Restauração na Igreja
Uma vez que o período
de penitência pública tinha sido concluído, o penitente era reintegrado à comunhão
da Igreja e autorizado a participar novamente dos sacramentos. Isso ocorria por
meio da imposição de mãos numa cerimônia pública. Mas essa restauração era
simplesmente a declaração pública de que o indivíduo tinha completado a
penitência exigida e tinha sido oficialmente reintegrado. Não havia a
absolvição sacramental, que se tornaria a prática da Igreja séculos mais tarde.
Que esse era um ato público e declarativo, pode ser visto a partir da seguinte
declaração de Cipriano:
Enquanto que, em pecados menores, os pecadores fazem
penitência por um tempo determinado, e de acordo com as regras da disciplina,
vêm à confissão, e pela imposição de mãos do bispo e do clero, recuperam o
direito da comunhão. (Library
of the Fathers of the Holy Catholic Church (Oxford: Parker, 1844),
The Epistles of S. Cyprilan 16.2)
O Concílio de Trento
diz que há uma série de elementos que compõem o sacramento da penitência, que
são necessários para que seja válido. Um elemento importante é a absolvição do
sacerdote e, em seguida, a realização das obras de satisfação. Mas, essa
prática não pode ser encontrada no início da Igreja. A absolvição não era um
ato judicial, mas simplesmente a declaração do bispo de que o indivíduo tinha
cumprido a sua obrigação para com a Igreja e seria restaurado à comunhão.
McNeill e Gainer destacam que a prática da penitência durante os primeiros
séculos não era considerada um sacramento e que seria errado aplicar os
ensinamentos desenvolvidos na Igreja medieval sobre a Igreja dos primeiros
séculos:
Empregar a palavra "absolvição" ... em
relação à reconciliação dos penitentes nesse período seria enganoso, se envolvesse o reconhecimento da aplicação medieval do termo.
Absolvição não era concedida no início
da penitência, mas no seu fim, e não seria distinguida da reconciliação ou da
readmissão à comunhão. Não há formulários de absolvição preservados; e
todas as informações sobre a questão indicam o uso de uma oração, não de uma
forma declarativa. (McNeil e
Gainer, Op. Cit., pp. 16-17)
Que a confissão
auricular e absolvição judicial concedida pelo sacerdote não eram a prática da
Igreja desde o início como afirma o Concílio de Trento, pode ser visto no fato
de que não havia acordo geral na Igreja sobre a natureza e a necessidade de uma
questão que se tornaria importante no século 13. Era uma questão debatida entre
os teólogos escolásticos, a maioria dos quais demonstram que houve opiniões conflitantes
até mesmo entre os pais da Igreja. Philip Schaff enfatiza os seguintes pontos:
No final do século XII, uma completa mudança foi feita
na doutrina da penitência. A teoria da Igreja primitiva, elaborada por
Tertuliano e outros pais da Igreja, era que a penitência seria eficiente para
remover os pecados cometidos após o batismo, e que consistia em certos
exercícios penitenciais como a oração e a esmola. Os primeiros elementos adicionados pelo sistema medieval eram que a
confissão ao sacerdote e sua absolvição eram condições necessárias para o
perdão. Pedro Lombardo não fazia da
mediação do sacerdote uma exigência, mas declarou que a confissão a Deus era
suficiente. Em seu tempo, diz ele, não havia acordo sobre três aspectos da
penitência: em primeiro lugar, se contrição pelo pecado não era suficientemente
necessária para a sua remissão; por outro, se a confissão ao sacerdote era
essencial; e em terceiro lugar, se a confissão a um leigo era insuficiente. As
opiniões proferidas pelos pais da Igreja, afirma, foram diversas, se não
antagônicas.
Alexandre de Hales marca uma nova era na história da
doutrina. Ele foi o primeiro dos escolásticos a responder claramente todas
estas perguntas, é a ele mais do que qualquer outro teólogo que a Igreja
Católica deve sua doutrina da penitência ... Começando com Alexandre de Hales,
os escolásticos sustentaram as posições que a confissão, para ser eficaz, deve
ser feita ao sacerdote, e que a absolvição do sacerdote é uma condição essencial
para o perdão do pecador. Boaventura, depois de dedicar muito tempo a pergunta:
"Se é suficiente confessar nossos pecados a Deus", respondeu de forma
negativa. Em maior extensão do que Pedro Lombardo tinha feito, ele citou os
pais para mostrar que não havia unanimidade entre eles sobre a questão. (Philip
Schaff, History of the Christian
Church (Grand Rapids: Eerdmans, 1910), Volume 5, pp.731-732,
735-737)
A partir dessas
citações é evidente que grandes mudanças eventualmente aconteceram no ensino e
na prática da penitência. Obviamente, continuou a ser praticada de forma
consistente e foi inculcada na Igreja, a tal ponto que, na Idade Média, ela desenvolveu
regulamentos em que determinadas punições eram prescritas para pecados
específicos. Esses foram escritos em livros penitenciais que documentam para
nós a prática penitencial da Igreja que começou no século VII. É nesses livros
que encontramos a documentação da clara mudança na prática da penitência na
Igreja, que o concílio de Toledo protestou contra, mas eventualmente culminou
nas práticas sancionadas pelo concílio de Trento. Eles revelam uma mudança
radical em relação à prática da Igreja primitiva. McNeill e Gamer fazem estes
comentários sobre a natureza dessa mudança:
O procedimento
público, em que o penitente em sua humilhação implora a intercessão de
"todos os irmãos", foi mais tarde substituído por um rito privado e
secreto envolvendo a confissão e absolvição por um confessor sacerdotal, e que ocasionava atos de
penitência que muitas vezes eram, principalmente, ou totalmente privados. Nessa
transformação da penitência, os livros penitenciais desempenharam um papel
importante.
Quando todas as semelhanças entre as penitenciais e os
escritos anteriores foram reconhecidas, ainda é evidente que o surgimento das
séries penitenciais marcam um novo ponto de partida. As penitenciais não
somente indicam um novo método de disciplina penitencial; elas também
constituem um meio até então não empregado de orientar os confessores na sua
tarefa. Com o início do uso desses manuais, surge uma nova era na história da
penitência.
De acordo com esses manuais, a penitência deve ser
administrada privadamente em cada etapa; a confissão deve ser feita em segredo
por uma pessoa qualificada, que é regularmente um padre ... Penitência era ...
agora, em geral, totalmente privada, no sentido de ser dissociada da igreja
reunida.
Não havia
exomologesis pública e nenhum conhecimento corporativo da questão por parte da
congregação. Antes do concílio reacionário de Toledo proibir a repetição da
penitência (589) ... uma série de livros penitenciais tinham sido escritos e
colocados em uso. Eles afirmavam o
princípio, com raras citações dos pais da Igreja, que a penitência poderia
ocorrer sempre que houvesse arrependimento de pecados. A penitência é
disponível tantas vezes quanto for procurada. É apresentada como uma prática
habitualmente repetida por todos os fiéis, e não como um recurso a quem tinha
sido excepcionalmente mau. (McNeil e Gainer, Op. Cit., pp 23, 28-29)
O catecismo da Igreja
Católica afirma os fatos históricos acima relacionados à mudança que ocorreu na
prática da penitência:
Durante os primeiros séculos, a reconciliação dos
cristãos que tinham cometido pecados particularmente graves depois de seu batismo
(por exemplo, idolatria, assassinato ou adultério) era tratada por uma
disciplina muito rigorosa, segundo a qual os penitentes tinham que fazer penitência pública por seus pecados,
muitas vezes durante anos, antes de receber a reconciliação. Para esta
"ordem dos penitentes" (que se relacionava apenas a certos pecados
graves), uma vez apenas era raramente
admitido e, em certas regiões apenas uma vez na vida. Durante as missões
irlandesas do século sétimo, inspiradas na tradição monástica oriental, a prática "privada" da penitência
foi levada à Europa continental, que não requeria públicas e prolongadas obras
de penitência antes de reconciliação com a Igreja. A partir desse momento, o
sacramento passou a ser realizado em segredo entre o penitente e o sacerdote.
Esta nova prática previa a possibilidade
de repetição e por isso abriu o caminho para uso regular deste sacramento.
Isso permitiu que o perdão dos pecados graves e veniais fosse integrado a uma
celebração sacramental. Em suas principais linhas, esta é a forma de penitência
que a Igreja tem praticado até os nossos dias. (Catechism of the Catholic
Church (Rome: Urbi et Orbi, 1994), #1447)
O Concílio de Trento
afirma que desde o início a Igreja tinha praticado a confissão secreta ao
sacerdote e amaldiçoa quem nega isso. Tal afirmação não é suportada pela
evidência histórica. Mais uma vez a Igreja Romana faz afirmações dogmáticas
que, como tantos de seus outros ensinamentos sobre a tradição, o papado e
Maria, não encontram apoio histórico.
É bastante óbvio a
partir de tais declarações e das evidências apresentadas, que a confissão e a
penitência por muitos séculos na Igreja foi muito diferente do sacramento que o
Concílio de Trento afirmou dogmaticamente ser vinculativo para todos os crentes
e necessário para salvação. Sua afirmação de que a forma do sacramento que
sancionou oficialmente tinha sido a prática universal da Igreja desde o início
é totalmente falsa. Não foi até o início do século VIII, que a confissão
privada começou a substituir a forma pública e não havia se tornado uma prática
universal até à idade média.
Essa é a história do
desenvolvimento do sacramento católico romano da penitência e confissão em seu
ensinamento sobre o perdão dos pecados. E alinhado com este desenvolvimento,
também estão os ensinamentos sobre as indulgências e o purgatório.
O ensino bíblico sobre perdão e arrependimento
Os apóstolos
ensinaram que, se os homens desejassem a experiência da salvação, deveriam se
arrepender e crer. A palavra arrependimento é a palavra grega metanoia, que
significa uma mudança de mente. No uso bíblico em que se aplica ao evangelho,
significa o abandono do pecado e do mundo, e uma conversão da mente e do
coração a Deus. Essa mudança é evidenciada por uma vida transformada,
caracterizada por voltar-se a Cristo, passando a segui-lo. O verdadeiro
arrependimento é sempre evidenciado por uma vida dentro vontade de Deus, uma
vida de santidade. Tal vida, no entanto, não é uma vida de perfeição. E, embora
as Escrituras exortem os fiéis a uma vida de santidade, também reconhecem que
haverá uma contínua necessidade de lidar com o pecado. A Escritura dá
instruções muito claras sobre a natureza do recebimento do perdão dos pecados
depois de já ter se tornado cristão e membro da Igreja.
A Igreja Católica
Romana afirma que Cristo instituiu o sacerdócio para a finalidade de lidar com
os pecados dos homens através de confissão privada, absolvição e a atribuição
de penitências para satisfazer a justiça de Deus. Estas alegações supostamente
recebem sanção bíblica pelo seguinte raciocínio. Dizem-nos que Jesus tinha
autoridade para perdoar pecados. Isso é claramente afirmado por ele em Mateus
9:6. Então, é dito que ele investiu seus seguidores da mesma autoridade e ele
deu a seus discípulos e àqueles que os seguem como sacerdotes a autoridade para
ligar e desligar (Mt. 16:19, 18:18; Jo 20:23). Jesus afirma que, como o Pai
tinha lhe tinha enviado ao mundo, assim Ele também estava enviando os seus
discípulos (Jo. 17:18, 20:21). E assim, a lógica segue, uma vez que Jesus foi
enviado pelo Pai para perdoar pecados, ele concedeu aos seus seguidores essa
mesma autoridade por meio dos poderes de ligar e desligar e de exercer um
ministério de reconciliação através do sacramento da confissão e da penitência
(2 Cor 5:18-20). A Igreja também apela a Tiago 5:16 e 1 João 1:9 que, de fato,
ordenam aos cristãos confessar os seus pecados.
No entanto, essa
lógica é falha, pois repousa sobre uma base falsa e equivocada interpretação da
Escritura. Em primeiro lugar, a Escritura ensina que Cristo não estabeleceu um
sacerdócio no Novo Testamento, mas que toda a ordem do sacerdócio foi
completamente eliminada uma vez que o próprio Cristo assumiu essa posição. A
função de autoridade no Novo Testamento é agora a de um ancião ou pastor
(presbíteros), que funcionam como um supervisor (episkopos), e não um
sacerdote.
Em segundo lugar, as
principais passagens que se relacionam a ligar e desligar, ao invés de
ensinarem que Jesus concedeu autoridade aos apóstolos como sacerdotes para
ouvir confissão e absolverem, são na verdade a autoridade declarativa de
proclamar o evangelho e oferecer o perdão dos pecados aos homens, se eles se voltarem a Cristo com
fé e arrependimento. Este é o ministério da reconciliação (2 Coríntios 5: 18-20)
que foi dado aos apóstolos e seguidores de Cristo. É verdade que Jesus tem
autoridade para perdoar pecados e exercita esta prerrogativa como um direito
pessoal. Mas quando ele afirma que está enviando os apóstolos ao mundo como o
Pai o enviou, temos de fazer uma distinção clara entre o que Cristo pode fazer
como Deus e o que ele autorizou seus seguidores fazerem em seu nome.
Por exemplo, Cristo
também veio para fazer expiação pelo pecado e foi enviado pelo Pai para esse
objetivo. Mas nós não reivindicamos que aos apóstolos foi igualmente dada a
autoridade para fazer expiação pelo pecado. Cristo também foi enviado pelo Pai
para proclamar o evangelho e perdoar os pecados mediante arrependimento e fé
(Lc. 4:18; Mc 1:15). É neste sentido que os apóstolos são enviados ao mundo
como Cristo foi também enviado. A autoridade concedida aos apóstolos é
estritamente relacionada à proclamação do evangelho. Somente Deus pode perdoar
pecados, por sua vez, os apóstolos têm a autoridade de proclamar que, com base
da obra de Cristo, os homens podem esperar que sejam perdoados por Deus (Mt.
28:18-20).
Em terceiro lugar, a
lógica Católica Romana é falha porque as passagens que exigem confissão pessoal
não tem nada a ver com confissão e absolvição sacerdotal. Os homens são
chamados a confessar os seus pecados diretamente a Deus, tendo Cristo somente como
seu sacerdote, e descansar na obra consumada de Cristo como pagamento por esses
pecados. Os homens podem ir diretamente a Deus na confissão dos pecados e
receber o perdão diretamente dele, sem passar por um padre e sem fazer
penitências como forma de satisfação por seus pecados. Isso é claramente
indicado em Hebreus 10:19-22:
Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no
Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos
abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote
sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração
sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos
purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água
pura.
Isso
deveria ser óbvio a partir de análise do sacerdócio do Antigo Testamento. Não
há o menor indício de que esses sacerdotes ouviam os pecados do povo e
judicialmente os absolvia. Homens confessavam seus pecados diretamente a Deus
com base no sacrifício expiatório que era feito em seu lugar. Deus nunca
ordenou que a confissão do pecado fosse feita ao sacerdote, nem sua realização
para receber o perdão.
Parte
da verdadeira confissão do pecado é o importante elemento do arrependimento, que
significa afastamento e abandono do pecado. Mas isso é muito diferente da ideia
de penitência como obras pessoais pelas quais o homem ganha o perdão dos
pecados, satisfazendo a ira e a justiça de Deus. Isso não é ensinado nas
Escrituras. O perdão é baseado unicamente na obra do Senhor Jesus Cristo e sua
obra consumada faz a expiação completa de todos os pecados. Ensinar que o homem
pode ganhar perdão através das obras de penitência é perverter o evangelho da
graça, ensinando que as obras desse homem devem de alguma forma completar a
obra de Cristo. A Escritura ensina que os homens devem produzir frutos dignos
de arrependimento (At. 26:20; Mt. 3:8), mas o que a Palavra de Deus quer dizer
é que a vida deve demonstrar o verdadeiro arrependimento pelos frutos de santidade.
Isso não é um apelo à penitência como uma tentativa de ganhar o perdão de Deus.
Nós
também somos chamados a confessar os nossos pecados uns aos outros (Tg. 5:16;
Mt. 5:23-24). Isso significa que devemos confessar ao nosso irmão ou irmã, oque
temos pecado contra eles e reconciliarmos com eles. Também devemos abrir os
nossos corações para os irmãos na fé, a fim de orarmos uns pelos outros.
As
Escrituras nos ensinam que os cristãos devem lidar seriamente com o pecado,
pois a Igreja é um corpo santo chamado por Deus a partir do mundo para ser um
povo distintamente santo. O pecado não deve ser tolerado e aceito, ele deve ser
confessado e arrependido. Isso é sancionado muito claramente no Novo
Testamento. Jesus e Paulo ensinam que a liderança da Igreja deve confrontar o
pecado e lidar com ele na vida daqueles que são culpados. Por exemplo, Jesus dá
as seguintes instruções específicas para tratar o pecado na igreja:
Se o
seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir,
você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois
outros, de modo que qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas
ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se
recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano. Digo-lhes a
verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o
que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu. (Mt.18:15-18).
O objetivo em
confrontar tal indivíduo é trazer arrependimento e restauração ao
relacionamento da pessoa com Deus. Jesus diz que a Igreja tem o poder de ligar
e desligar. Se o indivíduo em questão se recusa a arrepender-se, em seguida,
Jesus diz que a pessoa deve ser excomungada da Igreja e tratado como um
incrédulo. O julgamento feito pela Igreja será igualmente feito no céu.
A Igreja aqui
simplesmente está repassando o julgamento sobre o indivíduo que já foi aprovada
no céu. Ligar e desligar é uma questão pública que é estritamente disciplinar
em sua natureza e não tem nada a ver com a confissão privada a um padre que
supostamente tem o poder judicial de absolver os homens do pecado ou,
inversamente, de reter tal absolvição e, assim, o efeito de vincular homens ao
pecado . Paulo, em 1 Coríntios 5 também afirma que os membros da Igreja, cujas
vidas são caracterizadas por certos pecados estão excomungados. Mas, quando
tiverem demonstrado verdadeiro arrependimento mediante abandono de seus
pecados, devem ser restaurados à Igreja. Paulo não diz absolutamente nada sobre
a restauração ser condicionada à realização de penitência. A única condição é o
genuíno abandono do pecado, que é o verdadeiro significado de arrependimento
nas Escrituras. Ensinar que o arrependimento significa penitência é uma
perversão do sentido bíblico da palavra.
Assim, as passagens
bíblicas usadas pela Igreja de Roma como fundamento para seu ensinamento sobre
confissão e penitência não suportam suas reivindicações. Ela tem interpretado
erradamente as Escrituras. Sabemos que esse é o caso, porque a Igreja do Novo
Testamento não aplicava as passagens das Escrituras sobre ligar e desligar como
sendo confissão auricular e absolvição sacerdotal, mas sim a pregação do
evangelho.
Apêndice
Citações de escritos dos primeiros Pais a
partir do segundo ao quinto séculos demonstrando que somente um arrependimento
estava disponível para pecados graves - sendo conhecido como confissão
O Pastor de Hermas
Eu lhe disse: “Senhor, permite-me apresentar algumas questões.” Ele respondeu:
“Podes perguntar.” Eu continuei: “Senhor, se alguém tem esposa que crê no
Senhor, e descobre que ela é adúltera, esse homem comete pecado vivendo com
ela? Ele me respondeu: “Enquanto ele não sabe, não comete pecado. Mas se fica
sabendo do pecado de sua mulher e que ela, ao invés de se arrepender, persiste
no adultério, o marido, vivendo com ela, se torna cúmplice de sua falta e
participa no adultério dela.” Então perguntei: “Se a mulher persiste nessa
paixão, o que o marido deverá fazer?” Ele respondeu: “Deve repudiá-la e viver
sozinho. Contudo, se depois de ter repudiado sua mulher, ele se casar com
outra, então ele também comete adultério.” Eu disse: “Senhor, e se a mulher
depois de ter sido repudiada, se arrepender e quiser voltar a seu marido, ele
deverá acolhê-la?” Ele continuou: “Sim. E se o marido não a receber, ele
cometerá pecado e carrega-se de grande culpa. É preciso acolher aquele que peca
e se arrepende, mas não muitas vezes. Para os servos de Deus existe apenas um
arrependimento. (Mandamento 4.1)
Tertuliano
Colocou no salão para abrir a porta aos que chama, mas somente uma vez,
por que está já é uma segunda” (De Paenitentia, c.7)
Oh Jesus Cristo, meu Senhor, concede aos teus servos a graça de conhecer
e aprender com a minha boca a disciplina da penitência, mas enquanto lhes
convém e não para o pecado, em outras palavras, que depois (do batismo) não
tenham que conhecer a penitencia e nem pedi-la. Odeio mencionar aqui a segunda,
ou por melhor dizer, neste caso, a última penitência. Temo que, ao falar de um
remédio da penitência que se tem em reserva, parece sugerir que existe,
todavia, um tempo em que se pode pecar. Deus me livre alguém interprete mal meu
pensamento, fazendo-os dizer que com esta porta aberta a penitência existe,
portanto, agora uma porta aberta ao pecado, ... Temos escapado uma vez (no
batismo). Não vamos entrar mais em perigo, mesmo que nos pareça que ainda
escaparemos outra vez. (Da penitência 7)
Por isso, Deus vendo
de antemão esses seus venenos, embora a porta do perdão esteja fechada, e a do
Batismo interposta, resta ainda alguma abertura. Ele tem ainda o átrio de um
segundo arrependimento, que pode ser aberto se ele bater, mas agora para uma
única vez, porque agora, pela segunda vez, e nunca mais. (Da penitência 8-9)
Quanto mais se
endireitou, em seguida, o trabalho deste segundo e único remanescente
arrependimento, mais trabalhosa será sua prova, de modo que não pode ser apenas
suportada na consciência interior, mas também deve ser exibida por algum ato
externo. Este ato, o que é melhor e mais comumente expresso por uma palavra
grega (exomologesis), é a confissão,
em que reconhecemos o nosso pecado ao Senhor, não porque ele não o sabe, mas na
medida em que para satisfação, a confissão é ordenada, da confissão o
arrependimento surge, pelo arrependimento Deus é satisfeito. (Da penitência 9)
Quando mais estrita é a necessidade desta segunda
penitencia, tanto mais trabalhosa deve ser a prova; não basta que exista a
consciência de ter feito mal; é necessário um ato que a manifeste
exteriormente. Este ato, para usar uma palavra grega que é comumente
usado, é o exomologesis, em virtude da qual confessamos a Deus nossos pecados,
não porque Ele o ignorou, mas porque a confissão dispõe a satisfação e realiza
a penitência, e esta, por sua vez, aplaca a ira de Deus. O exomologêsis é,
pois, um exercício que ensina o homem a humilhar-se e rebaixar-se, impondo um
regime capaz de atrair sobre ele a compaixão. Regulamenta a compostura exterior
e sua alimentação; quer que deite sobre o saco e cinza, que se cubra o corpo em
trapos, que se entregue à tristeza, que se vá corrigir em suas falhas por
meio de um tratamento severo. Além disso, o penitente deve estar contente,
em termos de comida e bebida, com as coisas simples que são estritamente
necessários para sustentar a vida, não para lisonjear o estômago; nutre o
oração com o jejum; gemidos, gritos e se lamenta dia e noite do Senhor, teu
Deus; prostra-se aos pés dos sacerdotes e se ajoelha diante os amigos de Deus;
pede as orações de seus irmãos, para que sirvam de intercessores junto a Deus.
(Da penitência 9-12)
Clemente de Alexandria
Ele, então, que recebeu o perdão dos pecados deve não mais pecar. Pois,
além do primeiro e único arrependimento dos pecados (isto é dos pecados
anteriores da antiga vida pagã - quero dizer que na ignorância), há por diante,
com proposta para aqueles que têm sido chamados, o arrependimento que limpa a
sede da alma de transgressões, que a fé pode ser estabelecida. E o Senhor,
conhecendo o coração, e conhecendo de antemão o futuro, previu tanto a
inconstância do homem como também a astúcia e sutileza do diabo desde o início;
como que, invejando o homem por causa do perdão dos pecados, ele iria
apresentar aos servos de Deus certas causas de pecados; artifícios habilmente
trabalhados, para que pudessem cair junto com ele mesmo.
Assim, sendo muito misericordioso, Ele graciosamente concedeu, no caso
daqueles que, embora na fé, se encontram em alguma transgressão, um segundo
arrependimento; de modo que ninguém deve ser tentado após a sua vocação,
superada pela força e estratégia, ele pode receber uma permissão para se
arrepender. "Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos
recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,
mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo que há de devorar
os adversários." Mas repetições
contínuas e sucessivas para pecados na diferem do caso daqueles que não crêem,
exceto apenas em sua consciência que eles fazem pecar. E eu não sei qual dos
dois é pior, se o caso de um homem que peca conscientemente, ou de alguém que,
depois de ter se arrependido de seus pecados, transgride novamente.
Ele, então, que, dentre os gentios e que da velha vida veio à fé, obteve
o perdão dos pecados de uma vez. Mas ele que pecou após isso, em seu
arrependimento, ainda que obtenha o perdão, deveria temer, como se não tivesse
sido lavado para o perdão dos pecados. Pois não só devem os ídolos que ele
antes tinha na forma de deuses, mas também as obras de sua antiga vida, serem
abandonado por aquele que "nasceu de novo, não do sangue, nem da vontade
da carne ', mas no Espírito; que consiste em se arrepender para não ceder à
mesma falha. Pois o arrependimento frequente e a prontidão para mudar
facilmente à falta de auto-domínio, é a prática do pecado novamente. A
solicitação frequente do perdão, então, para aquelas coisas em que muitas vezes
transgridem, é a aparência de arrependimento, não arrependimento em si. (Stromata,
Livro 11, capítulo XIII
Orígenes
Em pecados graves, o
lugar de arrependimento é concedido apenas uma vez. (Homilia 15 em Levítico 25)
Ambrósio
Merecidamente são
eles culpados por aqueles que pensam que fazem penitência frequentemente, pois
eles são levianos contra Cristo. Pois se eles passaram por sua penitência na
verdade, eles não pensariam que poderia ser repetido novamente; pois como há um
só batismo, portanto, há um curso penitência, longe da prática externa em que devemos
nos arrepender de nossos pecados diários, mas esse último tem a ver com faltas
mais leves, no anterior são mais graves (Referente ao arrependimento, Livro
II.10).
Agostinho
Quando foste
batizado, mantenha uma vida correta nos mandamentos de Deus para que você possa
preservar o seu batismo até o fim. Eu não digo que você irá viver aqui sem
pecado, mas eles são pecados veniais, que nesta vida nunca se está sem. O
Batismo foi instituído para todos os pecados. Para pecados leves, sem os quais
não podemos viver, a oração foi instituída. Que direito tem a Oração?
"Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores." Uma única vez todos fomos lavados no batismo, mas todos os
dias temos de nos limpar por meio da oração. Somente não cometa estas coisas
para as quais é necessário ser separado do corpo de Cristo: que estejam longe
de você! Àqueles a quem tendes visto fazendo penitência, foi porque cometeram
atos abomináveis, como adultério ou alguns crimes graves: por isso, eles fazem
penitência. Porque, se os seus pecados fossem leves, apagar estas manchas pela
oração diária seria suficiente. Os pecados são perdoados de três formas na
Igreja: pelo batismo, pela oração e pela maior submissão da penitência. (Sobre
o Credo 15, 16).
Mas aqueles que
pensam que todos os outros pecados são facilmente expiados por esmolas, já não
tem dúvida de que estes três são mortais, e tal como, se exige que sejam
punidos por excomunhões, até que eles tenham sido curados pela grande submissão
da penitência. São estes pecados: a falta de castidade, a idolatria e o
assassinato. (Sobre Fé e Obras 34)
O vício, entretanto,
por vezes, faz tais usurpações entre os homens que, mesmo depois de terem feito
penitência e serem readmitidos ao sacramento do altar, eles cometem os mesmos
ou mais graves pecados, mas Deus faz nascer seu sol mesmo sobre tais homens e
dá seus dons de vida e saúde como ricamente como Ele fazia antes de suas
falhas. E, embora a mesma oportunidade de penitência não lhes é novamente
concedida na Igreja, Deus não se esquece de exercer sua paciência para com eles.
(The
Fathers of the Church (Washington D.C.: Catholic University, 1953),
Saint Augustine, Letters, Volume III, Letter 153, p. 284-285)
Traduzido do artigo online disponível aqui.
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