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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Maria, a Arca da Aliança e os Pais da Igreja


Os católicos argumentam que a Arca da Aliança era um tipo de Maria. Neste artigo, veremos os exemplos de pais da igreja que contradizem esta visão. No século II, Irineu de Lyon escreveu:

Assim é que a arca apontava um tipo do corpo de Cristo, que é puro e imaculado. Pois, como essa arca era dourada com ouro puro tanto dentro como fora, também o corpo de Cristo é puro e resplandecente, sendo adornado dentro pela Palavra e fora protegido pelo Espírito para que, em ambos os materiais, o esplendor das naturezas possa ser exibido juntos. (Fragmentos 48)

Hipólito, no século III, também viu Jesus ao invés de Maria na arca. Ele menciona Maria ao descrever Jesus como a arca, por isso não se pode argumentar que ele não estava pensando em Maria neste contexto:

Naquele tempo o Salvador apareceu e mostrou seu próprio corpo ao mundo, nascido da virgem, que era a "arca coberta de ouro puro ", com a palavra dentro e sem o Espírito Santo. Deste modo, a verdade é demonstrada e a "arca" se manifestou (...) o Salvador apareceu ao mundo, trazendo a arca imperecível - seu próprio corpo. (Sobre Daniel 2:6)

Vitorino, também no século III, vê a arca como representando as bênçãos que Jesus trouxe à humanidade. Ele nos diz que o templo é Jesus, o que significa que a arca está dentro de Jesus. Os católicos romanos fazem o argumento oposto, alegando que a arca, sendo Maria, carrega Jesus:

"E abriu o templo de Deus, que está no céu". O templo aberto é uma manifestação de nosso Senhor. Pois, o templo de Deus é o Filho, como Ele mesmo diz: "Destrua este templo, e em três dias o levantarei". E quando os judeus disseram: "Em quarenta e seis anos foi este templo construído". O evangelista diz: "Ele falou do templo de Seu corpo". "E foi visto em seu templo a arca do testamento do Senhor". A pregação do evangelho e o perdão dos pecados, e todos os presentes, tudo o que veio com ele, ele diz, apareceu nela. (Comentário sobre o Apocalipse do abençoado João 11:19)

Agostinho, no século V, também escreveu:

"Levanta-te, ó Senhor, toma teu lugar de descanso" (v. 8). Ele disse ao Senhor adormecido, "Levanta-te". Sabemos que dormia e que ressuscitou (...) "Tu e a arca de vossa santificação": Quer dizer levanta-te a arca da tua santificação, que Tu santificaste, e pode levantar também. Ele é o nosso chefe, sua arca é a Sua Igreja: Ele levantou primeiro, a Igreja irá levantar também. O corpo não se atreveria a prometer sua própria ressurreição, salvo se a cabeça levantasse antes. O corpo de Cristo, que nasceu de Maria, tem sido entendido por alguns como a arca de santificação, de modo que as palavras significam: Levanta-te com o teu corpo, para aqueles que não acreditam possam tocar. (Comentários dos Salmos 132:8)

Percebam como, num mesmo texto em que Maria é mencionada, Agostinho relaciona a arca à Igreja. Ele ainda cita que outros relacionam o corpo de Cristo a Arca, mas não há relação entre a arca e Maria. 

8 comentários:

  1. Bruno qual é o principal argumento católico para justificar tal aberração?Eles citam outros pais da igreja para alegar que maria é a arca da nova aliança?Por que eles citam tanto o capítulo de apocalipse 12?

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    1. Acredito que haja algum pai da igreja que tenha relacionado a Arca a Maria. Se não estou enganado, Efrém o Sírio é um deles e viveu no séc. IV. Todavia, essa interpretação não é a majoritária nem a mais antiga. A maioria afirmou que se tratava da Igreja ou o corpo de Jesus.

      O uso que os católicos faz de Apocalipse 12 e outros textos se deve a escassez de textos que mencionem Maria. É um fato que não há qualquer apoio bíblico para nenhum dos dogmas marianos, então a saída é abusar de alegorias, metáforas e tipologias. A interpretação católica de apocalipse 12 não parte de exegese sólida, mas apenas o desejo de encontrar apoio para o dogma mais frágil do romanismo - a assunção de Maria.

      A questão é que os católicos romanos não estão preocupados em descobrir o que a Bíblia realmente diz. No fim do dia, o que importa é o que a Igreja ensina, então eles primeiro assumem que a Igreja está certa e depois procuram na Escritura justificativas para aquele ensino.

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  2. Você é presbiteriano?

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  3. Olá Bruno, Tudo Bem! A paz de Cristo! Os pais da igreja eram cessacionistas? Eles criam no dom de linguas. Obrigado!

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    1. O cessacionismo foi a posição majoritária. E quanto mais longe dos apóstolos, mais se tornou a posição padrão até ser unânime. Todavia, há sim alguns pais da igreja continuistas.

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  4. Bruno, poderia recomendar leituras iniciais para se conhecer mais da teologia dos pais da Igreja? Pelo menos os principais como Clemente, Irineu, Atanásio, Orígenes e Agostinho.

    E eu tenho um outro pedido: um amigo romanistas vive falando da continuidade histórica-dogmática que há entre os apóstolos e a Igreja romana, bem como a ortodoxa.
    Eu gostaria que talvez você discorresse mais sobre o aspecto histórico dos antigos cristãos e sua relação (ou falta dela) com a ICAR.
    A paz.

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    1. Olá,

      Eu recomendaria ler os escritos deles. No caso de Clemente e Irineu, você encontra as principais obras em português em fontes onlines. Já para Orígenes, Atanásio e Agostinho há alguma coisa em português, mas muito não foi traduzido. As obras em inglês pode ser acessadas aqui:

      http://www.newadvent.org/fathers/index.html

      Sobre a continuidade histórica, um dos principais argumentos contra a ICAR é justamente a descontinuidade histórica de muitas das doutrinas que ela prega. Na verdade, o objeto principal desse blog tem sido explorar essa descontinuidade. Você pode ver aqui artigos separados por doutrinas: purgatório, dogmas marianos, papado, batismo, confissão e penitência e etc. Esses artigos irão tratar em detalhes como tais doutrinas não são rastreáveis até uma fonte apostólica. Agora, há um artigo mais genérico que trata do fato de que a ICAR não apela mais a continuidade histórica para validar sua tradição. A apologética católica está defasada nesses apelos, uma vez que atualmente todas as doutrinas são explicadas com base na teoria do desenvolvimento da doutrina. Recomendo que leia:

      http://respostascristas.blogspot.com.br/2016/02/roma-e-seu-novo-conceito-de-tradicao.html

      Além disso, não há outra fonte confiável de doutrina apostólica além dos livros da Escritura. A ideia de que há uma tradição que suplementar doutrinariamente a Escritura é totalmente estranha ao período patrístico. Sendo assim, para demonstrar a continuidade histórica, a ICAR deveria demonstrar que suas doutrinas possuem suporte bíblico - o que sabemos não ser o caso. Recomendo os artigos do blog heresias católicas que trata em detalhes sobre essa falta de suporte bíblico. Aqui você encontrá muita informação de cunho histórico.

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