domingo, 28 de fevereiro de 2016

Os Pais Pré-Nicenos e a Regeneração Batismal - Parte 1



A regeneração batismal é a doutrina católica segundo a qual o pecador é despertado para uma nova vida e recebe o Espírito Santo no momento do batismo. Nesse momento, o Espírito Santo seria “infundido” no convertido. Protestantes, com raras exceções, ensinam que a regeneração não depende do batismo, nem acontece nesse momento. O batismo seria uma confissão pública daquilo que já aconteceu no interior do crente. Esse ensino é de suma importância, pois tem implicações diretas na doutrina da salvação. Se a regeneração batismal é verdadeira, o batismo é necessário para a salvação.

O atual ensino da Igreja Romana é inconsistente. É dito que existe a categoria “batismo de desejo”, na qual uma pessoa que morre sem ter sido batizada, mas o desejou explicitamente ou implicitamente, será salva. O primeiro problema é como alguém poderia desejar implicitamente algo, já que o desejo pressupõe uma vontade consciente em direção a um objeto conhecido. Além disso, esse não parece ter sido o ensino do concílio de Trento que afirma: “Se alguém disser que o batismo é facultativo, isto é, não necessário para a salvação — seja excomungado”. O padre Paulo Ricardo defende o batismo de desejo aqui. Essa não é uma posição unânime na ICR. Grupos rigoristas dizem que os proponentes dessa ideia são apóstatas e que o ensino da igreja sempre foi a absoluta necessidade do batismo (fonte). Católicos alegam estarem preservados do erro por terem a assistência de um magistério infalível. Não raro, citam de forma exagerada as divergências entre as igrejas protestantes como resultado da insubmissão ao magistério. Se concedêssemos que de fato existe esse magistério infalível, sendo o da Igreja romana, ainda assim, a igreja não estaria preservada do erro. Os católicos ainda precisam interpretar as palavras do magistério. A realidade é que assim como protestantes tem interpretações divergentes da Escritura, católicos tem interpretações divergentes do ensino do magistério. Grupos católicos como os sedevacantistas, utilizando-se de seu julgamento privado, estudaram a tradição da Igreja e concluíram que os atuais papas são ilegítimos. No fim do das contas, até mesmo os católicos dependem do livre exame para chegar à verdade, sendo que hoje, eles sequer estão acordo sobre a questão mais fundamental – onde está a verdadeira autoridade.

Iremos ao longo de dois artigos analisar a evidência patrística. A ICR diz que ela foi ensinada desde o tempo dos apóstolos. O site apologistas católicos diz: “Não há ensinamento mais claro que esse dentre os padres. É consenso unânime e inegável, entre eles, a crença na purificação que o batismo traz ao cristão no momento que é imerso ou aspergido com as águas sacramentais, onde todos os pecados antigos e atuais são lavados, e o Espirito Santo é infundido no Cristão. Portanto, será mostrado definitivamente com o ensinamento católico atual foi perpetuado desde a época mais primitiva do Cristianismo(fonte). Este artigo pretende demonstrar que apesar da regeneração batismal ter sido crida por alguns pais da Igreja, especialmente a partir do séc. IV, é falso afirmar que foi um “consenso unânime e inegável”.

Didaquê (séc. I)

Trata-se de um catecismo cristão muito antigo com diversas recomendações sobre práticas da Igreja. Entre elas encontramos sobre o batismo (caps. 7 e 8). É ensinado que se deve batizar em regra por imersão em água corrente, somente em caso de impossibilidade, por aspersão. Embora não seja explícito, as instruções dão a entender que somente adultos eram batizados, pois seria necessário fazer um jejum antes do batismo. Também é dito que os não batizados não podem participar da eucaristia (9:5). Porém, não é ensinado a necessidade do batismo para a salvação ou a regeneração através desse.

Clemente de Roma (? - 100)

E assim nós, tendo sido chamados pela sua vontade em Cristo Jesus, não nos justificamos a nós mesmos, ou por meio da nossa própria sabedoria ou entendimento ou piedade ou obras que tenhamos feito em santidade de coração, mas por meio da fé, pela qual o Deus Todo-poderoso justifica todos os homens que foram desde o princípio; ao qual seja a glória para sempre. Amén. (Carta aos Coríntios XXXII)

Em sua carta à Igreja de Corinto, Clemente reverbera o ensino paulino de que o homem não é justificado por obras, mas somente pela fé. Trata-se de uma testemunha patrística bastante qualificada devido sua antiguidade e provável contato com apóstolos. Sua defesa da Sola Fide nos permite concluir que ele não acreditava no batismo como necessário para a salvação e não apoiaria a doutrina católica da regeneração batismal. Um tratamento mais extenso sobre o testemunho de Clemente pode ser visto aqui.

Inácio de Antioquia (início do segundo século)

Meu espírito é vítima da cruz, que é escândalo para os que não creem, mas salvação e vida eterna para nós. Onde está o sábio? Onde está o inquisidor? Onde está a vaidade daqueles que se dizem sábios? De fato, o nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado, para purificar a água na sua paixão. (Aos Efésios 18)

Tenta extrair dessa citação a doutrina da regeneração batismal é ir além do que está escrito. Em todas as suas cartas, Inácio faz uso frequente de linguagem metafórica. No cap. 17 da mesma carta, ele diz:

Por isso, o Senhor recebeu ungüento sobre a cabeça, a fim de exalar a incorruptibilidade para a sua Igreja. Portanto, não vos deixeis ungir com o mau odor do príncipe deste mundo, para que não os leve prisioneiros, longe da vida que vos espera.

O apelo católico a Inácio é inconsistente. Se devemos acreditar que ele ensinou essa doutrina porque disse que Cristo purificou a água, também deveríamos acreditar que o óleo tem o mesmo efeito. No entanto, a Igreja de Roma não ensina isso. Não podemos concluir que o fato de um pai ter usado uma linguagem sacramental queira dizer que necessariamente tinha uma concepção sacramental do batismo. Mesmo numa perspectiva simbólica, atribuímos ao símbolo características exclusivas da coisa simbolizada. Era comum os apóstolos dizerem por exemplo que fomos salvos pela cruz. Alguém sã consciência acharia mesmo que pedaços de madeira nos salvaram? Obviamente não. Ao utilizar essa linguagem, eles estavam apontando não para pra cruz em si, mas ao que ela representou – o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados. Por isso, devemos ter o mesmo cuidado ao analisar os escritos patrísticos. Não há como estabelecer que Inácio ensinou regeneração batismal.

Barnabé de Alexandria (século II?)

Ele diz ainda por meio de outro profeta: "Quem assim age, será como a árvore plantada junto à corrente d'água, e que dá seu fruto no tempo certo. Sua folhagem não cairá; e tudo o que ele fizer terá sucesso. Não são assim os ímpios, não são assim. Eles são, antes, como a poeira que o vento espalha na face da terra. E por isso que os ímpios não se levantarão no julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá". Notai que ele designa ao mesmo tempo a água e a cruz. Com efeito, ele quer dizer: "Felizes aqueles que, tendo lançado sua esperança na cruz, desceram para a água. Pois ele diz que o salário vem "no tempo certo". Então, diz ele, eu retribuirei. Mas para hoje, ele diz: "Sua folhagem não cairá". Isso significa que toda palavra de fé e amor que sair da vossa boca será para muitos causa de conversão e de esperança. E outro profeta diz ainda: "E a terra de Jacó era celebrada mais do que qualquer outra terra". Isso quer dizer que ele glorifica o vaso do seu Espírito. O que diz ele a seguir? "Havia um rio que corria, vindo da direita, e árvores esplêndidas hauriam dele seu crescimento. Qualquer pessoa que delas comer, viverá eternamente". Isso significa que descemos para a água carregados de pecados e poluição, mas subimos dela para dar frutos em nosso coração, tendo no Espírito o temor e a esperança em Jesus. "Quem comer deles viverá eternamente", quer dizer: quem escutar, quando tais palavras são ditas, e crer nelas, viverá eternamente. (Epístola de Barnabé, Cap. 11)

Barnabé, não confundir com o companheiro de Paulo, está expondo Salmo 1. Esse fala que o justo é como uma árvore plantada junto d'agua. Ele enxerga essa referência como figuras da cruz e da água do batismo. Nota-se que antes do batismo, o crente já lançou sua esperança na cruz, ou seja, ele já creu. Da mesma forma que o ladrão da cruz creu em Jesus e foi salvo, o cristão que crê em Cristo também é. Paulo diz que o estado natural do homem é de morte em delitos e pecados (Efésios 2:1). Portanto, apenas um coração regenerado é capaz de lançar sua esperança na cruz, e como isso acontece antes do batismo, segue-se que a regeneração ocorreu antes dele. A evidência aponta então que os batizados são aqueles já regenerados.

Policarpo de Esmirna (70 – 155)

E vós sabeis que é pela graça que fostes salvos, não pelas obras, mas pela vontade de Deus, por meio de Jesus Cristo (...) Portanto, sem cessar, estejamos agarrados à nossa esperança e ao penhor de nossa justiça, isto é, Cristo Jesus, que carregou nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro, ele que não cometeu pecado e em cuja boca não foi encontrada nenhuma falsidade, mas que tudo suportou por nós, a fim de que vivêssemos nele. (Aos Filipenses caps. 1 e 8)

Policarpo contraria o ensino de Trento. Se somos salvos pela graça e não por obras, o batismo não pode ser necessário para salvação. O ensino da Igreja Romana de que a salvação depende de um sistema sacramental é inconsistente. Paulo diz: “Porquanto, se é pela graça, já não o é mais pelas obras; caso fosse, a graça deixaria de ser graça” (Rm. 11:6). A ICR ensina que salvação é pela graça, porém, também diz que somos justificados por obras, logo essa “graça” não é de graça. Policarpo também endossa o ensino reformado da substituição penal de Cristo ao dizer: “Ele carregou nossos pecados em seu próprio corpo”.

O Pastor de Hermas (séc. II)

Eu disse: "Senhor, ainda quero te fazer outra pergunta." Ele respondeu: "Pergunta." Continuei: "Ouvi alguns doutores dizerem que não há outra conversão além daquela do dia em que descemos à água e recebemos o perdão dos pecados anteriores." Ele me respondeu: "Ouviste bem. É assim mesmo. (...) Todavia, eu te digo: se, depois desse chamado importante e solene, alguém, seduzido pelo diabo, cometer pecado, ele dispõe de uma só penitência; contudo, se peca repetidamente, ainda que se arrependa, a penitência será inútil para tal homem, pois dificilmente viverá. (cap. 31)

Apologistas católicos costumam mostrar essa citação, geralmente, ocultando a segunda parte que diz haver apenas uma penitência. Esse documento contraria explicitamente o ensino de que o cristão pode recorrer várias vezes à penitência ao longo da vida, o que é o ensino da Igreja romana. Aparentemente, é ensinado que o perdão dos pecados foi realizado no batismo. Para determinar a probabilidade dessa explicação, precisamos ver outras passagens em que o pastor aborda o batismo:

Queres saber quem são aquelas que caem junto da água, mas não conseguem rolar para dentro dela? São aqueles que ouviram a palavra de Deus e querem ser batizados em nome do Senhor. Contudo, quando tomam consciência da pureza que a verdade exige, mudam de opinião e voltam novamente para seus desejos perversos. (cap. 15)

Hermas parece acreditar que algumas pessoas deixam seus caminhos perversos e desejam ser batizados. Porém, essas pessoas, provavelmente em alguma classe de catecúmenos, desistem diante da verdade do evangelho. A questão é como eles poderiam ter abandonado inicialmente seus caminhos perversos sem terem sido regenerados? A hipótese de que o pastor tenha atribuído ao batismo propriedades da realidade significada (regeneração do coração e justificação dos pecados) é real. Portanto, é uma interpretação possível de que ao dizer “conversão e perdão dos pecados anteriores”, esteja se referindo às realidades para as quais o batismo aponta e não a algo que acontece através da água batismal.

Ainda que a interpretação católica fosse verdadeira, o apelo é inconsistente. Na mesma passagem e conectado ao mesmo tema, é ensinado que há apenas uma penitência, o que contraria explicitamente a doutrina romana.

Epístola a Diogneto (séc. II)

Quando Deus dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados, levados por prazeres e concupiscências. Ele não se comprazia com os nossos pecados, mas também os suportava. Também não aprovava aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos da vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que poderiam esperar era castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se paciente e nos suportou. Com misericórdia tomou para si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de quem poderíamos ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada por um só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos convenceu da impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo o impossível Com essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e considerássemos nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem preocupações com a roupa e o alimento. (Cap. 9)

Mathetes, personagem fictício escritor da epístola, ensina a justificação do homem com base unicamente na obra de Cristo. Ele parecer excluir a possibilidade do homem realizar qualquer obra para ser justificado. O ensino católico é de que o homem pode ser justificado por obras sacramentais, entre elas, o batismo. Podemos concluir que a epístola a Diogneto não endossaria esse ensino. Ele claramente ensina a substituição penal de Cristo na cruz.

Justino Mártir (100-165)

Explicaremos agora de que modo, depois de renovados por Jesus Cristo, nos consagramos a Deus, para que não aconteça que, omitindo este ponto, demos a impressão de proceder um pouco maliciosamente em nossa exposição. Todos os que se convencem e acreditam que são verdadeiras essas coisas que nós ensinamos e dizemos, e prometem que poderão viver de acordo com elas, são instruídos em primeiro lugar para que com jejum orem e peçam perdão a Deus por seus pecados anteriormente cometidos, e nós oramos e jejuamos juntamente com eles. Depois os conduzimos a um lugar onde haja água e pelo mesmo banho de regeneração com que também nós fomos regenerados eles são regenerados, pois então tomam na água o banho em nome de Deus, Pai soberano do universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo. É assim que Cristo disse: "Se não nascerdes de novo, não entrareis no Reino dos Céus" (...) A explicação que aprendemos dos apóstolos sobre isso é a seguinte: Uma vez que não tivemos consciência de nosso primeiro nascimento, pois fomos gerados por necessidade de um germe úmido, através da união mútua de nossos pais, e nos criamos em costumes maus e em conduta perversa, agora, para que não continuemos sendo filhos da necessidade e da ignorância, mas da liberdade e do conhecimento e, ao mesmo tempo, alcancemos o perdão de nossos pecados anteriores, pronuncia-se na água, sobre aquele que decidiu regenerar-se e se arrepende de seus pecados, o nome de Deus, Pai e soberano do universo; e aquele que conduz ao banho pronuncia este único nome sobre aquele que vai ser lavado. Com efeito, ninguém é capaz de dar um nome ao Deus inefável; se alguém se atrevesse a dizer que esse nome existe, sofreria a mais vergonhosa loucura. Esse banho chama-se iluminação, para dar a entender que são iluminados os que aprendem estas coisas. O iluminado se lava também em nome de Jesus Cristo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e no nome do Espírito Santo, que, por meio dos profetas, nos anunciou previamente tudo o que se refere a Jesus (...) Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou. (I Apologia 61 e 66)

Essa passagem é citada frequentemente como prova da regeneração batismal. Justino utiliza linguagem sacramental quando se refere ao batismo como “banho de regeneração”. Ele utiliza três palavras distintas para se referir ao mesmo fato: renovação, regeneração e iluminação. Aqui está o ponto chave para compreendê-lo. Ele diz “depois de renovados por Jesus Cristo”, ensinando, que antes do batismo o cristão foi renovado. Também diz que o “iluminado se lava” e são “iluminados os que aprendem estas coisas”, se referindo a fatos anteriores ao banho batismal. Portanto, a hipótese mais provável a luz de todo o contexto é que para ele, a regeneração ocorre antes do batismo. Ao utilizar linguagem sacramental, provavelmente está atribuindo ao símbolo propriedades da coisa simbolizada. Justino entendia iluminação como conversão, fé, renascimento e habitação pelo Espírito Santo:

Diariamente alguns [de vocês judeus] estão se tornando discípulos em nome de Cristo, e deixando o caminho do erro; os quais também estão recebendo dons, a cada um na medida em que é digno, iluminados através do nome deste Cristo. Pois alguns recebem o espírito de discernimento, outros de aconselhamento, outros de força, outros de cura, outros de presciência, outros de ensino, e outro do temor a Deus. (Diálogo com Trifão 39)

Abençoado somos nós que fomos circuncidados [do coração] pela segunda vez com facas de pedra. A sua primeira circuncisão era e é realizada por meio de instrumentos de ferro para que você permaneça de coração duro; mas a nossa circuncisão, que é a segunda, tendo sido instituída após a sua, nos circuncidou da idolatria e de absolutamente todo tipo de maldade através de pedras afiadas, ou seja, pelas palavras [pregadas] pelo apóstolos. (Ibid., 141)

[Citando Isaías 49: 6] Você acha que essas palavras se referem ao estrangeiro e aos prosélitos, mas na verdade se referem a nós que fomos iluminados por Jesus (...) não vamos compreender a partir da lei antiga e os seus prosélitos, mas de Cristo e seus prosélitos, ou seja, nós os gentios, a quem Ele tem iluminado. (Ibid., 122)

Ele diz que pessoas eram iluminadas, entenda-se convertidas e regeneradas, através da mensagem de Cristo e dos apóstolos sem conectar essa iluminação ao batismo. Confirmando isso escreveu:

Pois Isaías não o enviou para um banho que lava assassinato e outros pecados, que nem toda a água do mar seria suficiente para purgar; mas, como se poderia esperar, era essa a salvação do banho dos tempos antigos que se seguiu àqueles que se arrependeram, e que já eram purificados pelo sangue de bodes e ovelhas, ou pelas cinzas de uma novilha, ou pelas ofertas de excelentes farinhas, mas pela fé através do sangue de Cristo, e através da sua morte, que morreu por essa razão. (Ibid., 13)

A justificação se dá pela fé em Cristo que morreu em nosso lugar e não através do batismo, pois nem toda a água do mundo seria suficiente para purgar pecados graves como assassinato.

..esta pia de arrependimento e conhecimento de Deus, que foi ordenada por causa da transgressão do povo de Deus, como Isaías clama, temos também crido, e testemunhado que esse mesmo batismo que ele anunciou é o único capaz de purificar aqueles que têm se arrependido. Essa é a água da vida. Mas as cisternas que você cavam para si mesmos estão quebrados e são inúteis para você. (Ibid., 14)

Apologistas católicos costumam citar esta “pia de arrependimento” como uma referência a pia batismal. Justino está citando Isaías 52-54. Isaías fala da morte de Jesus e como ele lavaria e justificaria seu povo através de seu sangue derramado. O batismo que Isaías se refere e Justino explica é a conversão a Cristo e não o batismo nas águas (Isaías 53:1). Outros pais como Irineu e Teófilo irão se referir a pia batismal no mesmo sentido, sem terem o batismo nas águas em vista.

Teófilo de Antioquia (?-186)

No quinto dia foram criados os animais que procedem das águas, pelas quais e nas quais se mostra a multiforme sabedoria de Deus. De fato, quem seria capaz de enumerar sua quantidade e a variedade de suas variadíssimas espécies? Além disso, o que foi criado das águas por Deus foi abençoado por ele, para que isso servisse de prova sobre o que os homens deveriam receber: penitência e remissão dos pecados através da água e banho de regeneração, todos os que se aproximam da verdade, renascem e recebem a bênção de Deus. Os monstros marinhos e as aves carnívoras são símbolo dos avarentos e transgressores. De fato os animais aquáticos e aves, embora sendo de uma única natureza, alguns permanecem no que é conforme a natureza, sem prejudicar aos mais fracos, guardam a lei de Deus e se alimentam das sementes da terra; outros transgridem a lei de Deus, comendo carne, e prejudicam os mais fracos. De modo semelhante, os justos, guardando a lei de Deus, não mordem nem causam dano a ninguém, vivendo santa e justamente; mas os ladrões, assassinos e ateus assemelham-se aos monstros marinhos, às feras e aves carnívoras, pois de certo modo engolem os mais fracos. (II Livro a Autólico, cap. 16)

Analisemos a analogia de Teófilo sabendo que todos os animais procedem da água (Gn. 1:20). Ele faz uma analogia entre as espécies que surgem da água e os homens que são batizados. Perceba que nem todas as espécies da água são boas, algumas prefiguram aqueles que transgridem a lei de Deus e outras prefiguram os justos. Os justos são batizados, mas quando eles de fato renascem? Através do batismo? A resposta é “todos que se aproximam da verdade, renascem e recebem a bênção de Deus”. O homem que se batiza se aproxima da verdade antes do batismo, portanto, seu renascimento também acontece antes. Além do mais, assim como seu antecessor Inácio, Teófilo faz amplo uso de linguagem metafórica. Na mesma obra, ele procura relacionar os dias da criação aos elementos da redenção cristã. Isso pode ser visto nas citações abaixo do mesmo livro:

Deus lhe deu forma e a adornou com toda espécie de ervas, sementes e plantas. Além disso, considera a diversidade que há nessas coisas, sua variada beleza e multidão, e como, através deles, se nos manifesta a ressurreição, sendo prova da- quela que um dia se realizará em todos os homens (...) Assim como o mar teria secado há muito tempo por causa de seu sal se não houvesse afluência dos rios e fontes que lhe fornecem alimento, de modo semelhante o mundo, se não tivesse recebido a lei de Deus e os profetas, que fazem correr para ele fontes de doçura, misericórdia e justiça e mantêm o ensinamento dos santos mandamentos de Deus, também já teria perecido por causa da maldade e do pecado que nele se multiplica. Do mesmo modo que no mar existem ilhas habitáveis, com água e vegetação, enseadas e portos para refúgio durante as tempestades, assim Deus deu ao mundo, em meio às tormentas e ondas de pecados, os lugares de reunião, as chamadas igrejas santas, nas quais, como nas ilhas de portos acolhedores, se encontramos ensinamentos da verdade, nas quais se refugiam os que querem salvar-se, tornados amantes da verdade e decididos a fugir da cólera e do julgamento de Deus. Há, porém, outras ilhas rochosas, sem água nem vegetação, repletas de feras, inabitáveis, para dano dos navegantes e náufragos, onde os navios atracam e perecem os que e elas descem; do mesmo modo, há também doutrinas que extraviam, isto é, as das heresias, que levam à perdição aqueles que aderem a elas. Porque não se guiam pelo Verbo da verdade, mas à maneira dos piratas que, enchendo os navios, os atracam em recifes para arruiná-las. Assim acontece com aqueles que se extraviam da verdade, que acabam perecendo por causa do erro (...) Os luzeiros contêm o exemplo e símbolo de um grande mistério, pois o sol é símbolo de Deus e a lua o é do homem (...) Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade, de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria. No quarto símbolo está o homem, que necessita de luz. Assim temos: Deus, Verbo, Sabedoria, Homem. É também por isso que os luzeiros foram criados no quarto dia. Por outro lado, a disposição dos astros representa a economia e a ordem dos justos e piedosos, que guardam a lei e os mandamentos de Deus. Com efeito, os astros mais visíveis e brilhantes representam os profetas; por isso permanecem fixos, não mudando de um lugar para outro. Aqueles que ocupam o segundo grau de brilho são tipo do povo dos justos; por fim, os que mudam e passam de um lugar para outro, os chamados planetas, são símbolo dos homens que se afastam de Deus, abandonando sua lei e seus mandamentos. (Ibid., caps. 14 e 15)

No contexto imediato, Teófilo faz uma série de metáforas relacionando os elementos da criação à igreja, trindade, homem, falsas doutrinas e etc. Portanto, não deveríamos interpretar de forma literal o que em todo o contexto é metafórico. Ele prossegue:

Esse sopro, ó homem, faz a tua voz; tu respiras o espírito dele, e tu não o conheces. Isso acontece por causa da cegueira de tua alma e endurecimento do teu coração. Mas, se quiseres, podes curar- te. Coloca-te nas mãos do médico e ele operará os olhos de tua alma e do teu coração. Quem é esse médico? É Deus que cura e vivifica através do Verbo e da Sabedoria (...) Fé e visão Ó homem, se compreenderes isso, e viveres de maneira pura, piedosa e justa, poderás ver a Deus. Antes de tudo, porém, entrem em teu coração a fé e o temor de Deus, e então compreenderás isso. Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás que falaste injustamente contra ele. (I Livro a Autólico cap. 7)

Ele diz que Deus cura e vivifica o homem através do verbo e da sabedoria. O batismo não é colocado como o meio pelo qual o homem é vivificado, o que reforça nossa conclusão de que antes de ser batizado, o homem já foi regenerado, sendo o próprio batismo consequência da regeneração. Sigamos:

Quanto ao fato de zombares de mim, chamando-me cristão, não sabes o que dizes. Primeiramente, o ungido é agradável e útil, e não tem nada de ridículo. Com efeito, qual navio pode ser útil e salvo se antes não for ungido? Que torre ou casa possui bela forma ou é útil se antes não for ungida? Qual homem, entrando no mundo ou indo ao combate, não se unge com azeite? Qual obra ou ornato pode ter bela aparência, se não é ungida e não se torna brilhante? Por fim, todo o ar e toda a terra sob o céu são de certo modo ungidos pela luz e pelo vento. E tu não queres ser ungido com o óleo de Deus? Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus. (Ibid., 12)

Se o católico for consistente em seus apelos a Teófilo, teria que acreditar que a regeneração acontece através do óleo, mas esse não é o ensino romano. Se partirmos do ponto vista metafórico exposto assim, não há problemas, mas se interpretarmos como os católicos, apenas aqueles que foram ungidos seriam regenerados, o que não é o pensamento desse pai, quando tomado o contexto de toda sua obra. No cap. 14 do mesmo livro, ele apela à Autólico para que abrace o cristianismo:

Portanto, não sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírito de Deus, predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus (...) Se queres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza para escapares dos castigos eternos e alcançares os bens eternos de Deus.

O bispo de Antioquia não coloca as águas batismais ou o óleo ungido como necessários à salvação. Autólico poderia se salvar apenas por se guiar pelas Escrituras dos profetas (aqui ele defende a suficiência das Escrituras), desde que cresse e as obedecesse.

Irineu de Lyon (130 – 202)

Que esta estirpe tenha sido enviada por Satanás para a negação do batismo da regeneração em Deus e a destruição de toda a fé o exporemos e refutaremos no lugar mais oportuno. (Contras as Heresias 1:21:1)

E ao dar a seus discípulos o poder de fazer renascer os homens em Deus, lhes dizia: "Ide ensinai todos os povos e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Com efeito, prometera por meio dos profetas derramar nos últimos tempos este Espírito sobre seus servos e servas, a fim de profetizarem. Eis a razão por que ele desceu também no Filho de Deus, feito filho do homem, acostumando-se com ele a habitar nos homens e repousar entre eles, a habitar nas criaturas de Deus, realizando nelas a vontade do Pai e renovando-as do velho homem para a nova vida em Cristo. É este Espírito que Davi pediu para o gênero humano, ao dizer: "Confirma-me pelo teu Espírito que dirige". É ainda este Espírito que Lucas nos diz ter descido, depois da ascensão do Senhor, sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de introduzir na vida todos os povos e abrir-lhes novo testamento. Eis por que, na harmonia de todas as línguas, cantavam hinos a Deus, enquanto o Espírito reunia na unidade as raças diferentes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações. Foi por essa razão que o Senhor prometera enviar o Paráclito que nos faria dignos de Deus. Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa, nem um só pão, também nós não nos poderíamos tornar um só em Cristo, sem a água que vem do céu. E assim como a terra seca não pode frutificar sem receber água, também nós, que éramos antes lenho seco, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva generosa enviada do alto. Com efeito, nossos corpos receberam, por meio da pia, a unidade que os torna incorruptíveis e as nossas almas, por sua vez, a receberam pelo Espírito; por isso, ambos são necessários porque ambos levam à vida de Deus. Nosso Senhor indicou-o na misericórdia que mostrou à samaritana infiel, que não se manteve unida a um só homem e fornicou em diversas núpcias, prometendo-lhe uma água viva, pela qual não teria mais sede, nem precisaria mais de água obtida com fadiga, porque teria em si uma Bebida a jorrar para a vida eterna, essa mesma Bebida que o Senhor recebeu como dom do Pai, e que, por sua vez, doou a todos os que têm parte com ele, enviando o Espírito Santo a toda a terra. (Ibid., 3:17:1-2)

Alguns pontos precisam ser feitos:

1) É dito que os apóstolos tem o poder de fazer os homens renascerem. Eles o faziam ensinando e batizando. Perceba que o ensino que ocorre antes do batismo era parte do processo;

2) Irineu estava refutando o gnóstico Valentino, que dizia que a pomba que desceu sobre Jesus não era o Espírito Santo, mas era o próprio Cristo (o espírito salvador) descendo sobre Jesus que era um mero homem. Para eles, Cristo e Jesus eram pessoas diferentes. O ponto de Irineu é defender que Cristo e Jesus eram o mesmo, o filho de Deus, e que sobre ele desceu o Espírito Santo;

3) Ele atribui ao Espírito Santo a obra regeneradora. Percebam que esse Espírito prometido que renova e vivifica desceu sobre os discípulos e sobre povos de diferentes línguas no dia de pentecostes. Nesse dia, as pessoas receberam o Espírito antes de qualquer batismo.

Todo o contexto aponta para uma leitura que não implica regeneração batismal. A questão é o que seria a “pia” que nos torna incorruptíveis? Essa pia seria o próprio Cristo. O ponto é que tanto Cristo que traz “incorruptibilidade ao corpo” como o Espírito que traz “incorruptibilidade a alma” seriam necessários. Em toda a passagem, a água que desce céu e que é oferecida a mulher samaritana é claramente o Espírito Santo. Se a pia fosse o batismo, ainda assim, seria uma leitura prejudicial à ideia romana, pois Irineu estaria dizendo que água do batismo regeneraria o corpo e o Espírito à parte da agua regeneraria a alma. Seria uma leitura estranha e contraditória, como se houvesse uma regeneração do corpo e outra da alma. Como ele estava refutando os gnósticos, a leitura mais provável é que estava se referindo a Cristo e ao Espírito, que juntos são necessários para a salvação. Da mesma forma que Cristo recebeu o Espírito, os cristãos também o receberiam. A mulher Samaritana recebeu a Cristo, porém ainda precisava da água viva que Ele daria, no caso, o Espírito Santo.

Dois princípios precisam ser citados ao se ler as referências de Irineu ao batismo: 1) Junto ao batismo havia a instrução catequética, ou seja, antes de ser batizado, o cristão aprenderia as verdades básicas da fé cristã; 2) A regeneração se daria pela resposta a essa instrução e não pela aplicação da água. Que antes do batismo os cristãos eram instruídos, pode ser visto a seguir:

Assim, quem possui a indefectível Regra da verdade aprendida no batismo reconhecerá os nomes, as expressões, as parábolas que são das Escrituras, mas não a teoria blasfema deles. Reconhecerá as pedras do mosaico, mas na figura da raposa não verá a imagem do rei. Recolocando cada uma das palavras no seu lugar, ajustadas ao corpo da verdade, desvendará e mostrará a inconsistência das suas fantasias. (Ibid., 1:9:4)

Antes do batismo, os catecúmenos recebiam a pregação apostólica. Era através dessa pregação que eles eram regenerados:

Para aqueles que foram antes muito ímpios, de modo que eles não deixaram [de fazer] nenhuma obra impiedosa, aprendendo de Cristo e crendo nele, tendo uma vez crido e sendo convertidos, e então não deixando de fazer nenhuma [obra] de excelente justiça; assim grande é a transformação que a fé em Cristo, o Filho de Deus, efetua naqueles que crêem nele. (Demonstração da pregação apostólica, 61)

Homens antes muito impiedosos são convertidos e transformam-se em homens justos. Esse processo acontece através da fé em Cristo ao aprenderem dele. Portanto, essa transformação [regeneração] se dava antes do batismo, quando os catecúmenos criam na pregação apostólica.

Que ele não iria enviar de volta os remidos à lei de Moisés, pois a lei foi cumprida em Cristo, mas eles seriam vivificados em novidade pela palavra, através da fé no Filho de Deus e o amor. Isaías declarou: "Lembrem-se não das coisas passadas, nem tragam à mente as coisas que eram no início. Eis que faço novas (as coisas), que passam agora a brotar, e sabereis (eles). E eu vou fazer no deserto um caminho, e nos córregos sem água um lugar para dar de beber ao meu povo escolhido, e ao meu povo a quem eu escolhi para declarar minhas virtudes". Agora, o deserto e o lugar sem água foram a primeira chamada aos gentios, porque a palavra não tinha passado por eles, nem lhes tinha sido dado o Espírito Santo para beber; que moldou a nova forma de piedade e justiça, e fez riachos abundantes para nascer adiante, espalhando sobre a terra o Espírito Santo; o mesmo que tinha sido prometido pelos profetas, que, no fim dos dias Ele iria derramar o Espírito sobre a face da terra. (Demonstração da pregação apostólica, 89)

Essa citação é interessante porque ele fala num contexto de água, riachos, ou seja, figuras que poderiam ser aplicadas ao batismo. Porém, é dito que os homens são vivificados através da fé no filho pela Palavra. Também é aludido que o Espírito Santo seria dado aos gentios, mas sem mencionar que isso aconteceria através da água batismal.

(...) aquele Senhor que formou a visão é o mesmo que plasmou o homem todo, cumprindo a vontade do Pai. E visto que na criação que se fez segundo Adão o homem caíra na transgressão e precisava do lavacro da regeneração, o Senhor disse ao cego de nascença, depois de lhe ter posto o lodo nos olhos: “Vai-te lavar na piscina de Siloé”, lembrando-lhe simultaneamente a modelagem e a regeneração operada pelo lavacro. Assim, depois de se ter lavado, voltou vendo, para conhecer o seu plasmador e aprender quem era o Senhor que lhe dera a vida (...) Está claro que a terra com que o Senhor remodelou os olhos do cego é a mesma com que o homem foi modelado no princípio, porque não é lógico modelar os olhos com uma matéria e o resto do corpo com outra, como não o é que um tenha modelado o corpo e outro os olhos. (Contra as Heresias 4:15:3).

Irineu faz uma conexão entre o primeiro nascimento e a regeneração utilizando o caso do cego de Siloé. Os olhos do cego foram regenerados antes de serem lavados. Eles foram regenerados pela lama e não pela água. Na parte negritada, fica claro que Cristo formou os olhos do cego do lodo e não da água. Ele também fala de pessoas sendo regeneradas espiritualmente sem mencionar o batismo:

Pois, na verdade, a primeira coisa é negar a si mesmo e seguir a Cristo; e aqueles que fazem isso são levados progressivamente a perfeição, e tendo cumprido todos os seus ensinos, torna-se-ão filhos de Deus pela regeneração espiritual e herdeiros do reino dos céus. (Fragmentos 36)

Fica demonstrado que Irineu entendia que a regeneração de fato acontecia antes do batismo. Ele poderia se referir ao batismo como regenerador porque estava ligado a exposição da doutrina apostólica, fazendo parte do mesmo processo, mas era pela resposta a essa pregação que o Espírito Santo agia no converso.

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