Uma maneira de estudar o
cristianismo primitivo é olhar para ele através dos olhos de seus oponentes.
Muitas vezes noto que os primeiros opositores descrevem a religião cristã de
uma maneira que contradiz as afirmações católicas romanas sobre a história da
igreja. É instrutivo observar o que homens como Trifo, Celso e Caecilio nos
falam sobre o cristianismo primitivo e quais argumentos eles usam contra a
religião cristã. Também é importante notar como indivíduos como Justino Mártir,
Orígenes e Minucio Félix respondem em nome do Cristianismo. Essas primeiras
interações entre cristãos e seus críticos nos fornecem muitas evidências contra
as reivindicações do catolicismo (e ortodoxia oriental, etc.) sobre a veneração
das imagens, a oração aos mortos e outras questões.
Um dos problemas mais
importantes para o catolicismo nas primeiras respostas ao cristianismo é a
ausência de qualquer referência ao papado. Lembrem-se, os católicos muitas
vezes nos dizem o quão importante o papado supostamente seria. Supostamente devemos
pensar que é o fundamento da igreja, central para a unidade cristã, uma fonte
infalível de ensinamento cristão, e assim por diante. Eles nos dizem como o
papado é valioso e quão prático é, como seria uma boa ideia em tantos níveis
ter um ofício assim. Muitas nos apontam para João 17:21, como se Jesus
estivesse se referindo à unidade denominacional sob o catolicismo romano e o
papado. Bem, se precisamos nos submeter ao papado "para que o mundo possa
crer" (João 17:21), não deveríamos esperar que o mundo saiba que o papado
existe e nos referirmos a ele ao discutir o cristianismo? Não seria isso
especialmente verdadeiro nos primeiros séculos da história da igreja, quando,
de acordo com muitos católicos, havia uma unidade tão generalizada e
consistente sob o papa? E se, em vez de reconhecer tal unidade e responder a
ela ao longo das linhas de João 17:21 ou se concentrar no papado como uma das
questões mais fundamentais a serem abordados (como seria de esperar se o
cristianismo fosse católico romano na época), as primeiras respostas ao
cristianismo não mostrassem nenhum conhecimento de que um papado existia e às
vezes fazia comentários sugerindo sua inexistência?
Algo que vale a pena
considerar neste contexto é o que Celso, um pagão do século II e crítico do
cristianismo, disse sobre a desunião cristã e como Orígenes, um cristão, respondeu. Nem Celso e suas fontes
judaicas, nem as outras fontes não cristãs mais antigas se referem a um papado.
E temos muito mais do que os documentos Diálogo com Trifo de Justino Mártir e
Contra Celso de Origenes para citar. Larry Hurtado observa:
Seja
qual for o seu sucesso real, é claro que
alguns cristãos fizeram esforços impressionantes para divulgar suas obras, não
só entre os outros cristãos, mas também mais amplamente. Aqui também é
difícil encontrar um esforço equivalente por outros grupos religiosos da época
(...) Filo de Alexandria poderia servir como uma espécie de precedente, mas o
número absoluto de textos das apologias cristãs é sem precedentes.
(Destroyer Of The Gods [Waco, Texas: Baylor University Press, 2016], 132-3, 90,
249)
Homens como Aristides
e Tertuliano escreveram apologias em que responderam a objeções ao cristianismo
e anteciparam outras possíveis objeções. Eles abordam a divindade de Jesus, seu
nascimento virginal, sua ressurreição, a segunda vinda, a inspiração das escrituras,
como interpretar várias passagens da escritura, normas morais cristãs, os
apóstolos, mestres cristãos, a natureza da igreja e muitos outros tópicos. Todavia, eles não dizem nada sobre um papado, nem para explicá-lo, defendê-lo,
antecipar objeções a ele, ou qualquer outra coisa.
Tradução do original aqui.
Anti-First!
ResponderExcluirNa verdade, o conceito do Papado não só está ausente nas fontes primitivas como também durante todo o primeiro milénio. Veja-se o caso paradigmático de um próprio bispo de Roma, Gregório Magno, que no século VI rejeita horrorizado o título de bispo universal.
ResponderExcluirO que há durante o primeiro milénio do cristianismo é episódios de bispos romanos que pretendiam ter mais poder do que aquele que lhes era reconhecido e são prontamente rechaçados pelos demais bispos.
Sem dúvida....
ExcluirO ponto do artigo é demonstrar como esta ausência é relevante. Se existisse algo como o ofício papal na Igreja Primitiva, nós nem estaríamos discutindo sua existência. Isto deixaria provas cabais e irrefutáveis (inclusive nas apologias contra os críticos do cristianismo). O que vemos é exatamente o contrário.