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terça-feira, 31 de maio de 2016

Papas e Teólogos medievais contra a Imaculada Conceição de Maria


 Leão I (400-461)

Apenas o Senhor Jesus Cristo, entre os filhos dos homens, nasceu imaculado, porque apenas Ele foi concebido sem a associação e a concupiscência da carne. (Sermão 25)

Essa citação por si só fecha a questão. Cristo é o único preservado do pecado original.

Pois a terra da raça humana, a qual no primeiro transgressor foi amaldiçoada, na prole da abençoada virgem somente produziu uma semente que foi abençoada e livre de culpa. (Sermão 24: 3)

Veja que o único livre de culpa foi da prole de Maria e não a própria Maria.

E, portanto, na ruína geral de toda a raça humana só havia um remédio no segredo do plano Divino que poderia socorrer o caído, e esse foi um dos filhos de Adão que deveria ter nascido livre e inocente do pecado original, prevalecendo para o resto tanto por seu exemplo e méritos. Ainda mais, porque isso não foi permitido pela geração natural, e porque não poderia haver alguma descendência com semente sem defeito, da qual a Escritura diz: "Quem pode fazer uma coisa pura ser gerada de uma semente impura? Não és somente tu que é capaz?" (Sermão 28:3)

Leão I esclarece porque Jesus é o único imaculado. Ele não nasceu de geração natural. Como esse não é o caso de Maria, não poderia estar livre do pecado original. Alguns católicos, na tentativa de desacreditar o significado óbvio dessas palavras, afirmam que Leão exaltava a pureza e santidade de Maria em seus sermões. Isso obviamente não contraria o fato de que ela foi concebida em pecado. Leão I ainda escreveu:

E considerando que em todas as mães a concepção não ocorre sem mancha de pecado, esta [Maria] recebeu a purificação da fonte de sua concepção. Nenhuma mancha de pecado penetrou onde não ocorreu relação sexual. (Sermão 22:3)

Ele parece acreditar que Maria foi santificada antes da concepção de Jesus. Se Maria foi purificada por causa de sua concepção, logo não houve uma imaculada conceição. Além do mais, Maria nasceu de uma relação sexual natural, logo a macha do pecado também nela penetrou.

O estudioso católico romano Michael O'Carroll comenta que Leão viu o pecado como sendo comunicado por meio de relações sexuais (Theotokos [Wilmington, Delaware: Michael Glazier, Inc., 1988], p. 217).

O historiador protestante Philip Schaff lista Leão I e outros seis bispos romanos que rejeitaram a imaculada conceição de Maria:

Até mesmo sete Papas são citados no mesmo lado, e entre eles três dos maiores como Leão I (que diz que somente Cristo era livre do pecado original, e que Maria obteve sua purificação através de sua concepção de Cristo), Gregório I e Inocêncio III. [FN233 Os outros papas, que ensinaram que Maria foi concebida em pecado, são Gelásio I, Inocente V, João XXII e Clemente VI. (d. 1352). A prova é fornecida pelo jansenista Launoy, Proescriptions, Opera I. pp. 17 sqq (...) (The Creeds of Christendom [Grand Rapids: Baker Books, 1998], Vol. I, p. 123) (Fonte)

Schaff cita a obra do jansenista Launoy que pode ser vista aqui em latim.

Gelásio I (410-492)

Gelásio dá muita dor de cabeça aos apologistas romanistas. Além de negar atransubstanciação, também negou a imaculada conceição:

Pertence somente o Cordeiro imaculado não ter nenhum pecado. (dicta adv. Pelag.Haeresin)

Trata-se de uma obra contra os pelagianos. Uma das melhores formas de saber qual era a fé da igreja num determinado período é verificar a sua reação quando algum oponente nega um artigo de fé. Os pelagianos afirmavam que Maria não teve pecados. A reação da igreja não foi afirmar uma suposta doutrina da imaculada conceição, mas afirmar que Maria nasceu sob o domínio do pecado original.

Consequentemente o que os pais geraram de sua prole é obra de Deus, de acordo com a instituição da natureza, mas não sem o contágio daquele mal que eles obtiveram através de sua própria transgressão. (Epístola 7)

Gregório o Grande (540-603)

Pois nós, apesar de termos sido feito santos, não nascemos santos, porque pela mera constituição de uma natureza corruptível a qual estamos amarrados e sujeitos, devemos dizer com o profeta: Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado concebeu-me minha mãe. Somente ele é realmente nascido santo, para que pudesse superar a condição da natureza corrupta, não sendo concebido segundo a maneira dos homens. (Livro sobre moral, uma exposição de Jó,Livro 18, em Jó 27)

Essa passagem foi citada por Tomás de Aquino na Suma Teológica, 3ª parte, questão 34, artigo 1, resposta à objeção de 3 - veja aqui.

Além disso, uma vez que ninguém entre os homens neste mundo é sem pecado (e o que mais é pecar do que fugir de Deus?), eu digo com confiança que esta minha filha também tem alguns pecados. (NPNF2: Vol. XII, Selected Epistles, Book VII, Epistle 30)

Uma clara afirmação da pecaminosidade universal sem exceção à Maria.

João IV (?-642)

E, em primeiro lugar, é loucura blasfema dizer que o homem é sem pecado, o que ninguém pode ser, mas somente o único mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem, o qual foi concebido e nasceu sem pecado. Todos os outros homens tendo nascido no pecado original, são conhecidos por ter a marca da transgressão de Adão, mesmo quando eles estão sem pecado atual, de acordo com a palavra do profeta: "Pois eis que fui concebido em iniquidade; e no pecado minha mãe deu à luz a mim." (HistóriaEclesiástica de Beda, Livro II, Cap. 19)

É autoexplicativo.

Inocêncio III (1161-1216)

Mas imediatamente [sobre as palavras do Anjo: "O Espírito Santo virá sobre ti '] o Espírito Santo veio sobre ela. Ele tinha antes de vir para dentro dela, quando no ventre de sua mãe, ele limpou sua alma do pecado original; mas agora também Ele veio sobre ela para limpar seu corpo do desejo do pecado, para que ela possa ser totalmente sem mancha nem ruga. (Sermão sobre a purificação da Virgem)

Maria foi purificada no momento da encarnação de Jesus e não em sua própria concepção. Logo, ela não somente nasceu no domínio do pecado original como cometeu pecados antes de ser purificada.

Eva foi gerada sem pecado, mas deu à luz no pecado. Maria foi gerada em pecado, mas deu à luz sem pecado. (Segundo discurso sobre a Assunção)

Diferentes de outras citações que afirmam que Jesus foi o único sem pecado, essa diz explicitamente que Maria foi gerada em pecado. Sobre a Festa de João Batista, Inocêncio escreve:

De João [Batista], o anjo não fala da concepção, mas do nascimento. Mas de Jesus ele profetiza tanto o nascimento como a concepção. Para Zacarias o pai é profetizado: "A tua mulher te dará um filho e lhe porás o nome de João". Mas, para Maria a mãe é profetizado: "Eis que em teu ventre conceberás e terás um filho e porás o nome de Jesus." João foi concebido em culpa, mas Cristo somente foi concebido sem culpa. Mas cada um nasceu na graça, e, portanto, a Natividade de cada um é celebrada, mas a concepção de Cristo somente é comemorada. (Sermão 16 sobre dias de festas)

Num contexto em que Maria é citada, é afirmado que Cristo somente é sem culpa. Não poderia ser mais claro.

Inocêncio V (1225-1276)

Inocêncio dá abaixo uma bela demonstração de como a imaculada conceição foi negada por um papa no séc. XII:

Quanto mais perto alguém se aproxima do Santo dos Santos, maior grau de santificação ele deveria ter, pois não há aproximação a Ele, exceto através da santificação. Mas a mãe se aproxima mais do que todos ao filho, que é o Santo dos Santos. Portanto, ela deveria ter um maior grau de santificação após seu Filho. O grau de santificação pode ser entendido como quádruplo: se têm santidade (1) antes da concepção e nascimento (2) após a concepção e nascimento; (3) na própria concepção e nascimento; (4) no nascimento, não na concepção. Pois "na concepção e não no nascimento” é impossível.

O primeiro grau não é possível, tanto porque a perfeição pessoal (como o conhecimento ou virtude) não é transmitida dos pais; e também porque nas crianças o ser da graça não pode tomar lugar, antes do ser real da natureza, sobre a qual se funda. O segundo grau é comum a todos, de acordo com a lei comum de santificação através dos sacramentos. O terceiro é peculiar ao Santo dos Santos, em quem somente toda santificação acontece de uma só vez, a concepção, a santificação e a assunção. Resta então o quarto. Mas esse tem quatro graus porque o feto, quando concebido no seio materno, pode ser santificado antes animação ou na animação, ou logo após a animação ou muito depois da animação.

O primeiro grau é impossível, porque de acordo com Dionísio (de div. nom. c. 12) "A santidade é a limpeza livre de toda contaminação, e perfeita e imaculada", mas a imundícia da falha não é expelida senão por "graça fazendo graciosamente", como as trevas pela luz, da qual a criatura racional é objeto da graça. O segundo grau não era adequado para a Virgem, porque ou ela não teria contraído o pecado original e por isso não teria sido necessário a santificação universal e redenção de Cristo, ou se ela o contraiu, a graça e a culpa não poderiam ter ocorrido nela de uma só vez. O quarto grau também não era adequado para a Virgem, porque era adequado para João e Jeremias, e porque não satisfazia tão grande santidade, e ela deveria ter demorado muito tempo em pecado como os outros, mas João foi santificado no sexto mês. Mas a terceira parece adequada e piedosamente credível, embora não seja derivada da Escritura, que ela deveria ter sido santificada, logo depois de sua animação, tanto no próprio dia ou hora, embora não no mesmo momento. (Comentário sobre as sentenças de Pedro Lombardo Livro 3, Distinção 3, Questão 1, Artigo 1)

Maria deveria ter maior santidade após o seu filho, logo ela nem sempre foi perfeita e livre de qualquer pecado. Ele então afirma quatro hipóteses. A maioria dos homens está na hipótese 2, pois se santificam após o nascimento. Inocêncio afirma que somente Jesus foi totalmente santo de uma só vez na concepção (hipótese 3), logo Maria não poderia ser imaculada desde a concepção. É dito claramente que Maria se encaixa na hipótese 4, ou seja, ela foi santificada após a concepção. Inocêncio então diz especificamente quando Maria foi santificada. Animação é o momento em que o ser recebe de Deus uma alma racional. Ele afirma claramente que Maria não poderia ter sido santificada nesse momento, pois dessa forma não teria contraído o pecado original. Ou seja, seria inaceitável afirmar que Maria foi livre do pecado original. A hipótese mais credível é que Maria foi santificada logo após a animação. Logo após receber uma alma racional e, portanto, após a concepção, teria sido santificada.

João XXII (1249-1334)

Ela (a Virgem) passou primeiramente por um estado de pecado original, em segundo lugar por um estado de infância à honra materna, em terceiro da miséria à glória. (Sermão 1 sobre a Assunção)

Clemente VI (1291-1352)

Mas antes Eu divido o tema, parece que essa [festa] concepção não deve ser celebrada, em primeiro lugar, sobre a autoridade de Bernardo, que em sua Epístola aos Lionenses [cânones], gravemente os repreende, porque eles tinham recebido a festa e a realizavam solenemente. Porque nenhuma festa deveria ser comemorada, exceto para reverência da santidade da pessoa a qual é comemorada, uma vez que tal honra é dada aos santos por conta da [relação] que eles têm com Deus acima dos outros; mas isso é por causa da santidade; e não só o pecado atual, mas o pecado original também [separa] de Deus. Mas a Santíssima Virgem foi concebida em pecado original, como muitos santos parecem dizer, e pode ser provado por muitos motivos. Parece que a Igreja não deveria realizar um festival de sua concepção. Aqui, não estou disposto a disputar, eu digo brevemente que uma coisa é clara: a Santíssima Virgem contraiu pecado original. A causa e a razão é esta: como sendo concebida da união de homem e mulher, foi concebida através da paixão, e, portanto, ela teve o pecado original em causa, que seu filho não tinha, porque Ele não foi concebido da semente do homem, mas através da respiração mística: "o Espírito Santo virá sobre ti." E, portanto, não ter pecado original é um privilégio singular de Cristo somente. (Sermão do Advento do Senhor)

Mais explícito é impossível. Maria foi concebida em pecado original e essa opinião era partilhada por muitos teólogos renomados (trataremos deles adiante).

Tomás de Aquino (1225-1274)

Tomás merece um artigo específico. Tratamos do testemunho dele aqui. Resumidamente pode-se dizer que ele negou a imaculada conceição e não mudou de ideia no fim da vida como os apologistas católicos afirmam.

Outros teólogos que negaram a imaculada conceição

A opinião de Tomás não era uma exceção, sendo compartilhada por muitos teólogos escolásticos. O estudioso católico romano Garrigou-Lagrange escreve:

O Concílio de Trento (Denz 792) declara, quando se fala de pecado original que infecta todos os homens, que não tem a intenção de incluir a Santíssima e Imaculada Virgem Maria. Em 1567 Baius é condenado por ter ensinado o contrário (Denz 1073). Em 1661 Alexander VII afirmou o privilégio, dizendo que quase todos os católicos acreditam, embora ainda não tenha sido definido (Denz 1100). Deve-se admitir que nos séculos 12 e 13 grandes doutores, como, por exemplo, St. Bernardo, [29] St. Anselmo, [30] Pedro Lombardo, [31] Hugo de São Vítor, [32] St . Alberto Magno, [33] São Boaventura, [34] e São Tomás de Aquino parece ter sido relutantes em admitir o privilégio.

[29]. Epist. ad canonicos Lugdunenses.
[30]. De conceptione virginali.
[31]. In III Sent., dist. 3.
[32]. Super Missus est.
[33]. Item Super Missus est.
[34]. In III Sent., dist. 3, q. 27.

Carol escreve sobre Bernardo de Claraval:

Seja qual for a autoridade que possa ser invocada a favor da celebração da festa em homenagem a concepção de Maria como uma observância litúrgica legítima e suficientemente tradicional, o fato histórico é que o poder e a influência de St. Bernardo (1091-1153) foi, apesar de seu grande amor por Maria, alinhado com as forças que se opõem a essa festa. Ele formulou a sua objeção numa célebre carta aos Cânones de Lion. Provavelmente este suporte de Bernardo foi providencial, pois desencadeou uma controvérsia sobre a Imaculada Conceição que finalmente resultou na aceitação universal da doutrina da imunidade de Maria do pecado original. É disputado entre os alunos da carta de Bernardo se o santo intentava simplesmente se opor à introdução da festa como inoportuna e não aprovada por Roma ou se ele intentava se opor a própria doutrina da Imaculada Conceição. Mais provavelmente, sua objeção foi contra a doutrina como então compreendida. (Op. Cit)

A ideia da imaculada conceição começa a ser aceita na igreja romana por causa da piedade popular. Havia uma festa que celebrava a imaculada conceição, mas nem a festa e muito menos a doutrina a que implicava era aceita por todos. Carol escreve sobre Anselmo:

Esta amplo período [séc. XI a XVI] inclui o tempo de controvérsia no Ocidente a respeito da veracidade da Imaculada Conceição de Maria e seu efetivo término com a aceitação generalizada da posição scotista. A influência de Santo Anselmo (1033-1109) sobre seus contemporâneos e sobre escritores posteriores à sua época seria difícil exagerar e a inferência é forte de que Anselmo não se inclinou para aceitação da Imaculada Conceição de Maria, pela simples razão de que ele não podia ver como a concepção de Maria na graça poderia ser devidamente conciliada com a universalidade da redenção operada por Cristo. (Op. Cit)

Carol prossegue tratando de outros teólogos:

Apesar de os grandes Doutores franciscanos antes de Scoto, St. Boaventura e St. Antônio não admitirem pelo menos claramente a doutrina da liberdade de Maria do pecado original, a escola franciscana após Scoto propôs a doutrina mais enfaticamente do que ele. Até a primeira metade do século XVI, os dominicanos continuaram se opondo à doutrina. (Op. Cit)

Carol prossegue:

No decorrer dos séculos seguintes, a controvérsia continuou entre as várias escolas de pensamento, principalmente entre os franciscanos e os dominicanos (...) Depois de Trento, a oposição à Imaculada Conceição tornou-se muito moderada, e mesmo aqueles que anteriormente tinha sido contra ela ou mudaram seu ponto de vista ou então interromperam quaisquer ataques graves contra a ortodoxia completa da doutrina. (Op. Cit)

Os estudiosos católicos geralmente citam o séc. XVI como o período em que o consenso emergiu. Estamos falando de 1500 anos após a morte do último apóstolo – que seria o período em que tal doutrina foi revelada por Deus. A doutrina da imaculada conceição não é conciliável com a ideia de que a igreja romana preservou intacta a revelação dada aos apóstolos. Os católicos costumam afirmar que isso não é um problema, pois a doutrina só foi definida no séc. XIX. Somente depois dessa definição é que negar a doutrina seria uma grave heresia. Isso é simplesmente inaceitável. Seria como dizer que não havia problema em negar a divindade de Cristo antes do Concílio de Niceia. A doutrina apostólica só seria de assentimento obrigatório após afirmações dogmáticas da igreja. Os cristãos poderiam então passar séculos e séculos negando doutrinas fundamentais claramente ensinadas pelos apóstolos como artigos de fé. A igreja não é a criadora da revelação, mas sua mantenedora. Dessa forma, a evidência histórica nos constrange a negar as reivindicações de Roma.

3 comentários:

  1. Olá Bruno,

    Em primeiro lugar, parabéns pelo seu bloque e pela alta qualidade dos artigos bastante documentados.

    De fato, quando a doutrina da imaculada conceição surgiu por volta do século XII, além de ter desencadeado grande controvérsia e tido a oposição dos maiores teólogos da época, como Bernardo de Claraval, Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, Alberto Magno e Tomás de Aquino, também foi causa nos séculos seguintes de uma luta acirrada entre franciscanos e dominicanos.

    Os franciscanos eram “pró-imaculada” e os dominicanos “anti-imaculada”.

    Um fato curioso é que o papa Sisto IV na Constituição Grave nimis de 4 de setembro de 1483, a propósito desta controvérsia entre franciscanos e dominicanos, escrevia sobre os que condenavam como heresia esta doutrina:

    “Nós, por autoridade apostólica, ... reprovamos e condenamos tais afirmações como falsas, erróneas e totalmente alheias à verdade ... [mas se repreende também os que] se atreverem a afirmar que aqueles que mantêm a opinião contrária, a saber, que a gloriosa Virgem Maria foi concebida com pecado original, incorrem em crime de heresia ou pecado mortal, uma vez que não está ainda decidido pela Igreja Romana e pela Sé Apostólica...”

    (Denzinger 735)

    Esta declaração de finais do século XV é bastante surpreendente, vindo de Sisto IV, ele próprio franciscano, e nada mais que o papa que autorizou em 1476 a famosa festa que Bernardo em 1140 tinha considerado uma novidade infundada. No entanto, em 1489 Sisto IV ainda não tinha a certeza de tal doutrina.

    Mas apesar do vazio completo de declarações escriturais e de tradições confiáveis, Pio IX definiu o novo dogma, sem que mediasse nenhuma nova revelação.

    Este é um bom exemplo que demonstra como funciona o estabelecimento de doutrinas na Igreja de Roma.

    O católico tem que aceitar que tal dogma de fé está revelado nas Escrituras ou na Tradição Apostólica ou em ambas. No entanto, tem que fazê-lo exclusivamente com base na autoridade do Magistério, porque pode procurar-se até o cansaço nas Escrituras ou nos escritos dos primeiros séculos da Igreja, sem nunca encontrar esta doutrina ensinada por um Apóstolo, um Padre antigo, ou um concílio, ou alguém que se refira a ela como uma tradição apostólica.

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    1. Olá meu amigo,

      Antes de tudo, tenho uma dívida pessoal contigo. Há tempos atrás, quando empreendi estudar a fundo a história da igreja com enfoque na controvérsia protestantismo vs romanismo, o seu blog foi de grande importância. Agradeço pelo trabalho prestado a defesa da fé cristã, ainda mais num tempo em que havia centenas de sites católicos espalhando todo o tipo de deturpação e praticamente somente o seu blog em português os respondendo. Esteja certo que seu trabalho não foi em vão.

      Obrigado por trazer mais esta citação. Como afirmei em meu artigo, o dogma da imaculada conceição é a prova cabal de que a igreja romana não guardou o depósito da fé e ao longo da história adicionou doutrinas estranhas ao ensino dos apóstolos.

      Essa citação de Sisto IV demonstra um erro muito comum da apologética católica. Eles costumam apresentar qualquer teólogo favorável a uma ideia que mais tarde se transformaria num dogma como um defensor de tal ideia como um artigo de fé. Isso fica especialmente claro na questão da virgindade perpétua. Alguns pais da igreja que defenderam a virgindade no parto ou pós-parto claramente não as consideravam um artigo de fé. Para eles, era aceitável negar tais ideias e manter incólume a doutrina cristã.

      De fato, a única forma de aceitar essas e outras inovações é ter uma fé fideísta na igreja de Roma - "Se ela diz, então deve ser verdade" - ou seja, é aderir à Sola Eclésia e desperdiçar a maravilhosa capacidade de raciocínio crítico que Deus nos deu.

      Um abraço. Volte mais vezes!

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    2. Ora nem mais, o Sola Eclesia está bem resumido nas palavras de Inácio de Loyola:

      "Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a que o branco, que eu vejo, acreditar que é negro, se a Igreja hierárquica assim o determina" :)



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