Clemente de Alexandria
(150-215)
Sendo batizado,
somos iluminados; iluminados tornamo-nos filhos; sendo feitos filhos, somos
aperfeiçoados; tendo sido aperfeiçoados, somos feitos imortais. ‘Eu’, diz ele,
‘disse que sois deuses, e todos filhos do Altíssimo.’ Este trabalho é
variadamente chamado graça, iluminação, e perfeição, e lavagem: lavagem, por
que limpa os nossos pecados; graça, pela qual as penalidades decorrentes de
transgressões são perdoadas; e iluminação, por que essa luz sagrada da salvação
é contemplada, ou seja, através da qual vemos Deus claramente. Agora chamamos
isso de perfeito que não necessita de nada. (O
Pedagogo Livro I, 6)
O batismo que Clemente se refere é a imersão na
palavra que é o próprio Cristo. Ele se utiliza de várias figuras como lavagem,
graça, iluminação e perfeição se referindo às funções que a Palavra exerce. A
obra “o pedagogo” se dedica a exortar os homens a deixarem os maus caminhos e
se converterem à palavra que é Cristo, a quem chama de O Pedagogo. Isso vemos
pelas citações abaixo:
Fomos iluminados; ou seja, conhecemos a Deus.
E não é imperfeito que tem vindo a conhecer a perfeição suprema (...) Uma vez
que no conhecimento está a iluminação (...) O conhecimento, portanto,
é a luz que dissipa a ignorância e outorga a capacidade de ver claramente.
Você também pode dizer que a rejeição das piores coisas destaca as melhores,
pois a ignorância mantida mal amarrada desata felizmente conhecimento. Essas
ataduras são rapidamente quebradas pela fé do homem e pela graça de Deus. Nossos
pecados são lavados pelo único remédio que cura: o batismo da Palavra. Fomos
lavados de todos os nossos pecados e de repente já não somos maus. É a
graça singular da iluminação, por isso o nosso comportamento não é o mesmo que
antes do banho batismal. E como o conhecimento ilumina a inteligência,
surge ao mesmo tempo a iluminação e, de repente, sem ter nada aprendido, somos
chamados discípulos. A instrução nos foi conferida anteriormente, mas não pode
materializar-se nesse momento. A catequese conduz à fé; e a fé, no momento
do Batismo, é ilustrada pelo Espírito Santo. (Ibid.,
cap. 6)
O batismo do Logos é o único remédio que cura.
Vemos que o batismo aludido incluía o conhecimento de Deus que iluminava.
Portanto, Clemente não ensinava a doutrina romana. Ele via o batismo nas águas
como parte do processo de conversão, mas a regeneração do homem era
desencadeada pelo conhecimento de Deus e não se limitava ao momento da
aplicação da água. A iluminação era conhecer a Deus, portanto, o homem era
iluminado ao ter contato com a palavra de Deus. O mesmo se vê abaixo:
É a palavra que resgata o homem do costume
deste mundo em que ele foi criado, e o treina na salvação da fé
em Deus. (Ibid., cap. 1)
Em seu próprio Espírito Ele diz que vai
cobrir o corpo da Palavra; como certamente pelo seu próprio Espírito ele vai
nutrir aqueles que têm fome da Palavra. ... Porque, se temos sido
regenerados em Cristo, Aquele que nos regenerou nos alimenta com o seu próprio
leite, a Palavra; por isso é bom que o gerador forneça imediatamente
alimento ao que tem sido gerado. (Ibid., cap. 6)
A palavra não apenas nos regenera, mas também
nos alimenta. Outra citação trazida pelos católicos é a seguinte:
O Logos (Cristo) tem com o batismo a mesma afinidade
que o leite com água. O leite é o único líquido que tem essa propriedade: é
misturado com a água para purificar, como batismo também é recebido para
a remissão dos pecados. (Ibid., cap. 6)
Vejamos a continuação dessa citação que
geralmente é ocultada:
O leite também é misturado com o mel, à procura
de um efeito purificador, ao mesmo tempo que é agradável. O Logos, quando
misturado com o amor do homem, sana as paixões e também purifica os pecados.
Que "sua voz fluía mais doce que o mel" acredito que foi dito pelo
Logos, que é o mel. Em vários lugares a profecia o eleva "acima do mel e
do suco dos favos". O leite também é misturado ao vinho doce, e essa
mistura é saudável; é como se a sua natureza, quando misturada, se tornasse
incorruptível: sob o efeito do vinho, leite torna-se soro, se quebrando, e as
sobras são descartadas. Assim, a união espiritual entre a fé e o homem
sujeito às paixões, converte em soro os desejos da carne, dando ao homem uma
maior firmeza para a eternidade, tornando-o imortal graças à providência divina.
Assim como outros pais da Igreja, Clemente
poderia se referir ao batismo sendo recebido para remissão de pecados sem
implicar em regeneração batismal. Como já dito, faz parte da relação entre
símbolo e coisa simbolizada atribuir ao primeiro as características que são do
último. No contexto dessa citação, Clemente faz uso de várias metáforas para
ensinar verdades espirituais. Inclusive, diz que a mistura de leite com o mel
prefigurava a mistura do Logos com o amor do homem, que também purifica os
pecados. Deveríamos concluir que o leite ou o mel em si tem algum efeito
purificador? Obviamente não. A partir dessa metáfora, podemos perceber que o
batismo não pode ser indispensável para a purificação dos pecados, pois o pai
da Igreja aponta outro meio que gera o mesmo resultado: a união de Cristo ao
homem. Mais adiante, ele aplica outra metáfora para ensinar que o homem é
regenerado pela fé em Cristo. Quando o homem carnal tem fé, seus desejos e
paixões são “quebrados”. Perceba que ele aplica essa mesma metáfora para
ensinar a regeneração sem ter o batismo em vista.
Deve ser conhecido, então, que aqueles que caem
em pecado depois do batismo estão sujeitos à disciplina, pois as obras
feitas antes [do batismo] são perdoadas, e aquelas feitas depois são purgadas.
(Stromata, IV. 24)
Isso quer dizer que os pecados anteriores foram
perdoados no batismo? Vejamos a partir de outras passagens o que ele entendia a
respeito:
Por isso é dito que nós deveríamos ser lavados
por sacrifícios e orações, [ficando] limpos e resplandecentes; e esse adorno
externo e purificação são praticados por um sinal. Agora, pureza é ter
pensamentos santos. Além disso, há a imagem do batismo, que também foi
entregue aos poetas de Moisés (...) Era um costume dos judeus lavarem-se
frequentemente após estar na cama. Foi, em seguida, bem dito: “Seja puro,
não pela lavagem da água, mas da mente”. Por santidade, como eu concebo, é
a perfeita pureza de espírito, atos, pensamentos e palavras também, e em último
grau o ideal da impecabilidade. E purificação suficiente para um homem, eu
considero, é o completo e convicto arrependimento.
(Ibid., 22)
Fica claro que a purificação ocorria pelo
“completo e convicto arrependimento”. Clemente via o batismo como o sinal
externo da uma realidade interna e espiritual pelo qual o homem foi perdoado
por Deus. Isso é confirmado por outras passagens:
Por isso também vos dei leite para beber, diz
ele; significando que “eu tenho instilado em vocês o conhecimento que a partir
da instrução, alimenta-os para a vida eterna” (...) Ao dizer, portanto, eu
lhe dei leite para beber, não está indicando o conhecimento da verdade, a
alegria perfeita na Palavra que é o leite? (O
Pedagogo, Livro I, Cap. 6)
Mas acima de tudo é necessário lavar a alma
com a Palavra purificadora (...) O Logos disse como iria operar tal
purificação dizendo: "No espírito de julgamento e no espírito de
purificação". O banho do corpo é feito apenas com água, como ocorre com
mais frequência nos campos onde não existem instalações para banho. (Ibid.,
Livro III, Cap. 9)
Receba a água da palavra;
lavai-vos da sujeira; purificai-vos dos costumes, por aspersão com as gotas da
verdade. (Exortação aos pagãos, Cap. 10)
Ela que têm fornicado vivendo em pecado, e está
morta para os mandamentos; mas se ela se arrepender, sendo como se tivesse
nascido de novo pela mudança em sua vida, tem a regeneração da vida; a
velha prostituta estando morta, e ela que tem se regenerado pelo
arrependimento tendo novamente a vida. (Stromata, Livro II,
cap. 23)
A partir de uma visão geral dos escritos de
Clemente, percebemos que via a regeneração acontecendo antes da descida às
águas. Ele conecta a regeneração à Palavra, fé e o arrependimento.
Tertuliano (160-220)
Bem-aventurado é o nosso sacramento da água, no
qual, pela limpeza dos pecados de nossa cegueira primitiva, somos livres e
aceitos para a vida eterna. (Batismo, cap. 1)
Essa e outras citações da mesma obra são
amplamente utilizadas pelos católicos como prova da regeneração batismal.
Sigamos para ter uma visão geral do pensamento de Tertuliano:
Nós temos do mesmo modo uma segunda fonte, [essa]
de sangue, a respeito do qual o Senhor disse: "eu tenho que ser
batizado com o batismo", quando Ele já havia sido batizado. Pois Ele veio
por meio de água e sangue, assim como João escreveu [1 João 5:6]; para que ele
pudesse ser batizado pela água e glorificado pelo sangue; para nos fazer, de
maneira semelhante, chamados pela água, [mas] escolhidos pelo sangue.
Ele enviou esses dois batismos pela ferida em seu lado perfurado, a fim de que
os que creem no seu sangue possam ser banhados com a água; eles que tinham
sido banhados na água da mesma forma podem beber o sangue. Este é o
batismo que tanto está no lugar dos banhos da fonte quando esse não foi
recebido, e o restaura quando perdido. (Ibid., cap. 16)
No seu tratado sobre o batismo, Tertuliano
combate uma heresia que pregava a não necessidade do batismo. Por esse motivo,
ele utiliza linguagem hiperbólica. Mas, da citação acima percebemos que ele
acreditava que a água batismal apenas representava o batismo do coração obtido
através do sangue de Cristo, chamado de batismo de sangue.
Pois essa árvore num mistério foi no passado
com ela que Moisés adoçou a água amarga; onde as pessoas, que estavam perecendo
de sede no deserto, beberam e reviveram; assim como nós que tirados das
calamidades do paganismo em que permanecíamos perecendo de sede (isto é,
privados da palavra divina), bebemos pela fé que há nele a água batismal da
árvore da paixão de Cristo, tendo revivido na fé da qual Israel tem se
distanciado. (Resposta aos Judeus, 13)
Tertuliano diz que a paixão de Cristo é uma
água batismal bebida pela fé que fez os antes pagãos reviverem. Perceba que ele
tem em vista a fé no sacrifício de Cristo e não a aplicação da água.
E assim, de acordo com as circunstâncias e
disposição, e até mesmo a idade de cada indivíduo, o atraso do batismo é
preferível; principalmente no caso de crianças pequenas (...) Por
que neste período inocente da vida apressar a remissão de pecados? Mais cuidado
será exercido em assuntos mundanos, de modo que aquele que não é de confiança
com a substância terrena é confiável com a divina! Deixe-os saber como pedir
pela salvação, que você pode fazer parecer (pelo menos) ter sido dada a eles
que perguntam (...) Se alguém entender o peso do batismo, eles vão temer a
sua recepção mais do que o seu atraso: Fé prudente é o seguro da salvação.
(Batismo, 18)
No capítulo 12, Tertuliano defende a
necessidade do batismo para a salvação. Isso, por si só, não prova a
regeneração batismal. Ele poderia acreditar que o batismo é uma obra que todo
cristão já regenerado deve fazer, caso contrário, estaria cometendo pecado grave
e perdendo a salvação. Dessa forma, a regeneração batismal implica na
necessidade do batismo para salvação, mas, o último não implica necessariamente
no primeiro. Porém, o argumento na citação acima torna o pensamento de
Tertuliano contraditório. Se o batismo era necessário para a salvação, que
vantagem haveria em atrasá-lo? Adiar o batismo significaria aumentar as chances
de morrer sem estar salvo. Talvez Tertuliano tenha sido inconsistente ou talvez
não acreditasse que o batismo fosse sempre necessário.
Essa lavagem batismal é um revestimento da fé,
na qual a fé é iniciada e é recomendada pela fé do arrependimento. Não somos
lavados para que possamos parar de pecar, mas porque paramos, já que no
coração fomos lavados. (Sobre o Arrependimento, 6)
Aquele que iria se batizar já havia sido
batizado no coração. Ou seja, a regeneração já havia acontecido. O batismo nas
águas seria a confirmação e publicação dessa realidade anterior e interna. As
declarações hiperbólicas desse pai da Igreja sobre o batismo precisam ser lidas
a luz de todos os seus escritos, o que mostrará que ele via a regeneração
acontecendo antes do batismo.
Hipólito de Roma (170-236)
O Pai da imortalidade enviou o Filho imortal e
a Palavra para o mundo, que veio para o homem, a fim de lavá-lo com água e
Espírito; e Ele, gerando-nos novamente para a incorruptibilidade da alma e do
corpo, soprou em nós o fôlego (espírito) da vida, e nos dotado com uma panóplia
incorruptível. Se, portanto, o homem tornou-se imortal, ele também será Deus. E
se ele é feito Deus pela água e pelo Espírito Santo, após a regeneração da
camada, ele é também co-herdeiro com Cristo após a ressurreição dos mortos.
Pelo que eu prego a este efeito: Vinde, vós todas as tribos das nações, para a
imortalidade do batismo. (Discurso sobre a Santa
Teofania 8)
Essa obra – Discurso sobre a Santa Teofania – é
um ensaio sobre o batismo de Jesus e o significado das palavras de Deus nesse
momento “Tu és meu filho amado” e a descida do Espírito Santo sobre Cristo na
forma de pomba. Se as palavras forem tomadas literalmente, implicariam em
regeneração batismal. O problema é que o próprio Hipólito disse que suas
palavras deveriam ser tomadas figuradamente:
Você acabou de ouvir como Jesus veio a João, e
foi batizado por ele no Jordão. Oh coisas estranhas incomparáveis! Como
deveria ser imenso o rio que alegra a cidade de Deus, tendo sido mergulhado em
um pouco de água! A nascente ilimitada que nutre a vida a todos os homens, e
não tem fim, foi coberto por pobres e temporárias águas! Aquele que está
presente em todos os lugares e ausente de nenhum - que é incompreensível aos
anjos e invisível ao homem, foi ao batismo de acordo com sua própria vontade.
Quando vocês ouvem essas coisas amados, não as tomem como se falado
literalmente, mas as aceite como apresentadas numa figura. Por isso, o
Senhor não estava despercebido do elemento da água, na qual Ele em secreto, em
sua bondade preocupou-se com o homem. (Ibid., cap. 2)
Jesus foi batizado literalmente no rio Jordão.
Como veremos a seguir, Hipólito cria que o batismo de Jesus era uma figura da
sua morte na cruz:
“Este é o meu Filho amado” (...) que está
ferido e ainda confere liberdade sobre o mundo. Que é perfurado em seu
lado, e ainda repara o lado de Adão. (Ibid., cap. 7)
O batismo de Jesus no rio Jordão cumpriria
Gênesis 49:11, sendo uma figura da lavagem que ocorreria na cruz. O manto que
Jesus trajava ao ser batizado prefiguraria as nações que seriam lavadas pelo
sangue e água que escorreram de Cristo na cruz:
“Ele lavará a sua roupa no vinho"
[Gênesis 49:11a], ou seja, de acordo com a voz de seu Pai que desceu pelo
Espírito Santo no Jordão. "E suas roupas no sangue da uva" [Gênesis
49: 11b]. No sangue de qual uva então? mas apenas em sua própria carne, que foi
pendurada na árvore como um cacho de uvas. A partir daquele lado também
fluiu duas correntes, de sangue e água, em que as nações são lavadas e
purificadas, no qual [as nações] Ele supôs ter como um manto sobre Ele.
(Tratado sobre Cristo e Anticristo, 11)
O Evangelho menciona que Jesus foi perfurado,
tendo saído sangue e água de seu lado (Jo 19:32-34). Hipólito via nesse fato o
cumprimento da profecia de Gênesis 49:11: “ele lavará a sua roupa no vinho, e a
sua capa em sangue de uvas”. Esse momento da paixão de Cristo é conectado ao
momento do batismo em que o manto de Cristo prefigurava as nações do mundo que
seriam purificadas pelo seu sacrifício vicário. Portanto, quando ele se refere
ao homem sendo purificado e lavado, está se referindo ao sacrifício de Cristo e
não ao batismo. A ideia é que o batismo de Jesus que prefigurava o seu
sacrifício e não o nosso próprio batismo é que lavaria o homem com sangue e
água:
Vocês veem amados, quantas e quão grandes
bênçãos teríamos perdido, se o Senhor tivesse se rendido à exortação de João e
recusasse o batismo? Os céus foram fechados antes desse; a região superior era
inacessível. Teríamos nesse caso descido para as partes inferiores, e não
ascenderíamos as superiores. Mas só por isso o Senhor foi batizado? Ele também
renovou o velho homem e pegou novamente o cetro da adoção. Os céus se abriram
para ele. A reconciliação ocorreu do visível com o invisível. As ordens
celestes estavam cheias de alegria; as doenças da terra foram curadas; coisas
secretas foram feitas conhecidas; aqueles em inimizade foram restaurados à
amizade. (Capítulo 6)
Toda a argumentação de Hipólito que relaciona
regeneração e purificação ao batismo não se refere ao batismo pessoal, mas ao
batismo de Cristo. Será então que Hipólito cria que o batismo de Cristo nos
regenerava? Não é o caso. O ponto é que o batismo de Cristo apontava para a sua
obra na cruz. Essa sim traria todos os benefícios aludidos na citação acima.
Através dela o homem é reconciliado com Deus e a nossa regeneração garantida.
Voltemos à primeira citação de Hipólito que os católicos costumam usar:
O Pai da imortalidade enviou o Filho imortal e
a Palavra para o mundo, que veio para o homem, a fim de lavá-lo com água e
Espírito; e Ele, gerando-nos novamente para a incorruptibilidade da alma e do
corpo, soprou em nós o fôlego (espírito) da vida, e nos dotado com uma panóplia
incorruptível. Se, portanto, o homem tornou-se imortal, ele também será Deus. E
se ele é feito Deus pela água e pelo Espírito Santo, após a regeneração da
camada, ele é também co-herdeiro com Cristo após a ressurreição dos mortos.
Pelo que eu prego a este efeito: Vinde, vós todas as tribos das nações, para a
imortalidade do batismo. (Discurso sobre a Santa
Teofania 8)
É importante ver o que havia antes desse trecho
para vermos o contexto:
Mas dê-me agora a sua melhor atenção, peço-vos,
pois desejo voltar à fonte da vida, e ver a fonte que jorra com a cura.
O Pai da imortalidade enviou o Filho imortal e Palavra ao mundo, que veio ao
homem, a fim de lavá-lo com a água e o Espírito.
Tanto nesse cap. 8 como no cap. 2 já mostrado
acima, ele fala de Jesus usando figuras relacionadas à água: “fonte da vida”,
“imenso rio que alegra a cidade de Deus”, “a nascente ilimitada que nutre a
vida a todos os homens”. Já em relação às aguas do rio Jordão no qual Cristo
foi batizado, ele disse no cap. 2: “foi coberto por pobres e temporárias
águas”. Vejam a dicotomia, enquanto Jesus era a fonte da vida que sustenta os
homens, as águas do batismo são pobres e temporárias. Seria uma forma estranha
de se referir às águas que supostamente regeneram. Isso nos permite concluir
que quando Hipólito diz que o homem é “lavado pela água”, está se referindo a
Cristo e não às aguas batismais.
Hipólito via a paixão de Cristo e não as águas
do batismo como a pia da regeneração. Em seus comentários sobre o apócrifo
Daniel 13, ele via Suzana como uma figura da Igreja. Em algum momento Suzana se
lava numa pia e Hipólito vê essa pia como uma figura do sacrifício pascoal de
Cristo:
Enquanto observavam um momento oportuno. O
tempo ajustado, mas como da festa da Páscoa, na qual a pia é preparada no
jardim para aqueles que se abrasam, e Suzana se lava, sendo apresentada
como uma virgem pura a Deus? Com apenas duas servas. Quando a Igreja
deseja tomar a pia de acordo com o uso, ela tem necessidade de duas
servas para acompanhá-la, pois é pela fé em Cristo e amor a Deus que a
Igreja confessa e o recebe. (Fragmentos, Sobre Suzana,
15)
Ele diz que a pia de banho é preparada na festa
da páscoa, fazendo alusão à obra de Cristo. Suzana que seria a Igreja toma esse
banho, sendo após isso apresentada a Deus como uma virgem pura. Suzana precisa
de duas servas para tomar esse banho: a fé em Cristo e o amor a Deus. Dessa
forma, a Igreja é lavada por Cristo ao crer em sua obra salvadora e amar o seu
Senhor. Hipólito, longe de acreditar na regeneração batismal, cria na
regeneração pela palavra de Deus:
Essa é a nossa fé a todos os homens, - ... E
nessas prescrições que Deus deu à Palavra. Mas a Palavra declarada por Ele promulgou
os mandamentos divinos, transformando o homem da desobediência, não o
trazendo à servidão por força da necessidade, mas convocando-o à liberdade
através de uma escolha que envolve espontaneidade.
(Refutação de todas as heresias, livro X, cap. 29).
Essa é a verdadeira doutrina a respeito da
natureza divina, ó homens ... Não dediquem a sua atenção às falácias dos
discursos artificiais, nem as promessas vãs dos hereges plagiadores, mas à
simplicidade venerável da verdade despretensiosa. Por meio desse conhecimento
você deve escapar da ameaça do fogo do julgamento que se aproxima, e o cenário
do Tártaro sombrio, onde nunca brilha um raio da voz irradiada da Palavra! ... Agora
[tormentos] como esses você deve evitar ao ser instruído num conhecimento do
verdadeiro Deus. Você deve possuir um corpo imortal, colocado para além da
possibilidade de corrupção, assim como a alma. ... Porque você tem sido
deificado e gerado para a imortalidade. (Ibid., cap. 30).
Nessa obra – refutação de todas as heresias –
ele pretende refutar todas as heresias de seu tempo, sendo algumas delas
relacionadas ao batismo. É de interesse notar que em nenhum momento cita a
regeneração batismal como uma heresia relacionada ao batismo.
Orígenes (?-254)
Nós comentamos na seguinte passagem que o
batismo de João era inferior ao batismo de Jesus, que foi dado por meio de seus
discípulos. Essas pessoas em Atos (Atos 19:2) que foram batizadas com o batismo
de João, e que não tinha ouvido falar se havia algum Espírito Santo, são
batizadas novamente pelo apóstolo. Regeneração não ocorreu com João, mas com
Jesus através de seus discípulos, [regeneração] que é chamada de banho
da regeneração ocorrida com a renovação do Espírito, pois
o Espírito agora vem em adição, uma vez que vem de Deus e está acima da água e
não vem para todos depois da água. (Comentário sobre
João, Livro VI, cap. 17)
O Espírito estava acima da água e não vinha
para todos depois d’agua. Ele está comentando sobre aqueles que tinham recebido
o batismo de João, mas não haviam recebido o batismo de Jesus e o Espírito
Santo. Cumpre observar que nessa passagem, o Espírito Santo não usa a água como
instrumento, pois ele só vem sobre as pessoas depois da água. Orígenes é uma
testemunha explícita contra a regeneração batismal. Embora alguns católicos
utilizem a passagem acima para dizer o contrário, percebemos que a regeneração
se dava pela renovação do Espírito Santo e não pela aplicação da água. Ele cria
que o batismo simbolizava a renovação anterior já ocorrida. Isso ficará mais
explícito em outras passagens:
E aqui devemos notar que as obras maravilhosas
feitas pelo Salvador nas curas realizadas são símbolos daqueles que em algum
momento são libertos pela palavra de Deus de qualquer doença ou
enfermidade. Embora fossem feitas para o corpo e trouxeram alívio corporal,
também chamam os beneficiados para um exercício de fé, de modo que a lavagem
com água, que é um símbolo da alma limpando-se de toda mancha de maldade,
não é menos aos que se rendem ao poder divino da invocação da adorável
Trindade, o início e fonte dos dons divinos; pois há diversidade de dons.
(Comentário do Evangelho de João, Livro 6, cap. 17)
“Que é um símbolo da alma limpando-se de toda
mancha da maldade”. Uma negação explícita da doutrina romana. Origines
compreendeu que a regeneração é uma obra interna no coração do pecador. O
batismo é o símbolo dessa realidade antecedente. O mesmo pensamento é
desenvolvido em seu comentário sobre o Evangelho de Mateus, em que as doenças
que Jesus curou eram um símbolo da "paralisia na alma" dos cegos de
alma e surdos de alma (Comentário ao evangelho de Mateus, Livro XIII, capítulo
4), e que os fariseus deveriam se esforçar para "lavar as mãos de [suas]
almas" em vez de criticar os discípulos de Jesus por não lavar as mãos de
carne (Comentário ao evangelho de Mateus, Livro XI, Capítulo 8). Em suma,
Orígenes enxerga o batismo, as curas e as libertações como apontando para
realidades espirituais.
Mas a respeito do significado do batismo, temos
falado com o melhor de nossa habilidade que pudéssemos ter, ou melhor, que o
Senhor concedeu livremente, quando estávamos explicando o Evangelho segundo
João, quando ele trouxe a passagem onde ele diz de Jesus: "ele mesmo vos
batizará no Espírito Santo", e novamente, onde o próprio Salvador diz:
"a menos que alguém nasça de novo da água e do Espírito, não poderá entrar
no reino de Deus". Nessa passagem, nós tentamos revelar a força dessa
expressão mais profundamente, em que é dito "a menos que alguém nasça de
novo". O que nós latinos falamos usando "novo", os gregos dizem ἄνωθεν
que significa tanto "novo" como "de cima". Nessa passagem,
todo aquele que é batizado por Jesus é batizado no Espírito Santo, sendo
adequado ser entendido não como "de novo", mas como "de
cima", pois dizemos "de novo" quando as mesmas coisas que já
aconteceram são repetidas. No entanto, aqui o mesmo nascimento não é repetido
ou feito uma segunda vez, mas esse [nascimento] terreno é colocado de lado e
um novo nascimento de cima é recebido. Por essa razão, gostaríamos de ler
de forma mais precisa o texto do Evangelho como: "A menos que alguém nasça
novamente de cima, não poderá entrar no reino de Deus". Esse se refere
a ser batizado no Espírito Santo. Por essa razão, o batismo é confirmado
para ser "de cima", não sendo inapropriada a água, que está sobre os
céus e louva o nome do Senhor, ligada ao Espírito Santo. Embora todos nós
possamos ser batizados nessas águas visíveis e numa unção visível, de acordo
com a forma transmitida às igrejas, no entanto, a pessoa que morreu para o
pecado e verdadeiramente está batizada na morte de Cristo, sendo enterrada com
ele na morte pelo batismo, é o único que está verdadeiramente batizado no
Espírito Santo e com a água de cima. (Comentário sobre Romanos,
6:3-4, seção 8.3)
Primeiro você deve morrer para o pecado,
para que possa ser sepultado com Cristo [no batismo].
(Ibid., seção 8.4).
A regeneração seria aplicada pelo Espírito
Santo antes do batismo. Este envolve “águas visíveis e numa unção invisível”,
mas o batismo no Espírito viria com a “água de cima”. Há um paralelismo entre a
renovação espiritual com a água de cima e o rito com a água visível que aponta
a regeneração já ocorrida. Assim como Tertuliano, esse cristão de Alexandria
acredita que o catecúmeno já deveria ter morrido para o pecado e só então seria
batizado, ou seja, a regeneração não era consequência do batismo, mas causa.
Não era procedente, mas antecedente.
Agora ele é chamado de a luz dos homens, a
verdadeira luz e a luz da palavra, porque Ele ilumina e irradia as partes mais
altas dos homens, ou, em uma palavra, de todos os seres razoáveis. E da
mesma forma é a partir e por causa da energia que ele produz que o velho
amortecido é posto de lado e o que é a vida por excelência é trazida a tona.
Assim, os que realmente o receberam levantam dos mortos, o que Ele chama de
ressurreição. E isso ele não apenas faz no momento em que o homem diz:
"Fomos sepultados com Cristo pelo batismo e ressurgimos novamente com
Ele" [Romanos 6: 4], mas muito mais quando o homem, depois de deixar
tudo que pertence à morte, anda em novidade da vida que pertence a Ele, o Filho
[2 Coríntios 4:10]. (Comentário ao Evangelho de João, Livro I,
cap. 25)
Orígenes ensina que Jesus vivifica o homem e
isso não acontece no momento da aplicação da água, mas quando o homem deixa sua
velha vida e passa a viver as boas novas de Cristo. Portanto, independente do
momento do batismo, é quando o homem passa a viver essa nova vida que a
regeneração acontece.
Cipriano (?-258)
O Espírito Santo fala nas Sagradas Escrituras e
diz: "Pela esmola e pela fé pecados são remidos". Não seguramente os
pecados que tinham sido anteriormente cometidos, pois esses são purificados
pelo sangue e santificação de Cristo. Além disso, ele diz novamente: "Como
a água apaga o fogo, a esmola apaga o pecado" [Eclesiástico 03:30]. Aqui
também é mostrado e provado que como na pia da água de salvação, o fogo do
inferno é extinto, também pela esmola e as obras de justiça, a chama dos
pecados é vencida. E porque no batismo de remissão dos pecados é admitido
uma vez por todas, o trabalho constante e incessante, seguindo a aparência
do batismo, mais uma vez concede a misericórdia de Deus. (Tratado
8)
Cipriano de fato defendeu a regeneração batismal,
embora parece ter sido inconsistente em outros momentos, como na citação
abaixo:
Você perguntou também filho querido o que eu
achava daqueles que chegaram à graça de Deus na doença e fraqueza, se
eles devem ser considerados cristãos legítimos, para que eles não sejam
lavados, mas aspergidos com a água da salvação. Nesse ponto, a minha timidez e
modéstia não pré-julgam ninguém, de modo a prevenir alguém da percepção que ele
acha correta, e de fazer o que ele sente ser correto. Quanto ao que meu pobre entendimento
concebe, eu acho que os benefícios divinos não podem em nenhum sentido ser
mutilado e enfraquecido; nem pode qualquer coisa menor ocorrer nesse caso, onde
com fé plena e completa, tanto o doador e o receptor, são aceitos no que é
formado a partir dos dons divinos. No sacramento da salvação, o contágio dos
pecados não é sensatamente lavado da mesma maneira que a sujeira da pele e do
corpo é lavada no banho carnal e comum, no qual é preciso de sabão e outras
aplicações também e um banheiro e uma bacia na qual este corpo vil deve ser
lavado e purificado. Desse modo é o peito do crente lavado; Do outro modo, é
a mente do homem purificada pelo mérito da fé.
(Epístola 62:8)
Ao responder sobre a possibilidade de batizar
por aspersão àqueles que se converteram estando fracos e doentes, Cipriano diz
que a mente do homem é purificada pela fé, que logicamente antecede o batismo.
Deve se observar que os apelos dos católicos a Cipriano, no que concerne ao
batismo, são seletivos e inconsistentes. O bispo de Cartago nos ofereceu uma
das mais claras evidências contra o papado na Igreja antiga, ao contrariar o
ensino do bispo romano Estevão que admitia o batismo herético. Cipriano se opôs
fortemente a essa doutrina, contrariando qualquer pretensão de autoridade
universal do bispo de Roma. Além disso, ele ensinou que o Espírito Santo não
era recebido no batismo, mas após, através da imposição de mãos:
Mas, além disso, não se nasce pela imposição de
mãos, quando ele recebe o Espírito Santo, mas no batismo, para que
assim, sendo já tendo nascido [no batismo], ele possa receber o Espírito
Santo [pela imposição de mãos]. (Epístola 73:5)
Cipriano interpretava “nascer da água e do
espírito” como se referindo a dois sacramentos separados:
É uma questão pequena impor as mãos sobre eles para
que possam receber o Espírito Santo, a menos que também recebam o batismo
da Igreja. Assim, finalmente, eles podem ser totalmente santificados, e ser
filhos de Deus, se nascerem de cada sacramento.
(Epístola 73:5)
E, portanto, cabe àqueles que devem ser
batizados que vêm da heresia para a Igreja, que então eles sejam preparados no
legítimo, verdadeiro e único batismo da santa Igreja, pela regeneração divina,
para o reino de Deus, que nasçam de ambos os sacramentos, porque está
escrito: a menos que o homem não nasça da água e do Espírito, não poderá
entrar no reino de Deus. (Epístola 72:21)
Esse não era um ensino particular de Cipriano,
o sétimo concílio de Cartago, convocado para rebater o batismo herético, testemunha:
Nemesianus de Thubunae disse: Que o batismo que
hereges e cismáticos dão não é o verdadeiro, está em todos as partes declarado
nas Sagradas Escrituras (...) Esse é o Espírito que desde o início foi levado
sobre as águas; pois nem pode o Espírito operar sem a água, nem a água sem o
Espírito. Certas pessoas interpretam malvadamente por si mesmas, quando dizem
que por imposição das mãos eles recebem o Espírito Santo, e estão portanto
recebidos, quando é manifesto que eles devem nascer de novo na Igreja
Católica por ambos os sacramentos.
A doutrina batismal de Cipriano poderia ser
semelhante à católica romana em certos pontos, mas a contrariava em outros de
forma substancial. Se os católicos podem discordar desse bispo, porque os
protestantes também não poderiam?
Gregório Taumaturgo (213-270)
Há um mistério, o que dá nestas águas a
representação dos fluxos celestiais da regeneração dos homens. (Quatro
Homilias, IV homilia)
Batiza-me, eu que estou destinado a
batizar aqueles que acreditam em mim com água e com o Espírito Santo, e com
fogo: com água, capaz de lavar a corrupção dos pecados; com o
Espírito, capaz de fazer o mudando, espiritual; com o fogo , naturalmente
equipado para consumir os espinhos das transgressões. (Quarto
Homilia, III Homilia)
O site apologistas católicos traz essas
citações. Gregório foi o único em que tive o cuidado de verificar a fonte e
percebi que a segunda citação não se encontra na III homília que pode ser vista
aqui.
Outro problema é que essas homilias são de origem duvidosa. O católico romano
Thomas Livius, usando as homilias em sua obra sobre "The Blessed Virgin in
the Fathers of the First Six Centuries”, as cita com reserva: "Essas
Homilias são de autenticidade duvidosa" (Livius, p 48n).
Argumentos históricos
adicionais sobre a necessidade do batismo para a salvação
Na Igreja apostólica, a pessoa era batizada
assim que se convertia. O caso do Eunuco evangelizado por Felipe evidencia essa
prática (Atos 8). No segundo século, a prática mudou. Uma pessoa passava um bom
tempo numa classe de catecúmenos até ser batizado, há evidência de que essas
classes poderiam durar meses ou até um ano. Isso mostra que os cristãos não
acreditavam na necessidade do batismo para a salvação. Afinal, quem submeteria
alguém a uma espera tão longa que poderia comprometer sua própria salvação?
Outro ponto é que muitos cristãos adiavam o
batismo ao máximo, só o recebendo no fim da vida. Pensava-se que após o
batismo, o cristão poderia cometer pecado mortal apenas uma vez, ou seja, não
havia um segundo arrependimento. Por isso, era seguro ser batizado apenas no
fim da vida. Ninguém parecia pressupor que essas pessoas não eram cristãs. Se
elas de fato acreditassem que o batismo era necessário para a salvação, não
adiariam tanto tempo, correndo um risco maior do que a possibilidade de cometer
pecado mortal mais de uma vez.
Destacamos também que alguns pais da Igreja
como Orígenes, Gregório de Nissa e provavelmente Clemente de Alexandria
acreditavam na salvação universal, algo que tratamos com mais detalhes em nosso
artigo sobre os pais e o purgatório aqui. Portanto, para eles o batismo não
seria necessário para a salvação.
É notável também que alguns pais recomendaram
atrasar o batismo como Tertuliano e Gregório Nazianzo, que escreveu:
Que assim seja, alguns dirão, no caso daqueles
que perguntam sobre o batismo; o que você tem a dizer sobre os que ainda são crianças,
e não conscientes nem do pecado nem da graça. Devemos batizá-los também?
Certamente (...) Mas em relação aos outros [infantes] dou o meu parecer de
que se deve esperar até o final do terceiro ano, ou um pouco mais ou menos,
quando eles podem ser capazes de ouvir e de responder algo sobre o Sacramento,
para que, mesmo que eles não se possam compreendê-lo perfeitamente, mas de
qualquer forma eles podem conhecer os contornos, e, em seguida, para
santificá-los na alma e no corpo com o grande sacramento da nossa consagração. (Orações
40:28)
Se do batismo dependia a salvação, esses homens
não fariam tais recomendações. Figuras proeminentes como o próprio Gregório,
Agostinho e João Crisóstomo, mesmo sendo filhos de pais cristãos piedosos, só
foram batizados quando adultos. O grande historiador e defensor do batismo
infantil Philip Schaff confirma:
Constantino sentou-se entre os pais no grande
Concílio de Nicéia, e deu efeito jurídico aos seus decretos, e ainda adiou o
seu batismo até o leito de morte. Os casos de Gregório de Nazianzeno,
Crisóstomo, e Santo Agostinho, que tinham mães de piedade exemplar, e que
ainda não foram batizados antes de vida adulta, mostram suficientemente a
liberdade considerável prevaleceu a este respeito, mesmo nas idades nicena e
pós-nicena. (History of the Christian Church: Vol. 2, Ch.
05, § 073)
Pais cristãos piedosos adiando o batismo dos
filhos sugere o contrário do ensino católico romano. Lembremos ainda, que
diferente da posição defendida por muitos na idade média de que crianças não
batizadas não eram salvas, pais como Irineu defenderam explicitamente a
salvação infantil:
E novamente, quem são os que foram salvos e
receberam a herança? Aqueles que sem dúvidas, creram em Deus e continuaram em
Seu amor, como fez Calebe e Josué, filho de Num e as crianças inocentes, que
não tinha noção do mal. (Contra as Heresias, 4:28:3)
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