sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Irineu de Lyon e o Catolicismo Romano

Já discutimos em outro artigo a incompatibilidade do testemunho de Irineu com doutrinas como o papado e a sucessão apostólica segundo a concepção católica romana. Abaixo listo outras doutrinas romanas que se não foram explicitamente contrariadas por Irineu, são improváveis de serem cridas por esse bispo:

1 - Ao contrário de muitos clérigos católicos romanos, incluindo bispos e até mesmo alguns papas, Irineu tinha uma visão alta da historicidade da Bíblia e suas atribuições de autoria tradicionais. David escreveu alguns dos salmos (Contra as Heresias 1:14:8), João escreveu as duas epístolas de João (1:16:3), Isaías escreveu Isaías 43 (3:6:2), Moisés escreveu o Pentateuco (4:2:3), etc. Irineu via a escritura como perfeita e harmoniosa (2:28:2-3), defendendo uma visão da escritura amplamente rejeitada entre os clérigos católicos modernos e em círculos acadêmicos católicos. O que Irineu pensaria de tal liderança católica e o fracasso em corrigir e disciplinar as pessoas envolvidas em tais erros?

2 - Interpretava as Escrituras como se referindo a uma Terra jovem (5:28:2-3 e 5:29:2; Demonstração da pregação apostólica 19).

3 - Era um pré-milenista (5:30:4). O historiador Eric Osborn observa que o pré-milenismo rejeitado pelo catolicismo romano, teve lugar de destaque na teologia de Irineu: "Milenarimso é para muitos um corpo estranho no pensamento de Irineu, e apenas no final do quinto livro [de Contra as Heresias ] esse ensinamento emerge; mas é necessário para cumprir a esperança que brota da recapitulação de todas as coisas (...)  A escatologia de Irineu não é um post-scriptum embaraçoso, mas uma consequência necessária [de outros conceitos teológicos de Irineu] (...) pré-milenismo é um prelúdio para a incorruptibilidade" (Irineu de Lyon [New York: Cambridge University Press, 2005], pp 99-100, 139, 251.).

4 - Irineu se refere à confissão pública de alguns pecados (1:13: 5 e 1:13:7), mas não diz nada da prática católica de confissão auricular a um padre.

5 - Enquanto alguns católicos citam Lucas 16: 19-31 como prova do purgatório, Irineu pensava que o homem rico estava no Inferno (2:24: 4 e 4:2:4-5). Sabemos que Jesus foi ao paraíso no dia da sua crucificação (Lucas 23:43), e Irineu se refere a todos os crentes indo para o mesmo lugar até o momento da ressurreição. Ele também identifica este lugar como o lugar onde Paulo foi em 2 Coríntios 12:2-4. Também se refere a todos os crentes indo para o paraíso até o momento da ressurreição (5:5:1, 5:31:2). Purgatório não é apenas ausente de sua visão da vida após a morte. É contradito.

6 – O catolicismo romano refere-se à "urgência" de batizar crianças, a fim de ter a certeza da sua salvação, mesmo que elas possam ser salvas sem o batismo (Catecismo da Igreja Católica 1261). Irineu, no entanto, parece ter acreditado na salvação universal infantil, e não com base no batismo (4:28:3).

7 - Jesus é referido como "primogênito" de Maria mais de uma vez (Contra as Heresias 3:16:4; Demonstração da pregação apostólica 39), uma frase que poderia se referir a apenas uma criança, mas é mais naturalmente tomada como referência ao primeiro de mais um filho. Irineu fala sobre Maria tendo Jesus quando ainda “era uma virgem”. Ele faz uma analogia entre Maria e a terra virgem antes de ser cultivada. Como a terra foi cultivada segundo Irineu, a implicação é que Maria deixou de ser virgem (3:21:10). Irineu diz: “Para este efeito testificam, dizendo, que antes de José se ajuntar com Maria, quando ela portanto mantinha-se em virgindade, “achou-se ter concebido do Espírito Santo” (3:21:4).

Embora não seja explícito, a implicação do pensamento desse bispo é que Maria não permaneceu virgem.

8 - Ele não diz nada sobre a impecabilidade de Maria, mas pergunta: "E quem mais é perfeitamente justo do que o Filho de Deus, que justifica e aperfeiçoa os que creem Nele, que como Ele são perseguidos e condenados à morte?" (Demonstração da pregação apostólica 72) Ele interpreta João 2:4 como uma repreensão à Maria por sua "pressa prematura" (Ibid., 3:16:7).

9 - Irineu escreve sobre o poder de Deus para libertar pessoas da morte e cita Enoque, Elias e Paulo (2 Coríntios 12: 2) como exemplos de pessoas que foram "assuntas" e "transladadas", mas não diz nada sobre a Assunção de Maria (5: 5).

10 - Enquanto os católicos muitas vezes argumentam que a arca da aliança é um tipo de Maria, Irineu vê a arca como um tipo de Jesus e nada diz sobre aplicar o conceito à Maria (Fragmentos 48).

11 - Ele sugere que alguns escravos de catecúmenos cristãos eram ignorantes em "imaginar que realmente era carne e sangue" que os cristãos consumiam na eucaristia (Fragmentos 13). Ele descreve a eucaristia como consistindo de duas realidades, uma que vem do Céu e outro que é da terra, logo após referir-se ao pão pré-consagrado como terrestre (Contra as Heresias 4:18:5). Ele refere-se à eucaristia como um exemplo de beber vinho, a mesma substância que as pessoas vão beber no futuro reino de Cristo (5:33:1), depois da eucaristia servir a seu propósito (1 Coríntios 11:26). Ele descreve a eucaristia de uma forma que poderia ser interpretada como referindo-se a uma presença física de Cristo, e todas as passagens acima citadas seriam consistentes com uma presença espiritual, mas transubstanciação não é a melhor explicação para a sua visão. Como observa Eric Osborn, Irineu tem sido interpretado de muitas maneiras diferentes sobre esta questão ao longo dos séculos (Irineu de Lyon [New York: Cambridge University Press, 2005], p 134.).

12 - Apocalipse 5: 8 é frequentemente citado em apoio de orações aos mortos, mas Irineu vê as orações nessa passagem como dirigidas a Deus (4: 17:4-6 e 4:18:1). Ele não diz nada de rezar aos mortos ou anjos, mas em vez disso fala da oração como se fosse algo dirigido a Deus:

Nem ela [a Igreja] realizar qualquer coisa por meio de invocações angelicais, ou por encantamentos, ou por qualquer outra arte curiosa perversa, mas, dirige suas orações ao Senhor, que fez todas as coisas, em um puro, sincero e íntegro espírito, e invocando o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, ela está acostumada a fazer obras milagrosas para o benefício do gênero humano, e não para levá-los ao erro (...) o altar, então, é no céu (para esse lugar são as nossas orações e ofertas dirigidas). (2:32:5 e 4:18:6)

13 - No contexto de descrição das crenças errôneas e práticas dos hereges, Irineu os reprova por venerarem imagens "da mesma maneira dos gentios". A maneira em que eles veneram imagens não é diferente do que o que os católicos romanos fazem. Nenhum católico romano desaprovaria venerar a imagem de Jesus dessa maneira, mas Irineu não aprova:

Eles se chamam gnósticos. Possuem umas imagens, algumas pintadas outras feitas de materiais diversos, e dizem que reproduzem o Cristo e foram feitas por Pilatos quando Jesus estava com os homens. Coroam-nas e expõem-nas junto com aquelas de filósofos profanos, a saber, de Pitágoras, Platão, Aristóteles e outros e lhes prestam homenagem assim como fazem os pagãos. (1:25:6)

Traduzido do artigo online aqui.

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