afirmei que Basílio está negando a virgindade pós-parto. Eu afirmei que ele está dizendo que não é algo contrário à fé negar essa ideia – portanto – para ele a virgindade pós-parto não é um artigo de fé. Ele claramente afirmou: “NÃO É CONTRÁRIA A FÉ”.”

    Pelo visto parece que vc recortou o texto e emendou em outro lugar, dando a entender que para Basílio não é contrário à fé, acreditar que Maria teve filhos depois de Cristo, veja:

    “Basílio é esclarecedor:
    [A opinião de que Maria deu à luz várias crianças depois de Cristo] (...) não é contrária à fé...

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    1. “Vc deveria tentar entender a lógica do mistério e do sentido da virgindade perpétua (...)

      Pais da igreja como Epifânio e Ambrósio consideravam heresia negar a virgindade pós-parto de Maria, logo é algo inerente à fé Cristã. No entanto, o mesmo Epifânio negou a virgindade no parto, assim podemos concluir que isso não é parte inerente da fé cristã certo? Além disso, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Basílio, Atanásio, Efrém explicitamente discordariam de que a virgindade pós-parto de Maria era um artigo de fé. Porque o testemunho deles não tem valor, mas dos pais que você traz precisa fechar a questão? Será que é só porque eles concordam com a sua posição? Além do mais, poderíamos citar Jerônimo, Eusébio, Hilário, Helvídio como pessoas que negaram a virgindade no parto. Outros pais da igreja do século II como Irineu e Hegésipo são contados por muitos estudiosos, inclusive católicos como Meier, como testemunhas contra a virgindade perpétua. Isso, sem contar os autores bíblicos que são um testemunho sob o qual não há recurso.

      “Mas vc parece não estar em busca da verdade (...)"

      Primeiro, não é somente 1 pai que negava o dogma da virgindade perpétua. É muito mais do que isso, eu citei acima apenas alguns que negaram ou a virgindade pós-parto ou no parto. Sem contar àqueles, que mesmo acredito em algum dos dois elementos, não o consideravam um dogma como sua igreja defende. Obviamente, não existem 100 pais da igreja a favor da sua doutrina. Se formos contar somente aqueles que consideravam a virgindade perpétua como artigo de fé, você não encontrará sequer 5. Você então cita Jerônimo. Ocorre que ele negou a virgindade no parto. Porque você não acredita nessa parte do testemunho dele? Você não apenas apela seletivamente aos pais da igreja, mas também apela seletivamente às ideias de um mesmo pai da igreja. No fundo, nós sabemos por que você acredita na virgindade perpétua. É simplesmente porque sua igreja disse. Poderiam existir 100 pais negando e nenhum afirmando, você ainda teria que por obrigação acreditar nisso. Isso mostra bem quem está de fato livre para buscar a verdade. Você sequer pode buscar a verdade, pois de antemão deve aceitar que tudo o que a igreja romana ensina como dogma deve ser verdadeiro a despeito de qualquer investigação que aponte o contrário.

      Além disso, você insiste em diminuir a opinião de Tertuliano porque ele era um herege para sua igreja. O problema é: quase todos os pais da igreja ensinaram algo que hoje sua igreja considera uma heresia. Você próprio citou Orígenes, no entanto, ele ensinou coisas como a pré-existência da alma e universalismo. Jerônimo afirmou que o episcopado monárquico era fruto do costume e não uma instituição divina. Agostinho ensinou a eleição incondicional. Ambrósio ensinou que mesmo cristãos que morreram em pecado mortal não iriam necessariamente para o inferno. Um historiador honesto não dispensa o comentário de alguém como Tertuliano só porque ele hoje é considerado um herege por sua igreja. A questão é qual a relevância do montanismo para uma crença positiva ou negativa a respeito da virgindade perpétua? E a resposta é nenhuma. Não há nada no montanismo que implicasse numa negação dessa suposta doutrina.

      “Pelo visto parece que vc recortou o texto e emendou em outro lugar, dando a entender que para Basílio não é contrário à fé, acreditar que Maria teve filhos depois de Cristo”

      Mais uma vez você interpreta errado uma citação e já parte para acusações pessoais. A citação que eu trouxe sobre Basílio tem um trecho entre parênteses. Essa é a prática comum quando quem traz a citação deseja explicitar a que a citação se refere. Ainda assim, está bem claro na citação que Basílio não considerava a ideia de que Maria teve outros filhos contrária a fé. E essa posição não foi inventada por mim. Kelly (um erudito anglicano) e Carol (um reconhecido mariólogo católico) afirmam o mesmo.

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  13. "O ponto em discussão é se o celibato obrigatório é uma tradição apostólica – e definitivamente não é. O que a igreja romana fez foi inventar regras que não existiam na igreja e não foram ensinadas por Cristo ou algum apóstolo. Como não acreditamos que o Espírito Santo pode se contradizer, temos que rejeitar sua alegação. Além do mais, como você sabe que o celibato obrigatório é um ensino da igreja inspirado pelo Espírito Santo?”

    Se continuarmos nesse ponto, inevitavelmente entraremos num outro assunto que é o fato da Igreja ser uma instituição com autoridade para impor regras, que é governada pelos homens ou não. Pois eu evidentemente acredito que ela é uma instituição criada por Cristo, e é regida pelo espírito Santo principalmente em seus santos concílios.

    Mas só pra fazer um reflexão final, entendo que certas coisas foram sendo desenvolvidas com o tempo na igreja até se chegar a uma conclusão, como o próprio cânon bíblico, e o celibato embora não fosse obrigatório no início, pode ser percebido como algo recomendado por Cristo (MT 19,12) e pelos apóstolos 1COR 7,32. E baseado nesta recomendação foi imposta essa regra por vários motivos. Com o tempo, os bispos e sacerdotes da Igreja foram percebendo que esta condição mais próxima de Cristo era também a mais eficaz para o trabalho de evangelização. Pois um pai de família não tem o mesmo tempo para cuidar da messe que um solteiro. Sem falar em outras questões, como a necessidade de se deslocar de uma região para outra constantemente. Só que a igreja não obriga ninguém a ser Sacerdote, na verdade ela da todo suporte e condições financeiras para aqueles QUE QUEREM “se fazer eunucos por amor ao reino dos céus mt 19,12”. A verdade é que os clérigos optaram por um outro tipo de matrimônio, ou seja, um casamento com A IGREJA. Dessa maneira eles não terão os deveres de pai, esposo e profissão, e toda as preocupações que são inerentes a um chefe de família, podendo se dedicar plenamente a sua paróquia, e a sua missão de evangelizador. O próprio Jesus Cristo que se manteve casto, demonstra essa necessidade de ser solteiro, em sua missão evangelizadora.

    Por isso o apóstolos Paulo que era celibatário vai dizer:
    ‘COR 7,32 Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa.

    Outro motivo é a explicação teológica do fato que Igreja entende que um sacerdote pode verdadeiramente unir Deus e o homem por meio dos Sacramentos. Por isso quando um sacerdote está agindo, ele o faz na pessoa de Cristo (in persona Christi), ou seja, não é ele que está agindo, mas o próprio Cristo. E como eles agem na pessoa de Cristo, a igreja entende que os sacerdotes devem ser iguais a Ele, em pobreza material, solteiros e castos.
    A Igreja tem motivos lógicos e necessários para impor o celibato, e baseado na própria bíblia podemos dizer que é a melhor opção para o clero, mas ai entra outra questão de vc crer ou não na igreja como instituição para determinar regras de doutrina e vida, e disciplinas eclesiais.

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    1. “Se continuarmos nesse ponto, inevitavelmente entraremos num outro assunto que é o fato da Igreja ser uma instituição com autoridade para impor regras, que é governada pelos homens ou não. Pois eu evidentemente acredito que ela é uma instituição criada por Cristo, e é regida pelo espírito Santo principalmente em seus santos concílios.”

      Se a discussão fosse simplesmente se uma igreja pode criar regras de organização e disciplina seguindo os princípios gerais da doutrina apostólica, eu concordaria que a igreja tem essa prerrogativa. Mas a discussão é se o celibato obrigatório é uma tradição apostólica. Você começou essa interação afirmando que o celibato é necessário e tentou provar isso pela Escritura e pela história. Todavia, você não apresentou nem provas bíblicas ou históricas suficientes. Sabemos da sua crença, a questão é se você pode oferecer evidências favoráveis a ela. Ademais, a própria igreja romana ensina que a Eclésia não adiciona nem subtrai nada da revelação. A igreja somente mantém o depósito da fé apostólica. Por isso, a igreja não pode simplesmente criar regras a despeito da revelação recebida.

      “Mas só pra fazer uma reflexão final, entendo que certas coisas foram sendo desenvolvidas com o tempo na igreja até se chegar a uma conclusão, como o próprio cânon bíblico, e o celibato embora não fosse obrigatório no início, pode ser percebido como algo recomendado por Cristo (MT 19,12) e pelos apóstolos 1COR 7,32.”

      Agora você simplesmente mudou de ideia. Antes era algo necessário, agora é algo recomendável? Existe uma diferença considerável entre as duas coisas. No mais, eu já argumentei do porque nem Cristo e nem os apóstolos poderiam ter recomendado o celibato obrigatório, a não ser que você acredite que sua igreja compreendeu melhor o ensino apostólico do que os próprios apóstolos.

      A analogia entre o cânon e o celibato é defeituosa. A igreja levou alguns séculos para reconhecer todos os livros do cânon, no entanto, ele já existia no século primeiro quando o apóstolo João escreveu o último livro canônico. Temos também boas razões históricas para acreditar que os livros do N.T foram escritos por apóstolos ou seus auxiliares. Já em relação ao celibato obrigatório, não há evidência de que foi ordenado pela igreja dos primeiros séculos. Trata-se claramente uma medida influenciada pelo ascetismo crescente do séc. IV.

      “E baseado nesta recomendação foi imposta essa regra por vários motivos (...)”

      Você apresenta vários motivos para o celibato no sacerdócio, todavia, nenhum deles evidencia que essa foi uma obrigação imposta por Cristo ou pelos apóstolos. Se esses motivos forem verdadeiros, o máximo que você conseguiria é provar que o celibato é recomendável, mas ainda está longe de provar que seria obrigatório. Nem Cristo nem os apóstolos impuseram essa regra – algo que eles poderiam ter feito se achassem recomendável, por isso, a igreja protestante prefere seguir o exemplo dos apóstolos e ordenar pessoas casadas.

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    2. (cont...)

      Além disso, concedendo que os motivos elencados sejam verdadeiros para o bem do debate, nenhum deles implica que um sacerdote casado será um pároco de menor qualidade que um celibatário, pois o celibato é apenas um fator entre muitos outros que definem a qualidade de um sacerdote. Em certos aspectos, o fato de ser casado é até uma vantagem. Ele, por exemplo, está em melhores condições de entender a dinâmica de uma família, e assim melhor aconselhar outas famílias. Ademais, há sérias suspeitas de que os índices superiores de homossexualismo entre os padres são influenciados pelo celibato obrigatório, sem contar também os índices de pedofilia.

      “O próprio Jesus Cristo que se manteve casto, demonstra essa necessidade de ser solteiro, em sua missão evangelizadora.”

      Você confunde algo que é exemplificativo com algo normativo. Jesus era celibatário, mas nunca ensinou que seu exemplo era uma norma para os que desejavam pregar o evangelho. Pelo contrário, ele escolheu apóstolos casados que não abandonaram suas famílias. Esses, por sua vez, escolheram homens que também eram casados. Mais uma vez eu repito, se era algo necessário, a única conclusão válida é que o próprio Cristo e os Apóstolos não entenderam bem essa necessidade. O mesmo argumento se aplica a Paulo.

      “Outro motivo é a explicação teológica do fato que Igreja (...)”

      Esse argumento teológico esbarra no mesmo problema – os apóstolos de Cristo não entenderam dessa forma. Além disso, a analogia é ruim. Cristo era um monte de coisas que os padres não são. Ele foi um carpinteiro. Ele também foi apresentado no templo. Ele fazia milagres. Ele não tinha residência fixa. No entanto, nada dessas coisas são obrigatórias para um padre. Você precisa argumentar porque algumas características de Jesus são obrigatórias e outras não. Além disso, não há evidência de que a doutrina apostólica requeria pobreza material dos presbíteros. Inclusive, Paulo diz que o presbítero que desempenha bem o seu trabalho tem direito a honorários dobrados (1 Tm. 5:17).

      Você encerra sua postagem afirmando que o celibato é a melhor opção para o clero. Mais uma vez repito que essa não é a questão. Eu acredito que um pastor não ter um trabalho secular para ter mais tempo para sua função é algo recomendável, nem por isso, acredito que seja obrigatório. A questão é com que direito a igreja romana priva pessoas casadas do exercício do presbiterato? Deus escolheu não chamar pessoas casadas para exercer essa função? As evidências históricas e bíblicas nos leva a dizer que não.

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  14. Talvez Tertuliano não tenha negado a Trindade, mas apoiou e fez parte de um seguimento herético que ensinava tal heresia entre outras.

    "A doutrina do montanismo, DIFICILMENTE ATACÁVEL DO PONTO DE VISTA DOGMÁTICO, criou dificuldades para a Igreja (...) (http://www.e-cristianismo.com.br/historia-do-cristianismo/montano-e-o-montanismo.html)"

    O que o site está dizendo é que o montanismo era difícil de ser combatido, era algo difícil de combater do ponto de vista dogmático. Vc não deve ter lido tudo que o site diz sobre a gravidade desta heresia:

    "Nem mesmo com o apelo às Escrituras do Antigo e do Novo Testamento obtiveram-se resultados. De fato, Montano, com a pretensão de que nele falava o Paráclito, afirmava ESTAR ACIMA DA PRÓPRIA AUTORIDADE DAS SAGRADAS ESCRITURAS....O representante mais importante do montanismo da segunda geração foi TERTULIANO...Os numerosos escritos ascéticos e dogmáticos do período posterior ilustram, portanto, a personalidade de TERTULIANO MONTANISTA, mas do que dão um quadro do movimento. Contudo, também TERTULIANO RECONHECEU EXPRESSAMENTE A FUNÇÃO histórico-salvífica que MONTANO SE HAVIA ARROGADO. Com ele, qual Paráclito, ter-se-ia aberto nova fase da revelação divina, além da neotestamentária....Os montanistas são ainda mencionados pelos escritores eclesiásticos posteriores, comparecem NAS LISTAS DOS HEREGES..."

    Tertuliano foi um personagem importante para a igreja, porém não tem a mesma credibilidade que os outros padres. Cita-lo como prova pelo simples fato de ter vivido numa época mais próxima dos apóstolos, não significa algo irrefutável. Montano, Marcião, Novaciano e outros hereges também viveram nesta época e mesmo assim são considerados grandes hereges.

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    1. “Talvez Tertuliano não tenha negado a Trindade, mas apoiou e fez parte de um seguimento herético que ensinava tal heresia entre outras.”

      Philip Schaff discordaria de você. Não há evidência de que o montanismo negasse a trindade. Além do mais, não está sob discussão se o montanismo tinha erros teológicos. É óbvio que eles tinham. Mas, especificamente, no caso da trindade, não parece ser uma acusação verdadeira.

      “Tertuliano foi um personagem importante para a igreja, porém não tem a mesma credibilidade que os outros padres. Cita-lo como prova pelo simples fato de ter vivido numa época mais próxima dos apóstolos, não significa algo irrefutável. Montano, Marcião, Novaciano e outros hereges também viveram nesta época e mesmo assim são considerados grandes hereges.”

      Quem decide qual é o peso da opinião de Tertuliano ou não? O que a igreja romana diz ou não pode ter valor para você, mas não é relevante para um historiador profissional. Marcião, Montano e Novaciano negaram algum ponto considerado fundamental pela fé cristã do século II, o mesmo não pode ser dito de Tertuliano. Schaff (um historiador protestante bastante reconhecido) afirmou que Tertuliano permaneceu ortodoxo em relação à regra da fé. Eu argumentei em meu artigo porque a despeito da sua adesão ao montanismo, o testemunho histórico de Tertuliano é válido e mais importante do que outros pais da igreja.

      Os historiadores pesam o valor do testemunho histórico dos personagens. Josefo, por exemplo, não era sequer um cristão, mas a evidência histórica que ele fornece é mais importante do que Agostinho, que não estava numa boa posição para saber a natureza das relações maritais entre José e Maria. Os autores bíblicos, por exemplo, estão numa posição histórica muito melhor para dizer se Maria tinha ou não outros filhos, portanto, o testemunho deles é superior ao de qualquer outro pai da igreja.

      Já vimos também que Tertuliano não foi considerado um herege por pais da igreja posteriores. O exemplo notável foi Cipriano que o tinha como mestre teológico. Não podemos deixar de citar o silêncio qualificado de vários pais da igreja sobre a virgindade perpétua. Se esta fosse uma doutrina apostólica, se esperaria menções nos vários escritos do pais do século II-III, uma vez que a concepção virginal já era um artigo de fé. A conexão seria óbvia e lógica. Esse silêncio diz muita coisa também.

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