A regeneração batismal é a doutrina católica segundo a qual o pecador é despertado para uma nova vida e recebe o Espírito Santo no momento do batismo. Nesse momento, o Espírito Santo seria “infundido” no convertido. Protestantes, com raras exceções, ensinam que a regeneração não depende do batismo, nem acontece nesse momento. O batismo seria uma confissão pública daquilo que já aconteceu no interior do crente. Esse ensino é de suma importância, pois tem implicações diretas na doutrina da salvação. Se a regeneração batismal é verdadeira, o batismo é necessário para a salvação.
O atual ensino da
Igreja Romana é inconsistente. É dito que existe a categoria “batismo de
desejo”, na qual uma pessoa que morre sem ter sido batizada, mas o desejou
explicitamente ou implicitamente, será salva. O primeiro problema é como alguém
poderia desejar implicitamente algo, já que o desejo pressupõe uma vontade
consciente em direção a um objeto conhecido. Além disso, esse não parece ter
sido o ensino do concílio de Trento que afirma: “Se alguém disser que o batismo
é facultativo, isto é, não necessário para a salvação — seja excomungado”. O
padre Paulo Ricardo defende o batismo de desejo aqui. Essa não é uma posição unânime na ICR. Grupos
rigoristas dizem que os proponentes dessa ideia são apóstatas e que o ensino da
igreja sempre foi a absoluta necessidade do batismo (fonte). Católicos alegam estarem preservados do erro
por terem a assistência de um magistério infalível. Não raro, citam de forma
exagerada as divergências entre as igrejas protestantes como resultado da
insubmissão ao magistério. Se concedêssemos que de fato existe esse magistério
infalível, sendo o da Igreja romana, ainda assim, a igreja não estaria
preservada do erro. Os católicos ainda precisam interpretar as palavras do
magistério. A realidade é que assim como protestantes tem interpretações
divergentes da Escritura, católicos tem interpretações divergentes do ensino do
magistério. Grupos católicos como os sedevacantistas, utilizando-se de seu
julgamento privado, estudaram a tradição da Igreja e concluíram que os atuais
papas são ilegítimos. No fim do das contas, até mesmo os católicos dependem do
livre exame para chegar à verdade, sendo que hoje, eles sequer estão acordo
sobre a questão mais fundamental – onde está a verdadeira autoridade.
Iremos ao longo
de dois artigos analisar a evidência patrística. A ICR diz que ela foi ensinada
desde o tempo dos apóstolos. O site apologistas católicos diz: “Não há
ensinamento mais claro que esse dentre os padres. É consenso unânime e
inegável, entre eles, a crença na purificação que o batismo traz ao cristão
no momento que é imerso ou aspergido com as águas sacramentais, onde todos
os pecados antigos e atuais são lavados, e o Espirito Santo é infundido no
Cristão. Portanto, será mostrado definitivamente com o ensinamento católico
atual foi perpetuado desde a época mais primitiva do Cristianismo” (fonte). Este artigo pretende demonstrar que apesar da
regeneração batismal ter sido crida por alguns pais da Igreja, especialmente a
partir do séc. IV, é falso afirmar que foi um “consenso unânime e inegável”.
Didaquê
(séc. I)
Trata-se de um
catecismo cristão muito antigo com diversas recomendações sobre práticas da
Igreja. Entre elas encontramos sobre o batismo (caps. 7 e 8). É ensinado que se
deve batizar em regra por imersão em água corrente, somente em caso de
impossibilidade, por aspersão. Embora não seja explícito, as instruções dão a
entender que somente adultos eram batizados, pois seria necessário fazer um
jejum antes do batismo. Também é dito que os não batizados não podem participar
da eucaristia (9:5). Porém, não é ensinado a necessidade do batismo para a
salvação ou a regeneração através desse.
Clemente
de Roma (? - 100)
E assim nós,
tendo sido chamados pela sua vontade em Cristo Jesus, não nos justificamos a
nós mesmos, ou por meio da nossa própria sabedoria ou entendimento ou piedade
ou obras que tenhamos feito em santidade de coração, mas por meio da fé,
pela qual o Deus Todo-poderoso justifica todos os homens que foram desde o
princípio; ao qual seja a glória para sempre. Amén. (Carta aos Coríntios XXXII)
Em sua carta à Igreja de Corinto, Clemente reverbera o ensino paulino de que o homem não é justificado por obras, mas somente pela fé. Trata-se de uma testemunha patrística bastante qualificada devido sua antiguidade e provável contato com apóstolos. Sua defesa da Sola Fide nos permite concluir que ele não acreditava no batismo como necessário para a salvação e não apoiaria a doutrina católica da regeneração batismal. Um tratamento mais extenso sobre o testemunho de Clemente pode ser visto aqui.
Inácio
de Antioquia (início do
segundo século)
Meu espírito é
vítima da cruz, que é escândalo para os que não creem, mas salvação e vida
eterna para nós. Onde está o sábio? Onde está o inquisidor? Onde está a vaidade
daqueles que se dizem sábios? De fato, o nosso Deus Jesus Cristo, segundo a
economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do
Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado, para purificar a água na sua
paixão. (Aos Efésios 18)
Tenta extrair dessa citação a doutrina da regeneração batismal é ir além do que está escrito. Em todas as suas cartas, Inácio faz uso frequente de linguagem metafórica. No cap. 17 da mesma carta, ele diz:
Por isso, o Senhor recebeu ungüento sobre a cabeça, a fim de exalar a incorruptibilidade para a sua Igreja. Portanto, não vos deixeis ungir com o mau odor do príncipe deste mundo, para que não os leve prisioneiros, longe da vida que vos espera.
O apelo católico
a Inácio é inconsistente. Se devemos acreditar que ele ensinou essa doutrina
porque disse que Cristo purificou a água, também deveríamos acreditar que o
óleo tem o mesmo efeito. No entanto, a Igreja de Roma não ensina isso. Não
podemos concluir que o fato de um pai ter usado uma linguagem sacramental
queira dizer que necessariamente tinha uma concepção sacramental do batismo.
Mesmo numa perspectiva simbólica, atribuímos ao símbolo características
exclusivas da coisa simbolizada. Era comum os apóstolos dizerem por exemplo que
fomos salvos pela cruz. Alguém sã consciência acharia mesmo que pedaços de
madeira nos salvaram? Obviamente não. Ao utilizar essa linguagem, eles estavam
apontando não para pra cruz em si, mas ao que ela representou – o sacrifício de
Cristo pelos nossos pecados. Por isso, devemos ter o mesmo cuidado ao analisar
os escritos patrísticos. Não há como estabelecer que Inácio ensinou regeneração
batismal.
Barnabé
de Alexandria (século II?)
Ele diz ainda por
meio de outro profeta: "Quem assim age, será como a árvore plantada junto
à corrente d'água, e que dá seu fruto no tempo certo. Sua folhagem não cairá; e
tudo o que ele fizer terá sucesso. Não são assim os ímpios, não são assim. Eles
são, antes, como a poeira que o vento espalha na face da terra. E por isso que
os ímpios não se levantarão no julgamento, nem os pecadores no conselho dos
justos. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios
perecerá". Notai que ele designa ao mesmo tempo a água e a cruz.
Com efeito, ele quer dizer: "Felizes aqueles que, tendo lançado sua
esperança na cruz, desceram para a água. Pois ele diz que o salário vem
"no tempo certo". Então, diz ele, eu retribuirei. Mas para hoje,
ele diz: "Sua folhagem não cairá". Isso significa que toda palavra de
fé e amor que sair da vossa boca será para muitos causa de conversão e de
esperança. E outro profeta diz ainda: "E a terra de Jacó era celebrada
mais do que qualquer outra terra". Isso quer dizer que ele glorifica o
vaso do seu Espírito. O que diz ele a seguir? "Havia um rio que corria,
vindo da direita, e árvores esplêndidas hauriam dele seu crescimento. Qualquer
pessoa que delas comer, viverá eternamente". Isso significa que
descemos para a água carregados de pecados e poluição, mas subimos dela para
dar frutos em nosso coração, tendo no Espírito o temor e a esperança em Jesus.
"Quem comer deles viverá eternamente", quer dizer: quem escutar,
quando tais palavras são ditas, e crer nelas, viverá eternamente. (Epístola de Barnabé, Cap. 11)
Barnabé, não
confundir com o companheiro de Paulo, está expondo Salmo 1. Esse fala que o
justo é como uma árvore plantada junto d'agua. Ele enxerga essa referência como
figuras da cruz e da água do batismo. Nota-se que antes do batismo, o crente já
lançou sua esperança na cruz, ou seja, ele já creu. Da mesma forma que o ladrão
da cruz creu em Jesus e foi salvo, o cristão que crê em Cristo também é. Paulo
diz que o estado natural do homem é de morte em delitos e pecados (Efésios
2:1). Portanto, apenas um coração regenerado é capaz de lançar sua esperança na
cruz, e como isso acontece antes do batismo, segue-se que a regeneração ocorreu
antes dele. A evidência aponta então que os batizados são aqueles já
regenerados.
Policarpo
de Esmirna (70 – 155)
E vós sabeis que
é pela graça que fostes salvos, não pelas obras, mas pela vontade de Deus, por
meio de Jesus Cristo (...) Portanto, sem cessar, estejamos agarrados à
nossa esperança e ao penhor de nossa justiça, isto é, Cristo Jesus, que
carregou nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro, ele que não
cometeu pecado e em cuja boca não foi encontrada nenhuma falsidade, mas que
tudo suportou por nós, a fim de que vivêssemos nele. (Aos Filipenses caps. 1 e 8)
Policarpo
contraria o ensino de Trento. Se somos salvos pela graça e não por obras, o
batismo não pode ser necessário para salvação. O ensino da Igreja Romana de que
a salvação depende de um sistema sacramental é inconsistente. Paulo diz:
“Porquanto, se é pela graça, já não o é mais pelas obras; caso fosse, a graça
deixaria de ser graça” (Rm. 11:6). A ICR ensina que salvação é pela graça,
porém, também diz que somos justificados por obras, logo essa “graça” não é de
graça. Policarpo também endossa o ensino reformado da substituição penal de
Cristo ao dizer: “Ele carregou nossos pecados em seu próprio corpo”.
O Pastor de Hermas (séc. II)
Eu disse:
"Senhor, ainda quero te fazer outra pergunta." Ele respondeu:
"Pergunta." Continuei: "Ouvi alguns doutores dizerem que não
há outra conversão além daquela do dia em que descemos à água e recebemos o
perdão dos pecados anteriores." Ele me respondeu: "Ouviste bem. É
assim mesmo. (...) Todavia, eu te digo: se, depois desse chamado importante e
solene, alguém, seduzido pelo diabo, cometer pecado, ele dispõe de uma só
penitência; contudo, se peca repetidamente, ainda que se arrependa, a
penitência será inútil para tal homem, pois dificilmente viverá. (cap. 31)
Apologistas
católicos costumam mostrar essa citação, geralmente, ocultando a segunda parte
que diz haver apenas uma penitência. Esse documento contraria explicitamente o
ensino de que o cristão pode recorrer várias vezes à penitência ao longo da
vida, o que é o ensino da Igreja romana. Aparentemente, é ensinado que o perdão
dos pecados foi realizado no batismo. Para determinar a probabilidade dessa
explicação, precisamos ver outras passagens em que o pastor aborda o batismo:
Queres saber quem
são aquelas que caem junto da água, mas não conseguem rolar para dentro dela?
São aqueles que ouviram a palavra de Deus e querem ser batizados em nome do
Senhor. Contudo, quando tomam consciência da pureza que a verdade exige, mudam
de opinião e voltam novamente para seus desejos perversos. (cap. 15)
Hermas parece acreditar que algumas pessoas deixam seus caminhos perversos e desejam ser batizados. Porém, essas pessoas, provavelmente em alguma classe de catecúmenos, desistem diante da verdade do evangelho. A questão é como eles poderiam ter abandonado inicialmente seus caminhos perversos sem terem sido regenerados? A hipótese de que o pastor tenha atribuído ao batismo propriedades da realidade significada (regeneração do coração e justificação dos pecados) é real. Portanto, é uma interpretação possível de que ao dizer “conversão e perdão dos pecados anteriores”, esteja se referindo às realidades para as quais o batismo aponta e não a algo que acontece através da água batismal.
Ainda que a interpretação católica fosse verdadeira, o apelo é inconsistente. Na mesma passagem e conectado ao mesmo tema, é ensinado que há apenas uma penitência, o que contraria explicitamente a doutrina romana.
Epístola
a Diogneto (séc. II)
Quando Deus
dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele
permitiu que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos
impulsos desordenados, levados por prazeres e concupiscências. Ele não se
comprazia com os nossos pecados, mas também os suportava. Também não aprovava
aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos
convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos
indignos da vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também
para que ficasse claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de
Deus, e que somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a
nossa injustiça chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que
poderiam esperar era castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para
manifestar a sua bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele
não nos odiou, não nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo
contrário, mostrou-se paciente e nos suportou. Com misericórdia tomou para
si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos
ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos
corruptíveis, o imortal pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia
cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de quem poderíamos
ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente pelo Filho
de Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça
de muito é reparada por um só justo, e a justiça de um só torna justos muitos
outros. Ele antes nos convenceu da impotência da nossa natureza para ter a
vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo o impossível Com
essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e considerássemos
nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem,
glória, força, vida, sem preocupações com a roupa e o alimento. (Cap. 9)
Mathetes,
personagem fictício escritor da epístola, ensina a justificação do homem com
base unicamente na obra de Cristo. Ele parecer excluir a possibilidade do homem
realizar qualquer obra para ser justificado. O ensino católico é de que o homem
pode ser justificado por obras sacramentais, entre elas, o batismo. Podemos
concluir que a epístola a Diogneto não endossaria esse ensino. Ele claramente
ensina a substituição penal de Cristo na cruz.
Justino
Mártir (100-165)
Explicaremos
agora de que modo, depois de renovados por Jesus Cristo, nos consagramos
a Deus, para que não aconteça que, omitindo este ponto, demos a impressão de
proceder um pouco maliciosamente em nossa exposição. Todos os que se convencem
e acreditam que são verdadeiras essas coisas que nós ensinamos e dizemos, e
prometem que poderão viver de acordo com elas, são instruídos em primeiro lugar
para que com jejum orem e peçam perdão a Deus por seus pecados anteriormente
cometidos, e nós oramos e jejuamos juntamente com eles. Depois os conduzimos a
um lugar onde haja água e pelo mesmo banho de regeneração com que também nós
fomos regenerados eles são regenerados, pois então tomam na água o banho em
nome de Deus, Pai soberano do universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo e do
Espírito Santo. É assim que Cristo disse: "Se não nascerdes de novo, não
entrareis no Reino dos Céus" (...) A explicação que aprendemos dos
apóstolos sobre isso é a seguinte: Uma vez que não tivemos consciência de nosso
primeiro nascimento, pois fomos gerados por necessidade de um germe úmido,
através da união mútua de nossos pais, e nos criamos em costumes maus e em
conduta perversa, agora, para que não continuemos sendo filhos da necessidade e
da ignorância, mas da liberdade e do conhecimento e, ao mesmo tempo, alcancemos
o perdão de nossos pecados anteriores, pronuncia-se na água, sobre aquele que
decidiu regenerar-se e se arrepende de seus pecados, o nome de Deus, Pai e
soberano do universo; e aquele que conduz ao banho pronuncia este único nome
sobre aquele que vai ser lavado. Com efeito, ninguém é capaz de dar um nome ao
Deus inefável; se alguém se atrevesse a dizer que esse nome existe, sofreria a
mais vergonhosa loucura. Esse banho chama-se iluminação, para dar a entender
que são iluminados os que aprendem estas coisas. O iluminado se lava
também em nome de Jesus Cristo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e
no nome do Espírito Santo, que, por meio dos profetas, nos anunciou previamente
tudo o que se refere a Jesus (...) Este alimento se chama entre nós Eucaristia,
da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos
ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a
regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou. (I Apologia 61 e 66)
Essa passagem é
citada frequentemente como prova da regeneração batismal. Justino utiliza
linguagem sacramental quando se refere ao batismo como “banho de regeneração”.
Ele utiliza três palavras distintas para se referir ao mesmo fato: renovação,
regeneração e iluminação. Aqui está o ponto chave para compreendê-lo. Ele diz
“depois de renovados por Jesus Cristo”, ensinando, que antes do batismo o
cristão foi renovado. Também diz que o “iluminado se lava” e são “iluminados os
que aprendem estas coisas”, se referindo a fatos anteriores ao banho batismal.
Portanto, a hipótese mais provável a luz de todo o contexto é que para ele, a
regeneração ocorre antes do batismo. Ao utilizar linguagem sacramental,
provavelmente está atribuindo ao símbolo propriedades da coisa simbolizada.
Justino entendia iluminação como conversão, fé, renascimento e habitação pelo
Espírito Santo:
Diariamente
alguns [de vocês judeus] estão se tornando discípulos em nome de Cristo,
e deixando o caminho do erro; os quais também estão recebendo dons, a cada um
na medida em que é digno, iluminados através do nome deste Cristo. Pois
alguns recebem o espírito de discernimento, outros de aconselhamento, outros de
força, outros de cura, outros de presciência, outros de ensino, e outro do
temor a Deus. (Diálogo com
Trifão 39)
Abençoado somos
nós que fomos circuncidados [do coração] pela segunda vez com facas de pedra. A
sua primeira circuncisão era e é realizada por meio de instrumentos de ferro
para que você permaneça de coração duro; mas a nossa circuncisão, que é a
segunda, tendo sido instituída após a sua, nos circuncidou da idolatria e de
absolutamente todo tipo de maldade através de pedras afiadas, ou seja, pelas
palavras [pregadas] pelo apóstolos. (Ibid., 141)
[Citando Isaías
49: 6] Você acha que essas palavras se referem ao estrangeiro e aos prosélitos,
mas na verdade se referem a nós que fomos iluminados por Jesus (...) não
vamos compreender a partir da lei antiga e os seus prosélitos, mas de Cristo e
seus prosélitos, ou seja, nós os gentios, a quem Ele tem iluminado. (Ibid., 122)
Ele diz que
pessoas eram iluminadas, entenda-se convertidas e regeneradas, através da
mensagem de Cristo e dos apóstolos sem conectar essa iluminação ao batismo.
Confirmando isso escreveu:
Pois Isaías não o
enviou para um banho que lava assassinato e outros pecados, que nem toda a
água do mar seria suficiente para purgar; mas, como se poderia esperar, era
essa a salvação do banho dos tempos antigos que se seguiu àqueles que se
arrependeram, e que já eram purificados pelo sangue de bodes e ovelhas,
ou pelas cinzas de uma novilha, ou pelas ofertas de excelentes farinhas, mas
pela fé através do sangue de Cristo, e através da sua morte, que morreu por
essa razão. (Ibid., 13)
A justificação se
dá pela fé em Cristo que morreu em nosso lugar e não através do batismo, pois
nem toda a água do mundo seria suficiente para purgar pecados graves como
assassinato.
..esta pia de
arrependimento e conhecimento de Deus, que foi ordenada por causa da
transgressão do povo de Deus, como Isaías clama, temos também crido, e
testemunhado que esse mesmo batismo que ele anunciou é o único capaz de
purificar aqueles que têm se arrependido. Essa é a água da vida. Mas as
cisternas que você cavam para si mesmos estão quebrados e são inúteis para
você. (Ibid., 14)
Apologistas
católicos costumam citar esta “pia de arrependimento” como uma referência a pia
batismal. Justino está citando Isaías 52-54. Isaías fala da morte de Jesus e
como ele lavaria e justificaria seu povo através de seu sangue derramado. O
batismo que Isaías se refere e Justino explica é a conversão a Cristo e não o
batismo nas águas (Isaías 53:1). Outros pais como Irineu e Teófilo irão se
referir a pia batismal no mesmo sentido, sem terem o batismo nas águas em
vista.
Teófilo
de Antioquia (?-186)
No quinto dia
foram criados os animais que procedem das águas, pelas quais e nas quais se
mostra a multiforme sabedoria de Deus. De fato, quem seria capaz de enumerar
sua quantidade e a variedade de suas variadíssimas espécies? Além disso, o
que foi criado das águas por Deus foi abençoado por ele, para que isso servisse
de prova sobre o que os homens deveriam receber: penitência e remissão dos
pecados através da água e banho de regeneração, todos os que se aproximam da
verdade, renascem e recebem a bênção de Deus. Os monstros marinhos e as
aves carnívoras são símbolo dos avarentos e transgressores. De fato os
animais aquáticos e aves, embora sendo de uma única natureza, alguns permanecem
no que é conforme a natureza, sem prejudicar aos mais fracos, guardam a lei de
Deus e se alimentam das sementes da terra; outros transgridem a lei de Deus,
comendo carne, e prejudicam os mais fracos. De modo semelhante, os
justos, guardando a lei de Deus, não mordem nem causam dano a ninguém, vivendo
santa e justamente; mas os ladrões, assassinos e ateus assemelham-se aos
monstros marinhos, às feras e aves carnívoras, pois de certo modo engolem
os mais fracos. (II Livro a
Autólico, cap. 16)
Analisemos a
analogia de Teófilo sabendo que todos os animais procedem da água (Gn. 1:20).
Ele faz uma analogia entre as espécies que surgem da água e os homens que são
batizados. Perceba que nem todas as espécies da água são boas, algumas
prefiguram aqueles que transgridem a lei de Deus e outras prefiguram os justos.
Os justos são batizados, mas quando eles de fato renascem? Através do batismo?
A resposta é “todos que se aproximam da verdade, renascem e recebem a bênção de
Deus”. O homem que se batiza se aproxima da verdade antes do batismo, portanto,
seu renascimento também acontece antes. Além do mais, assim como seu antecessor
Inácio, Teófilo faz amplo uso de linguagem metafórica. Na mesma obra, ele
procura relacionar os dias da criação aos elementos da redenção cristã. Isso
pode ser visto nas citações abaixo do mesmo livro:
Deus lhe deu
forma e a adornou com toda espécie de ervas, sementes e plantas. Além disso, considera
a diversidade que há nessas coisas, sua variada beleza e multidão, e como,
através deles, se nos manifesta a ressurreição, sendo prova da- quela que
um dia se realizará em todos os homens (...) Assim como o mar teria secado há
muito tempo por causa de seu sal se não houvesse afluência dos rios e fontes
que lhe fornecem alimento, de modo semelhante o mundo, se não tivesse
recebido a lei de Deus e os profetas, que fazem correr para ele fontes de
doçura, misericórdia e justiça e mantêm o ensinamento dos santos mandamentos de
Deus, também já teria perecido por causa da maldade e do pecado que nele se
multiplica. Do mesmo modo que no mar existem ilhas habitáveis, com água e
vegetação, enseadas e portos para refúgio durante as tempestades, assim Deus
deu ao mundo, em meio às tormentas e ondas de pecados, os lugares de reunião,
as chamadas igrejas santas, nas quais, como nas ilhas de portos
acolhedores, se encontramos ensinamentos da verdade, nas quais se refugiam os
que querem salvar-se, tornados amantes da verdade e decididos a fugir da cólera
e do julgamento de Deus. Há, porém, outras ilhas rochosas, sem água nem
vegetação, repletas de feras, inabitáveis, para dano dos navegantes e náufragos,
onde os navios atracam e perecem os que e elas descem; do mesmo modo, há
também doutrinas que extraviam, isto é, as das heresias, que levam à perdição
aqueles que aderem a elas. Porque não se guiam pelo Verbo da verdade, mas à
maneira dos piratas que, enchendo os navios, os atracam em recifes para
arruiná-las. Assim acontece com aqueles que se extraviam da verdade, que acabam
perecendo por causa do erro (...) Os luzeiros contêm o exemplo e símbolo de
um grande mistério, pois o sol é símbolo de Deus e a lua o é do homem (...)
Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da
Trindade, de Deus, de seu Verbo e de sua Sabedoria. No quarto símbolo
está o homem, que necessita de luz. Assim temos: Deus, Verbo, Sabedoria, Homem.
É também por isso que os luzeiros foram criados no quarto dia. Por outro lado, a
disposição dos astros representa a economia e a ordem dos justos e piedosos,
que guardam a lei e os mandamentos de Deus. Com efeito, os astros mais
visíveis e brilhantes representam os profetas; por isso permanecem
fixos, não mudando de um lugar para outro. Aqueles que ocupam o segundo grau de
brilho são tipo do povo dos justos; por fim, os que mudam e passam de um
lugar para outro, os chamados planetas, são símbolo dos homens que se
afastam de Deus, abandonando sua lei e seus mandamentos. (Ibid., caps. 14 e 15)
No contexto imediato, Teófilo faz uma série de metáforas relacionando os elementos da criação à igreja, trindade, homem, falsas doutrinas e etc. Portanto, não deveríamos interpretar de forma literal o que em todo o contexto é metafórico. Ele prossegue:
Esse sopro, ó homem, faz a tua voz; tu respiras o espírito dele, e tu não o conheces. Isso acontece por causa da cegueira de tua alma e endurecimento do teu coração. Mas, se quiseres, podes curar- te. Coloca-te nas mãos do médico e ele operará os olhos de tua alma e do teu coração. Quem é esse médico? É Deus que cura e vivifica através do Verbo e da Sabedoria (...) Fé e visão Ó homem, se compreenderes isso, e viveres de maneira pura, piedosa e justa, poderás ver a Deus. Antes de tudo, porém, entrem em teu coração a fé e o temor de Deus, e então compreenderás isso. Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás que falaste injustamente contra ele. (I Livro a Autólico cap. 7)
Ele diz que Deus cura e vivifica o homem através do verbo e da sabedoria. O batismo não é colocado como o meio pelo qual o homem é vivificado, o que reforça nossa conclusão de que antes de ser batizado, o homem já foi regenerado, sendo o próprio batismo consequência da regeneração. Sigamos:
Quanto ao fato de zombares de mim, chamando-me cristão, não sabes o que dizes. Primeiramente, o ungido é agradável e útil, e não tem nada de ridículo. Com efeito, qual navio pode ser útil e salvo se antes não for ungido? Que torre ou casa possui bela forma ou é útil se antes não for ungida? Qual homem, entrando no mundo ou indo ao combate, não se unge com azeite? Qual obra ou ornato pode ter bela aparência, se não é ungida e não se torna brilhante? Por fim, todo o ar e toda a terra sob o céu são de certo modo ungidos pela luz e pelo vento. E tu não queres ser ungido com o óleo de Deus? Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus. (Ibid., 12)
Se o católico for
consistente em seus apelos a Teófilo, teria que acreditar que a regeneração
acontece através do óleo, mas esse não é o ensino romano. Se partirmos do ponto
vista metafórico exposto assim, não há problemas, mas se interpretarmos como os
católicos, apenas aqueles que foram ungidos seriam regenerados, o que não é o
pensamento desse pai, quando tomado o contexto de toda sua obra. No cap. 14 do
mesmo livro, ele apela à Autólico para que abrace o cristianismo:
Portanto, não
sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas
agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas
Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírito de Deus,
predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro
tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de
terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus (...)
Se queres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas e elas te
guiarão com mais clareza para escapares dos castigos eternos e alcançares os
bens eternos de Deus.
O bispo de
Antioquia não coloca as águas batismais ou o óleo ungido como necessários à
salvação. Autólico poderia se salvar apenas por se guiar pelas Escrituras dos
profetas (aqui ele defende a suficiência das Escrituras), desde que cresse e as
obedecesse.
Irineu
de Lyon (130 – 202)
Que esta estirpe tenha sido enviada por Satanás para a negação do batismo da regeneração em Deus e a destruição de toda a fé o exporemos e refutaremos no lugar mais oportuno. (Contras as Heresias 1:21:1)
E ao dar a seus discípulos o poder de fazer renascer os homens em Deus, lhes dizia: "Ide ensinai todos os povos e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Com efeito, prometera por meio dos profetas derramar nos últimos tempos este Espírito sobre seus servos e servas, a fim de profetizarem. Eis a razão por que ele desceu também no Filho de Deus, feito filho do homem, acostumando-se com ele a habitar nos homens e repousar entre eles, a habitar nas criaturas de Deus, realizando nelas a vontade do Pai e renovando-as do velho homem para a nova vida em Cristo. É este Espírito que Davi pediu para o gênero humano, ao dizer: "Confirma-me pelo teu Espírito que dirige". É ainda este Espírito que Lucas nos diz ter descido, depois da ascensão do Senhor, sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de introduzir na vida todos os povos e abrir-lhes novo testamento. Eis por que, na harmonia de todas as línguas, cantavam hinos a Deus, enquanto o Espírito reunia na unidade as raças diferentes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações. Foi por essa razão que o Senhor prometera enviar o Paráclito que nos faria dignos de Deus. Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa, nem um só pão, também nós não nos poderíamos tornar um só em Cristo, sem a água que vem do céu. E assim como a terra seca não pode frutificar sem receber água, também nós, que éramos antes lenho seco, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva generosa enviada do alto. Com efeito, nossos corpos receberam, por meio da pia, a unidade que os torna incorruptíveis e as nossas almas, por sua vez, a receberam pelo Espírito; por isso, ambos são necessários porque ambos levam à vida de Deus. Nosso Senhor indicou-o na misericórdia que mostrou à samaritana infiel, que não se manteve unida a um só homem e fornicou em diversas núpcias, prometendo-lhe uma água viva, pela qual não teria mais sede, nem precisaria mais de água obtida com fadiga, porque teria em si uma Bebida a jorrar para a vida eterna, essa mesma Bebida que o Senhor recebeu como dom do Pai, e que, por sua vez, doou a todos os que têm parte com ele, enviando o Espírito Santo a toda a terra. (Ibid., 3:17:1-2)
Alguns pontos precisam ser feitos:
1) É dito que os
apóstolos tem o poder de fazer os homens renascerem. Eles o faziam ensinando e
batizando. Perceba que o ensino que ocorre antes do batismo era parte do
processo;
2) Irineu estava
refutando o gnóstico Valentino, que dizia que a pomba que desceu sobre Jesus
não era o Espírito Santo, mas era o próprio Cristo (o espírito salvador)
descendo sobre Jesus que era um mero homem. Para eles, Cristo e Jesus eram
pessoas diferentes. O ponto de Irineu é defender que Cristo e Jesus eram o
mesmo, o filho de Deus, e que sobre ele desceu o Espírito Santo;
3) Ele atribui ao
Espírito Santo a obra regeneradora. Percebam que esse Espírito prometido que
renova e vivifica desceu sobre os discípulos e sobre povos de diferentes
línguas no dia de pentecostes. Nesse dia, as pessoas receberam o Espírito antes
de qualquer batismo.
Todo o contexto aponta para uma leitura que não implica regeneração batismal. A questão é o que seria a “pia” que nos torna incorruptíveis? Essa pia seria o próprio Cristo. O ponto é que tanto Cristo que traz “incorruptibilidade ao corpo” como o Espírito que traz “incorruptibilidade a alma” seriam necessários. Em toda a passagem, a água que desce céu e que é oferecida a mulher samaritana é claramente o Espírito Santo. Se a pia fosse o batismo, ainda assim, seria uma leitura prejudicial à ideia romana, pois Irineu estaria dizendo que água do batismo regeneraria o corpo e o Espírito à parte da agua regeneraria a alma. Seria uma leitura estranha e contraditória, como se houvesse uma regeneração do corpo e outra da alma. Como ele estava refutando os gnósticos, a leitura mais provável é que estava se referindo a Cristo e ao Espírito, que juntos são necessários para a salvação. Da mesma forma que Cristo recebeu o Espírito, os cristãos também o receberiam. A mulher Samaritana recebeu a Cristo, porém ainda precisava da água viva que Ele daria, no caso, o Espírito Santo.
Dois princípios precisam ser citados ao se ler as referências de Irineu ao batismo: 1) Junto ao batismo havia a instrução catequética, ou seja, antes de ser batizado, o cristão aprenderia as verdades básicas da fé cristã; 2) A regeneração se daria pela resposta a essa instrução e não pela aplicação da água. Que antes do batismo os cristãos eram instruídos, pode ser visto a seguir:
Assim, quem possui a indefectível Regra da verdade aprendida no batismo reconhecerá os nomes, as expressões, as parábolas que são das Escrituras, mas não a teoria blasfema deles. Reconhecerá as pedras do mosaico, mas na figura da raposa não verá a imagem do rei. Recolocando cada uma das palavras no seu lugar, ajustadas ao corpo da verdade, desvendará e mostrará a inconsistência das suas fantasias. (Ibid., 1:9:4)
Antes do batismo, os catecúmenos recebiam a pregação apostólica. Era através dessa pregação que eles eram regenerados:
Para aqueles que foram antes muito ímpios, de modo que eles não deixaram [de fazer] nenhuma obra impiedosa, aprendendo de Cristo e crendo nele, tendo uma vez crido e sendo convertidos, e então não deixando de fazer nenhuma [obra] de excelente justiça; assim grande é a transformação que a fé em Cristo, o Filho de Deus, efetua naqueles que crêem nele. (Demonstração da pregação apostólica, 61)
Homens antes muito impiedosos são convertidos e transformam-se em homens justos. Esse processo acontece através da fé em Cristo ao aprenderem dele. Portanto, essa transformação [regeneração] se dava antes do batismo, quando os catecúmenos criam na pregação apostólica.
Que ele não iria enviar de volta os remidos à lei de Moisés, pois a lei foi cumprida em Cristo, mas eles seriam vivificados em novidade pela palavra, através da fé no Filho de Deus e o amor. Isaías declarou: "Lembrem-se não das coisas passadas, nem tragam à mente as coisas que eram no início. Eis que faço novas (as coisas), que passam agora a brotar, e sabereis (eles). E eu vou fazer no deserto um caminho, e nos córregos sem água um lugar para dar de beber ao meu povo escolhido, e ao meu povo a quem eu escolhi para declarar minhas virtudes". Agora, o deserto e o lugar sem água foram a primeira chamada aos gentios, porque a palavra não tinha passado por eles, nem lhes tinha sido dado o Espírito Santo para beber; que moldou a nova forma de piedade e justiça, e fez riachos abundantes para nascer adiante, espalhando sobre a terra o Espírito Santo; o mesmo que tinha sido prometido pelos profetas, que, no fim dos dias Ele iria derramar o Espírito sobre a face da terra. (Demonstração da pregação apostólica, 89)
Essa citação é interessante porque ele fala num contexto de água, riachos, ou seja, figuras que poderiam ser aplicadas ao batismo. Porém, é dito que os homens são vivificados através da fé no filho pela Palavra. Também é aludido que o Espírito Santo seria dado aos gentios, mas sem mencionar que isso aconteceria através da água batismal.
(...) aquele Senhor que formou a visão é o mesmo que plasmou o homem todo, cumprindo a vontade do Pai. E visto que na criação que se fez segundo Adão o homem caíra na transgressão e precisava do lavacro da regeneração, o Senhor disse ao cego de nascença, depois de lhe ter posto o lodo nos olhos: “Vai-te lavar na piscina de Siloé”, lembrando-lhe simultaneamente a modelagem e a regeneração operada pelo lavacro. Assim, depois de se ter lavado, voltou vendo, para conhecer o seu plasmador e aprender quem era o Senhor que lhe dera a vida (...) Está claro que a terra com que o Senhor remodelou os olhos do cego é a mesma com que o homem foi modelado no princípio, porque não é lógico modelar os olhos com uma matéria e o resto do corpo com outra, como não o é que um tenha modelado o corpo e outro os olhos. (Contra as Heresias 4:15:3).
Irineu faz uma conexão entre o primeiro nascimento e a regeneração utilizando o caso do cego de Siloé. Os olhos do cego foram regenerados antes de serem lavados. Eles foram regenerados pela lama e não pela água. Na parte negritada, fica claro que Cristo formou os olhos do cego do lodo e não da água. Ele também fala de pessoas sendo regeneradas espiritualmente sem mencionar o batismo:
Pois, na verdade,
a primeira coisa é negar a si mesmo e seguir a Cristo; e aqueles que fazem
isso são levados progressivamente a perfeição, e tendo cumprido todos os
seus ensinos, torna-se-ão filhos de Deus pela regeneração espiritual e
herdeiros do reino dos céus. (Fragmentos
36)
Fica demonstrado que Irineu entendia que a regeneração de fato acontecia antes do batismo. Ele poderia se referir ao batismo como regenerador porque estava ligado a exposição da doutrina apostólica, fazendo parte do mesmo processo, mas era pela resposta a essa pregação que o Espírito Santo agia no converso.
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